Meu cunhado mais novo tinha uns dez ou onze
anos de idade quando sumiu de casa. Mesmo tendo nove filhos com quem se
preocupar ou se distrair, minha sogra logo deu pela falta do caçulinha. O
"logo" aí deve ter sido uma
ou duas horas depois do sumiço (muitos filhos, já viu, né?). Ninguém sabia onde ele poderia
estar. Procuraram, perguntaram aos trocentos
moleques que entravam e saiam daquela casa de portas sempre abertas, mas nada.
Antes que atitudes mais drásticas ou desesperadas tivessem sido tomadas, olha o
pimpolho aparecendo. Perguntado onde tinha ido ou por qual motivo tinha sumido, respondeu que havia ficado o
tempo todo em cima da laje da caixa d'água.
- Para
quê, menino de Deus?
-
Estava falando comigo mesmo.
Essa resposta serve perfeitamente para o
velho Blogson. Desde sua criação este blog tem servido de confessionário ou
divã de terapia, onde o confessor ou terapeuta sempre fui eu mesmo. Sempre
falando sozinho, sempre falando comigo
mesmo.
Por que estou repetindo esta lenga-lenga?
Porque - não faz muito tempo - resolvi criar novo blog. E o motivo nunca
foi o excesso de assuntos, mas justamente o contrário. A ideia era criar uma
espécie de blog gourmet, um autêntico
“blogourmet”, que abrigasse apenas o
"melhor do pior".
Traduzindo: o novo blog seria alimentado com uma seleção de posts
exclusivamente autorais e atemporais devidamente revisados e extraídos do velho
Blogson.
Qual a vantagem disso? - perguntaria um
leitor inexistente. E a resposta mais simples e óbvia é: serviria para passar o
tempo e compensar a desertificação da inspiração, pois minha cabeça está um
Saara (ou Sahara) de novas ideias.
Outra vantagem seria poder cortar, ampliar ou
reescrever textos antigos sem que isso caracterizasse mutilação ou adulteração
do blog original, que continuaria mantendo a versão inicialmente imaginada de
cada texto ou desenho ali publicado.
Com essa maluquice na cabeça, resolvi
consultar "as bases". Perguntei a cada um dos filhos se deveria ou
não fazer isso. As respostas foram "Não!",
"Para quê?, “Bobagem”!" e "Está
com tempo, heim?". Fiz "em
off" a mesma consulta ao meu amigo virtual Marreta, mas ele - além de
se lixar para meu pedido de discrição - manifestou-se também contrário a essa
ideia.
Fiquei meio decepcionado com as negativas a
tão "fantástica" ideia e
sosseguei (só um pouco). Mas ontem, particularmente agitado e angustiado,
resolvi mandar o cabo corneteiro tocar o toque de "foda-se". Em outras palavras, resolvi mesmo criar um novo
blog. A primeira providência foi escrever um texto de apresentação, parcialmente
transcrito a seguir:
Este
blog está sendo criado e alimentado a partir de posts puramente autorais
divulgados no velho e bom Blogson Crusoe, o “blog da solidão ampliada”. O
que significa que o novo blog é uma espécie de blog gourmet – ou, se quiserem –
um blogourmet, que trará só o “melhor do pior”.
Dizendo
de forma mais clara, minha intenção atual é que este seja um blog 100% autoral,
atemporal na medida do possível, com textos revisados ao nível molecular e
desenhos talvez reproduzidos em mesa digitalizadora (se eu aprender a mexer com
essa merda). Nessa hipótese, algumas seções continuariam a pertencer apenas ao
Blogson. As que ficarem poderão ter novos títulos (eu tenho achado os títulos
atuais um lixo, mas não pretendo alterá-los no blog original). Além disso, cada
post ficará indexado a apenas uma “seção”.
(...)
Para
abrigar os mais de mil e quatrocentos textos e imagens postados desde sua
criação, o Blogson chegou a ter quinze "seções". Dessas, uma foi
extinta e removida e três estão definitivamente inativas. A que foi removida
servia para republicar posts com baixíssima visualização (estamos falando do
padrão Blogson, certo?). “Baixíssima”, no caso, seria algo até cinco
visualizações. Por ser apenas picaretagem, foi removida (imagino que além de
mim, ninguém mais se interesse por este tipo de informação. Sinal que há gente
normal "na linha").
Sabe o
que um novo blog significaria para mim? Diversão, passatempo, vaidade e desejo de
deixar uma "obra" (já viu que eu estou de olho na posteridade, né?)
mais bem acabada (porque eu gosto da maioria das coisas que produzi!).
Sem
querer menosprezar o blog original, eu poderia dizer que deixaria o velho
Blogson como rascunho, carpintaria ou cozinha, enquanto o novo blog adquire o
status de edição final (sugestivo!), loja de móveis ou salão de restaurante. Só
não mudariam as piadas sem graça, a falta de noção e o estilo tosco e
coloquial. Ou seja, seria "mais do mesmo", mas de banho tomado.
Parece
maluquice? Claro que parece – e realmente é, pois eu não tenho mesmo mais nada
a dizer nem para fazer. Fico até imaginando algumas frases-tema: "o blog
da presunção exacerbada" ou, pensando na qualidade "literária",
"nós é pobre mas é limpinho" (por não ser minha, esta frase
- mesmo que perfeita -, não será utilizada).
Com o cérebro devidamente intoxicado com essa
ideia, pensei no nome do novo blog. Mas a inspiração estava mortalmente
desidratada. Por isso, resolvi adotar "Blogson Crusoé", com
acento agudo no "e" (falta do que fazer é foda!). E terminava o texto
de apresentação com esse mimo:
Resumindo:
- Blog
original: Blogson Crusoe, “o blog da solidão ampliada”;
- Novo
blog: Blogson Crusoé (com acento): “o melhor do pior”.
Apesar de estar agora quase ruborizado de vergonha,
preciso descer mais fundo, mergulhar de vez no abismo. Passei a revisar o
primeiro post do "blog da solidão
ampliada" (Certidão de
Nascimento), mas fiquei inquieto com as mutilações e alterações que estava
fazendo. Dei um tempo para pensar melhor no assunto e resolvi entrar no Blogger para efetivamente criar "a joia da coroa" (melhor seria
dizer "a joia do coroa",
mas deixa pra lá).
Foi aí que eu descobri – muito espantado! - que já tinha
criado em 2017 um blog com esse nome. Melhor dizendo, não apenas um, mas dois! Como
isso aconteceu, não faço a menor ideia. Talvez estivesse bêbado de sono quando
fiz isso, alucinado por uma overdose de leite com Toddy, sei lá. O fato é que dentro
do Blogger estavam (estão lá) os dois, mesmo que não apareçam em pesquisa. Um
deles tinha o post “Certidão de Nascimento” no modo “rascunho” e uma frase-tema ("Mais falso que nota de R$3,00"). Já o outro não tem
nada!
Depois disso, resolvi definitivamente
abandonar essa ideia idiota, esse comportamento infantil, essa ânsia congênita
de ser amado e aprovado por todo mundo. Ou seja, resolvi voltar a nadar na água
rasa da minha mediocridade. Melhor do
pior? É a puta que o pariu! Ou não...