Existem fatos na vida das pessoas que são como cozinha de restaurante - é melhor você não conhecer. Gestos, comportamentos e atitudes que seria melhor varrer para debaixo do tapete, esconder, esquecer. Às vezes, no entanto, para
tentar corrigir uma falha, a gente precisa se expor à execração pública
(no caso do Blogson, nem tão pública assim). E se expõe demais. O estômago revira, o suor é frio e
o coração bate meio acelerado, mas a mea culpa se faz necessária. As palavras embaralham-se na minha boca, mas é preciso que eu diga, por mais que isso me doa: já tive um
Ricardo em minha vida!
Antes de falar
sobre esse passado tenebroso, preciso dizer que esta confissão foi provocada
por um episódio recente em que fiz - mesmo que involuntariamente - a troca reiterada do
nome de uma pessoa. O sujeito chama-se Renato,
mas não houve jeito de escrever seu nome correto. Cismei que era Ricardo e acabou. Só depois de ser
alertado é que, constrangidíssimo, tentei corrigir o erro. Mas era tarde.
Por isso, cabe-me
o doloroso dever de relacionar esse ato falho ao Ricardo de minha juventude. Calma, pessoal, pedrada, não!, pois eu sou hetero. O Ricardo
que existiu em minha vida (estou até ouvindo o suspiro de alívio de meus filhos)
era eu mesmo!
Essa história
ridícula aconteceu bem no início de minha adolescência. Além das inseguranças
normais dessa fase, surgiu o desconforto neurótico com meu nome verdadeiro.
Antes que alguém sinta peninha imaginando que "Botelho
Pinto" é mesmo dose para leão, esclareço que meu problema era com o José, um josé sem complemento, solitário.
Não tínhamos linha telefônica em casa, mas sofria ao imaginar como atenderia uma chamada. Do outro lado
da linha, ao perguntarem quem estava falando, eu responderia:
- "É o Zé." E a pessoa impertinente
perguntaria;
- "Qual Zé?" E eu seria obrigado a dizer:
- "Zé só." Vejam vocês, o
retardado aqui ficava quase em pânico por conta de um diálogo que nunca aconteceu (e eu nem fiz terapia por causa disso!).
Naqueles dias, ao tentar me aproximar de umas menininhas (bem feinhas) que passavam em frente à minha casa a caminho da escola, depois de criar coragem, apresentei-me dizendo que meu nome era Ronaldo. Em outro dia, “atirando em qualquer alvo que se mexesse”, tentei nova abordagem e falei que me chamava Ricardo (olha o "Ricardo" aí, gente!). Provando que as mulheres têm uma rede social invisível aos olhos masculinos, a menina disparou:
Naqueles dias, ao tentar me aproximar de umas menininhas (bem feinhas) que passavam em frente à minha casa a caminho da escola, depois de criar coragem, apresentei-me dizendo que meu nome era Ronaldo. Em outro dia, “atirando em qualquer alvo que se mexesse”, tentei nova abordagem e falei que me chamava Ricardo (olha o "Ricardo" aí, gente!). Provando que as mulheres têm uma rede social invisível aos olhos masculinos, a menina disparou:
- Ué, você não disse para a fulana que se
chama Ronaldo? A resposta possível foi essa:
- Eu brinquei com ela, meu nome verdadeiro é
Ricardo.
Se quiserem saber
o resultado prático dessas tentativas, só posso dizer que não peguei nem dengue (atualização do chavão "não peguei nem resfriado"). Não sei por que, mas
eu achava que nomes com erre eram bem legais. Aliás, qualquer nome que não
fosse apenas José teria me poupado desse constrangimento. Até "Uelerson".
Talvez por isso (a mais pura expressão do que se conhece por neurose), eu sempre tive uma dificuldade imensa de guardar o nome das pessoas fora do meu círculo de convivência. Acho que esta é a explicação da troca do nome do Renato. Em minha defesa, lembro que uma certidão de nascimento onde conste José Botelho Pinto... é uma autorização para alterar, esquecer ou trocar o nome de quem quer que seja, até do papa.
Talvez por isso (a mais pura expressão do que se conhece por neurose), eu sempre tive uma dificuldade imensa de guardar o nome das pessoas fora do meu círculo de convivência. Acho que esta é a explicação da troca do nome do Renato. Em minha defesa, lembro que uma certidão de nascimento onde conste José Botelho Pinto... é uma autorização para alterar, esquecer ou trocar o nome de quem quer que seja, até do papa.
Nem preciso
lembrar que o nome José é tão comum quanto bunda, "todo mundo" tem. "Maria", idem. Em geral, o
"Zé" vem acompanhado de algum complemento. Nos primeiros dias de
faculdade, até que cada um escolhesse qual ramo da engenharia pretendia seguir, fomos provisoriamente agrupados por ordem alfabética. Na minha sala, com 67
alunos, 47 eram José. Em todas as combinações possíveis: José Cosme, José Eduardo, José Edward, José João, José Maria, etc.
Apenas eu era só José.
Essa farra de josés provocou uma situação cômica. Um
dia, chegou um sujeito do diretório acadêmico e pediu para que escolhêssemos um
representante. Algum sacana logo disse - "pode
ser o Zé". O cara continuou explicando algumas coisas, deu-nos boas
vindas e pediu que o tal Zé se
apresentasse, ficando de pé. Levantamo-nos todos e cagamos de rir (o
cara do D.A., inclusive).
acho que você tem algum ato falho com isso de Ricardo.
ResponderExcluirnão sei se você sabe, mas eu sou Ricardo. de verdade.
PUTA QUE PARIU!!!!! Eu nunca imaginaria um negócio desses!
ExcluirEu, Ricardo de nome, escrevo:
ResponderExcluirSe pensou ou imaginou alguma vez o nome de Ricardo, prova e mostra que, o seu intelecto tem bom gosto de escolha, 😁
Achei graça ao que li e elogio o seu poder de "critica" literária ao seu próprio imaginário. Parabéns.
Muita saúde e felicidades para si
E Continue a escrever na sua bonita forma... divertida.
Abraço