quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A SOLUÇÃO!



CHOVE CHUVA...


Pensando na chuvinha que tem caído em BH, resolvi criar dois novos aplicativos para navegação pela cidade. Um específico para transporte e outro para escolha das melhores rotas. Já tenho até as marcas, falta só criar os aplicativos. Creio que dará para comprar um pouco mais de caviar para o lanchinho da tarde. Olhaí.




domingo, 26 de janeiro de 2020

MENSAGEM NA MAMADEIRA


Olá, menininhas,
Suas primas nem tinham nascido ainda quando resolvi escrever uma "carta-surpresa", uma "mensagem na garrafa" para que elas lessem ao completar quinze anos. Mas imaginar o futuro não é fácil – a menos que você acredite em cartomantes, tarólogos e outros profissionais do engodo. Por isso, resolvi escrever uma carta para vocês tal como as vejo atualmente, uma “mensagem na mamadeira” (piada ruim e dispensável), esperando que também a leiam quando fizerem quinze anos.

Durante os dez dias que passamos no Rio de Janeiro vivi uma experiência super prazerosa pois tivemos a oportunidade de conviver com vocês em tempo integral. Vocês estão hoje com onze meses e são totalmente diferentes uma da outra, coisa natural para gêmeas bivitelinas. Para não deixar dúvidas, devo dizer que ambas são lindas, muito lindas. Por isso, não estou me referindo à aparência física, mas ao comportamento. Sem citar nomes nem apelidos, posso dizer que uma aparenta ser muito observadora, pois olha as pessoas como se estivesse tentando entender sua essência. A outra é irrequieta, não para um minuto e parece querer explorar o mundo, pouco se importando com quem está próximo.

Isso gera situações divertidas e inesperadas, com uma passando por cima da outra e coisas do gênero, pois hoje vocês apenas engatinham (mas já estão no limiar da experiência de andar apenas usando os pezinhos. Quando isso acontecer seus pais vão perder ainda mais o sono!).

Um dos comportamentos mais interessantes é a emissão de sons que cada uma faz. A observadora (a quem chamarei agora de sonhadora) balbucia delicadamente e sorri de um jeito que cativa e derrete qualquer um. A exploradora produz uma variedade tão inacreditável de sons estridentes, inesperados e engraçadíssimos (trinados, rosnados, grasnados, etc.) que me fizeram chamá-la de “patinha” ou dubladora do Pato Donald. Enfim, vocês são - cada uma a seu modo - motivo de imensas alegrias para seus pais e para quem tem a sorte de sua convivência, ainda que só por breve tempo (como no nosso caso).

Bem que eu gostaria de escrever mais coisas para vocês, contar casos e histórias sobre seus pais, sobre vocês, sobre a alegria de tê-las como netas (hoje, netinhas), mas sei que adolescentes não têm tempo nem paciência para ler cartas muito longas, ainda mais se escritas há tanto tempo. Mas não queria terminar sem antes falar só um pouquinho de seus pais. Eu os conheço há muito tempo e sei que vocês não poderiam ter pais melhores. E isso não é clichê nem força de expressão. Podem acreditar, vocês têm mesmo os melhores pais que poderiam desejar, pois eles foram e são os melhores filhos que um pai e uma mãe gostariam de ter. Então, não tem erro: filhos bons viram pais sensacionais. Por isso, fico feliz em dizer da sorte que vocês têm por eles serem assim. Mas, claro, eles também têm a sorte de ter filhas tão adoráveis.

Sua mãe, por exemplo, é uma das pessoas mais bem humoradas que conheço e é uma pena que não guarde as observações engraçadíssimas que faz ao nos enviar fotos e vídeos de vocês. Seu pai é extremamente carinhoso e preocupado, o quem tem feito com que esteja desenvolvendo “belas” olheiras de cansaço (e é meio louco também, pois faz com vocês piruetas e brincadeiras capazes de deixar um avô neurótico ainda mais neurótico).

Agora é para acabar mesmo. Escrevo esta carta desejando estar presente em sua festa de quinze anos, mas intimamente sinto que talvez não esteja mais por aqui. Não importa. O que importa mesmo é dizer que fizeram desabrochar em mim um imenso, um inextinguível amor por vocês.
Beijão. Seu avô ;)
Janeiro de 2020


sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

XADREZ ESQUIZOFRÊNICO


Os assuntos que abordo no Blogson geralmente surgem através de imagens. Uma de minhas noras diz que percebe quando, durante uma conversa em família, surge algum pensamento idiota em minha mente. Segundo ela, fico com um olhar "perdido" e um meio sorriso na boca. Acho que deve ser assim mesmo. Ao me decidir depois a abordar essas imagens ou insights é que o enredo vai se desenvolvendo. Talvez seja essa a explicação de meus textos serem curtos e enxutos, ao contrário dos elaborados posts do Marreta, que usa um vocabulário refinado até mesmo para falar de putaria. Linguagem culta, refinada denunciam muita leitura, pois só assim o vocabulário aumenta. Até porque ninguém tem o dicionário como livro de cabeceira, não é mesmo? Muito bem. Outro dia, pensando no interesse que meu amigo virtual Ozymandias tem por xadrez, surgiu uma imagem na minha mente. E foi atrás dela que veio esta reflexão anêmica, idiotinha e dispensável.

Há tempos venho observando no Brasil uma situação estranha, uma espécie de jogo de estratégia disputado entre inimigos inconciliáveis. É como se o Brasil fosse um grande tabuleiro, onde Esquerda e Direita disputam intermináveis partidas de xadrez. Um xadrez esquizofrênico, onde bispos comportam-se como rainhas, querendo influir em todas as jogadas. As torres servem de observatórios e palanques para a difusão de palavras de ordem ou ofensas pessoais. Os cavalos foram substituídos por jumentos ou asnos, de simbolismo mais condizente com os discursos e pronunciamentos realizados por cada rei. E a tudo os peões aplaudem ou defendem ardorosamente, loucos para ver o adversário tomar um xeque mate definitivo. Mas quem se recusa a participar desse jogo acha tudo isso um porre. Olhaí o tabuleiro. 


quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

É POR ISSO QUE SOU ASSIM


Um dos quatro amigos virtuais identificáveis do Blogson Crusoe fez o seguinte comentário:
“uma coisa que sinto falta no seu blog é vc falar das obras que te influenciaram ao longo da vida: filmes, músicas e livros que te empolgaram
acho que seus leitores gostariam de saber o que você considera fundamental da cultura popular ou erudita”
.

Manda a boa educação que os amigos sejam tratados com cortesia. Por isso resolvi atender ao pedido de meu amigo Scant (esse é seu nome – ou codinome), e dar uma viajada por essa estrada, mesmo que já tenha abordado o assunto em alguns posts. Bora lá.

LEITURA:
Graças a um pai falido e endividado, eu morava na casa de minha avó. Para dar uma situada nessa história, transcreverei trechos de um post publicado um mês após a criação do blog:

Até os onze anos de idade, eu vivi em prisão domiciliar, mais ou menos como o José Genoíno quando tentou dar o golpe do coração doente. No meu caso, era uma prisão amorosa (mas, sempre prisão). Como moravam 14 pessoas na casa de minha avó e só duas dessas eram crianças, eu era mais vigiado e monitorado que beijo gay na novela das oito e tinha menos liberdade que os mensaleiros que estavam presos na Papuda. Então, para sobreviver a isso, eu lia.

Como é? Você brincava de queimada, pegador, bentialtas, jogava bola na rua? O que posso dizer é que você está na minha faixa etária – e que eu já invejei muitas crianças como você. E, por isso, eu lia.

Ah, você também era preso, mas via televisão? Via o “Xou da Xuxa”? Lamento pelo Xou, mas você, além de muito mais novo que eu, pelo menos tinha televisão. Na casa de minha avó não havia televisão; se tivesse, de nada adiantaria, porque até meus onze anos, não havia programação dirigida às crianças. Cara, como eu lia!...

Eu lia tudo o que passasse na reta: quase todos os fantásticos livros infantis do Monteiro Lobato, revistas em quadrinhos, livros diversos comprados por meus tios e tias, livros de fábulas, de história antiga, histórias em quadrinhos publicadas diariamente n’O Globo, livros das coleções compradas por uma das minhas tias, clássicos da literatura mundial, Almanaque do Biotônico Fontoura, o escambau. Até peça de teatro (Romeu e Julieta) eu li.

Sentiu a barra? Então vamos a uma leitura cronológica do que li. Depois de alfabetizado eu adorava ler as histórias magníficas do Pato Donald criadas pelo genial Carl Barks (nessa época eu não sabia disso). Com uns onze anos.mais ou menos, comecei a ler os livros infantis do Monteiro Lobato, acabando por ler 99% deles. Nesse meio tempo eu continuava a encarar histórias em quadrinhos que pintavam na reta. Uma coisa notável é o fato de nunca ter curtido muito histórias de heróis ou super heróis. Meu negócio não era porrada, era humor ou tudo que provocasse encantamento, que me fizesse "viajar". Exemplo: histórias do mágico e hipnotizador Mandrake, do Príncipe Valente ou Tarzan.

O início da adolescência já me pegou lendo um baú cheio de “Seleções do Reader’s Digest" que um tio deixou ao se mudar para outra cidade. As primeiras revistas eram de 1942 e as últimas de 1958. Leitura cheia de textos de autoajuda, altamente intoxicantes, diga-se. Li também alguns livros do Mark Twain (os dois melhores foram relidos) e comecei a encarar os livros que uma das tias comprava para decorar as estantes (essa é minha impressão!). Aí rolou de tudo, desde muita literatura brasileira até grandes clássicos da literatura mundial. Uma dessas coleções tinha 50 livros de autores mega consagrados: Cervantes, Camões, Hemingway, Dante, Boccaccio, Stendhal, Dickens, etc. Li alguns, mas confesso que não tinha maturidade para apreciar a maioria. Uma das coleções abrangia grande parte da obra de Alexandre Dumas; li todos (uns vinte livros ou mais).

Voltando aos quadrinhos, no início da década de 1970 a revista Grilo foi lançada com a nata dos desenhistas e cartunistas do mundo. Tenho todos os números. Meu irmão comprou os relançamentos das revistas do Stan Lee (Demolidor, Hulk, Capitão América, Namor, Quarteto Fantástico, Thor, Homem Aranha, Homem de Ferro, etc.). Nessa época (1969 a 1971), comecei a comprar todos os números do Pasquim.

Depois do casamento, a leitura tornou-se uma atividade mais difícil, dificuldade acentuada depois pelo nascimento do primeiro filho. Mesmo assim, continuei a consumir quadrinhos, mas sempre na vertente do humor – Fradinhos do Henfil, Chiclete com Banana (Angeli), etc. Hoje, leio os livros que os filhos me dão de presente (só tenho ganho isso ultimamente). Apenas peço que não sejam de ficção, pois já cansei.

MÚSICAS:
Esse tema foi exaustivamente tratado em dois posts do início do blog. Os links são estes:

RESUMÃO:
Se eu fosse para algum lugar deserto (praia), eu levaria:
Filmes do Charles Chaplin e Mel Brooks
Livros do Millôr Fernandes, Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Pedro Nava e Vinícius de Moraes
Músicas do João Gilberto, Beatles, Jimi Hendrix, B. B. King, George Gershwin e dos compositores americanos das décadas de 1920 a 1945. A propósito, sugiro uma olhada nessa ótima performance do pegador Rod Stewart (põe ótima nisso!)



Acho que é isso.


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

JANELAS

I
Cansei de ser amável, polido, gentil, afável, morno
Não tenho mais paciência para imbecis, idiotas e mal-educados
Detesto ser visto como conciliador, paciente, leniente
Não suporto mais que me cobrem compreensão e cortesia
Dispenso a convivência com grosseirões, intolerantes e radicais
Nunca comprei briga de ninguém e nem de graça aceitaria isso
Não quero mais o papel de para-raios do mundo
“No more, mister nice guy”!

II
Não sou neurose para a terapia de ninguém
Nem infecção para seu antibiótico
Dor para seu analgésico
Luxação para sua compressa
Radical livre para seu envelhecimento
Insônia para seu rivotril
Diabetes para sua gula
Ou alcoolismo para sua intemperança

III
Não aceito ser justificativa para as dores de quem quer que seja
Recuso-me a continuar servindo de para-choque
Ou escudo para qualquer um
Nunca fui nem quero mais ser visto como explicação
Motivo, mola propulsora, justificativa de nada, nada, nada
Para ninguém
Meus erros são meus, só meus, não preciso dividi-los
Nem multiplicá-los




quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

TOTALMENTE ENREDADO


O mal que acomete algumas pessoas com mania de escrever abobrinhas é achar que tudo o que conseguem obrar nunca é nada menos que maravilhoso, engraçadíssimo ou mais profundo que a Fossa das Marianas. Eu sou um desses caras. Por isso, sem nenhum pudor, transcrevo uma reflexão jotabélica:

“Eu sou do tempo em que "redes sociais" eram coisas de aldeia de pescadores, que todo mundo ajudava a puxar na chegada dos barcos”.

Você, caro leitor, pode ter achado isso uma merda, mas eu achei lindo. E adequado ao tema de hoje, que trata justamente de redes sociais, ou melhor, das pessoas que as utilizam.

No meu caso, quando estou sem assunto (o que frequentemente acontece), volto os olhos para o Facebook, única rede a me enredar. Para mim, o feicibuque tem sido o alvo e a arma para o cérebro pensar novas piadas e coisas do tipo. Honestamente falando, tem sido uma experiência quase tão interessante quanto o Blogson, pela possibilidade de analisar e verificar o comportamento inesperado de conhecidos.

O que parece acontecer é que essa rede cumpre o papel dos bancos e cadeiras nas calçadas ao final do dia, quando o povo saia para trocar as últimas maledicências, as dores nas costas, para ver a rua e coisas do gênero. Lembro-me de uma família perto da casa de minha avó que fazia exatamente isso. Essas pessoas não leem quase nada ou nada mesmo. E o Facebook permitiu a elas esse contato com o mundo mágico das fake news, dos cachorrinhos e gatinhos fofinhos, e a leitura de mensagens do Chico Xavier psicografadas por Santo Agostinho ou Platão, alguma coisa assim.

Mas criou um “defeito colateral” inesperado: na falta do "olho no olho", muitas máscaras caíram e a agressividade explodiu nos comentários e “notícias” compartilhadas, graças ao moralismo insuspeitado, ao preconceito, ao fundamentalismo religioso, à caretice desgovernada e por aí. Além disso, o Facebook transformou-se no palco de uma "guerra de trincheiras" entre Esquerda e Direita. E tome tiro!

As “palavras de ordem” ao final de cada post então são um porre. Até já pensei em fazer uma lista para postar na própria rede, só para encher o saco. “Quem gostou compartilha”, “Seu dever de cidadão que ama seu país é repassar o quanto puder...”, "Se gostou, diga Amém”, etc. etc. Algumas são tão fodidas que sugerem uma "corrente do bem": "Faz um favor pra mim? ...envie esta msg para 9 amigos ou 3 grupos, Não ignore em 4 minutos você receberá uma notícia boa. Não custa enviar.....!”. Dá vontade de responder "Vá à puta que o pariu!"

As fontes das “notícias” divulgadas são as mais suspeitas e desconhecidas possíveis. O que têm em comum é a divulgação de irrelevâncias, tratadas como se fossem da magnitude da construção do canal do Panamá ou das viagens à Lua. E por serem notícias que não mereceriam uma linha sequer na grande mídia, surgem comentários que parecem ter sido escritos por criança birrenta ou invejosa da atenção dada pela mãe ao irmãozinho mais novo: “Essa notícia a Globo não mostra...”.

Numa boa, depois de suportar durante um bom tempo essas babaquices, tomei uma decisão: deixei de seguir dois terços de meus “amigos de Facebook”. E essa experiência saneadora serviu para mais uma coisa: escrever novo post para o Blogson.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

PROFESSOR PAPANADA

O título deste post é uma brincadeira com o nome do cientista Professor Papanatas, personagem da HQ "Brucutu" (Alley Oop", no original). Brucutu (que nada tem a ver com este post) era um homem das cavernas e possuía um dinossauro (Dinny) como montaria. O Professor era o cientista que criou a máquina do tempo utilizada pelo Brucutu em suas idas e vindas ao passado ou presente. Se você nunca leu nem ouviu falar sobre isso, sinto muito. Por isso, passemos ao assunto de hoje.


Eu acho que tinha 17 ou 18 anos quando entrei numa roubada, começando ali minha carreira de crimes. Crimes contra o bom senso, bem entendido. E tudo por causa de um artigo que li na revista “Seleções do Reader’s Digest”. O artigo ocupava no máximo duas páginas da revista e descrevia de forma sintética e meramente jornalística os métodos anticoncepcionais existentes então. Achei tudo muito interessante, pois nunca tinha ouvido falar nada sobre isso.

Nessa mesma época eu era amigo de uma menina completamente sem noção (talvez “brega” fosse a definição mais correta). Era muito gorda, feia, tinha os olhos meio esbugalhados como se sofresse de hipertiroidismo não tratado, ria escandalosamente e... gostava de mim (mesmo que eu nunca tenha percebido isso). Como era muito desinibida e divertida, gostava de conversar com ela (agora entra o preconceito!), mas só em sua casa, pois tinha vergonha de ser visto andando em sua companhia (alguém aí ficou chocado? Em alguns aspectos eu era – e ainda sou – bastante elitista e preconceituoso).

Pois bem, em uma de nossas conversas quase diárias, contei sobre o que tinha lido. Ela era um ou dois anos mais nova que eu e estava fazendo o “Curso Normal”, destinado à formação de professoras primárias (ou de primeiro grau). Ao ouvir minha descrição dos diversos métodos contraceptivos ficou encantada e disse que eu deveria “dar uma aula” sobre isso em sua turma. Devo tê-la chamado de doida e me recusado veementemente a cometer essa loucura. Além do mais, nenhuma professora de bom senso concordaria com uma insanidade dessas...

Bem, isso era o que eu pensava. Não sei quanto tempo se passou entre essa conversa e a notícia de que a professora tinha achado ótima a ideia da “aula”. Isso me faz pensar na confiança que pais inocentes despreocupadamente depositam nos professores de seus filhos e filhas!

Pensem bem na insensatez: um sujeito com idade entre 17 e 18 anos, saindo ou recém-saído da adolescência ser convidado a falar sobre métodos anticoncepcionais para um grupo de alunas com idade entre quinze e dezessete anos! Creio que nem o médico autista da série “The good doctor” toparia esse “desafio”. Talvez a professora fumasse orégano, sei lá.

Reclamei, reclamei, disse que isso era loucura, que não iria, mas... fui. E foi mesmo uma loucura. Nunca na minha vida tantas adolescentes tinham prestado tanta atenção em mim. E ao mesmo tempo! A sala devia ter umas vinte alunas ou mais. Mas eu estava tão sem jeito ali na frente daquelas meninas que só queria falar sobre o que tinha lido e vazar rapidinho, pondo em prática o ditado da infância de meu pai – “menino bobo é que acha canivete”. Eu estava ali com vinte ou trinta “canivetes” e não tinha a menor ideia do que fazer com pelo menos um.

O resto da história é previsível: Como até hoje acontece, “baixou um santo” na minha cabeça e a timidez sumiu. Expliquei que não tinha conhecimento nem preparo para estar ali, que só tinha lido um pequeno artigo em uma revista, mas que bla bla bla - e mandei ver. Não me lembro se fui aplaudido (provavelmente, não), a professora me agradeceu (também não sei se gostou), minha amiga achou tudo ótimo e uma de suas colegas fez mais perguntas que as demais. O resultado foi ter ganhado dessa aluna um selinho em uma festa onde nos encontramos, o que abriu para mim “as portas da percepção” e deixou minha amiga (também presente) consternada.

Depois disso, minha carreira de "crimes" contra o bom senso evoluiu e eu, um tímido congênito, continuei cada vez mais cínico e sem noção, um tilelê, um bicho-grilo sem maconha, falando e fazendo as maiores idiotices sem o menor pudor. Mas a culpa disso sempre foi do “santo”, claro.


MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4