Um retrato antigo é coisa que mexe comigo, pois quase fico em contemplação quando encontro um. Outro dia, vi uma reportagem sobre o rompimento da barragem da Samarco. Tudo causava horror e tristeza. Uma imagem, entretanto, era especial. Mostrava um retrato pendurado no que restou da parede de uma das casas arrasadas pela lama. Pareceu-me ser daqueles retratos antigões, colorido a mão. Dava para imaginar mil coisas, mil histórias, mil lembranças, mil sonhos destruídos pela lama. E aí lembrei-me do poema Confidência do Itabirano, de Carlos Drummond de Andrade.
Itabira, cidade onde ele nasceu, é também a cidade onde nasceu a Vale do Rio Doce; hoje, apenas Vale. No final de seu poema, Drummond escreveu esses versos:
Itabira, cidade onde ele nasceu, é também a cidade onde nasceu a Vale do Rio Doce; hoje, apenas Vale. No final de seu poema, Drummond escreveu esses versos:
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Aí fiquei pensando: o que diria um morador do distrito de Mariana
destruído pela lama da barragem da subsidiária da Vale, ao ver o que restou de sua casa? Talvez não tenha conseguido dizer
muita coisa, mas, lá no fundo do coração, pode ter sentido alguma coisa assim:
Tive sonhos, tive criação, tive lavoura.
Hoje não durmo mais em minha casa.
Bento Rodrigues é apenas um retrato na parede,
Mas como dói!
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