segunda-feira, 9 de março de 2020

STRIP TEASE


Desde 2014, entretecidas nos mais de 1.700 posts do Blogson, podem ser encontradas confissões, lembranças, desabafos e imagens que permitem montar um puzzle quase completo de mim mesmo. Por isso, qual o sentido de apagar ou censurar tudo que um dia resolvi tornar público?

Este assunto voltou à cabeça por ter elogiado um texto publicado no blog de meu amigo virtual Ozymandias. Segundo ele, o autor apagou todos os posts do blog que mantinha. “Mas, por sorte, gostou tanto dos que lia, que conseguiu salvar dois, no Word, ainda naquele tempo”.

Acho estranhíssimo que alguém apague tudo o que um dia compartilhou na internet. Que tipo de sentimento leva alguém a fazer isso?Vergonha ou arrependimento por ter-se “desnudado” tanto nos textos publicados? Sentimento tardio de posse pelo que foi tornado público? Frustração por ter sido tão pouco lido e comentado? Ou para (re)criar uma persona de gente  “normal”, mais palatável a um possível empregador? Talvez tudo isso ou muito mais, não sei.

Mesmo sem jamais sonhar com a existência da internet, meu pai e seus irmãos, já no fim da vida, rasgaram e queimaram tudo o que escreveram e guardaram ao longo da vida. Fico pensando em um sentimento de pudor, de recato, um desejo de não decepcionar ou constranger filhos e outros familiares, uma vontade de resguardar a imagem que se esforçaram em exibir para a sociedade. O problema disso tudo é que tentaram - em vida - controlar reações e sentimentos póstumos de parentes e conhecidos, esforço absolutamente inócuo.

Os versos finais do poema “Incorrigível” resumem meu sentimento pessoal sobre este assunto:

Como mudar o que se fez definitivo?
Agora é muito tarde, impossível
Corrigir - não a ortografia,
Mas a vida.

Se alguém quiser conhecer o poema na íntegra, o link é este:

Há também um post em que comento o fim do excelente blog “O Elemento Jota”. O link é este:


8 comentários:

  1. Rapaz, não sei o que dizer ao senhor, após ser irresponsável indireto a lhe trazer essa lufa de inspiração. Cheguei a ter um outro blog, antes do Ozymandias, mas acabei apagando com o tempo, ele ficou menos de um ano no ar, além de que eu usava outro nome. Mas, antes eu escrevia na esperança de que lessem e comentassem, para que pudesse abrir uma mínima discussão, no último ano para cá, perdi a fé no que escrevo, quando o faço, é mais por uma necessidade de colocar algo para fora, e jogar lá no Ozymandias como lenha para queimar. Prefiro republicar textos de pessoas mais competentes, esse mesmo, já vou engatilhar para amanhã, com esse título, até que consegui uma foto bem peculiar a ele...

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    1. Comece dizendo "você", em vez de "senhor". Agradeço a inspiração e o fato de aparecer novamente no seu visitadíssimo blog. Mas sugiro que continue a escrever sempre, sem censura, pois isso é uma terapia gratuita. E lembre-se de Serra Pelada: tiraram muito ouro de lá, mas removeram literalmente montanhas de terra para conseguir tirar as pepitas. Não se preocupe com qualidade, ou melhor, não perca a fé no que escreve, apenas seja autêntico.

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    2. Eu até que tento, caro Jotabê, mas temo sofrer de ejaculação precoce datilográfica, mal começo um parágrafo, e já me dou por satisfeito, destruindo toda a relação... Acabei de republicar. O blog já foi mais visitado, com o tempo, fui desanimando em ir compartilhando em redes, e tendo todo esse estresse que não levava a lugar algum. Há uns 2 anos, ele não tem um view, ou engajamento tão grande nos comentários, mas mesmo nos dias parados, vai levando com os 4 mil views diários, o que de toda forma, é até um lucro, visto que somos fósseis aqui no blogspot, com a galerinha dinâmica só querendo curtir e compartilhar loucamente--

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    3. 4 mil views diários é um número inimaginável para mim! O velho Blogson consegue, quando muito, uns 30 (trinta!) acessos por dia. Independente disso, escreva! Sugestão (que fique entre nós): escreva uma história contando casos de pessoas que você conhece muito bem, mas caracterize o texto como se fosse ficção, invencionice. Eu comecei contando histórias da família do meu pai (mas não escondi isso).

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  2. acho que mudamos tanto ao longo da vida que deixamos de nos reconhecer nos antigos escritos - algos como: eles não nos representam
    ainda mais se pensarmos em termo de legado: "será que tudo que deixarei de minha consciência individual é um texto ridículo?"

    o silêncio deve ser melhor que o barulho irritante de um texto mal escrito...

    já apaguei blog, mas tenho backups e olhando para os textos anos depois fico feliz de ter apagado e começado tudo de novo

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    1. Sei não, Scant. Esse negócio de apagar, rasgar, destruir textos, fotos e objetos que um dia tiveram importância para nós me parece o desejo de só mostrar nossa melhor parte. Para mim, essas lembranças fazem parte do lego de minha vida e renegá-las é tentar esquecer o lixo que eu era eventualmente. Mas, como diz a música, "cada um, cada um". Eu não tenho importância nenhuma e quando alguém se animar a ler o que eu produzi poderá dizer: "esse cara era mesmo um babaca". Mas eu era (fui) assim.

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    2. diante da infinitude do universo somos partículas, mas pelo menos seus descendentes terão acesso a sua ironica forma de pensar
      pode ajudar a levar a vida com mais leveza e, um dia, matar saudades enquanto eles descobrem aspectos desconhecidos do seu ser

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    3. Rapaz, você é um cara extremamente cortês! Bacanérrimas as suas palavras!

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FOLHA DE PAPEL

  De repente, sem aviso nenhum, nenhum indício, nenhum sinal, você se sente prensado, achatado, bidimensional como uma folha de papel. E aí....