quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

“SEU” SYLVESTER

Entra ano, sai ano, é sempre a mesma coisa. Basta passar o Natal e já começam as previsões para o próximo ano. São tantos os búzios jogados que os moluscos que fornecem a matéria prima até correm o risco de extinção. Fora as retrospectivas jornalísticas. O ano de 2015 foi tão brabo para os brasileiros que acho até que os repórteres deveriam usar o termo ré-trospectiva, de tanto que o país retrocedeu (e nem estou preocupado em fazer divagações com a palavra “ré”).

É inevitável que as retrospectivas incluam uma lista das personalidades falecidas no decorrer do ano. Sempre acredito que há uma mistura da curiosidade mórbida de lembrar quem “bateu a sapituca” (como dizia minha mãe) e o alívio de não estar entre eles. Normal.

Mas um dos eventos que chama mais a atenção(?) é a corrida de São Silvestre. Talvez fosse melhor chamá-la de “Seu” Sylvester. Para quem não se lembra ou não sabe, Sylvester é um gato desastrado que passa a vida tentando apanhar um passarinho com macrocefalia e que vive preso em uma gaiola. Ainda não entendeu? Foda! No Brasil esses personagens de desenho animado são também conhecidos pelos nomes de Frajola e Piu-Piu. Ah, bom!

Mas não estou interessado em falar de um desenho animado que serviu só para fazer trocadilho. Meu negócio é a corrida de rua e as associações de ideia que ela permite fazer. Como disse, entra ano e sai ano, é (quase) sempre a mesma coisa. Os brasileiros começam a corrida na dianteira e o público se alegra. Mas isso não demora a acabar, pois um bando de africanos com fôlego de fundista e desempenho de velocista vem e janta os atletas daqui.

E aí eu fiquei pensando que os brasileiros são bem parecidos com nossos atletas da São Silvestre (ou com o gato Sylvester): correm, correm, correm, sonham, sonham, sonham, mas nunca (ou quase nunca) veem o Brasil melhorar, ficam apenas com a esperança de que no ano que vem...


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

DIREITO E RESPOSTA

Não sou advogado, não entendo de leis; não sou político, não entendo de falcatruas, mensalismo e petrolismo; não sou petista, não entendo de intolerância, rancor e revanchismo. Sou, apenas, um caipira, um simplório, um matuto. Mas tenho andado cada vez mais perplexo, pois não consigo encontrar respostas para dúvidas que volta e meia surgem em minha mente.

Por conta disso, escrevi em 2014 um texto ("Balança") sobre a salada de ONGs que vejo por aí. Esse texto foi republicado agora, dentro da linha “você não gostou de suflê de chuchu? Experimente de novo! Quem sabe gosta desta vez?

E se alguém já leu essa introdução antes ou alguma coisa semelhante, perdoe-me; a memória se perde, mas ficam-se os rascunhos.

Na primeira publicada, meu amigo Mauro Condé, do excelente blog Ma.Lu.Co, fez o seguinte comentário:

Zé - excelente ponto sobre ONGs e direitos humanos. Outro dia vi uma pessoa questionando a definição de ONG (que seria Organização Não Governamental) – a pessoa perguntava – se é não governamental porque tanta ONG financiada pelo governo? Aí eu pensei – ela tem razão kkk

Em sua republicação, o texto suscitou os seguintes comentários:

Acho que a questão é quais seriam os deveres humanos e não falo de direito penal máximo, nem mínimo, sequer da supremacia do bem comum ou pacto social,antes disso. Acho muito difícil definir ou simplificar. E só pra constar, nós juristas não mentimos, só cumprimos o legítimo exercício do nosso dever. Mera curiosidade, mas advogado significa "aquele que está ao seu lado". Claro de preferência o lado que paga mais. ;) J

Os deveres humanos, ninguém defende. ONG é igual a sindicato, tudo vagabundo!!! Tudo encostado e oportunista vivendo às custas de uma "causa". O que está precisando ser decretado nesse país é o Estatuto do Cidadão Comum, porque aqui, se você não pertencer a uma das tais "minorias", se fosse não fizer parte de um grupo perseguido, injustiçado historicamente e o caralho a quatro, você tá fudido. Se você, nesse país, for homem, branco e heterossexual, você tá fudido. Não tem direito a nada. Só a pagar a conta dos coitadinhos perseguidos, das vitimazinhas de plantão. A Marreta do Azarão

Antes de continuar, preciso comentar que o número de leitores deste blog aumentou, passando de 2,3 para 3,3 agora! Mas, vamos lá.

Não faz muito tempo eu vi na TV uma cientista (ou pesquisadora ou professora) dizendo que “a Natureza é econômica”. Achei a frase bacanérrima e já pensei em energia potencial e aquelas manhas da Física. Mas, se você levar para o lado dos “manos” (os sero manos), a coisa funciona muito bem.

Nas proximidades da casa de minha sogra existe uma favela (que em Beagá o pessoal gosta de chamar de “vila”). Um dos moradores sempre chamou minha atenção, desde quando era criança. Raríssimas vezes eu o vi calçado. Talvez por isso, os pés esparramaram-se para os lados, quase como pata de elefante. Não tenho dúvida que esse fato deve-se à ausência permanente de contenção provocada por um calçado. Para mim, um exemplo da “economia” da Natureza. O inverso disso seriam os pés deformados de algumas japonesas, espremidos em sapatos minúsculos para atender um ideal de beleza antigo (bizarro como quase todos os ideais de beleza).

Voltando à “economia”, penso que ela manifesta-se também nas ações, desejos, intenções e propósitos de muitas pessoas (99,9%) e ONGs. Independente de ter ou não razão e motivos, é muito mais fácil esparramarmo-nos despreocupadamente pelos direitos que entendemos ser nossos. Por “economia”, às vezes esquecemo-nos dos deveres que deveríamos observar e cumprir.

Não estou muito preocupado em definir quais são os deveres, apenas acho que estamos todos mais interessados nos nossos direitos, sempre querendo o filé e rejeitando o osso. Outra coisa que noto é que quanto mais “minoria”, mais intransigente, mais intolerante, fundamentalista e chata pra caramba uma ONG ou uma pessoa se mostra.

Como disse o dono do Marreta, com sua elegância peculiar, “Se você, nesse país, for homem, branco e heterossexual, você tá fudido. Não tem direito a nada. Só a pagar a conta dos coitadinhos perseguidos, das vitimazinhas de plantão”. Assino em baixo (isso, claro, depois de verificar se não há uma nota promissória envolvida, pois, dada a situação financeira, não teria como pagar “aquele que está do seu lado”).


domingo, 27 de dezembro de 2015

RESOLUÇÕES DE ANO NOVO - CASAL GEEK

Existem piadas (ou tiras, ou cartoons) que merecem ser replicadas, divulgadas. Uma dessas eu li no blog "Casal Geek", onde podem ser vistos outros exemplos dessa técnica. Feitas a partir de imagens de filmes antigos que já caíram no domínio público, essas piadas gráficas são um exemplo do humor do Gustavo, uma das metades do simpaticíssimo casal (geek).

Por isso, minha reverência de hoje é para esse blog e seu excelente humor. Vê aí.



sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

COMETA DE HALLEY

Este post começa com a leitura de um livro que ganhei de um de meus filhos ("O Livro de Ouro dos Mistérios da Humanidade"). Aparentemente, um presente de grego, pois ele comprou, mas desistiu de ler. Eu tenho um fígado mais resistente. Por isso, leio tudo (ou quase tudo) que cai em minha mão. Para que eu não leia, o livro tem de ser uma coisa verdadeiramente horrorosa, tipo “Operação Cavalo de Tróia” (que teve sete continuações!). Eu terminei a leitura do primeiro volume dessa série só de puto, só de raiva. Usando uma expressão de meu filho, só os fortes sobrevivem a essa experiência.

Mas, voltando ao “presente de grego”, preciso dizer que se trata de uma compilação das diversas teorias relacionadas a um mesmo "mistério", que os autores vão destrinchando aos poucos, contestando ou não as várias hipóteses levantadas. Exemplos: quem realmente construiu a Esfinge egípcia, porque os maias abandonaram suas cidades, quem construiu os moais da Ilha da Páscoa e coisas do gênero.

Dentre esses mistérios – exaustivamente discutidos a partir das várias hipóteses levantadas em diferentes épocas por diferentes pesquisadores e curiosos – há um que apresenta uma possibilidade instigante e interessante (para mim, pelo menos). Trata da veracidade ou não da Estrela de Belém

Volto a lembrar, os autores não são taxativos em nada. Apenas encaram assuntos que muitos (ou a maioria) têm como lenda, ficção ou assemelhados). Por isso, se você for ateu e quiser continuar a leitura deste post, imagine que houve um Jesus histórico. Se for católico, desarme seu pensamento, pois não há nenhuma blasfêmia. Se você for evangélico, eu não sei o que dizer - talvez seja melhor parar a leitura por aqui. 

Na introdução do livro, os autores fazem esta declaração:

Neste livro tentamos estabelecer um meio-termo entre o entusiasmo dos não críticos e o ceticismo dos profissionais. (...) Em vez de adotarmos a postura inicial de aceitar ou rejeitar, apresentamos as nossas opiniões não como um fato, mas sim como uma tentativa de se chegar a uma conclusão racional a partir do material. (...)

Para não deixar o post muito longo, a partir de agora, transcreverei apenas o trecho que cutucou meu cérebro e me fez viajar, uma hipótese sensacional e bem estruturada, cuja parte mais interessante nem é a existência ou não da estrela. Espero que leiam sem “pré conceitos” e se divirtam. Assim como eu. Em tempo: os grifos são meus.

A verdadeira Estrela de Belém

É muito estranho que, embora os estudiosos se dispusessem a fazer arranjos com as datas das conjunções planetárias - e até com a morte de Herodes - para ajudar a enquadrar a evidência astronômica, nenhum tenha reexaminado a sério os argumentos tradicionais para datar o nascimento de Cristo. Isso foi conseguido nos últimos vinte anos pelo Dr. Nikos Kokkinos, sábio ateniense hoje vivendo na Inglaterra. Diplomado em teologia, arqueologia romana e história antiga, Kokkinos é um dos poucos pesquisadores polimáticos o bastante para lidar com o amplo espectro de provas vinculadas a essa importante questão. Em 1980, ele propôs uma cronologia radicalmente diferente para Jesus. Um estudo detalhado de provas dos romanos e do Novo Testamento mostra que Cristo teria sido crucificado em 36 d.C. E não no tradicional 33 d.C.). Essa data, hoje amplamente aceita por outros estudiosos do Novo Testamento, fornece o primeiro passo para se datar o nascimento de Cristo.
Naturalmente, o passo seguinte é descobrir a idade de Cristo quando foi crucificado. A visão mais comum aceita que Cristo era bastante jovem, com pouco mais de 30 anos. Segundo Kokkinos, isso não parece verdade. Para ser considerado um rabi (mestre religioso) na antiga sociedade judaica, em geral era preciso ter atingido a idade de 50 anos. Um conjunto de outras provas nos leva à mesma conclusão. Por exemplo, o bispo Irineu declarou no século II d.C. que Jesus tinha cerca de 50 anos de idade quando ensinava. (Irineu foi discípulo de Policarpo, que conheceu pessoas que alegavam ter visto Cristo.) Mais intrigantes ainda são as indicações precisas oferecidas pelo Evangelho de São João, que declara em determinado ponto (8:57) que Cristo "ainda não chegara aos cinquenta”. Outra passagem em João (2:20) relata uma curiosa história na qual Cristo compara o seu corpo - na verdade, a sua vida - com o templo de Jerusalém, que demorou "quarenta e seis anos em construção”. Nenhum dos três sucessivos templos de Jerusalém demorou quarenta e seis anos para ser construído e a melhor interpretação para essa enigmática curiosidade é a defendida por Kokkinos: Cristo estava declarando ter a mesma idade do templo - ou seja, 46 anos. O templo que existia em Jerusalém durante a vida de Cristo fora concluído pelo rei Herodes em 12 a.C. Quarenta e seis anos nos leva ao ano 34 d.C., primeiro ano do ministério de Cristo, segundo Kokkinos. Seguir-se-ia, pois, que Cristo teria 48 anos ao ser crucificado no ano 36 d.C., o que concorda com todas as outras indicações de que tinha perto de cinquenta anos de idade.
A outra alegação explosiva é que Jesus teria nascido em 12 a.C. Kokkinos demonstrou que o ano de 8 a.C., aceito por muitos estudiosos como a mais antiga data para o nascimento de Jesus, se apoiava em terreno muito frágil. Não há provas de um recenseamento de impostos romanos naquele ano – de fato, o primeiro censo romano na Judéia foi no ano 6 d.C., tarde demais para a cronologia da Natividade. É mais provável que José e Maria tenham ido a Belém em 12 a.C. para se registrar num censo de impostos locais, organizado pelo rei Herodes. Só depois de defender a data de 12 a.C., com base em outros fundamentos, Kokkinos notou que ela coincidia com o aparecimento do cometa Halley em 12-11 a.C. Depois que Kokkinos revisou as datas da vida de Cristo, o cometa Halley aparece como o candidato ideal para ser a "estrela".
(...) À época da sua chegada, o mundo romano fervilhava de rumores e profecias de que estava prestes a surgir um novo líder mundial.  Muitos achavam que as profecias já haviam se cumprido na pessoa do imperador Augusto (...) Outros acreditavam que as profecias se aplicavam a Marco Agripa, genro e aparente herdeiro do imperador, homem capaz e de origem humilde (...) Mas depois de uma bem-sucedida parceria com Augusto que durou muitos anos, Agripa morreu de febre em 12 a.C. Quando estava morrendo, em Roma, apareceu o cometa Halley, que os relatos dizem “pairar” sobre Roma, assim como a estrela parecia “permanecer” sobre Belém.
Isso acrescenta uma outra dimensão à história da Estrela de Belém. O patrono do rei Herodes era Agripa e Herodes dependia muito da continuidade dos favores desse homem, que considerava amigo pessoal próximo. As notícias da morte de Agripa podem ter provocado um grande choque no tirano da Judéia e certamente foram acompanhadas pelo relato de um prodígio mortífero visto nos céus de Roma. Que se passaria na mente de Herodes quando ele entrevistou os Magos e “habilmente indagou deles a que horas a estrela aparecera" (Mateus 2:7)? Não lhe teria sido difícil vincular a estrela dos Magos ao cometa da morte de Agripa. Agora pode-se compreender inteiramente o terror de Herodes com a notícia trazida pelos Magos. Agripa fora o governante do Império Oriental. Se o cometa previra a sua morte, talvez pudesse também prever o nascimento de um novo governante no Oriente, justo como os Magos sugeriam.
Uma detalhada simulação em computador dos movimentos exatos e do aparecimento do cometa, observado em Roma, na Pártia e em Jerusalém em 12-11 a.C. seria o teste final para essa ideia.



A primeira passagem registrada do Halley aconteceu no ano 240 a.C., na China. No século XX, ele voltou em 1910 e 1986. No ano de 1986 ele ficou praticamente invisível a olho nu. Em 1910, entretanto, apresentou um belo espetáculo, que foi fotografado.


FOTOGRAFIA DO COMETA HALLEY EM 1910






domingo, 20 de dezembro de 2015

OS FILHOS DE FRANCISCO (E JULIETA) - 01

Hoje estou meio melanchólico (mais que o normal) e resolvi, por isso, mudar toda a minha programação, divulgando hoje este texto, programado originalmente para tornar-se público(?) só em abril de 2016. Fica como presente(?) de Natal para meus 2,3 leitores.

Esta é uma continuação do registro de minhas memórias familiares. Desta vez, abrangendo os irmãos de minha mãe. Alguns tios têm um perfil mais divertido ou curioso. Por isso mesmo, foi mais fácil começar a escrever sobre eles. Para contar casos dos outros, vou ter que ralar um pouco mais. Por isso, a cronologia que meu TOC fica exigindo não será respeitada. Além disso, como são perfis independentes, serão divulgados quando me der na telha. Paciência (e som na caixa!). 


Tio Cici (Moacir) nasceu em 25/04/1925. Era meu padrinho de batismo e foi o único tio a fazer faculdade (ao contrário da família de meu pai). Estudou odontologia em Uberaba, onde conheceu sua esposa, Teresinha (uma autêntica mala sem alça). Tiveram quatro filhos: Fernando, Marco Túlio, Cristina e Caio Lucio.

Quando foi estudar fora, meu tio deixou para trás uma coleção de revistas “Seleções do Reader’s Digest”, de que me apossei tempos depois. Havia revistas de 1942 a 1955, se não me engano. Os números publicados durante a guerra tinham propagandas com ilustrações incríveis relacionadas ao assunto. Ainda guardo dois números desse período, justamente por causa dessas propagandas.

Essa coleção fez minha cabeça na pré-adolescência. Como era muito tímido e inseguro, eu lia tudo o que encontrava que me ajudasse a superar essas limitações. E tome lições de vida, e tome dicas de autoajuda.

Eu só não consegui aprender – embora tenha lido tudo de todas as revistas – como beijar na boca. Na minha absoluta inexperiência e falta de senso, o que eu pretendia era o mesmo que aprender a andar de bicicleta apenas lendo um livro, só na teoria. Como disse o Djavan em uma de suas músicas: “Mais fácil aprender japonês em Braille”.

Mas voltemos ao tio Cici. Ele era baixinho, magro, nervosinho e tinha um jeito meio viadinho. Às vezes parecia mais feminino que a mulher (ou seria o contrário?), mas era só jeito. No início do casamento, lembro-me de ver a Teresinha dar um amasso nele e ele ali, satisfeito igual um sultão no harém. Sentava-se de pernas cruzadas como quem usa saia. O pé que ficava no ar tremia sem parar. Tremia, não, vibrava. Tinha um risinho nervoso e um senso de humor que se pudesse ser medido na escala Kelvin ficaria perto do zero absoluto.

Meu pai dizia que contar piadas para ele não valia a pena, pois ele não as entendia. No desfecho da piada, quando todo mundo normalmente ria, ele continuava com um sorrisinho meio apalermado na cara e perguntava: “E aí?”.

Depois de formado, montou consultório com um amigo ou colega de faculdade, de nome Januário. Esse sujeito era um católico radical, um carola da gema, coisa que eu só vim a saber quando já namorava minha mulher.

Provavelmente, por influência do amigo carola, Fernando, o filho mais velho do tio Cici, entrou para o movimento ultraconservador TFP – Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Esse movimento, entre outras coisas, defendia a volta da monarquia, repudiava veementemente o “comunismo ateu” e tinha alguma coisa de organização paramilitar, pois seus militantes, todos jovens, vestiam-se sempre da mesma maneira: cabelos cortados à escovinha, calça social escura, sapatos de amarrar (quando todo mundo usava mocassim), camisa branca e um blusão de cor cinza ou bege. Bastava ver alguém assim nas ruas para saber que era da TFP.

Esse pessoal era meio hostilizado por alguns jovens, justamente pelo excesso de caretice. Para se defender, alguns começaram até a aprender artes marciais. Estavam sempre nas ruas centrais para colher assinaturas e fazer campanhas contra o divórcio, contra o comunismo, contra a reforma agrária e sei lá mais o que. Usavam megafones e ficavam balançando estandartes vermelhos com letras douradas que pareciam ter sido retirados de algum castelo medieval.

Pois bem, um dia eu estava indo de taxi para a casa da minha Amada, quando vi uma dessas manifestações em plena Avenida Afonso Pena com Espírito Santo. Aqueles jovens com o rosto cheio de espinhas estavam perfilados no canteiro central, um de frente para o outro, cada um com seu estandarte. Devia ter de trinta a quarenta pessoas. Com o taxi parado no sinal, olhando para aquela babaquice, enxergo o Fernando no meio daquela gangue. Morri de vergonha por ele e quase me encolhi no banco para não ser reconhecido. E tome falatório no megafone. De repente, obedecendo a algum comando, esse pessoal começa a gritar:

- BRASIL! BRASIL! BRASIL!

O Brasil tinha acabado de ganhar a copa do México. Pensando nisso, comecei a rir e, mesmo não gostando de futebol, me deu uma vontade danada de botar a cabeça para fora da janela e gritar de volta, só de sacanagem:

- TRICAMPEÃO!  (Devia ter feito isso!).

Quando soube que tio Cici havia sido operado para retirada de algum tipo de câncer, fui visitá-lo no hospital. Visivelmente com dor, mostrou-me um corte imenso no tórax, cujas bordas, além da sutura normal, estavam unidas entre si por meio de enormes grampos metálicos. Morreu em 06/08/1988, com 63 anos.



sábado, 19 de dezembro de 2015

SE A GENTE GRANDE SOUBESSE - BILLY BLANCO

Hoje é sábado. Mesmo assim, resolvi divulgar este post. Gosto muito dessa música, composta por Billy Blanco e gravada pelo Quarteto em Cy (com participação do filho do autor). Tem uma melodia delicada, mas é a letra o motivo de minha reverência. Tecnicamente, é como as homenagens que faço a textos que me agradaram ou a autores que admiro. Hoje, entretanto, o motivo é mais abrangente.

Depois de ouvir lembranças doloridas e mal curadas de infâncias infelizes, fiquei pensando em como um pai violento ou uma mãe insensível podem trazer tanto sofrimento desnecessário a crianças indefesas.

Pais ou mães que humilham, maltratam, desprezam ou que tratam com descaso, indiferença e frieza os filhos que têm, não imaginam como isso pode ficar incrustado, engastado ou tatuado na mente da criança, provocando muito mais reflexos negativos na vida adulta que eventuais privações materiais na infância.

Não sou eu essa criança, é bom deixar claro, pois fui explicitamente amado e elogiado por meus pais (mais até do que deveria ter sido), mas sempre me condoo quando ouço histórias de antigas crianças, vitimas de bullying materno quando ainda nem se ouvia falar nessa palavra.

Então, minha reverência, meu carinho e solidariedade hoje é para todas as crianças que são ou foram vítimas da indiferença, desdém, sarcasmo, desprezo, abandono, frieza ou falta de carinho justamente de quem deveria agir de forma diferente - seus próprios pais. Dá-lhe, Billy Blanco!

Se a gente grande soubesse (quanta paz)
o que consegue a voz mansa (o bem que faz)
como ela cai feito prece e vira flor
num coração de criança.

A gente grande que tira (sem pensar)
o meu brinquedo da mão (me faz chorar)
tirou de um músico a lira (sem saber)
interrompeu a canção.

De tanto não que eu escuto (Não e não)
o não eu vivo a dizer (que confusão)
eu não sossego um minuto (é natural)
eu não parei de viver.

A gente apenas repete (tal e qual)
tudo que escuta e que vê (não leve a mal)
Pois gente grande eu queria ser um dia
todo igualzinho a você.






sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

NÃO SEJA MORNO

Uma vez eu recebi um texto que seria o discurso feito pelo publicitário Nizan Guanaes como paraninfo de uma turma na Faap. Sou fã desse cara e acho esse discurso o máximo. Só lamento não tê-lo recebido no início de minha vida profissional porque, sem me dar conta disso, vivi frivolamente, de forma irresponsável, descuidada e ... morna.

Não pretendo transcrever todo o texto, porque a minha vibe hoje é uma mistura de papo cabeça com uma pitadinha de religião. Além do mais, já que hoje tudo se encontra na internet, ainda que o texto original possa ter sido adulterado, acrescido ou reduzido (fenômeno que eu chamo de prostituição da internet), esse discurso pode ser lido na íntegra(?). Para facilitar, deixo no final dois links. O primeiro traz o texto tal como o recebi; o segundo tem um final baiano. Qual é o verdadeiro? Vá saber...

Mas, voltemos ao foco do post de hoje. Dentre outros conselhos aos formandos, o Nizan deixou este:

“Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. (...) É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso”.

Achei curiosa a referência à frase da Bíblia e resolvi averiguar. Era verdade! No livro do Apocalipse 3: 15-16, há essa descrição:

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.

Vivendo e aprendendo, não é mesmo? E como o Blogson é sempre meio morno, imagino quanta ânsia de vômito já não provocou!


http://www.aminternacional.org/PDF/E-isso-se-chama-sucesso-NizanGuanaes.pdf

http://golfinho.com.br/discurso-de-nizan-guanaes-como-paraninfo.htm 

TRAZ UMA AÍ!

Foi antes do Natal de 2014 que resolvi parar de beber qualquer tipo de bebida alcoólica. Por isso, sou a pessoa menos indicada para falar de cerveja. Mesmo assim, como sou especialista em assuntos que ignoro totalmente, resolvi encarar o tema. Afinal, hoje é sexta-feira...

Tenho observado o surgimento de cervejas com títulos meio insinuantes, para dizer o mínimo. Diante desses novos rótulos, a Bohemia parece ter saído de um convento de freiras. Creio que a nova onda começou com a cerveja Devassa. Depois, sem saber quem veio primeiro, surgiram a Proibida e A Outra. Acho isso meio bizarro, pois sou de uma época em que as outras, as proibidas e as devassas (também conhecidas como galinhas, piranhas e putas) eram comidas, nunca bebidas.

Qual jogada de  marketing a escolha desses títulos indica, não faço a menor ideia. Apelo ao machismo dos bebedores? Convite à infidelidade e à "vida loka"? Apenas noto que esses nomes lembram muito aqueles rótulos "engraçadinhos" de cachaça. Existe até uma cerveja artesanal com o nome "Gordelícia"! 

Como não sou psicólogo, só consigo fazer uma associação disso com uma piada antigaça, de quando o bolero era um estilo musical onipresente no repertório de cantoras e cantores brasileiros. Em um show ou coisa parecida, após o término da apresentação, a plateia em delírio começa a pedir bis à cantora, gritando o nome de boleros conhecidos:

- Hipócrita! Perdida! Pecadora! Traicionera! Um gringo (português) pra lá de bêbado, ouvindo aquela algazarra toda, resolve também participar da zona:

- Bandida! Vagabunda! Filha da puta!

Então é isso: se a moda atual é adotar para as novas cervejas nomes que lembram rótulos de cachaça, deixo aqui minha sugestão. Que tal Bandida, Vagaba ou Piranha? Vadia não pode, porque existe a marca em Portugal. E já que agora existe até cerveja feita de jabuticaba (Jabutipa), sugiro a criação de uma concorrente, com o nome de Agarradinha. No pau, lógico.  

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

MEU NOME É RICARDO

Existem fatos na vida das pessoas que são como cozinha de restaurante  - é melhor você não conhecer. Gestos, comportamentos e atitudes que seria melhor varrer para debaixo do tapete, esconder, esquecer. Às vezes, no entanto, para tentar corrigir uma falha, a gente precisa se expor à execração pública (no caso do Blogson, nem tão pública assim). E se expõe demais. O estômago revira, o suor é frio e o coração bate meio acelerado, mas a mea culpa se faz necessária. As palavras embaralham-se na minha boca, mas é preciso que eu diga, por mais que isso me doa: já tive um Ricardo em minha vida!

Antes de falar sobre esse passado tenebroso, preciso dizer que esta confissão foi provocada por um episódio recente em que fiz - mesmo que involuntariamente - a troca reiterada do nome de uma pessoa. O sujeito chama-se Renato, mas não houve jeito de escrever seu nome correto. Cismei que era Ricardo e acabou. Só depois de ser alertado é que, constrangidíssimo, tentei corrigir o erro. Mas era tarde.

Por isso, cabe-me o doloroso dever de relacionar esse ato falho ao Ricardo de minha juventude. Calma, pessoal, pedrada, não!, pois eu sou hetero. O Ricardo que existiu em minha vida (estou até ouvindo o suspiro de alívio de meus filhos) era eu mesmo!

Essa história ridícula aconteceu bem no início de minha adolescência. Além das inseguranças normais dessa fase, surgiu o desconforto neurótico com meu nome verdadeiro. Antes que alguém sinta peninha imaginando que "Botelho Pinto" é mesmo dose para leão, esclareço que meu problema era com o José, um josé sem complemento, solitário.

Não tínhamos linha telefônica em casa, mas sofria ao imaginar como atenderia uma chamada. Do outro lado da linha, ao perguntarem quem estava falando, eu responderia:

- "É o Zé." E a pessoa impertinente perguntaria;

- "Qual Zé?" E eu seria obrigado a dizer:

- "Zé só." Vejam vocês, o retardado aqui ficava quase em pânico por conta de um diálogo que nunca aconteceu (e eu nem fiz terapia por causa disso!)

Naqueles dias, ao tentar me aproximar de umas menininhas (bem feinhas) que passavam em frente à minha casa a caminho da escola, depois de criar coragem, apresentei-me dizendo que meu nome era Ronaldo. Em outro dia, “atirando em qualquer alvo que se mexesse”, tentei nova abordagem e falei que me chamava Ricardo (olha o "Ricardo" aí, gente!). Provando que as mulheres têm uma rede social invisível aos olhos masculinos, a menina disparou:

- Ué, você não disse para a fulana que se chama Ronaldo? A resposta possível foi essa:

- Eu brinquei com ela, meu nome verdadeiro é Ricardo.

Se quiserem saber o resultado prático dessas tentativas, só posso dizer que não peguei nem dengue (atualização do chavão "não peguei nem resfriado"). Não sei por que, mas eu achava que nomes com erre eram bem legais. Aliás, qualquer nome que não fosse apenas José teria me poupado desse constrangimento. Até "Uelerson". 

Talvez por isso (a mais pura expressão do que se conhece por neurose), eu sempre tive uma dificuldade imensa de guardar o nome das pessoas fora do meu círculo de convivência. Acho que esta é a explicação da troca do nome do Renato. Em minha defesa, lembro que uma certidão de nascimento onde conste José Botelho Pinto... é uma autorização para alterar, esquecer ou trocar o nome de quem quer que seja, até do papa.

Nem preciso lembrar que o nome José é tão comum quanto bunda, "todo mundo" tem. "Maria", idem. Em geral, o "Zé" vem acompanhado de algum complemento. Nos primeiros dias de faculdade, até que cada um escolhesse qual ramo da engenharia pretendia seguir, fomos provisoriamente agrupados por ordem alfabética. Na minha sala, com 67 alunos, 47 eram José. Em todas as combinações possíveis: José Cosme, José Eduardo, José Edward, José João, José Maria, etc. Apenas eu era só José

Essa farra de josés provocou uma situação cômica. Um dia, chegou um sujeito do diretório acadêmico e pediu para que escolhêssemos um representante. Algum sacana logo disse - "pode ser o Zé". O cara continuou explicando algumas coisas, deu-nos boas vindas e pediu que o tal se apresentasse, ficando de pé. Levantamo-nos todos e cagamos de rir (o cara do D.A., inclusive).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

COMENTANDO AS PENÚLTIMAS - 14

Este post saiu hoje com o título História Antiga, movido pelos recentes acontecimentos nas altas esferas políticas de Brasília, que fizeram-me lembrar de Roma Antiga. E o estímulo foi a deflagração da Operação Catilinárias pela Polícia Federal. Dando uma relida na "criança", resolvi incorporá-lo na série "Comentando as Penúltimas."

O "catilinado" Eduardo Cunha, com suas manobras para evitar que se instaure um processo de cassação no Conselho de Ética  lembra bem aquela frase manjada: Quo usque tandem, Catilina...

Além disso, os dirigentes do PT comportam-se como vestais em relação ao senador Delcídio. Podem ainda ser lembradas as orgias com dinheiro público utilizado no Mensalão, Petrolão, etc. E aí veio a Fitch e tirou o grau de investimento do Brasil. Muita azia para pouco antiácido. Para aliviar, surgiu esse diálogo sem graça:



- Você não tem ficado impressionado com o que está acontecendo no Brasil?

- Impressionado, não. Eu estou é assustado mesmo...


- Nunca vi tanta esculhambação! É a Dilma tentando se agarrar no poder, é o Eduardo "Catilina" Cunha tentando não ser cassado...


- Piores são as vestais do “corretíssimo” PT ao suspender o Delcídio por dois meses, Logo o PT, o partido do Mensalão e Petrolão! E para arregaçar de vez, começa a Operação Catilinárias e outra agência de classificação de risco ainda rebaixa a nota do país.


- É por isso que o país está nesse Deus dará. Em termos práticos, aqui agora é a casa da mãe joana. Só mesmo Deus para nos socorrer!


- Você tem sorte de ser tão otimista...


- Você acha que eu estou otimista depois de tudo o que acabamos de falar?


- Bem, você pelo menos crê em Deus. E eu, que sou ateu?


- Aí, fodeu! 



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

MIL PALAVRAS

Um retrato antigo é coisa que mexe comigo, pois quase fico em contemplação quando encontro um. Outro dia, vi uma reportagem sobre o rompimento da barragem da Samarco. Tudo causava horror e tristeza. Uma imagem, entretanto, era especial. Mostrava um retrato pendurado no que restou da parede de uma das casas arrasadas pela lama. Pareceu-me ser daqueles retratos antigões, colorido a mão. Dava para imaginar mil coisas, mil histórias, mil lembranças, mil sonhos destruídos pela lama. E aí lembrei-me do poema Confidência do Itabirano, de Carlos Drummond de Andrade. 

Itabira, cidade onde ele nasceu, é também a cidade onde nasceu a Vale do Rio Doce; hoje, apenas Vale. No final de seu poema, Drummond escreveu esses versos:

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Aí fiquei pensando: o que diria um morador do distrito de Mariana destruído pela lama da barragem da subsidiária da Vale, ao ver o que restou de sua casa? Talvez não tenha conseguido dizer muita coisa, mas, lá no fundo do coração, pode ter sentido alguma coisa assim:

Tive sonhos, tive criação, tive lavoura.
Hoje não durmo mais em minha casa.
Bento Rodrigues é apenas um retrato na parede,
Mas como dói!



O RIO, O MENINO E A LAMA - RENATO PERIM

Minha reverência hoje é para Renato Perim e para seu belo e comovente texto “O rio, o menino e a lama”. 

Se você, caro leitor, quer saber quem é Renato Perim, só posso dizer isso: eu também gostaria de saber! Creio que descobriu o Blogson através do blog "A Marreta do Azarão". Além disso, imagino que não é um desocupado como eu, um aposentado que vive apenas obcecado pelo blog, prova de que droga vicia.

Um dia, por conta de um post que divulguei nesta bagaça, recebi dele uma crítica com a finesse de nobre inglês. Diverti-me pra caramba com as réplicas e tréplicas (se é que isso aconteceu mesmo), pois já disse que só tenho respeito pela Inteligência.

Depois disso, descobri que também tem um blog, mas desconfio que é um autor bissexto. Se não é bissexto, certamente é bi-seis, pois só agora, em dezembro, passados doze meses, respondeu a um comentário que fiz em janeiro de 2015 sobre outro texto de sua autoria.

Tá bom, minha piada é muito ruim, mas o texto dele é excelente. E é esse texto que eu espero que meus 2,3 leitores apreciem. Som na caixa!


O rio, o menino e a lama

Era um fim de tarde em Governador Valadares. Após horas de diversão no areal, a meninada pulou no rio. Aos quinze anos meu corpo debutava com a fartura das águas do Rio Doce.

Manoel de Barros faria do instante um poema de poucas palavras. Quanto a mim, guardo o momento como o encontro singular com um rio que nunca foi meu. E que então já era caçoado. “É sujo”, diziam.

Mas o rio, que parecia não guardar mágoas, retribuía a minha distância com o líquido que saciou a sede dos meus primeiros dezessete anos de vida. Quimicamente tratado, mas abundante. Se 3/4 do corpo humano é composto de água, o Rio Doce dominava-me. Se nunca foi meu, talvez eu fosse dele.

E, sem saber ao certo quem era de quem, certa vez o “rio sem menino” separou do “menino de rio”, que nem menino era mais.

Esqueceram-se.

Até que um dia, num certo escritório da capital, entre telefonemas, relatórios e e-mails, o rio desaguou novamente em mim. Não veio em um banho refrescante, nem tratado num copo, mas na tela do computador. 

O Rio Doce virou manchete! Até a mídia internacional anunciava a lama que se apoderou do seu leito.

Nos vídeos, vi os peixes que na minha infância sonhei em pescar. Sufocados no barro, estavam todos lá: dourados, piaus e bagres. Uma tartaruga pedia passagem para a vida. Sem sucesso. Pelo telefone, papai mandou notícias: não podemos mais beber da água que te fez gente.

Como definir essa lama?

O dicionário a princípio se faz literal: “lama: mistura de terra, ou argila, e água”, mas logo se sensibiliza: “lama: homem fraco, sem energia”. E, como se me encurralasse, vai além: “tirar da lama: tirar da corrupção, dos vícios, da baixeza. Viver na lama: viver corrompidamente, na baixeza e nos vícios”.

Bingo, Michaelis!

Tal qual o menino... 


Ah, quer ler o resto do texto? Então, siga correndo o link abaixo! Acelera!



Ô CRIDE, FALA PRA MÃE! - 03

Plano. (Do lat. Planu.) S.m. Geom. Superfície que contém inteiramente qualquer reta que une inteiramente dois de seus pontos.

Por três pontos não colineares passa um único plano.

Todo mundo prestou atenção? Vou repetir: três pontos não colineares definem um único plano. Que pode ser, por exemplo, um triângulo...


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ô CRIDE, FALA PRA MÃE! - 02

Reta. (Fem. substantivado do adj.) S. f. Geom. Conceito fundamental da geometria, cuja posição se define univocamente por dois pontos; linha reta.

Na geometria euclidiana a reta é um conjunto infinito de pontos, linearmente ordenados. Um segmento de reta é uma parte finita da reta, cujos elementos definidores são dois pontos da reta e os que estão compreendidos entre eles. Linha que estabelece a mais curta distância entre dois pontos.



Bem, se você não gostou da frase do SUS, num esforço gigantesco para ser interativo, o Blogson sugere essas outras opções:

- VÉSPERA DE FERIADO É FODA! OLHA SÓ COMO ESTÁ A FILA DESTA AGÊNCIA!

- ESSE PESSOAL É LOUCO!  FILA DESSE JEITO SÓ PARA VER O SHOW DO(A)...?

- EU TE FALEI PRA GENTE CHEGAR CEDO, PORRA!

- CARACA! QUANDO EU PEGAR A SENHA PARA A ENTREVISTA DE EMPREGO JÁ ESTAREI APOSENTADO!

- "OLHA, LÁ VAI PASSANDO A PROCISSÃO..."

COMENTANDO AS ÚLTIMAS - 09

Ontem, eu ouvi o Ricardo Boechat comentar sobre a abertura do processo de impeachment da Dilma. Mesmo a favor, comentou que os motivos para o Eduardo Cunha autorizar foram os menos nobres possíveis, pois não passariam de retaliação pessoal.  Lamentou que com esse processo o ano de 2016 também já estaria acabado para a economia do país ("já perdemos o ano de 2016"). E disse ainda que as razões para o pedido foram as menos visíveis, pois a maioria da população não entende o que é “pedalada fiscal”.

Concordei com tudo o que disse, mas me lembrei de que só conseguiram prender o gangster americano Al Capone devido a filigranas com o imposto de renda do mafioso.  Por isso, mesmo que as pedaladas fiscais sejam também apenas filigranas jurídicas perto do tsunami de bandalheiras já promovidas pelos governos petistas (estelionato eleitoral, mensalão, petrolão, etc.), talvez sejam a chance de acabar com as práticas gangsteristas que aconteceram por aqui nos últimos anos.

Só uma coisa me chateia:  se a Dilma sair, assume o Michel Temer; se o Temer for impedido, assume o Ricardo Cunha; se o Cunha não puder, assume o Renan Calheiros. Se o Renan não puder, assume o Lewandovski.

Na Toscana (acharam que eu tinha esquecido?), diante de um quadro como esses, as pessoas diriam: "SIAMO TUTTI FOTTUTI..."

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

FATO OU VERSÃO

Para não alterar o texto do post que foi republicado hoje, resolvi fazer este adendo em novo post, pois descobri um vídeo que estava procurando há muito tempo. E o tema é justamente o do post republicado. 

Alguém já disse que em política a versão é mais importante que o fato. Se isso é fato ou versão, estou pouco me lixando, porque meu assunto é uma música. E suas duas versões.

Fazer uma nova letra para uma melodia estrangeira é a coisa mais comum, especialmente no Brasil. Bem mais raro é encontrar duas versões para a mesma música. Isso aconteceu com a música (linda) “All of me”.

No final da década de 1940, Haroldo Barbosa fez uma versão dessa música com o título “Disse alguém”. Em 1965, época da Jovem Guarda, o quarteto vocal Golden Boys gravou “Ai de mim”, outra versão da mesma “All of me”. Em 1981, João Gilberto regravou magnificamente a versão de Haroldo Barbosa.

Entrei nesse assunto para chamar atenção para a música “Lígia”, de Tom Jobim. Como já disse em um dos primeiros posts deste blog (e que está sendo republicado hoje), o Jobim fez uma letra incrível para essa lindíssima melodia. Até aí, tudo bem. Só que resolveu pedir uma ajuda ao Chico Buarque, que, sem assumir a coautoria, refez partes da letra original. E essa versão revista é que foi gravada.

Em um de seus shows de fim de ano, o Roberto Carlos (ainda sem chapinha) e o Tom cantam essa música. Imagino que durante os ensaios, apenas com o som do piano do Tom Jobim, os dois começam a passar a música. Em determinado momento, o Tom começa a cantar a letra original, o que desconcerta o Rei.

Resolvi buscar essa gravação na internet e, depois de muito tempo, acabei encontrando. Se alguém se interessar em ver/ouvir essa pegadinha do Tom, siga o link abaixo.



E se alguém quiser saber o porquê do título deste post, direi que é muito fácil de entender: não importa qual versão da letra você prefere, o fato é que ambas são excelentes. Fui.


COMEÇA HOJE!

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