sexta-feira, 11 de setembro de 2015

2007

Às vezes, remexendo velhos backups, acabo encontrando alguma coisa que tinha passado despercebida em outras garimpadas. É mais ou menos como uma busca por fósseis de animais extintos em uma rocha sedimentar. De repente, a ferramenta do pesquisador descobre em alguma camada geológica a evidência de que ali pode encontrar-se um esqueleto ou sei lá o que, provando que naquele lugar existiu alguma forma de vida. É mais ou menos isso que acontece comigo.

Nas picaretadas que dei hoje, encontrei um e-mail endereçado a meu irmão, quase três anos mais velho que eu, dois dias após seu aniversário (15/09) e escrito no tempo em que ainda nos falávamos. Hoje, isso não existe mais - nem existirá, exceto se for através de algum centro espírita, depois que eu passar para outra encadernação. 

No e-mail, apesar de ser mais novo que ele, eu falava sobre a sensação de envelhecer. O texto é do tipo "mais do mesmo". A diferença é que eu tinha "apenas" 57 anos.

Mas fica aqui uma pergunta: alguém ainda suportará ler mais uma lenga-lenga minha sobre esse assunto? Vê aí.


Não há como negar, envelhecer é uma bosta. Falo isso com conhecimento de causa, lógico. De repente, algum filho da puta te chama de "tio" e você se dá conta que a sua imagem exterior é essa mesma, de tiozão, mesmo que seus olhos teimem em ver a vida tal como sempre a viu (ou deixou de ver). 

Gostaria que não fosse amargo, que você não se tornasse amargo. Às vezes (ou sempre) somos cobrados, esperam de nós comportamentos estereotipados de acordo com nossa faixa etária, mas isso é uma merda. É lógico que precisamos ter um olho no espelho, para não cair na armadilha do ridículo (refiro-me à indumentária). Mas por que eu tenho que forçar todo o meu cérebro a envelhecer por igual, se (pelo menos em mim) ele teima em ser independente? Hoje, eu percebo que tenho pelo menos três idades mentais: há coisas que percebo serem exatamente do mesmo jeito que pensava quando tinha vinte anos. Há outras que evoluíram e há outras em que sou absolutamente velho, talvez mais do que minha idade real. Porque matar em minha mente a juventude ainda existente? Bobagem, concorda?

Como não tenho rádio no carro, às vezes fecho o vidro e começo a cantar a plenos pulmões, só por diversão. Sai de tudo, até bolero. Outras vezes viajo na maionese, deixando o cérebro ir onde quer. Se eu quiser me policiar, tipo "eu não devo pensar isso", ou "não fica bem para meu status social", eu tô fodido. Outro dia eu recebi um e-mail com uma historinha simpática, de um cara que tratava cortesmente um jornaleiro e era, invariavelmente, maltratado por ele. Perguntado por que se mantinha cortês, a resposta foi: -"porque eu não quero que ele determine como devo viver". É uma fábula, mas bem boa. Porque deixar que os outros determinem a forma como devemos agir?

Estou falando essa tralha toda, para dizer que a idade fez de mim um cara mais relaxado (epa!!!!!!!!!!), pois eu me levo menos a sério, levo os outros menos a sério, levo a vida menos a sério. Estou querendo dizer com isso que me permito acreditar em asneiras e questionar "aquela velha opinião formada sobre tudo". E, principalmente, a me libertar para dizer às pessoas que admiro ou de quem gosto o quanto as admiro ou o quanto gosto delas, sem grilo de ficar parecendo puxa-saco ou viado (viado, não!!!).

3 comentários:

  1. Isso da gente várias idades mentais, é verdade. Tem situações que a imagem que tenho de mim (ilusória, claro, coisas de um pré-terceira idade) é a da minha foto no RG; em outras, quando estava na faculdade; em outras, ainda, me vejo com uns 80 anos; dificilmente me vejo como sou realmente hoje, ou seja, uma espécie de George Clooney caipira.
    É sempre bom ler seus textos sobre envelhecimento, pode publicar quantos quiser ou tiver.

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    1. Este texto tinha a intenção velada de homenagear meu irmão (com quem, por mais paradoxal isso seja, pretendo nunca mais trocar uma palavra), que faz aniversário dia 15/09. Era também destinado às suas (Azarão) reflexões, pois sei que deve ter uns cinquenta e poucos anos e imagino que está ainda descobrindo a chatice de envelhecer. Sinceramente, não sei se tenho mais assunto ou saco para escrever sobre isso (se vacilar, o Alzheimer pode já estar querendo embarcar no trem). Valeu!

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