segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

BELETRADO 03 - O DIA SEGUINTE

O DIA SEGUINTE (E MAIS ALGUNS)
Um dia eu vou me lembrar sem dor
Um dia eu vou me lembrar sem lágrimas
Um dia eu vou me lembrar sem tristeza
Um dia eu vou me lembrar
Um dia
Mas não será hoje
 
Hoje dói
Hoje choro
Hoje estou triste
Mas não por lembrar
O lembrar te faz viva,
Te dá movimento, te dá voz e sorriso
O lembrar te mantém viva
Um dia eu quero apenas lembrar
Pois em nenhum dia eu irei te esquecer
(09/12/25)

domingo, 21 de dezembro de 2025

BELETRADO 02 - A CERTEZA

 Este poema foi escrito no dia do falecimento de nossa adorada e adorável Eliany, mãe amorosa do Bê e de seus irmãos.

A ÚNICA CERTEZA
A morte é a única certeza que temos a partir do dia que nascemos.
 
A única certeza para todos, sem uma mísera exceção.
 
Uma dúvida paira sobre essa sentença: se esse é o destino certo, por que nos causa tamanho sofrimento a morte do outro. Principalmente alguém tão próximo?
 
Alguns dirão que é pela saudade de um futuro não mais possível. Talvez seja uma das causas.
 
Outros pensarão que é pela lembrança do passado às vezes não tão distante, às vezes há um segundo. O último beijo, último abraço, último olhar.
 
Mas creio que todos sentimos, mesmo sem perceber, que a morte de alguém é para nós
Um espelho que reflete a nós, o nosso futuro, às vezes ainda longe. Nunca sabemos quando, mas vivemos sempre na ilusão da falsa imortalidade
(08/12/25)

sábado, 20 de dezembro de 2025

BELETRADO 01 - O FIM E O COMEÇO

 
A certeza da morte próxima da mãe fez o Bê, um de nossos queridíssimos filhos filhos extravasar sua angústia e tristeza na forma de poemas. Impossível deixar de publicá-los! E é o que farei nos próximos dias. Curiosamente, neste post há uma conexão com um poema escrito em 2002, há 23 anos. Por isso resolvi publicá-los juntos. Acho que ficou muito legal. E o título que adotei, bom, é bem no estilo jotabélico.

O COMEÇO DO FIM
O começo é igual ao fim
O fim é igual ao começo
 
A dor no fim do começo
A dor no começo do fim
 
Primeiro suspiro
Último suspiro
 
O fim do fim é igual
ao começo do começo,
Em ambos só está-se só.
(09/02/2002)
 
 
O FIM DO COMEÇO
O fim não é igual ao começo
No fim você não é colocado em um berço
 
O começo não é igual ao fim
No começo você não é tão grande assim.
 
No começo você é uma promessa
O fim? Eu espero que venha sem pressa.
 
As pessoas ao seu lado no fim
não são as mesmas do começo.
Nem poderiam, algumas você pode ter colocado no berço
 
No fim não se vai apenas você, vão histórias,
afetos e sentimentos compartilhados.
No começo nada ainda tinha se firmado.
 
O começo é o começo.
O fim... ?
(06/12/25)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

UM OGRO SAIU DE CENA

Em 1980, após o falecimento do marido, vítima de câncer no pulmão, minha sogra precisou aprender a se virar sozinha, com a ajuda de filhos, genros, noras e filhas. Até então, todas as atividades externas eram feitas pelo marido, especialmente as compras mensais de supermercado.
 
Ela não sabia o preço de nada nem como escolher os produtos mais baratos nas gôndolas. Por isso, passou a comprar quase tudo em uma pequena mercearia a meia quadra de distância de sua casa. Teve a sorte de conquistar a simpatia do proprietário, que a ajudava nas compras e nas contas.
 
Outra mudança digna de nota foi ter passado a ir à missa todo domingo, o que não acontecia enquanto o marido era vivo. Ele ia; ela, não. Viajou com a irmã para Aparecida do Norte e para Niterói, cidade onde nasceu, onde pôde rever ou conhecer parentes ainda vivos.
 
Resumindo, livrou-se do uniforme de senhora idosa e meio amarga que sempre usou e vestiu a roupa que a acompanhou até o fim da vida: a de senhora bem-humorada e alegre, capaz até de concordar em fazer as maluquices propostas pelos netos mais velhos.
 
Lembrei-me desse caso por perceber estar passando por um processo semelhante. A perda da minha amada, inesquecível Eliany – às vezes dificílima de suportar e aceitar – está fazendo com que eu mude meu comportamento. Hoje, tão pouco tempo depois de nossa separação, creio poder dizer que já não tenho o perfil de ogro recluso que sempre divulguei aqui no blog.
 
Entre outras mudanças, passei a sentir necessidade de sair de casa, conversar, abraçar, manter contato com pessoas conhecidas. Já fiz até uma relação mental das casas que quero visitar. Uma delas, por estranho que pareça, é a de minha irmã, a quem abracei durante o velório da Eliany e a quem não via há pelo menos três anos.
 
Outra visita que pretendo fazer é a uma amiga de juventude da minha Lily, que sofre de uma doença degenerativa há pelo menos seis anos, o que limitou seus movimentos, impedindo-a de sair de casa. Eu deixava minha mulher na porta do prédio onde mora e voltava para buscá-la, nunca me animando a entrar para vê-la.
 
Quero também reatar a amizade com quem um dia me desentendi. Ainda no hospital, abracei meu cunhado com quem estava brigado (pelo motivo que parece ser o mais comum em quase todas as famílias: herança, partilha). Infelizmente, é tarde para voltar a conversar com meu irmão, que sofre de algum tipo de demência, mas quero não ter mais arestas com ninguém.
 
E a mudança mais significativa está na autoavaliação, pois percebo estar menos petulante, menos soberbo, menos vaidoso, menos orgulhoso – mesmo que eu não confessasse isso nem a mim mesmo. Eu gostava de falar mal de mim, mas me sentia o rei da cocada preta, um lord inglês, com brilho intelectual quase igual ao de um Einstein. Hoje percebo que mudei – e espero continuar mudando –, pois os valores que eu defendia e aprovava deixaram de ser relevantes.
 
Estou agora mais humilde. O respeito à divergência de opiniões agora é a regra. Parafraseando uma frase atribuída a Voltaire: "Posso não concordar com o que você diz, mas sempre defenderei seu direito de dizê-lo".
 
Não posso dizer que estou me transformando em um monge trapista, uma madre Teresa de Calcutá, despojado de tudo, mas o desapego aos bens materiais é real e tem-me feito bem. Se perdi o que era mais importante na minha vida, que valor ainda pode ter tudo aquilo que um dia valorizei?
 
Até a programação que fiz ao perceber que não demoraria a ficar sozinho, sem Ela, já estou mudando. Cheguei a dizer a meus filhos e filhas que guardaria um luto de um ano, mas depois arranjaria uma namorada, por desejar sentir de novo o contato íntimo com a pele feminina. Esse desejo tornou-se totalmente desimportante.
 
As cores vivas de tudo o que apreciava antes se tornaram desbotadas, foscas, opacas e sem brilho. Hoje, a mim basta apenas conversar e abraçar as pessoas que conheço. Creio que o ogro saiu definitivamente de cena – e não sinto nenhuma falta dele.
 

 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

VOCÊ ERA TÃO GIGANTE!!!!

 A autora deste texto é uma de nossas queridíssimas filhas do coração (com certidão e tudo), casada com nosso filho mais velho, a mesma que disse um dia para nossa amada Eliany que sentia mais ciume dela que do marido. Eu chorei ao ler este texto tão emocionado (estou ficando desidratado!). Lê aí.
 
Ly, eu achei que você fosse durar pra sempre. E olha que entendo dessa coisa de perder desde cedo, mas achei que com você fosse ser diferente. Me enganei feio.
 
Achei que você seria “imorrível”.
 
Mas de alguma forma você vive, nos meninos, no Zezinho e na gente, você marcou as pessoas mais do que imagina.
 
Você era tão gigante!!!! Sua existência está marcada em mim pra sempre. Foi para você que eu contei umas das coisas mais difíceis da minha vida, que foi a notícia de que meu pai não teria mais tratamento, você me acalmava. Quem vai fazer isso agora, poxa!? A vida faz cada coisa com a gente!
 
Vou sentir tanta falta daquele seu sorriso quando eu te contava meus casos, você sorria até! Você era minha amiga, minha mãe e minha companheira. A gente adorava dar aquelas voltas no bairro, só para poder ficar mais um pouquinho proseando.
 
Tá sendo muito difícil, mas sorte a minha de ter podido fazer parte da sua vida, e de ter essa turma aqui unida e se apoiando.
 
Obrigada. Te amo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

AH, CRETINA!

 
Com a Eliany não havia meio termo: ou você odiava o que ela fazia ou adorava de joelhos, tão visceral era seu jeito de viver. E uma das suas discutíveis qualidades ou defeitos era seu perfeccionismo exacerbado, amplificado por um TOC que às vezes extravazava.
 
Gostava de artesanato, mas não era coisa de “mulherzinha”, gostava mesmo era de fazer maluquices e tarefas “de homem”, como quando resolveu laquear as portas de uma casa humilde que compramos com o dinheiro de uma indenização (mais 36 notas promissórias pagas com o dinheiro do aluguel).
 
A casa estava uma ruína só, forro de madeira com cupim, madeiramento do telhado com cupim, quarto entrando dentro de quarto, louça sanitária em pior estado que as que às vezes se vê em postos de gasolina à beira da estrada.
 
Começamos a reformar do jeito mais sofrido, com material proveniente de demolição. Trocamos janelas, portas, fiação elétrica (encontramos tomadas alimentadas com aquele fiozinho fino de telefone), mudamos o banheiro e a cozinha de lugar, fechamos as passagens de um quarto para o outro.
 
Chegamos ao ponto de pintura. E foi aí que seu perfeccionismo se manifestou. Para laquear as portas antigas previamente lixadas, comprou um compressor com caneco de pintura e mandou bala, com resultado espetacular. Algumas paredes estavam muito feias e irregulares. A solução encontrada por ela foi aplicar uma camada grossa de massa corrida e ficar fazendo arabescos e movimentos aleatórios com a mão. Novo gol de placa.
 
Mas as paredes da casa precisavam ser pintadas. Nessa época eu ainda trabalhava. Por isso, compramos tinta (próxima do vencimento, mais barata), rolo, cabo extensor e lixa, e ela pintou 90% da casa toda.
 
Assim era a louca da Eliany. Aprendeu a manejar serra tico-tico, comprou duas lixadeiras, uma parafusadeira e uma furadeira semiprofissional, que manejava com gosto e prazer.
 
Comprou uma máquina de cortar cabelo e passou a dar um trato na cabeça dos irmãos, filhos e marido.
 
Só mais um caso antes do final: um dia, quando nossos filhos mais velhos tinham no máximo onze, doze anos, fomos ao Carrefour para compras normais, até ela bater o olho em uma promoção de aparelho tipo prestobarba (qualquer promoção a enlouquecia):
- Zé, está barato demais!
- OK, Eliany...
- Vou comprar!
 
Levou setenta. Os filhos mais velhos usaram bastante quando, alguns anos depois, a penugem do rosto começou a aparecer.
 
Fico imaginando este diálogo dela com São Pedro:
 
- Entre, Eliany, seja bem-vinda!
- São Pedro, este portão está precisando de uma pintura nova. Se me arrumar  material, eu pinto para o senhor.
- Heim? Não precisa! Agora você gozará do merecido descanso eterno.
- Se o senhor quiser e me arranjar uma tesoura de barbeiro, eu posso dar um trato nessa sua barba. Eu sei que ela existe há séculos, mas tenho certeza que gostará do resultado.
- Minha filha, relaxe, ouça as músicas tocadas pelos anjos!
- Posso fazer uma set list?
- Sete o quê?
- Eu queria ouvir “Boate Azul” e música francesa da década de 1960.
 
Comentário de uma das noras:
- Já, já, muda tudo lá em cima. Troca os móveis de lugar, faz almofadas... rs. Vai redecorar tudo, com certeza. .

Assim era a menina linda que me enfeitiçou de forma definitiva e se apaixonou por mim, por nunca gostar de “cara bonito”. Ah, cretina, que saudade!
 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

NA CORDA BAMBA

 
Tenho tentado me manter na corda bamba dos sentimentos provocados pela doença e morte do Amor da minha vida, uma mulher com beleza de modelo, inteligência de cientista atômica, dedicação de Madre Tereza de Calcutá aos filhos e parentes, gênio forte de rinoceronte enraivecido.
 
Sua perda provocou uma cratera no meu coração e minha mente como se tivessem sido atingidos por um meteoro semelhante ao que extinguiu os dinossauros. Descobri e confirmei que ela foi a pessoa mais importante da minha vida, mais que nossos filhos, muito mais que meus pais. E isso está doendo muito.
 
Meu ex e novamente amigo Marreta escreveu esta frase lapidar: Livrarmo-nos da dor da perda de um amor deste nível, é desonrá-lo”.
 
E é isto que eu tenho evitado ao publicar até agora mais de quinze posts sobre ela ou que me fazem lembrar ou pensar nela. E como dói!
 
Além disso, comecei a garimpar desde os primórdios do blog tudo o que me remete a ela. Ao fazer isso comecei a pensar em publicar um novo e-book dedicado exclusivamente à memória da minha adorável e adorada Eliany. Não sei como fazer nem sei como sairá, mas é um tempo que gastarei com prazer e saudade.
 
Muitas músicas me fazem lembrar de sua presença elétrica. Acredito que talvez ela nem gostasse de algumas, mas todas dizem alguma coisa para mim, como a do link abaixo.
 
Mais um pouquinho e não terei mais nada para dizer, mas poderei publicar um texto que ela escreveu para comemorar os cinquenta anos de sua irmã (o “anjo da guarda” já citado aqui). Dado o recado, escuta ai o velho e bom Tim Maia cantando a perda de seu amor.



DENTE SISO

 
Talvez as pessoas que acessam este blog já estejam cansadas de ler o que venho escrevendo sobre minha recentemente falecida mulher, esposa, companheira, amante, amada, namorada, mas confesso que está muito difícil suportar a dor, como se fosse igual à da extração de um dente siso sem anestesia.
 
Peço que me perdoem. Um dos meus desejos mais imediatos é doar suas roupas, bolsas, chapéus e sapatos, mas não estou conseguindo avançar, pois começo a chorar só de abrir uma gaveta, uma porta de armário. Por isso, disse a meus filhos que não estou com pressa, não tenho mais pressa para fazer nada.
 
Escrever sobre ela no blog funciona como uma espécie de calmante. Já estava programando voltar a postar as besteiras jotabélicas de novo a partir do dia 20/12, mas um filho encaminhou textos e poemas de sua autoria, onde aborda a dor de filho, a saudade de filho. Como deixar de publicar isso?
 
São textos bacanas que ainda precisarei digitar, pois ele é uma versão jovem do Marreta - que primeiro escreve seus textos em pergaminho e com pena de ganso, para só depois transpor para o computador. Em outras palavras, um senhor programa de índio, uma trabalheira do cacete.
 
Para fechar este aviso com um pouco de humor, transcrevo uma conversa muito engraçada mantida entre a Lulu e sua mãe.
 
A Lulu estava brincando com um bichinho de pelúcia, chamando-o de Popô. A mãe perguntou:
 
- Popó?
- Não, mamãe, é Popô!
- Ah, o nome dele é Popô!
- Não, mamãe, Popô é apelido.
- E qual é o nome dele?
- Porra.
- Lulu, isso é palavrão! Onde você ouviu isso?
 
O avô materno, que escutava a conversa e precisou esconder a boca para não rir, disse:
- Nome de batismo não pode ser mudado, mas esse precisa ser excomungado!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

SÓCIO REMIDO

 Durante o velório de minha mulher, fiquei fazendo piadinhas e conversando com um grupo de músicos amigos de um dos filhos. Em outro momento, depois de me afastar, disseram a ele que tinham gostado muito de mim e que criarão um fã-clube meu.
 
Ao saber disso e já em casa, de brincadeira, fiquei zoando com esse filho e sua namorada, dizendo que o nome do fã-clube poderia ser "A Banda do Clube do Coração Solitário de Jotabê". A namorada disse que será a sócia nº 001(uma puxa-saco profissional!).
 
E o Chat GPT devidamente abastecido de informações – e depois de muitas reclamações e revisões – gerou esta imagem da carteirinha de sócio (não houve meio do cretino colocar acento circunflexo no "E" de Jotabê):


SINCE I DON'T HAVE YOU


 
Eu não tenho planos e esquemas
E eu não tenho esperanças e sonhos
Eu não tenho nada
Desde que eu não tenho você
 
Eu não tenho desejos afetuosos
E eu não tenho momentos felizes
Eu não tenho nada
Desde que eu não tenho você
 
Eu não tenho felicidade e, acho,
Nunca mais terei
Quando você foi embora de mim
A miséria entrou, e está aqui desde então

sábado, 13 de dezembro de 2025

ANJOS DA GUARDA EXISTEM!

 
A Bebete foi o anjo da guarda da Eliany, quem fez de tudo para minorar seu sofrimento. Ajudou a dar banho, trocou roupa de cama, levava para lavar as camisolas usadas no hospital, comprou toneladas de cremes, óleos e produtos descartáveis que nossa amada Liane usou. Impossível deixar todo esse carinho invisível. e sem reconhecimento público. Publicou no whatsapp este texto delicado, emocionado e emocionante: 

No dia 8/12, dia de Nossa Senhora, você nos deixou. A saudade já dói, e sei que vai doer por muito e muito tempo.
 
Tive o privilégio de cuidar de você como se fosse uma filha, tentando inventar alguma coisa para você comer, te acompanhando nas consultas, nas internações, e você sempre me agradecia e falava com todos que eu era sua mãe, seu anjo da guarda.
 
Cuidar de você foi um dos maiores presentes que a vida me deu. Você me ensinou sobre ter força, resiliência e amor verdadeiro.
Quantas pessoas foram despedir de você! Passou um filme na minha frente, receber abraços de amigos da nossa infância, juventude, vizinhos antigos, seus alunos, suas colegas do Colégio de Aplicação, nossos primos e até suas netas, Catarina e Beatriz. Você construiu uma família linda.
 
Eliany, Liane, para todos da família, você seguirá viva em cada lembrança e em cada gesto seu que marcou nossa história.
Descanse em paz, minha irmã querida!
Obrigada por tudo o que você foi e sempre será na minha vida.
Te amo para todo sempre.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

BOATE AZUL - MATO GROSSO E MATHIAS

A Eliany sempre adorou uma música tipo “de zona” e muito brega para meu gosto elitista e pedante – “Boate Azul”, que cantava nas festas de família, sempre com um latão de Skol na mão. Gostava tanto que eu até pensei em aprender a letra e a tocar no violão (devia ter feito isso!)
 
Claro, em mais uma homenagem à menina que ensolarou minha vida, escutaí a versão que temos em casa:



 

 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

SÓ DÓI QUANDO EU RIO

 
A irmã mais velha e companheira de juventude da minha amada Eliany fez uma pergunta traiçoeira: “Bom dia, meu amigo, como você está?”
 
Eu respondi com uma charge do Ziraldo feita no tempo da ditadura (“só dói quando eu rio”).
 
Ela respondeu com um texto tão carinhoso, tão encharcado de saudade, que eu resolvi publicar aqui no blog. Como não me emocionar?
 
Então... O tempo todo, né? Não consigo parar de pensar nela, até quando cozinho, nas comidas gostosas, nas dicas do uso do microondas, momentos de felicidades, passeios mil, sempre cervejinha gelada pra gente, da presença dela sempre colorida, de colares e pulseiras, vestidos lindos,.
 
Cadê as comidas gostosas das festas de aniversário na sua casa?
Me lembrei de quando ela fazia aqueles encontros temáticos às sextas-feiras e quando eu ia, eram maravilhosos.
 
Cadê as conversas rápidas contando mil casos, emendando um com outro, uma memória incrível.
 
O "carro chefe" do nosso Natal, o salpicão... A fitinha amarela do Ano Novo, sempre de branco e feliz, dos nossos encontros de Natal das amigas, dos presentinhos surpresa lindos e emotivos no final das festas, feito sempre com carinho. Etc,etc...
 
Meu Deus já tá fazendo muita falta! Ai... Alegria e muiiiita dor. E penso; estava sofrendo muito, e ela não merecia isto...
 
Não merecia mesmo, Nice, não merecia.



DESPEDINDO DA VOVÓ

 
Um ou dois dias antes do falecimento da Vovó Liane, a Bia e a Cacá vieram despedir-se dela
 
Narrativa do pai da Bia e da Cacá:
Estamos aqui na mamãe com as meninas. Depois de verem a mamãe, a Bia falou comigo que estava com dor de barriga e pediu para ir com ela no banheiro. Lá dentro ela vira e fala:
 
- Vocês trouxeram a cama do hospital?
- Foi para a vovó ficar mais confortável.
- Pelo menos ela está ficando melhor.
- Infelizmente não, Bia.
- Pelo menos ela tá viva.
Aí eu desabei
 
- Papai já sei o que você pode pedir de Natal. Pode pedir para o Papai Noel para a vovó ficar boa. Ele dá tudo.
- Infelizmente esse presente ele não vai nos dar.
E aí ela me abraçou chorando junto comigo
 
 
No dia do sepultamento da avó (08/12/2025), seguindo o cortejo e de mãos dadas com o pai, a Bia teve uma “revelação”:
 
- Papai sabe o "Do Contra"  (personagem da turma da Mônica)?
- Sei.
- Então, se todo mundo morre o "Do Contra" fica vivo. Por que ele é sempre do contra: Se tá frio, ele tá com calor. Se tá calor ele tá com frio.
- Realmente Bia, deve ser assim mesmo.
 

Quando já estavam voltando para casa depois do enterro, a Cacá falou:
 
- Papai quando a gente chegar em casa a gente pode jogar videogame em família prá ajudar a aliviar/diminuir (não lembro qual) a tristeza?
- Claro, Cacá, vamos sim.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A DOR QUE NÃO DÁ TRÉGUA!


A DOR EM FORMA DE MÚSICA
Dói de tanto medir a distância saber que não vou te tocar além da lembrança
A tua falta é sol sem calor e está aqui, mas se foi virou estrela, a nossa estrela do céu.
 
Das lembranças que eu trago na vida você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.

Nem o sol, nem o mar, nem o brilho das estrelas
Tudo isso não tem valor sem ter você


A DOR EM FORMA DE POESIA
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
 
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
 
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
 
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


A DOR NA FALTA DE ATENÇÃO
Depois da primeira internação minha para sempre amada Eliany alternou momentos de lucidez - quando conversava normalmente - com momentos de puro delírio. Nessas fases de confusão mental eu às vezes me exasperava e elevava a voz, tentando obrigá-la tomar o remédio que não queria ou se alimentar com a comida pastosa e insossa do hospital. Um dia, em um desses momentos, diante de um brutamontes que tentava obrigá-la a comer a gororoba trazida, uma menininha indefesa diante de um animal insensível que a ameaçava, fez esta súplica:
- Não brigue comigo não!
 
Aí eu desabei.


Em outro momento, ainda internada, a mesma menininha frágil e carente fez este pedido:
- Zé, me leve para casa para eu dormir na nossa cama!
 
E eu não pude levá-la, pois logo nossa cama foi substituída por uma cama hospitalar alugada.
 
Ah, vida desgraçada que me faz chorar agora, ao me lembrar daquela menininha indefesa que um dia eu prometi a mim mesmo que sempre iria defender e proteger. E não consegui!


terça-feira, 9 de dezembro de 2025

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

DÓI MUITO !!!!

 


COMO DÓI !!!!!!!!!!!!!!

 


VOLTA, TEMPO!

 

última foto juntos (antes de ser internada)

Poderosa (e feliz)

Conversa fiada com a Clarice

A mais linda Ewok

Felizes, felizes, felizes

Explodindo de alegria

Em pleno Carnaval

Sempre linda, alegre e feliz

Casamento civil

Casamento religioso

Ah, como isso me dói!

"Você é linda mais que demais"

Adolescência


Sempre linda e graciosa

SAÚDE, LILY!!!!!!!!

08/06/1949 - 08/12/2025






domingo, 7 de dezembro de 2025

TRISTEZA NÃO TEM FIM

 
Você pode se alegrar ou lamentar profundamente as decisões que tomou ou que tomaram por você. Este texto mostra as que poderiam ter alterado radicalmente o curso dos acontecimentos, que poderiam prolongar por dias, meses ou até anos a vida da minha amada Lily. Agora, enquanto escrevo isto, sua expectativa de vida se resume a poucos dias. Não tenho como expressar minha dor quando me imagino viúvo ainda no final deste ano. Mas poderia ser diferente, tão diferente!
 
Tudo começou quando éramos recém-casados. Depois de voltarmos da lua de mel uma alergia absurda se manifestou, deixando seu corpo e principalmente as axilas, como se tivesse ficado um dia inteiro se bronzeando sem protetor solar.
 
Fomos a um dermatologista velhíssimo com que eu já tinha consultado, e ele foi taxativo:
- A senhora tem alergia de contato, alergia a perfumes.
- O senhor está enganado, eu não tenho alergia a perfume.
- Enganada está a senhora, a senhora não tinha alergia, agora tem.
 
Pediu para fazer um teste de alergia e receitou um medicamento manipulado, “do tempo de nossas avós”, e a vermelhidão e prurido acabaram. Realizado o teste, descobrimos que além do perfume, ela era alérgica a amoxilina, sulfa, iodo e a... clara de ovo!
 
E essa clara de ovo indica a primeira escolha errada, pois depois de evitar durante algum tempo, ela voltou a comer ovo frito, cozido e omelete. Nunca teve reação. Isso a levou ao próximo equívoco, pois nunca mais aceitou fazer novo teste antialérgico.
 
Por ter descoberto na menopausa ser portadora de hemocromatose, doença que provoca a retenção de ferro no fígado e é consequência da mutação de dois ou três genes (que passou para nossos quatro filhos), passou a consultar-se com uma hematologista.
 
Em uma das consultas a médica disse ter estranhado a hemoglobina muito baixa e sugeriu que fizesse alguns exames, incluindo uma ressonância magnética. Não me lembro se chegou a fazer, mas por ter alergia a iodo, todas as RM feitas a partir de então foram realizadas sem contraste (ah, que falta fez um novo teste antialérgico!).
 
Isso impediu que se detectasse ainda no princípio o câncer de fígado que a acometeu. Poderia ser curado? Sim. Poderia ser operado? Sim. Infelizmente, só ficamos sabendo desse câncer já com metástase no quadril, quando ela não conseguiu mais andar, tal a dor que sentia na perna. Já tinha se transformado em incurável e sem chance de operação ou transplante.
 
Novo equívoco: todos os médicos diziam que ela precisava andar, mas ninguém se lembrou de que a dor deveria ser suprimida, talvez com remédios potentes, para que ela não parasse de andar. Infelizmente, não foi o que aconteceu e a atrofia muscular, a perda de massa magra tornou-se quase irreversível.
 
Mas não acabou ainda. Para tentar cicatrizar uma ferida no quadril (que nunca cicatrizou!), o tratamento oncológico foi suspenso durante oito meses. O remédio agora via oral não surtiu mais efeito. E chegamos ao último equívoco:
 
Na terceira internação para corrigir o nível de sódio e etc. e tal, o exame de RM do quadril sugerido/pedido por um médico amigo, com experiência de onze anos em CTI, não foi feito. A explicação dada é que por necessitar ser realizado sem contraste (ah, que falta fez um novo teste antialérgico!) e com sedação, o risco dela morrer durante o exame era alto.
 
Mas quem fez a solicitação queria saber o que há dentro do osso da perna: câncer ou infecção?
Se fosse câncer, não haveria mais o que fazer. Se fosse infecção, uma punção seria realizada e drenado todo o pus. Mas os médicos do hospital (talvez querendo tirar o cu da reta) optaram por não fazer nada – exceto selecionar as melhores bactérias para atuar no corpo da minha amada, pois deram um antibiótico potente por poucos dias. E a “janela de tempo” para tentar uma sobrevida de mais algumas semanas se fechou para sempre. Dentro de sete ou pouco mais dias eu estarei viúvo, sem nunca mais ela poder me escutar dizer o quanto eu a amo.

sábado, 6 de dezembro de 2025

PRESENTE DE NATAL

 
Ontem, recebi da Eliany um presente de Natal antecipado, talvez o último, mas tão precioso, tão valioso, que decidi compartilhar com vocês.
 
Eu estava sentado a seu lado, de mãos dadas, quando resolvi beijá-la. Curvei-me e dei um selinho mais demorado, mais apertado. Ela abriu os olhos e disse:
- Eu te amo tanto!
 
Com a voz totalmente embargada, segurando o choro, eu lhe disse:
- Eu também te amo muito, meu Amor!
 
Nunca me esquecerei desse presente!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

ELA!

 
Para passar o tempo enquanto estava internado no hospital com minha amada, comecei a ditar o texto a seguir, para ser formatado quando voltássemos para casa. É um ótimo recurso do whatsapp, melhor ainda quando não se tem hesitação ao falar. E trabalhoso por não ter pontuação nenhuma. Só hoje é que eu me lembrei dele. E resolvi formatar, pois não tenho mais nada para publicar. Tenho usado muito esse recurso para enviar mensagens escritas para um filho, mas já aviso antes: "estou ditando, sem pontuação". 
 
Eu conheci a Eliane no carnaval de 1969. Já contei esse caso aqui, mas vou recontar, reviver “a saudade que eu gosto de ter. Só assim sinto tê-la bem perto de mim outra vez”.

 
Só para lembrar um pouquinho mais: no primeiro ou segundo dia do baile de carnaval da Sociedade Mineira de Engenheiros eu vi aquela deusa passando. Ela me confundiu com um rapaz que conhecia só de vista, pois ele e eu tínhamos uma enorme pinta, um nevo cabeludo no rosto. E foi isso que chamou sua atenção Ela olhou para a pinta, mas eu acreditei que ela estava olhando para mim por interesse. Por absurda incompetência e inocência, parti para cima dela.
 
Naquela época, o carnaval da classe média em diante era brincado em clubes. Ao som das marchinhas, as pessoas ficavam marchando (ninguém fazia malabarismos de passistas de escola de samba), rodando e ocupando o centro do salão, movimento que lembraria o de uma galáxia, uma galáxia carnavalesca. Nas bordas ficavam os homens desacompanhados, de olho naquela ciranda, esperando a hora de dar o bote em alguma garota desacompanhada.
 
E ela passou linda, linda, linda, vestindo um pareô colorido. Não me lembro de detalhes, só que ela e mais algumas amigas estavam vestidas de forma igual. Mas ela se destacava pela beleza – e olhou para “mim”!
 
Eu avancei, pus a mão em seu ombro (fly me to the moon!), que não se fez de rogada e nós ficamos rodando/ marchando pelo salão. Quando ela disse que iria parar eu entendi que estava me chamando para parar junto com ela. Foi engraçado observar o risinho e as expressões de deboche das amigas que estavam sentadas à mesa quando eu cheguei atrás dela.
 
No dia seguinte a história se repetiu, mas eu já estava me sentindo o rei da cocada. Só que não. Tentava pegar na mão, tentava um beijinho, mas ela só na retranca, só me repelindo.
 
Por total incompetência e inexperiência comecei a dizer que pularia da sacada (morte certa) se ela não ficasse de mãos dadas comigo, coisas assim. E ela parece ter acreditado (imagino que eu sempre tive cara de desequilibrado, louco).
 
No último dia de carnaval disse que iria à sua casa - e realmente fui. Começamos a namorar, eu, um ogro com ela, uma princesa. Creio que no final da Quaresma minha sogra nos viu de mãos dadas e fez com que ela terminasse o namoro.
 
Eu fiquei desesperado, pois já estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina absurdamente linda. Ficamos um ano sem namorar. Aliás, namorei depois uma menina que também me deu um pé na bunda. Ela também namorou um cara, mas tudo bem. Em abril de 1970 nós nos encontramos na ótima hora dançante do Barroca Tênis Clube; Naquele momento ela já estava pensando em mim e eu nunca tinha deixado de pensar nela. Ali nós recomeçamos, reatamos o nosso namoro e nunca mais nos separamos.
 
Não sei se quero expandir essas lembranças, mas só uma curiosidade boba: No início deste texto eu a chamei de Eliane, que é como os parentes e amigos a chamam. Mas o nome real é Eliany. Colegas de serviço e de escola sempre a chamaram assim. Eu, de sacanagem ou puro carinho já a chamei de Dindi, Ly, Lily, Lilica, Liliquinha e Héliciane – por ser muito agitada e elétrica. Essa é a menina que coloriu minha vida e me fez sonhar os melhores sonhos.
 
Mas não sei se quero continuar a falar dela, contar casos sobre ela, pois dói um pouco.

BELETRADO 03 - O DIA SEGUINTE

O DIA SEGUINTE (E MAIS ALGUNS) Um dia eu vou me lembrar sem dor Um dia eu vou me lembrar sem lágrimas Um dia eu vou me lembrar sem tristeza ...