quarta-feira, 30 de junho de 2021

TIRANDO LEITE DE PEDRA


Mesmo que o alimento principal deste blog seja a chamada cultura pop e sua temática seja predominantemente urbana, tenho origem caipira, pois enquanto meus antepassados tiravam leite de vaca, eu fico aqui no Blogson tentando tirar leite de pedra. Por isso, em homenagem às minhas origens, resolvi hoje tratar de assuntos agropecuários, falar de burros e jumentos, tentar descobrir como contar as cabeças de gado de um rebanho, etc. Para não pisar nas hortaliças, precisarei contar com ajuda de um especialista no assunto, um veterinário de renome, o senhor Osmar (En)terra. Pelo que ouvi dizer, ele gosta mesmo de animais, pois tem até um jumento de estimação a quem às vezes alimenta, além de sempre falar de rebanho.
 
Mas deixemos de brincadeirinhas e vamos ao que interessa. E se alguém pensa que vou malhar (merecidamente) nosso presidente, já aviso que não pretendo fazer isso, pois este é um texto papo-cabeça, daqueles que rolam em mesa de botequim quando já está todo mundo bêbado. Além do mais, está cada vez mais difícil ficar atualizado com as tretas e mutretas que vão surgindo (mesmo que ele desconheça, lógico) 

Sinceramente, não acredito que o presidente aja por maldade ou de má fé quando toma decisões desmioladas. Creio que isso pode ser fruto de ignorância ou de algum distúrbio mental. Mesmo assim, não custa lembrar que desde o início de 2020 ele sucessiva ou concomitantemente ignorou, desprezou, minimizou, ridicularizou e foi incapaz de enxergar o tamanho do pepino que teria de descascar e nem teve a humildade e serenidade de ouvir e acreditar em quem realmente poderia melhor avaliar a situação. No caso, profissionais de saúde verdadeiramente capacitados e... economistas. Agiu por ignorância, por impulso, sem freios. 

Em termos práticos, não nos esquecendo das pessoas que apoiam ou criticam nosso presidente, vamos pensar nos dias de hoje: o Brasil vive um dos momentos mais trágicos (e bem documentados) de sua história, graças a uma pandemia provocada por um vírus que teria primeiro surgido na China (e que muitas pessoas se preocupam em chamar - graças à ojeriza que sentem a tudo que seja relacionado à Esquerda - de “praga chinesa", como se isso fosse importante, como se isso atenuasse a estupefação causada pelos milhões de mortos no mundo todo. 

Para mim, o Sars-CoV-2 poderia ser chamado de "variante chinesa" ou variante "ômega"), pois ele começou a botar para foder depois de ter sofrido alguma mutação, tornando-o diferente do coroninha original. Essa pandemia (até hoje!) matou mais de 512 mil brasileiros (mais um parêntese: em 27 de março, quando este texto começou a ser rascunhado, a Covid tinha provocado a morte de “apenas” 310.000 pessoas no Brasil, ou seja, de lá para cá aconteceram 202 mil mortes - em apenas três meses).

Justamente pela dimensão dessa calamidade nosso presaidente jamais poderia ter-se arvorado em detentor da verdade e maior defensor de práticas empíricas como o uso de um remédio que se comprovou ineficaz e, potencialmente danoso a quem o tomar "off label" (gostei da expressão!). Até por um singelo detalhe: Didier Raoult, o médico francês que primeiro propagandeou as propriedades divinas de cura da cloroquina recentemente admitiu que se enganou e que a porra do remédio não faz mesmo efeito contra a Covid. E está sendo processado por isso.
 
Mas comecei este texto dizendo que falaria de “assuntos agropecuários”. Por isso, vamos voltar ao cercadinho, ou melhor, ao curral. Mas é necessário primeiro dar nomes aos boys, ou melhor, aos bois: nosso presidente, seu conselheiro informal Osmar Terra e alguns outros médicos sempre apreciaram a ideia de se buscar a tão falada “imunidade de rebanho”, que seria atingida quando 80% da população fosse infectada. Como imagino que eles não gostem muito de fazer conta, só de faz-de-conta, resolvi pegar uma calculadora e “trabalhar” um pouco.
 
No caso do Brasil - que tem uma população estimada em 213 milhões de pessoas -, o número de infectados precisaria ser igual a 213 milhões x 80% = 170 milhões. O problema é que no nosso país 2,8% das pessoas que contraem Covid morrem. Isso representaria 170 milhões x 2,8% = 4.700.000 vidas perdidas, 4,7 milhões de "bois de piranha" para passar a boiada.
 
quantidade absurda de mortes que aconteceriam para que o país alcançasse a imunidade de rebanho apenas prova que essa não é definitivamente uma boa ideia. Mesmo quando aplicada apenas ao gado que segue o presidente...

5 comentários:

  1. Nas contas do amigão do possível-ex-Presidente Bolsonaro, o Osmar Terra (Plana?), não passaria de 800 pessoas.
    E agora esse esquema de compra de vacina. Bilhões e bilhões lucrados com morte. Eu estava relutante em dizer que esse governo é "genocida", mas agora afirmo: é genocídio mesmo. Planejado, ainda por cima.

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    1. Pois é, eu fiz meu demonstrativo no facebook e obtive esta resposta de um “amigo”:
      “Eu votei no bozo nos dois turnos e vou votar novamente na próxima eleição. A narrativa criada pela esquerda só se sustenta na percepção de quem não tem informação. Mas gostaria de terminar esse assunto por aqui. Já perdi um amigo por causa de “opiniões “ e não quero perder outro”.
      É triste pensar que há um bando, ou melhor, uma boiada de gente assim.

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    2. Não é uma boiada tão expressiva não. É puro barulho. No meu ver esse governo já era. E o Mourão, que age igual Temer, já sabe disso também. Talvez seja até uma solução para quem não gosta do PT, por exemplo. De certo modo, o Bolsonaro caindo, enfraquece a polarização Lula/Bolsonaro...

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  2. Como você disse, talvez Bolsonaro não aja por má-fé, aja apenas por instinto, animalesco, mesmo, uma espécie de força primal da natureza.
    Gostando você, ou não, ou mesmo eu gostando, ou não, Bolsonaro age, ainda que sem saber, sem pensar, sem ponderar, como, de fato, uma força da natureza. Na natureza, na boa e velha e justa (ainda que muitas vezes nos parece impiedosa; lembrando que piedade é meramente um conceito humano) seleção natural é isso o que acontece : a imunidade do rebanho (não confundir com a imunidade e a salvação de cada cabeça de gado) se dá por volta desse percentual de infectados, 70, 80%.
    A sobrevivência da espécie e não do indivíduo é a prioridade da Natureza, do DNA, esse pequeno ditador. Sim, bois de piranha são necessários para que a boiada sobreviva. E para que as piranhas, também.
    No caso dos brasileiros, muitos se oferecem voluntariamente como bois de piranha. Não tomando as devidas precauções, não cumprindo com as regras de isolamento social. Dizem (e eu acredito) que muitas mortes poderiam ter sido evitadas por uma política mais eficiente na aquisição de vacinas. Acredito, mesmo. Mas será que alguém já fez alguma estimativa de quantos poderiam não ter ido a óbito se evitassem simplesmente as festas, os churrascos, as reuniões de família, as festas clandestinas? Talvez, pela pouca preocupação com a própria vida, esses e seus materiais genéticos equivocados mereçam ter sido eliminados. Claro que há um dano colateral, claro que muitos desses que se atiram às presas dos tigres-de-dentes-de-sabre, levaram consigo parentes que, talvez, estivessem se precavendo. Mas DNA é DNA. É imperativo.

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    1. O pessoal dos churrascos e das baladas proibidas, clandestinas, é do tipo que pode ganhar o prêmio Darwin, que "premia" aqueles que fizeram o favor de não deixar seu DNA ser transmitido para outra geração.

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