Já falei sobre
isso aqui no Blogson, mas ninguém precisa se esforçar para lembrar da história, pois vou repetir:
morei na casa de minha avó materna até me casar. Durante esses vinte quatro
anos tive oportunidade de conviver com os tios que também moravam lá, com genros
e noras de meus avós maternos e com os primos e tios de minha mãe, tanto do
lado paterno quanto do materno. De alguns desses parentes consigo me lembrar da
fisionomia, do ar de superioridade dos mais ricos (tudo filho da puta!).
Quando era criança
nenhum deles se importava muito comigo; na adolescência era eu que não ligava
para aqueles que ainda iam visitar meu avô, minha mãe ou minha tia. Lembro-me
de algumas fisionomias mas não consigo conectar as imagens com seus nomes e
apelidos, alguns bastante sonoros ou pré-históricos, caso de Laldomila e
Emerenciana (apelidada de "Chana"), irmãs de minha avó e de Odorêncio
("Tidorenço") e Onésio, irmãos de meu avô.
Mas não vou
recontar o que já escrevi nos posts da série “Nascidos na Fazenda”. O que realmente quero registrar é a alegria
quase infantil de reencontrar vestígios dessas pessoas, algumas nascidas no
final do século 19(!!!). E isso está sendo possível pelo acesso frequente que
tenho feito ao site de genealogia criado pelos mórmons.
Cronologicamente
falando (e só cronologicamente), deixei de ser criança há 60 anos e deixamos de
ter crianças aqui em casa há 30 anos. Então, não entendo de crianças que vivem
cercadas por jogos eletrônicos fantásticos, cada vez mais realistas em termos de
imagem e que talvez cacem tesouros com uso de consoles e mouses.
No meu caso, essa
alegria que sinto se assemelha à que sentia uma criança que sonhava com
histórias de pirata e tesouros escondidos, que lia livros do tipo “As Aventuras de Tom Sawier”, “A ilha do
Tesouro” ou “Robinson Suíço” e costumava brincar de procurar um tesouro
perdido e se deparava com um baú esquecido em um quarto de despejo da casa onde
morava, cheio de tranqueiras antigas – canetas tinteiro, mata-borrão, apontador
de lápis todo em metal e em forma de caminhão, revólver de brinquedo feito em
alumínio, etc. (esses objetos eu via jogados em gavetas na casa de minha avó).
Ou então, já no início da adolescência, com os hormônios esguichando, ao
encontrar uma revista antiga sobre fotografia, onde apareciam alguns nus
femininos tremendamente inspiradores, se me entendem (também achei isso na casa
de minha avó).
Pois bem,
ultimamente minha diversão tem sido “brincar de detetive”, ao tentar garimpar
os dados das pessoas que mencionei no início do post, mas sem nenhuma gota de
saudosismo, só mesmo interesse arqueológico. E o mais legal é que aos poucos
estou encontrando, apesar do trabalho de paciência filhadaputa que está dando.
Descobri, por exemplo, a data de casamento de dois tios-avós, protagonistas de um
dos casos mais bizarros que ouvi na minha infância, pois um sobrinho se casou
com sua tia! A explicação estava no fato da noiva ser meia-irmã da mãe do
noivo (o que não atenua em quase nada a esquisitice da união). Aparentemente,
naquele tempo, naquele cu de mundo, casamento entre parentes próximos era visto
com alguma naturalidade e nem chegava a escandalizar, apesar das penas impostas pela consanguinidade.
Essa caça ao tesouro tem me permitido
“exumar” pessoas há muito falecidas, uma exumação apenas de lembranças, fazendo
com que eu entre em contato com alguns dados dos irmãos filhos da puta de minha
avó materna (que através de artifícios de compra e venda de fazendas foram
transferindo o patrimônio familiar deixado por meu bisavô apenas para eles, nada restando
da parte da herança a que ela teria direito. Como já contei aqui no blog, eles
continuaram ricos, mas só eles).
Foi esse trabalho
de detetive que permitiu que eu me lembrasse do arrogante e imperial Oscar, do caipiríssimo
Neca, do escrotíssimo Juquinha e de suas conversas sobre vacas e fazendas.
Mesmo que eu não acredite mais em inferno, é divertido imaginá-los sendo
gratinados em fornos da marca “Hell’s”.
E essa diversão
está sendo conseguida com o acesso obsessivo ao site de genealogia dos mórmons.
Já fiz até uma lista de oito árvores genealógicas que pretendo pesquisar,
eventualmente corrigir e até mesmo acrescentar novos ramos e folhagens (ou
“filhagens”). Como diriam meus parentes, “Ê trem bão!”
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