E o serviço foi saindo. Um papel timbrado foi
especialmente encomendado para uso nessa proposta. Além do nome da construtora,
trazia impresso o nome do órgão contratante e a identificação da obra. Fico
tentado a dizer que tinha até marca d’água, mas não tenho mais certeza disso.
Os desenhos de métodos construtivos, plantas dos acampamentos e coisas do
gênero foram feitos em formato A3. Capas duras e lombadas de várias espessuras,
unidas por parafusos metálicos, foram encomendadas, sendo individualizadas por
etapa de julgamento e análise: Documentação, Proposta Técnica, Manual de
Garantia da Qualidade, Caderno de Desenhos e Proposta Comercial.
Os procedimentos descritos acima não traziam
nenhuma novidade, pois já faziam parte da rotina da construtora para elaboração
de propostas para grandes obras. Na década de 1980 todas as grandes
construtoras adotavam essa prática. A singularidade aconteceu na forma de
apresentação e no acabamento gráfico escolhido. Pela primeira vez, os desenhos foram impressos a
cores, em papel couché casca de ovo. O papel timbrado tinha a gramatura e
textura de papel utilizado na impressão de livros de autores consagrados. Para enfeitar as capas das
três vias que deveriam ser apresentadas, foram confeccionadas e coladas (do lado
inferior direito) placas metálicas com dimensões que eu diria equivalentes a
dois smartphones alongados, colocados lado a lado. Creio que eram de aço
escovado. Além dos mesmos dizeres do papel timbrado, traziam ainda gravada a
indicação da parte da proposta a qual o volume pertencia (Documentação, Proposta
Técnica, etc.). Com um resultado estético bastante discutível (para mim, lógico),
as placas traziam também a representação gráfica do átomo de Rutherford.
A outra novidade que essa proposta apresentou
foi o volume de papel produzido. Não sei o número final de folhas
laboriosamente datilografadas (seria maluco se lembrasse), mas tenho uma
memória visual bem boa. Por isso, estimo a seguinte distribuição:
- Documentação, apresentada em formato A4: um
ou dois volumes, totalizando uns 3 centímetros de espessura;
- Manual de Procedimentos de Garantia da
Qualidade: um volume em formato A4, com uns 2 centímetros de espessura;
- Proposta Técnica: três volumes em formato A4,
cada volume com uma espessura aproximadamente igual a um pacote de “Chamex” com
500 folhas. Como o papel da proposta era mais encorpado, estimo que cada volume
deveria ter umas 300 folhas;
- Cadernos de desenho: dois volumes em
formato A3, cada um com uns cem desenhos;
Proposta Comercial: um (ou dois?) volume(s) em formato A4,
ligeiramente inferior(es) aos volumes da proposta técnica.
Até aí tudo bem? Agora, imagine que esse
monstrengo correspondia a apenas uma via da proposta. Creio que o edital exigia
a apresentação da proposta em três vias. Dá para imaginar o volume disso?
A empresa contava em seu quadro de funcionários
com um militar reformado do exército brasileiro, a quem todos chamavam de
"major". A ele coube a tarefa de montar a logística do transporte. De
cara, descartou-se a possibilidade de mandar o elefante em voo comercial. Como a construtora não tinha nenhum
avião, imagino que fretar um sairia muito caro. Por isso, foi escolhido o
transporte rodoviário. Não me lembro mais dos detalhes, apenas de algumas
"pérolas".
Segundo ele, era preciso estabelecer uma
"tática diversionista" para confundir eventuais sabotadores a mando
de alguma empresa concorrente (a paranoia era grande). Assim, foram designados
três veículos que viajariam em comboio até o Rio. Só um deles, sem nenhuma
identificação (talvez uma kombi), levaria todos os volumes e ficaria posicionado
entre os outros dois. Não sei se algum dos outros tinha o logotipo e outras
identificações da empresa. Lembro-me apenas da recomendação de, nas paradas
para uma mijadinha ou um rápido café, manter sempre o carro com alguém ao volante e o
motor sempre ligado. Fala sério, essa história daria ou não um filme bacana?
Mesmo que fosse mais para "Corra que a polícia vem aí" ou um
filme dos Trapalhões.
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