domingo, 26 de janeiro de 2020

MENSAGEM NA MAMADEIRA


Olá, menininhas,
Suas primas nem tinham nascido ainda quando resolvi escrever uma "carta-surpresa", uma "mensagem na garrafa" para que elas lessem ao completar quinze anos. Mas imaginar o futuro não é fácil – a menos que você acredite em cartomantes, tarólogos e outros profissionais do engodo. Por isso, resolvi escrever uma carta para vocês tal como as vejo atualmente, uma “mensagem na mamadeira” (piada ruim e dispensável), esperando que também a leiam quando fizerem quinze anos.

Durante os dez dias que passamos no Rio de Janeiro vivi uma experiência super prazerosa pois tivemos a oportunidade de conviver com vocês em tempo integral. Vocês estão hoje com onze meses e são totalmente diferentes uma da outra, coisa natural para gêmeas bivitelinas. Para não deixar dúvidas, devo dizer que ambas são lindas, muito lindas. Por isso, não estou me referindo à aparência física, mas ao comportamento. Sem citar nomes nem apelidos, posso dizer que uma aparenta ser muito observadora, pois olha as pessoas como se estivesse tentando entender sua essência. A outra é irrequieta, não para um minuto e parece querer explorar o mundo, pouco se importando com quem está próximo.

Isso gera situações divertidas e inesperadas, com uma passando por cima da outra e coisas do gênero, pois hoje vocês apenas engatinham (mas já estão no limiar da experiência de andar apenas usando os pezinhos. Quando isso acontecer seus pais vão perder ainda mais o sono!).

Um dos comportamentos mais interessantes é a emissão de sons que cada uma faz. A observadora (a quem chamarei agora de sonhadora) balbucia delicadamente e sorri de um jeito que cativa e derrete qualquer um. A exploradora produz uma variedade tão inacreditável de sons estridentes, inesperados e engraçadíssimos (trinados, rosnados, grasnados, etc.) que me fizeram chamá-la de “patinha” ou dubladora do Pato Donald. Enfim, vocês são - cada uma a seu modo - motivo de imensas alegrias para seus pais e para quem tem a sorte de sua convivência, ainda que só por breve tempo (como no nosso caso).

Bem que eu gostaria de escrever mais coisas para vocês, contar casos e histórias sobre seus pais, sobre vocês, sobre a alegria de tê-las como netas (hoje, netinhas), mas sei que adolescentes não têm tempo nem paciência para ler cartas muito longas, ainda mais se escritas há tanto tempo. Mas não queria terminar sem antes falar só um pouquinho de seus pais. Eu os conheço há muito tempo e sei que vocês não poderiam ter pais melhores. E isso não é clichê nem força de expressão. Podem acreditar, vocês têm mesmo os melhores pais que poderiam desejar, pois eles foram e são os melhores filhos que um pai e uma mãe gostariam de ter. Então, não tem erro: filhos bons viram pais sensacionais. Por isso, fico feliz em dizer da sorte que vocês têm por eles serem assim. Mas, claro, eles também têm a sorte de ter filhas tão adoráveis.

Sua mãe, por exemplo, é uma das pessoas mais bem humoradas que conheço e é uma pena que não guarde as observações engraçadíssimas que faz ao nos enviar fotos e vídeos de vocês. Seu pai é extremamente carinhoso e preocupado, o quem tem feito com que esteja desenvolvendo “belas” olheiras de cansaço (e é meio louco também, pois faz com vocês piruetas e brincadeiras capazes de deixar um avô neurótico ainda mais neurótico).

Agora é para acabar mesmo. Escrevo esta carta desejando estar presente em sua festa de quinze anos, mas intimamente sinto que talvez não esteja mais por aqui. Não importa. O que importa mesmo é dizer que fizeram desabrochar em mim um imenso, um inextinguível amor por vocês.
Beijão. Seu avô ;)
Janeiro de 2020


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