- Bom dia!
- Ahn? Bom dia...
- Está muito quente hoje,
não?
- Verdade, muito quente!
... (silêncio)
- O senhor me lembra meu
avô.
- Agora você me pegou! Isso talvez
seja um elogio, mas imagino que tenho idade para ser seu pai!
- Desculpe, foi sem querer!
Que vergonha...
- Não precisa se desculpar,
meus cabelos brancos podem tê-la confundido.
- É que eu sempre vejo o
senhor sentado aqui na praça.
- Ah, sim, eu moro aqui
perto e gosto de vir para cá e curtir o vento.
... (silêncio constrangido)
- Eu sempre senti vontade de
conversar com o senhor.
- Que surpresa ouvir isso de
uma moça tão jovem!
- É que o senhor transmite
uma paz, uma serenidade...
- Talvez por já não ter
esperança de mudar nada.
- Será? Às vezes eu me sinto terrivelmente só,
desejando ter alguém para conversar, para desabafar...
- Quando uma moça jovem e
bonita como você se sente “terrivelmente só” é sinal de que há dores de amor
ainda não curadas, acertei?
- Na mosca!
... (silêncio)
- Já percebi que o senhor
não gosta muito de fazer caminhadas aqui na praça...
- Verdade, meus joelhos doem
um pouco. Eu venho sempre aqui na esperança de encontrá-la de novo, mas isso é
só uma maluquice de gente velha.
- Não há nada de maluquice em desejar um reencontro.
- Às vezes eu vou a lugares
que frequentávamos, mas sempre me lembro de que nunca dei atenção a ela quando
podia. Ela estava sempre ali e eu nem ligava. Sem que eu me desse conta disso,
ela foi se afastando de mim, se afastando até sumir.
-Que triste! Mas ela mora
por aqui? Talvez faça caminhada em outro horário!
- Não se trata disso, eu sei
que nunca mais a encontrarei.
- Talvez se...
- Não há talvez!
- Desculpe-me se eu me intrometi, eu só queria ajudar.
- Eu sei, não precisa se desculpar.
- Desculpe-me se eu me intrometi, eu só queria ajudar.
- Eu sei, não precisa se desculpar.
... (silêncio constrangido)
- Eu só queria conversar com
o senhor, não queria deixá-lo triste.
- Não se preocupe, foi bom
conversar com você, mas agora eu tenho que ir.
- Se o senhor vier amanhã,
eu prometo que não vou importuná-lo.
- Você não me importunou, pelo
contrário! Apenas tornou mais vivas as lembranças que tenho dela.
- Então foi ...ruim?
- Vou te dar um conselho:
você tem a juventude que tudo pode, tudo conserta, tudo supera. Não se deixe
abater nem ficar sofrendo por ninguém, porque, sinceramente, nós homens não
merecemos.
-Vou tentar não esquecer!
O velho se afasta meio
oscilante, pensando em tudo o que disse e ouviu.
- Como eu poderia dizer a
ela que estava falando apenas da minha juventude? Ela nunca entenderia e ainda acharia
que eu estou esclerosado!
- Boa moça! Quem me dera que eu tivesse idade
para ajudá-la a limpar o coração...
"E eles têm razão
ResponderExcluirQuando vêm dizer
Que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo
(...)
Vou levando assim
Que o acaso é amigo
Do meu coração
Quando fala comigo
Quando eu sei ouvir"
"J"