sexta-feira, 4 de junho de 2021

O VIDRO ESPESSO DO TEMPO


 
As listas que postei recentemente me fizeram pensar nas pessoas que se tornaram “amigos e amigas virtuais” do blog ao escolherem "acompanhar" o que de forma caótica vai sendo publicado. Sinceramente, eu adoraria descobrir o que fez um grupo de gente jovem optar por “seguir” o velho Blogson, ou melhor, o velho do Blogson.
 
Porque, cá pra nós, imagino que a maioria está na faixa etária de meus filhos - ou até mais novos. Só para balizar, meu filho mais novo tem trinta e poucos anos, mais velho portanto que meu amigo Ozymandias. Já o mais velho está na faixa de quarenta e poucos anos, regulando, se não me engano, com o gente finíssima Scant, outro de meus amigos virtuais. O ponto fora da curva em idade (e “resistência hepática”) é o intrépido Marreta, explorador do desértico, árido e seco Blogson quase desde sua criação. E isso soa estranho para mim, anônimo que sou. Afinal, não sou pai, colega, chefe, professor ou ídolo de nenhum deles. Como são doze, poderia fazer uma piada de inspiração bíblica chamando-os de discípulos, mas ser messias para alguém nunca foi a minha praia. Em outras palavras, Deus me livre desse pensamento! Mas nem é esse número que importa, na verdade.
 
Comecei a pensar nisso por sentir que na ânsia de agradá-los (mesmo sem saber o que os agrada) fui aos poucos me desvirtuando, fui aos poucos me transformando em uma caricatura de mim mesmo, mais ou menos como aquelas velhas bandas de rock que se dissolveram e alguns anos depois os antigos componentes resolvem se reunir em uma versão caça-níqueis, uma versão prostituída do que foram antes, pois tocam apenas os antigos sucessos que a plateia espera ouvir.
 
Mesmo publicando coisas novas sinto que perdi a espontaneidade original. Antes, por um perfil naturalmente amolecado, “galhofeiro”, eu ia escrevendo besteiras sem me preocupar se estava sendo infantil ou politicamente incorreto. Meu negócio era a ironia, meu desejo era provocar um sorriso em alguém. Mas isso foi mudando, o desejo de ser engraçado foi ficando forçado, os sorrisos que eu estampava no meu próprio rosto foram se transformando em esgares e assim estamos hoje: um velho que tenta se comunicar com jovens como se jovem fosse, que usa palavras e gírias como se realmente fizessem parte de seu vocabulário do dia a dia. Um velho tristemente ridículo e que acaba ficando ridiculamente triste.
 
Tempos atrás, talvez há uns três ou quatro anos, eu comentei que as pessoas com quem mais me identificava intelectualmente eram os jovens na faixa dos trinta aos (estourando) cinquenta. Pessoas que ainda tem sonhos, que criam, que viajam na maionese (ou em algum "vapor barato"), que não conversam apenas sobre futebol, cerveja e coisas do gênero ou dizem frases vazias tipo “tem chovido muito” ou “hoje está quente!”, só para disfarçar a falta de assunto e o cérebro anestesiado.
 
Infelizmente, de nada adianta essa identificação (que coincide com a idade de meus filhos), pois há a porra de um vidro blindado a nos separar, o “vidro espesso do Tempo” a impedir esse contato, a merda do choque de gerações. É como se eu ficasse olhando através do vidro os bebês de um berçário ou, mais adequado, como se eu estivesse preso e só pudesse ter contato com as pessoas através de um vidro blindado, falando ao telefone, como vejo em alguns filmes estrangeiros.
 
Já nem sei mais o que pretendia dizer! Mas creio que é isto: eu tenho de me conformar com a minha incapacidade de me comunicar com uma geração que não é a minha, com a geração que é a de meus filhos. E se não consigo achar graça em conversar sobre a chuva ou a temperatura do dia com pessoas da minha idade, paciência. Talvez a solução seja tirar férias de mim mesmo, do blog, da vida. Fechar as janelas, apagar a luz do quarto, cobrir-me com um cobertor macio e dormir até  a mente destruir todas as sinapses existentes. Ou estudar astrologia. Talvez assim eu encontre alguém que me chame de guru e meu silêncio ou minhas palavras sem nexo e sem graça sejam consideradas sinais de grande sabedoria. Namastê!

5 comentários:

  1. "o que fez um grupo de gente jovem optar por “seguir” o velho Blogson" - no meu caso, gosto de diferentes pontos de vista

    ouvir apenas a visão de mundo de uma geração é muito limitante

    abs!

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    1. Olha, eu não estou exatamente na média da minha geração. E isso não é auto-elogio! Abraços.

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  2. Começou a perceber o risco da repetição, da republicação de antigas postagens? De se sentar ao banquinho empunhando um violão e cantar "Detalhes" ad infinitum? Por isso, sempre rejeitei essa ideia, apesar de sedutora em momentos sem inspiração e de caneta empacada.
    Parece-me, posso estar errado, é claro, que, principalmente depois do novos seguidores, dos novos Jotabetes, você tem a preocupação de postar diariamente, talvez com receio de que um hiato na sua produção os faça debandar e nunca mais acessarem o Blogson.
    Experimente ficar uns dias sem postar nada, se nada de novo houver. Agora que você e sua esposa já tomaram as duas doses, arrisque-se numa caminhada,volte a ver a rua, sei lá.
    E quem gostar do que você escreve, vai acabar fuçando o fundo do seu baú em busca de coisas antigas.

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    1. Na verdade, a inquietação que eu imaginei passar no texto é real, pois não faço a mínima ideia do que levou esse pessoal a se linkar no Blogson. Então, o texto era sobre isso: O que os atrai? A imagem que virou título realmente foi utilizada em post antigo, mas em outro contexto. Creio que era um "poema". E como a "J" gostou da imagem, aquilo ficou em minha cabeça. Então é assim: o primeiro texto falava da barreira que impedia a minha convivência com gente nova. O atual fala da perplexidade de atrair jovens para o blog. Quanto a postar mais espaçado, você tem toda razão, mas a ansiedade esguicha.No momento eu tenho oito postagens prontas, sete delas à espera da ansiedade pedir sua publicação. O oitavo é o último post do blog (piração minha), com data sempre trinta dias após a publicação do penúltimo. Para você ter uma ideia, eu o escrevi em fevereiro de 2020. Já corrigi a data tantas vezes quantos novos posts publiquei desde então. Mas agora estou tomando um ansiolítico (para ver se paro de comer à noite como se ogro fosse. Graças ao site de genealogia já mencionado, estou escrevendo a história esquecida da mãe biológica de minha sogra (que a perdeu quando tinha quatro anos. Não sei se publicarei esse texto, ainda bem no início e em formato de biografia, estilo que eu não curto muito.

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    2. Também tenho essa voracidade por comida à noite, e no último mês, mês e meio, ela estava descontrolada. De duas semanas para cá, tomei vergonha na cara e tenho conseguido controlá-la sem o uso de qualquer remédio (até acho que eu deveria tomar algum ansiolítico ou coisa do gênero, mas por outro lado meio que me parece uma espécie de rendição, de admitir falta de controle sobre o próprio cérebro). Eu tenho tomado um café da manhã com um canecão de café pingado com leite, um lanche com queijo, ovo etc, depois almoço um caminhão de folhas e poucas colheres de arroz e misturas e acabou, não como mais nada daí em diante, até no outro dia por volta das cinco da manhã, ou das quatro, ou das três, depende da hora em que o sono se evadir de mim. Para isso, para evitar tentações, tenho me forçado a dormir mais cedo, no máximo às 9 da noite. Também estou sem cerveja nessas últimas duas semanas. E quer saber? Nenhuma coisa (a ceia noturna) nem outra (a cerveja) tem me feito falta. E voltei a caminhar, que também ajuda a combater a ansiedade com as endorfinas que libera.
      Esta pandemia está sendo útil como treino, treino para quando (e se) eu me aposentar.

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