- Está sumido!
- Fazendo compras...
- Senta aí...
- Cara, eu detesto as festas de Natal e de
passagem de ano!
- Que bicho te mordeu?
- Para ser sincero, não detesto tanto assim.
A expressão correta seria “não tenho mais saco para isso”. Quando eu era
criança, não havia essa paranoia natalina que existe hoje, com pessoas
enlouquecidas e dispostas vender um rim para comprar a última versão de celular
ou a TV com tela de 500 polegadas, etc. E tome stress e tome muvuca, filas,
embrulhos, filhos perdidos no shopping e sei lá mais o quê.
- É por aí mesmo...
- Quando nossos filhos eram pequenos, era
divertido ver sua alegria ao abrir os muitos presentes que ganhavam dos tios,
avós e, claro, dos pais.
- Ué, achei que vocês eram os pais!
- Vá à merda! Você entendeu! Hoje percebo que
os outros netos deviam sentir o mesmo que eu sempre senti ao ver meus primos
ricos ganhando presentes absolutamente fantásticos.
- Gastava todo o décimo terceiro!
- Isso e mais um pouco do salário.
- Um sujeito previdente e sensato!
- Até hoje ainda acontecem esses encontros na
casa de minha sogra. Mas, o brilho e a alegria verdadeira estão ficando cada
vez mais escassos, pois não há como repor ausências e perdas definitivas.
- Isso realmente é foda!
- Aí chega o dia 31 de dezembro e é aquele
porre. Real ou mental, tanto faz. Corrida de São Silvestre, aquela alegria
alienada, contagem regressiva, todo mundo de branco ou amarelo, comendo
uvas (doze) e jogando as sementes para trás...
- Comidas hipercalóricas, abraços e beijos de
gente suada e pra lá de bêbada...
- Você pegou o espírito da coisa. E os votos,
claro. “Feliz Ano Novo!”, promessas
nunca cumpridas, foguetório, buzinaços e a cachorrada cagando de medo.
- E ainda tem a porra da musiquinha “Que tudo se realize no ano que vai nascer”.
Nada mais clichê, nada mais chato, nada mais irreal.
- É, nada muda, nada melhora, só piora!
- Eu estava bem até você chegar. Agora fodeu.
Nada mudará mesmo, nada ficará melhor (pelo contrário!), nada de tão maravilhoso e
espetacular se realizará no ano que vai
nascer.
- E toda passagem de ano é sempre a mesma coisa, os
mesmos votos, as mesmas promessas, os mesmo desejos – que ninguém nunca cumpre!
- Resumindo: as festas de fim de ano lembram
um segundo casamento, pois são o triunfo da esperança sobre a experiência.
- Isso!
- Vamos encher a cara, que é melhor.
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