sexta-feira, 11 de setembro de 2015

RUÍNAS NA SELVA

Recentemente, fiquei pensando por que algumas pessoas excluem seus blogs da web. Seria uma tentativa de resgatar a privacidade do que já foi público um dia? Ou seria o desejo de converter o digital em físico, objeto palpável (um livro talvez)? Nada disso se aplicaria ao Blogson (aplicar-se-ia é muito pedante).

Já disse que eu estou em cada trecho de memória, em cada piada sem graça, em cada rabisco que teimo chamar de desenho. Sou eu que estou ali, verdadeiro mosaico, jogo de lego. E não pretendo mudar isso. Pouco me importa se há qualidade ou não no que escrevo e divulgo. Porque sou eu que estou ali e agora é muito tarde para tentar corrigir - não os posts, mas a vida.

Pensando nessas coisas, imaginei por quanto tempo ainda publicarei minhas solenes bobagens, minhas verdades caricatas. Não sei a resposta, sei apenas que não penso excluir o Blogson da internet. Agrada-me a ideia de o blog - para sempre silenciado - ficar como uma daquelas ruínas maias que arqueólogos e aventureiros descobriram nas florestas de Yucatán, cheias de imagens, e grafismos esculpidos na pedra, estranhos, bizarros e incompreensíveis.

Assim gostaria que o blog fosse: silencioso sim, mas atiçando a curiosidade em quem por acaso o descobrisse no oceano da web. Por conta desses pensamentos de gente velha, resolvi transformar essas ideias em um poema, um falso poema, na verdade.


Um dia, nada mais escreverei, nenhum texto.
Deixarei de fazer desenhos grotescos,
Esgotada talvez a inspiração,

Talvez perdida a vontade. Definitivamente.
Ou, quem sabe, a lucidez que me resta.
(se já tive alguma, alguma vez)

Ou estarei morto, solitariamente morto.

O blog deixará de ser alimentado,
E emudecerá nesse dia. 

De nada adiantarão comentários
Ávida e ansiosamente esperados. 
Nenhuma resposta será dada, 
Nenhum obrigado.

Mas que ele continue na web (será só mais um)
Uma construção desabitada, abandonada.

Ruína escondida na floresta tropical,
Que mostre a quem explorar suas inscrições
A inquietação, sonhos e pensamentos
De quem um dia sonhou, pensou e viveu.

11 comentários:

  1. "solitariamente morto" moi uniquement. Muito bom.
    "J"

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    1. Eu também gostei dessa ideia, mas preciso fazer uma confissão: este texto é um falso poema. Acho que tem algum lirismo mas é prosa, não poesia. As quebras para parecer versos são trapaças. E, acredite, tudo surgiu da imagem de "ruínas na floresta tropical". Se eu tivesse formatado como prosa que efetivamente é, teria ampliado a ideia de decifração, de desconhecido. Talvez eu mude mais tarde. Como sempre, obrigado pelos comentários.

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  2. Todo poeta é um grande trapaceiro JB, rimas e métricas, estrofes e formas são só dóceis mentiras para apaziguar, pra chamar de arte. Eu gostei e ainda que fosse prosa ainda enxergaria poesia.
    "J"

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  3. Um falso poema? E que poemas não o são, caro Blogson? Uma vez que o poeta é um fingidor, e isso segundo o maior fingidor de todos os tempos. Falso ou não, ficou bom pra caralho!

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  4. É, Marreta, se o blog tivesse um "clube do assinante", você teria a carteirinha número 1! Hoje eu sei que seu apelido é Azarão, mas, mesmo não querendo bulir com sua Marreta, continuo a te chamar pelo nome da ferramenta. É mais ou menos como o meu chefe fazia, ao me chamar à sala dele, "na viva voz", gritando "Ô Pênis!" Ele não estava interessado no meu "objeto", era só força do hábito, confundindo a parte com o todo.
    Em tempo: gostei da ironia final do comentário. Valeu!

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  5. Já faz um tempo que não comento nem visito o blog, mas este mesmo tempo anda meio escasso para mim. De qualquer forma, como você gosta de poesia, gostaria de compartilhar este trecho (o final, para dizer a verdade) do Ulysses, de Lord Tennyson, que também fala sobre o envelhecimento:

    "Embora muito nos tenha sido tomado, muito resta; e embora
    Já não sejamos aquela força que nos velhos tempos
    Moveu a terra e os céus, somos aquilo que somos —
    Um disposição firme de corações heróicos,
    Enfraquecidos pelo tempo e pela sina, mas fortes em determinação
    De tentar, buscar, encontrar e não desistir."

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    1. Rapaz, que coisa incrivelmente bonita! Meu prezadíssimo Lord Wilmore, obrigado por visita tão honrosa. Sinceramente, sem nenhuma frescura, é sempre muito bom ler seus comentários. E esse trecho de poema é tão preciso e elegante quanto um tiro de sniper (acho que não foi uma comparação muito feliz). Já disse - e sou sincero - que sou um ignorante, um caipira. Quantos livros fantásticos eu poderia já ter lido (e não os li)! Obrigado pela visita!

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    2. Lord Wilmore,
      Tentei achar este poema na internet, mas só o encontrei em inglês. A tradução do Google é ridícula. Onde posso encontrá-lo em português? O texto é tão bonito que gostaria de criar um post "Reverência" com esse poema. Poderia me ajudar?

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    3. Só vi sua pergunta agora. Você pode ler o poema inteiro neste endereço: http://pedradaponte.blogspot.com.br/2009/10/ulysses-tennyson.html.

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FOLHA DE PAPEL

  De repente, sem aviso nenhum, nenhum indício, nenhum sinal, você se sente prensado, achatado, bidimensional como uma folha de papel. E aí....