quarta-feira, 16 de junho de 2021

NA MADRUGADA

Este texto foi originalmente publicado em 16/06/2015. Nem pensava em movê-lo para os dias atuais, tão sombrios e cheios de medos. Entretanto quando o reli senti uma saudade e um amor imensos, a mesma sensação que tive ao escrevê-lo. Hoje você é pai de duas maravilhinhas e certamente entenderá melhor o que sinto por você e por seus irmãos. Por tudo isso chamei o cabo corneteiro, pedi para executar o toque de "foda-se" e movi o texto para o dia de hoje. Que é seu aniversário! Bora lá.


Quando os filhos se casam, levam com eles uma parte da mente e do coração dos pais. Pelo menos, de alguns. Nós somos esses pais. Isso aconteceu quando o primeiro filho casou-se, repetiu-se com o segundo e, de novo, com o terceiro. Nós, minha mulher e eu, sempre estamos com os filhos casados nas conversas, nas lembranças, nas orações e nos silêncios. Acho isso mais que normal, porque nós os amamos sem restrições.

Hoje, nosso segundo filho mora em outra cidade. Assim, quando vem aqui, reproduz-se uma parte da parábola do filho pródigo (ainda que ele e sua amada não sejam pródigos!), pois é sempre uma alegria revê-los, abraçá-los e dizer-lhes que nós os amamos muito. 

Hoje é aniversário desse filho. Pela distância que nos separa, não temos como abraçá-lo neste dia. Por isso, resolvi escrever para ele, assim como fiz no aniversário de seu irmão mais velho. Por respeito à cronologia dos nascimentos, os outros dois serão celebrados também, mas cada um no seu tempo (eu tenho TOC!).Então, vamos lá.


Às vezes, mesmo morando em uma grande cidade, mesmo no meio de uma multidão podemos nos sentir sozinhos, solitários, pois as pessoas que conhecemos e amamos podem estar distantes de nós. O baiano Tom Zé criou uma frase magnífica quando definiu a cidade de São Paulo como uma “aglomerada solidão”. Você pode, talvez, sentir-se assim algumas vezes. Eu sei que isso é barra, mas nunca pense que está sozinho, porque todos que te amam estão permanentemente com você no coração. E nós, seus pais, desde o dia em que foi concebido!

Quando você nasceu, eu já era um “jovem senhor”, pois tinha acabado de fazer 28 anos.  Por isso, seu nascimento foi recebido e esperado por mim de uma forma um pouco mais madura se comparada com o nascimento de seu irmão mais velho. No dia em que ele nasceu, tão logo sua mãe foi levada para a sala de parto, eu sai do hospital feito um aloprado, pulando de alegria feito um idiota (igual a mim mesmo, na verdade), só para ligar de algum orelhão, para que todo mundo soubesse que ele já estava para nascer. Resultado: quando voltei, fiquei sabendo que ele já tinha nascido!

Com você foi diferente, pois foi o único filho que nasceu de madrugada. Quando sua mãe foi levada para a sala de parto, dirigi-me a uma área de convivência que ficava no mesmo andar do hospital, sentei-me em uma cadeira de ferro trabalhado, daquelas antigas, e fiquei ali, sozinho, quieto, ouvindo o silêncio próprio daquela hora. Passou um pouco de tempo e um choro de bebê se fez ouvir. Pensei comigo: -“Nasceu”!

Naquele instante, com aquele chorinho na madrugada, criou-se um vínculo indestrutível entre eu e você. É claro que esse sentimento já estava presente antes de você nascer, mas esse tipo de coisa lembra um pouco o futebol profissional: até o nascimento, você estava “concentrado”, só “treinando”. O “jogo” começou mesmo após o seu nascimento. E eu me tornei seu torcedor permanente, eterno.

Aliás, esse é o sentimento que fui vivenciando à medida que você e seus irmãos foram nascendo. Talvez por isso eu não me ligue no futebol verdadeiro. Quem precisa desse esporte quando tem um "timaço" dentro de casa? E com uma "treinadora" tão linda?

Falando de beleza, você e seus irmãos são muuuito bonitos! (isso também não é novidade para os que convivem com vocês nem é conversa de pai coruja). Aí eu fico achando que sua mãe, olhando para mim, tão feio e assimétrico, e imaginando que filhos ela teria comigo, deve ter pensado alguma coisa assim: - “É, acho que vou ter de caprichar um pouco mais”. E os resultados superaram as expectativas mais otimistas! Você, por exemplo, é um menino (para os pais, os filhos serão sempre "os meninos") super carinhoso, amoroso, engraçado, preocupado, apaixonado e apaixonante, um menino de ouro (ou dourado), enfim. 

Então é isso, meu filho, você sabe que enquanto eu e sua mãe estivermos vivos, nunca estarão totalmente sozinhos, porque nós sempre estaremos com você e com seus irmãos em nossos pensamentos, em nossos corações, em nossas orações. 

E já vou avisando: se houver vida depois da morte, eu ainda virei para puxar seu pé à noite, só para encher o saco! Beijos de um pai que te ama muito.


PARABÉNS!!! 

Um comentário:

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