sábado, 31 de maio de 2025

PRECISAR, NÃO PRECISAVA.

Sempre que sobra um tempinho (quase nunca sobra), corro ao computador para continuar a leitura do livro MILLÔR DEFINITIVO – a Bíblia do Caos, um calhamaço de 588 páginas (estou na 112ª), uma seleção de (respire fundo!) “Pensamentos, Preceitos, Máximas, Raciocínios, Considerações, Ponderações, Devaneios, Elucubrações, Cismas, Disparates, Ideias, Introspecções, Tresvarios, Obsessões, Meditações, Apotegmas, Despropósitos, Apodos, Desvarios, Descocos, Cogitações, Plácitos, Ditos, Sandices, Especulações, Conceitos, Gnomas, Motes, Proposições, Argumentos, Filactérios, Reflexões, Escólios, Conclusões, Aforismos, Absurdos, Memórias, Estultilóquios, Alogias, Despautérios, Aquelas, Insultos, Necedades, Dislates, Paradoxos, Prótases, Singularidades, Miopias, Estultícias, Silogismos, Tergiversações, Enormidades, Paranoias, Leviandades, Imprudências, Incoerências, Desabafos, Galimatias, Heresias, Hidrofobias e Dizidelas” escritas em mais de cinquenta anos de carreira (o livro foi lançado em 1994).
 
Para mim, Millôr Fernandes e Luís Fernando Veríssimo formam a santíssima trindade do humor impresso do Brasil – mesmo que eu não saiba quem ocupa o terceiro vértice desse triângulo. Além de humorista de altíssima qualidade, o cara foi também desenhista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista ao longo de mais de sete décadas de produção intelectual. Escreveu uma porrada de livros, traduziu porrilhões de peças de teatro, etc., etc.
 
Na introdução do livro que estou lendo, o Millôr assim o definiu: “Foi um livro difícil. Tomou exatamente cinquenta anos para ser feito. Começando em jornal antes de completar 14 anos, desde cedo, sem que soubesse por que, chamado humorista, o autor escreveu e desenhou ininterruptamente em periódicos sem periodicidade definida, e em publicações semanais e jornais diários”.
 
O levantamento, classificação, ordenação e revisão de todo o vastíssimo material disponível chegou a 13.000 tópicos em uma primeira seleção. Esse material foi reduzido pelo próprio Millôr para os 5.142 tópicos publicados nesse livro. Segundo ele, “foi cortado tudo o que lhe pareceu ingênuo, tolo, gracinha, injusto – mesmo quanto a instituições – ou de duvidosa originalidade. Este, aliás, o tópico sobre o qual, porque passados tantos anos, o autor teve mais indecisões”.
 
E é aí que eu queria chegar. Ainda que não tenha atingido nem a metade do livro, percebi haver nele uma autoindulgência muito grande – que me fez pensar nos quatorze e-books lançados por mim e que vivem clamando por revisão e eliminação do “ingênuo, tolo, gracinha, injusto ou de duvidosa originalidade” que me permiti publicar.
 
Obviamente, não estou me comparando com o Millôr, pois isso seria mais que presunção, seria puro delírio, mas o que já li me deixou ou causou uma gama de sentimentos conflitantes – encantamento, surpresa, decepção e outros de que não me lembro.
 
Há frases, textos e reflexões geniais misturadas com outras já publicadas em outros livros, piadas muito jotabélicas (sinônimo de ruins), bilhetes para editores, frases sem graça nenhuma, trecho de discurso de paraninfo, comentários com data de validade vencida, críticas antigas a políticos de que quase ninguém se lembra mais (Jânio Quadros, José “Sir Ney”, Itamar Franco, Fernando Collor e por aí), como se ele estivesse obcecado em que as gerações mais novas soubessem como ele sempre foi engraçado, mordaz, crítico, irônico.
 
E foi essa aparente ânsia de tudo ou quase tudo republicar que me fez pensar na autoindulgência de um gênio que não precisava disso para ser incensado e louvado. Mais ou menos como o Jotabê do Blogson Crusoe.
  

sexta-feira, 30 de maio de 2025

EU, VOCÊ E A BARATA

 
Hoje pela manhã, saindo de casa para comprar pão, deparei-me com uma barata vadia – uma autêntica planetária americana – a andar sem destino pelo piso da garagem. Ao perceber minha movimentação, a cascuda escondeu-se atrás de um vaso, tentando não ser notada nem inseticidada, mas fingi não tê-la visto.
 
Desde que fiquei sabendo do desaparecimento progressivo dos pardais, resolvi fazer minha parte para preservar os que fazem ninho no beiral de nossa casa e deixam suas “lembranças” no chão logo abaixo. Em outras palavras, não me importo mais com o cocozinho dos pardais nem os espanto com jatos de água. Também não mato com inseticida as baratas que ousam aparecer e que podem servir de alimento para eles. Duro é ter de usar o chinelo e ouvir aquele plaft repulsivo, que me obriga a lavar a sola da havaiana antes de voltar para dentro de casa.
 
Pois bem, enquanto espantava com jato de água a barata para fora do portão, fiquei pensando em quanto tempo deve ter sido gasto para ela adquirir suas características e propriedades atuais, sendo uma delas a capacidade de provocar reações histéricas na maioria das mulheres e de alguns homens ao dar com uma delas sassaricando por prateleiras e armários. Por absoluta falta de coisa melhor para pensar, consultei a Wikipédia – a mãe dos muito burros – e anotei estes dados de suma importância, que todos deveriam conhecer antes de morrer:
 
Sabe quando surgiu o L.U.C.A.? Se você nem consegue imaginar de que estou falando, sugiro procurar no Blogson a fabulosa e hilariante história em quadrinhos “A Gaiola dos Lucas”. L.U.C.A significa “Last Universal Common Ancestor”, que em linguagem de gente pode ser entendido como o último ancestral comum a partir do qual todos os seres vivos surgiram. Em outras palavras, eu, você e a barata temos o mesmo tatatatatatatatar...avô. Pois bem, esse nosso avôzinho surgiu há 3,4 bilhões de anos. Do que aconteceu depois disso eu não faço ideia, apenas descobri que seus descendentes peixes surgiram há 530 milhões de anos; os insetos – incluindo os ancestrais do pernilongo e da barata – começaram a encher o saco há 480 milhões de anos, os répteis há 310 milhões, os mamíferos há 220 milhões e as aves há “apenas” 150 milhões de anos.
 
Agora, diga para mim, você consegue imaginar o que significam intervalos de tempo tão gigantescos? Você consegue internalizar uma passagem de tempo tão estupefaciente? Vou te dizer que por mais que eu sinta atração por números, valores, quantidades, não consigo avaliar nem ter a mínima ideia do que significam tempo medido em milhões de anos nem distâncias medidas em anos-luz. A minha limitação intelectual permite apenas que eu trate de forma teórica conceitos que nunca conseguirei realmente vivenciar.
 
Neste ponto, sinto inveja dos membros da tribo amazônica Pirahã, que não sabem contar nem têm palavras para indicar números precisos tipo “um”, “dois” ou “três”. Essa tribo avalia quantidades com termos que indicam “pouco”, “alguns” e “muitos”.  E acho que é assim que passarei a me comportar. Quando alguém perguntar quantos anos completarei no próximo dia sete de junho, apenas responderei:
- Muitos.

terça-feira, 27 de maio de 2025

A MOTHER JOAN'S HOUSE

 
Se uma imagem vale mais que mil palavras, quantas valerão oito imagens? Um dicionário inteiro? Uma enciclopédia ilustrada? Ou, talvez... um manual de etiqueta e boa educação?
 
As primeiras imagens mostram os parlamentos de oito países. Em todas elas, os congressistas aparecem ordeira e respeitosamente sentados. Bem diferente da zona que se vê nas sessões do Congresso brasileiro, onde cada "paralamentar" parece competir para ver quem demonstra mais falta de educação, menos verniz civilizatório. Talvez por acharem que ali é a casa da mãe joana.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

PROCURANDO INSPIRAÇÃO? ACHOU!

A propósito de minha recorrente e atualíssima falta de inspiração para publicar temas interessantes, o dono do blog As Crônicas do Edu fez um comentário provocativo ao dizer que “só a IA não vai sofrer de tal falta de inspiração, porque é artificial...ou será que não?

Não deu outra. Acessei o ChatGPT e fiz este pedido:
“poderia sugerir temas engraçados para eu escrever uma crônica?”
 
As sugestões (e comentários relacionados a elas) foram tão boas que não resisiti à tentação de transformá-las em mais um post. E a culpa disso, claro, foi do Edu.
 

O ChatGPT disse:
Claro! Aqui vão 15 sugestões de temas engraçados para crônicas, com um toque de ironia, absurdo ou cotidiano exagerado — depende do seu estilo:
  
COTIDIANO EXAGERADO
1- A guerra silenciosa da geladeira contra a dieta
(Ela conspira à noite. Você jura que ouviu o requeijão te chamar.)

2- A arte de enrolar cabos de fone de ouvido — e falhar miseravelmente
(Você começa com paciência... termina com um nó impossível da mecânica quântica.)

3- Como sobreviver a um grupo de WhatsApp de família sem virar monge tibetano
(Figurinhas da Tia Lúcia, correntes do Tio Zé, fake news e bom dia com glitter.)
  

SITUAÇÕES SOCIAIS
4- Manual do introvertido para festas de aniversário alheias
(Fuja discretamente depois do “Parabéns” ou vire um vaso decorativo.)

5- Encontro com ex em fila de banco: um suspense psicológico
(E ainda faltam 34 senhas para você ser atendido.)

6- A epopeia de fingir que entendeu uma piada ruim e ainda rir com entusiasmo
(É preciso mais talento que atuar em Hollywood.)
 
 
TECNOLOGIA E MODERNIDADE
7- Diário de um idoso digital tentando entender emojis
(O dia em que mandou uma berinjela achando que era beringela mesmo.)

8- A Alexa está me espionando (e talvez me julgando)
(Ela ouviu você cantando Benito di Paula no chuveiro.)
  

FAMÍLIA E RELACIONAMENTOS
9- Como discutir com o cônjuge sem usar a expressão “como sempre”
(Spoiler: impossível.)

10- Conselhos amorosos de quem está solteiro há décadas
(“Não se iluda com flores, isso dá formiga.”)
 

TEMAS ABSURDOS
11- Reunião do sindicato dos travesseiros velhos
(Estão em greve até que você os aposente com dignidade.)

12- Meu cachorro é mais popular que eu nas redes sociais
(E ele nem tenta.)
 

AUTOIRONIA E REFLEXÕES
13- Ser adulto é pagar boleto e discutir se compensa fritar ou pedir pelo app
(Spoiler: o app vence. Sempre.)

14- O dilema moral de jogar fora a embalagem que “ainda dá pra usar”
(Não, aquele potinho de sorvete nunca mais verá sorvete.)

15- Como fracassar com estilo em todas as metas de ano novo
(Inclusive a de escrever uma crônica por semana.)

  

domingo, 25 de maio de 2025

TE CUIDA, JOTABÊ!

Tenho andado tão pouco inspirado que até oxigênio anda me faltando. Por isso, venho apelando para qualquer coisa – desde publicar o que encontro pela rede até pedir socorro ao chato do GPT. Hoje, meio acordado, meio em modo zumbi, fiquei pensando que, se esse Saara mental continuar, vou acabar demitindo o Blogson… ou sendo por ele demitido.
 
Foi então que me lembrei do premonitório programa O Aprendiz, onde Donald Trump já dava sinais do seu gênio intempestivo – mais tarde turbinado quando foi eleito presidente dos EUA pela segunda vez. Pedi uma ajudinha ao ChatGPT para desenvolver a ideia, e saiu isto. Mas a piada é tão ruim que estou mesmo merecendo ser demitido.



sexta-feira, 23 de maio de 2025

DE SPOILER EM SPOILER CHEGAREMOS LÁ

 
A decisão de diminuir a mediocridade dos e-books que publiquei na Amazon necessariamente levaria à exclusão de uns ou uma reseleção e união de alguns deles. Essa tarefa está em andamento. E a primeira providência foi unir os dois e-books de poesia, depois de fazer nova seleção dos poemas (vamos chamá-los assim).
 
A explicação para isso está no fato de ser um pouco acumulador e de ter dificuldade em me desapegar do que escrevi, mesmo sabendo da modéstia literária do que produzi. A outra razão (real) é o desejo de deixar “pegadas” indicando por onde andei e o que fui um dia. Mas ninguém precisa se assustar com estas palavras, pois minha meta é viver pelo menos mais dez anos – mesmo que, até lá, eu talvez já não lembre direito quem sou.
 
Deixando o drama de lado, vale lembrar que o genial Chico Buarque também escreveu letras menos inspiradas – como as do filme “Os Saltimbancos Trapalhões”. Por isso, meu desejo de publicar uma “antologia” da minha produção em versos com diferentes motivações e qualidade.
 
Após descartar oito poemas que nunca me agradaram, a tarefa seguinte foi organizar os 104 que sobraram (haja condescendência!), em seis seções de qualidade variável.
 
O Eu Fragmentado – 44 poemas que considero os melhores que escrevi;
Garimpo de Palavras – outros 42, minha “segunda escolha”;
Datas e eventos especiais – 5 poemas;
Crítica ao blog – 3 poemas;
Versos infantis – 3 textos feitos para divertir minhas netas ao serem musicados pela Suno AI;
Paródias – 7 versões inspiradas em poemas consagrados ou em letras de música.
 
Para finalizar, deixo claro que esta é a ideia original, mas pode ser que eu resolva descartar mais alguns textos e escolher outros títulos para as seções. Nada está totalmente fechado, estamos combinados?

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O MÍNIMO DO MÍNIMO

 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece em seu artigo 25 que Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle”. Bacana, não?
 
Sabiam que o salário mínimo foi estabelecido em 1940, no governo de Getúlio Vargas? Por ser antediluviano, eu sabia. E sabia também que seu objetivo era garantir que os trabalhadores tivessem um salário que atendesse às suas necessidades básicas, como alimentação, moradia, saúde e educação.
 
Bom, essa é a história. Quanta coisa (não) mudou desde então!
 
Mas hoje, com a temperatura baixa e mais uma vez assustado e incomodado com a visão de uma multidão de moradores de rua dormindo sobre papelão ou perambulando sem destino pelo centro da cidade, me ocorreu o pensamento de que todas essas pessoas – e não só elas – têm direito à dignidade mínima: um reconfortante banho quente, substituição de seus andrajos imundos por roupa limpa, um cobertor e, talvez, uma sopa quentinha no final do dia.
 
Isso resolveria o problema do uso de drogas e da miséria desses fantasmas de pele e osso que teimam em continuar respirando? Certamente que não, mas uma gota de solidariedade e compaixão será sempre bem vinda, concordam?
 
E se você quiser uma trilha sonora para embalar esses sonhos, que tal estes versos do John Lennon?
 
“You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one”

quarta-feira, 21 de maio de 2025

FILTRAÇÃO

 
Gosto das habilidades das inteligências artificiais – são ótimas para traduzir, revisar e até criar textos. Mas o problema mesmo começa quando algum espertinho resolve manipular imagens e vídeos falsos. Não sou futurólogo (nem tenho tanto futuro assim para utilizar), mas vejo com grande preocupação a crescente criação de conteúdos tão bem forjados que até pessoas esclarecidas são enganadas. Mas, “deixando a profundidade de lado”, o que eu quero é me divertir com essas conquistas que, no fim das contas, acabarão por ferrar o mundo.
 
Algumas dessas novidades tecnológicas – antes de me encantarem – me deixam assustado. Sério mesmo! Tento me manter atualizado, mas, se me permitem um trocadilho, diria que minha velhicidade é insuficiente para acompanhar as inovações que não param de surgir.
 
Outro dia, por exemplo, minha mulher mostrou o rosto de uma jovem no celular e perguntou quem era. Eu estava sem óculos e chutei o nome de alguma atriz gostosa, o que foi suficiente para deixar minha mulher furiosa (e olha que eu nem disse a palavra “gostosa”!). Coloquei os óculos e percebi que não era nenhuma celebridade. Na verdade, parecia uma completa desconhecida. Minha mulher então me informou que se tratava da namorada de um sobrinho.
 
Como assim? Fez plástica? Transplante de cabeça? Porque, mesmo conhecendo a moça apenas superficialmente, posso assegurar que, se não é a versão jovem da “Bruxa do 51”, também nunca foi modelo de beleza – nada de Ísis Valverde ou outra tchutchuca. E o retrato exibido na tela mostrava uma realidade paralela, digna de filmes de ficção científica.
 
Perguntei se ela tinha alguma explicação para aquele fenômeno, e ela respondeu com uma ponta de desprezo pela minha ignorância:
- Filtro.
- Filtro? – repeti. E ela disse tratar-se de um efeito obtido por algum aplicativo instalado no smartphone.
 
Caracas! Agora o mundo ficou muito perigoso! Quem se aventura em sites de relacionamento corre o risco de comprar gato por lebre – ou melhor, lebre por gata. Casamento por procuração, então, nem pensar. Na hora H, o noivo pode descobrir que está se unindo a um ex-seminarista, por exemplo. É ruim!
 
Isso me lembra um episódio constrangedor que vivi quando precisei tirar fotos 3x4 para renovar minha carteira de identidade. Fui ao Foto Zatz. Em vez de foto colorida, pedi preto e branco, pois tenho uma espécie de galeria onde guardo todos os retratos 3x4 que já tirei “nessa longa estrada da vida”. Uma das características dos retratinhos em PB é permitirem retoques para corrigir alguma imperfeição – ao contrário das coloridas.
 
Quando peguei as seis cópias, percebi que o retoque havia sido feito de forma tão entusiasmada que as bolsas sob meus olhos – cada vez mais proeminentes com o tempo – tinham simplesmente desaparecido. Mas fui assim mesmo providenciar o novo documento.
 
Ao receber os retratos que lhe entreguei, e depois de me olhar de cima a baixo, a senhora mal-humorada que me atendeu foi taxativa:
- Esses aqui não valem. Preciso de retratos recentes!
 
Achei graça da recusa e comentei que tinha acabado de tirá-los. A resposta foi fulminante:
- Nossa! Retocaram tanto a foto que quase apagaram essa pinta que o senhor tem no rosto.

Que se pode dizer sobre isso? Filtrar seu retrato só pode ser entendido como brincadeira, pois o resultado sempre estará sempre exposto à troça e ao deboche dos conhecidos. Mesmo que obtido de forma involuntária em um retrato 3x4.

terça-feira, 20 de maio de 2025

SPOILER


Desde a criação do blog Blogson Crusoe, fui descobrindo que a poesia é um excelente meio de expressar emoções intensas. A explicação me parece simples: se um texto em prosa lembra um rio de águas calmas, que serpenteia por meandros e curvas suaves, sem sobressaltos, a poesia, ao contrário, é um rio turbulento – nervoso, impetuoso, com corredeiras e águas que despencam em cachoeiras e precipícios.
 
Mas nem todos têm o talento de escrever poemas que possam ser considerados boa literatura. Esse, reconheço, é o meu caso. Ainda assim – e ao longo dos onze anos de existência do blog – escrevi mais de cem poemas, de qualidade variável, incluindo paródias e letras de músicas infantis para minhas netas.
 
Graças ao estímulo e à ajuda de um antigo leitor, consegui publicar na Amazon um e-book com a seleção das melhores poesias que acreditava ter escrito. Gostei tanto da experiência que publiquei mais um. Com o tempo, porém, percebi que alguns poemas do segundo livro jamais deveriam ter sido incluídos – e que o próprio livro era, talvez, um equívoco, fruto de uma mistura tóxica de ansiedade e depressão.
 
Decidi, então, refazer o caminho: reli tudo, escolhi com mais critério, acrescentei poemas novos e reuni tudo em um único volume.
 
É este livro que te convido a ler agora. E mesmo que os versos sejam singelos, banais, com rimas imperfeitas e pouca inspiração – sou eu que estou ali, pois cada poema é um fragmento de um mosaico incompleto de mim.
Aceita o convite?

segunda-feira, 19 de maio de 2025

BONECAS, BEBÊS E BATALHÕES DE BOMBEIROS

 
Ralei muito para atender a encomenda da Catiaho sobre bebês reborn, pois a inspiração não vinha (terminei de escrever o texto “O Fim do Mundo Chegou” às quatro da matina). Depois de tomar café e resolver as inadiáveis atividades matinais, fiquei com vontade de saber o que uma inteligência artificial poderia dizer sobre um bebê tão artificial como ela.
 
Por isso, copiei da Wikipedia um texto gigantesco escrito em inglês e fiz este pedido ao ChatGPT:
- Este é um assunto do momento. Poderia fazer uma crítica ácida sobre, utilizando o texto a seguir, que encontrei na internet? Mas faça em português.
 
E ele fez, gastando para isso uns três segundos. Sincera e humildemente, sou obrigado a admitir que o texto da IA ficou muito melhor que o meu. Por isso, achei que valeria a pena publicá-lo no velho Blogson..
 
Depois, creio que só de sacanagem, o ChatGPT ainda escreveu:
- Se quiser, posso escrever outra versão com humor mais escrachado, ou com um tom mais melancólico e reflexivo. Deseja experimentar?
 
Nem respondi, de tão humilhado fiquei. Ah, IA filhadaputa!
 
A partir de agora o “mando de campo” é do ChatGPT. E até o título é dele.
 
Era uma terça-feira como outra qualquer até que, no noticiário da noite, surgiu a manchete: "Bebê abandonado dentro de um carro é salvo por bombeiros — era uma boneca." Pronto. Lá estava de novo. A humanidade, em sua versão mais dramática e atrapalhada, confundindo plástico com carne, tinta com choro.
 
As reborn dolls, essas bonecas com aparência tão realista que até fazem as veias saltarem (literalmente, pois são pintadas à mão com esmero quase cirúrgico), agora vivem cercadas de cuidados maternos e, por vezes, de sirenes. Porque, veja bem, se um carro está parado sob o sol, e há um "bebê" imóvel dentro, não é loucura quebrar o vidro. Loucura é descobrir que o bebê não respira por falta de pulmões. Que tem cílios colados com cola quente e um magneto na boca para prender a chupeta.
 
Não é só o vidro que se quebra. É a fronteira entre realidade e delírio.
 
O mais curioso é que essas bonecas são vendidas em “berçários virtuais”, entregues com certidão de nascimento, fralda, mantinha e, se o freguês pagar um extra, até com batimentos cardíacos eletrônicos e narizes que "respiram" (movimentos sutis, claro, nada de secreções). Algumas vêm com nome escolhido, outras com aroma de talco, outras ainda em incubadoras para simular a chegada prematura ao mundo. O que falta? Talvez um CPF.
 
"Não julgue," dirão os defensores. "Ajuda no luto, no vazio, no instinto maternal." Sim, talvez. Mas quando o luto exige fraldas Pampers e carrinho de passeio, é possível que o luto tenha virado um espetáculo. Ou uma comédia.
 
Porque, convenhamos, há algo deliciosamente patético em ver duas senhoras discutindo no supermercado sobre qual shampoo é menos agressivo para o couro cabeludo... da boneca. Ou na mãe que não deixa ninguém segurar "a bebê" porque "a cabecinha ainda não firma" — ignorando que a cabeça, feita de vinil, jamais firmará ou cairá, a não ser por defeito de fábrica.
 
Há uma indústria inteira dedicada a tornar plástico mais humano. Enquanto isso, há seres humanos sendo tratados como descartáveis. Ironia? Não. Só mais um capítulo de um tempo em que a fantasia é tão bem-feita que parece real — e a realidade, às vezes, tão absurda que parece brincadeira.
 
Por via das dúvidas, se vir um bebê sozinho no carro, chame os bombeiros. E depois, quem sabe, chame um psiquiatra. Ou um artista. Afinal, está cada vez mais difícil distinguir onde acaba a arte e começa a loucura.
 

domingo, 18 de maio de 2025

O FIM DO MUNDO CHEGOU

 
Aqui em BH, existe um apresentador de telejornal local muito simpático, já mais velho, que, ao noticiar fatos bizarros ou inacreditáveis, às vezes comentava com voz pausada e meio sorriso no rosto: “Minha mãe diz que o mundo já acabou, mas ninguém acredita”. Ou então, ao final de uma daquelas notícias de azedar o fígado, e sem mover o corpo, olhava diretamente para a câmera à sua direita (ou esquerda) e dizia: “Ah, nem!
 
É essa a sensação que tenho quando leio certas notícias que parecem saídas de um programa de humor. Bebês reborn são desse tipo. Você, que lê atentamente este blog desconjuntado enquanto segura uma fatia de pizza marguerita em uma das mãos, sabe do que estou falando?
 
Precisei consultar a internet - a mãe dos muito burros e pátria das fake news -, para também aprender que porra é essa. Muito bem (ou muito mal): bebê reborn é um boneco com traços hiper-realistas que começou a ser vendido em 2002. Mas é pior que o boneco assassino Chuck, pois faz com que adultos adquiram comportamentos de deficientes mentais.
 
Aqui no Brasil, seus proprietários têm provocado mais risos do que preocupação. Mas, mesmo achando graça na total falta de senso de ridículo de alguns dos donos de reborn, receio que a humanidade esteja com viagem marcada para a insanidade. Basta lembrar de um presidente estrangeiro que cogitou criar um resort num país destruído pela guerra e um reality show em que imigrantes competiriam entre si por cidadania americana. Se um presidente pensa nessas sandices, o que se pode dizer das pessoas comuns, intoxicadas por imagens manipuladas e notícias falsas disseminadas nas redes sociais?
 
Mas, como cantou o Belchior, “deixando a profundidade de lado” – pois a vida é breve –, o bom é rir das notícias da insensatez e do ridículo dos donos de bebês reborn (esse é o nome da coisa):

- Ao ser questionada por uma mulher se poderia solicitar pensão mensal do ex-marido “diante dos altos custos para manter o ‘filho’”, a advogada Fernanda Sanchez foi curta e grossa: “Criança é criança, pet é pet. Você pode não aceitar, mas bebê reborn é uma boneca.”
- Outro advogado, cujo nome infelizmente não sei, publicou em suas redes sociais que ter bebê reborn não dá direito a pedidos de pensão alimentícia nem previdenciária.
- Depois que uma mulher levou um bebê reborn ao posto de saúde, alegando que “a coisa” estava com febre, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) propôs proibir o atendimento de reborns em hospitais. Sensatamente, comentou: “É alarmante ver o quanto as pessoas se sentem solitárias e desconectadas, buscando fuga da realidade e tentando suprir seus vazios com esse tipo de brinquedo de madame. (...) Quando isso se transforma em uma fuga emocional, criando uma realidade paralela que sobrecarrega os nossos serviços públicos, alguém precisa dar um basta.”
- O padre Chrystian Shankar publicou em suas redes sociais o seguinte aviso:
“Não estou realizando batizados para bonecas reborn ‘recém-nascidas’.
Nem atendendo ‘mães’ de boneca reborn que buscam por catequese.
Nem celebrando Missa de Primeira Comunhão para crianças reborn.
Nem oração de libertação para bebê possuído por um espírito reborn.
E, por fim, nem missa de 7º dia para reborn que arriou a bateria.”
E ainda completou: “Essas situações devem ser encaminhadas ao psicólogo, ao psiquiatra ou, em último caso, ao fabricante da boneca. Sem mais!”
-Já o deputado federal Zacharias Calil (União Brasil – GO) propõe multa para quem usar bonecos simulando crianças com o objetivo de obter benefícios como filas preferenciais.
- A Prefeitura de Curitiba informou, em suas redes sociais, que passageiros com bebês reborn não têm direito a assentos preferenciais nos ônibus da cidade. “Mãe de bebê reborn não tem preferência”, diz o aviso. Ainda em tom descontraído, a publicação destaca: “Os reborns são fofos, mas não garantem lugar no (assento) amarelinho.”
- E, para terminar, esta notícia (infelizmente, a reportagem onde a encontrei não traz mais detalhes): casal disputa na Justiça a guarda de uma reborn e o controle de um perfil no Instagram que gera lucros com a exposição da boneca.
 
Não sei se a gíria “rebordosa”, usada para indicar a ressaca provocada pelo consumo de álcool ou substâncias “só um pouquinho mais ilícitas”, ainda existe, mas acho que, depois de ler essas maluquices, estou também com rebordosa — ou melhor, reborndosa. Ah, nem!

sábado, 17 de maio de 2025

DUCHA FRIA

Por ter poucos “seguidores” – ou, como prefiro chamá-los, amigos virtuais –, sempre me alegro quando descubro mais uma adesão à lista de leitores do Blogson. Costumo então fazer um post-agradecimento a essa gente maluca que achou alguma graça nas tranqueiras que publico no blog. Só lamento que não o tenham descoberto há mais tempo, época em que eu era mais criativo.
 
E por terem se incorporado só agora à multidão de 18 seguidores, talvez não saibam que a este blogueiro faltou discernimento, desconfiômetro e bom senso quando resolveu aplacar sua ansiedade congênita publicando quatorze (isso mesmo!) e-books na Amazon com material extraído dentre as mais de 3.000 publicações feitas ao longo de quase onze anos.
 
E, de certo modo, até fico aliviado por não conhecerem esses filhotes do blog, pois fui muito condescendente e precipitado na seleção e publicação dos e-books. Desde então tenho sentido um pouco de vergonha por ter publicado material de baixa qualidade, só para acalmar meus demônios internos. Por isso, tenho pensado em reduzir para a metade ou menosos quatorze livros que publiquei.
 
E hoje, finalmente, comecei a fazer essa limpeza. E a primeira escolha recaiu nos dois livros de poesia (O Eu Fragmentado e Garimpo de Palavras), que, depois de nova seleção, serão transformados em apenas um. Essa jogada permitirá também que o novo livro fique com download gratuito por cinco dias no site da Amazon. Aliás, essa era “a coisa que vem por aí” a que me referi em post anterior – o que, convenhamos, soa como uma verdadeira ducha de água fria diante da eventual expectativa que aquele enigmático e “promissor” mistério possa ter criado.
 
Assim, minhas novas amigas Beatriz e Maria Luiza terão a oportunidade de – caso queiram – conhecer a fabulosa produção poética de Jotabê, fazendo-as talvez se arrepender de terem se interessado em seguir esta bagaceira que é o Blogson Crusoe. Até lá, só posso agradecer – e dizer: bem-vindas!

DUELA A QUIEN DUELA

E O LULA, HEIM?
Nunca entrei em bola dividida, nem separei briga de filho na saída da escola. Jamais me meti em desavenças de irmão ou deixei de apontar os defeitos dos meus pais. Acho um horror quando uma mãe tenta suavizar a fama de criminoso do filho dizendo que “ele é um filho muito bom”. Em resumo: protecionismo, corporativismo e todo tipo de conivência por laços ideológicos, afetivos ou de sangue são comportamentos que abomino, condeno ou desprezo. Assim deveriam pensar e agir os homens públicos (sonha, Jotabê!).
 
Mas aí vem o Frei Chico, irmãozinho do presidente, e tem seu nome envolvido numa maracutaia gigantesca às custas dos aposentados. Ele é inocente? Não sei. Mas, se eu fosse o Lula — que já manchou sua reputação com as tretas dele próprio e de seus cupinchas nos episódios do Mensalão e no Petrolão – botaria a boca no trombone, chamaria o irmão de filho da puta (com ou sem razão) e estimularia a criação da CPI do INSS, duela a quien duela, como disse o condenado Collor. Porque é como no caso da mulher de César: não basta ser honesto – é preciso também parecer. E, usando uma linguagem mais direta, como se fala em qualquer zona do baixo meretrício: se o cu não é meu, pau nele!
 
Faria muito bem à biografia do Lula se ele desistisse dessa ideia ridícula de querer ser presidente pela quarta vez e passasse a régua em tudo – e em todos que consideram o bem público uma entidade abstrata e discutível, algo que existiria apenas para o enriquecimento de alguns. Será que ele ainda não entendeu isso?
 
 
E O BOLSONARO, HEIM?
No bairro onde moro havia um casal de namorados sui generis, para dizer o mínimo. Já idosos, aposentados e sempre chapados de bebida – ela mais que ele –, frequentavam a missa com regularidade. Sentavam-se nos últimos bancos e, sempre bêbados, conversavam em voz alta – ela mais que ele.

Um dia, durante uma missa lotada, o Padre Cornélio, excelente vigário, anunciou que estava voltando para a Holanda, seu país natal, por ter atingido a idade em que os padres se aposentam. Ao ouvir aquilo, a mulher começou a cantarolar, à meia voz: “Adiós muchacho, compañero de mi vida...” Estava sentado perto do casal e tive de fazer força para não cair na gargalhada.
 
Hoje, vi no portal da Isto É a seguinte manchete: “Vou morrer, não vai demorar, diz Bolsonaro sobre possível prisão.”
 
Não resisti: comecei a cantar mentalmente, – “Adiós muchacho...
 
Em outras palavras: mesmo sendo esse desabafo uma tentativa óbvia de chantagem emocional do Bozo, não resisto a dizer – já vai tarde!
 
 
E O TRUMP, HEIM?
Li esta manchete no portal G1: "Governo Trump avalia fazer reality show com imigrantes competindo entre si por cidadania americana".
Que se pode dizer de um presidente assim?  Doente!!!

 


sexta-feira, 16 de maio de 2025

VEM COISA POR AÍ

 
“Quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”. Ferreira Gullar
 
 
O que se lerá a seguir
São versos ingênuos, simplórios
Poemas escritos com prego
Grosseiros, vulgares, banais
Literatice sem brilho
Poesia sem rima, sem cor
Expressões toscas da dor
 
 
Você, caro leitor, estimada leitora, pode estar se perguntando que isso significa. Por enquanto, só posso dizer que vem coisa por aí.
 
 
Para encher um pouco mais de linguiça (como deve ser uma expressão equivalente em Portugal?), a transcrição de um cartão que recebi de meu filho em 2017, quando me deu de presente de dia dos pais o instigante, perturbador e super bem escrito livro “Sapiens”, de Yuval Harari:
 
“Para que meu pai, Homo Sapiens se torne cada vez mais sapiens e menos homo”.

 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

ESCOLHAS CAUSADAS POR ESCOLHOS

 
O atual presidente tem uma legião, um exército, uma enormidade de pessoas que o odeiam, por abominar sua tolerância com as maracutaias promovidas por aliados e parceiros, feitas com sua ignorância, leniência, displicência ou até mesmo em benefício próprio. Concordo integralmente com quem pensa assim, mas o Brasil sempre foi um país abençoado onde fortunas surgem e aumentam de forma quase milagrosa, provavelmente pela habilidade na gestão dos investimentos de quem enricou, gente como o jurássico Adhemar de Barros ou os políticos Newton Cardoso, Orestes Quércia, Jader Barbalho, Paulo Maluf, Fernando Collor... tantos que fica até difícil lembrar.
 
Se você não gostou da ironia, vou tentar ser mais claro. Estão certos todos os que são contra a corrupção, contra quem se beneficia com isso ou que deixa que isso aconteça. Mas, infelizmente, a corrupção parece ser endêmica no país, não sendo “privilégio” nem de uma época nem de uma pessoa. Pior – muitíssimo pior – é aceitar como melhor opção de governante alguém que se cerca de gente com esta disposição:
 
“Em áudio, policial cita equipe formada para prender ministros, 'matar meio mundo', e se queixa de Bolsonaro: 'Deu para trás'
Polícia Federal interceptou conversas do agente Wladimir Soares, investigado por participação na trama golpista. Em conversas, ele menciona grupo para 'proteger' o ex-presidente’.
Uma perícia da Polícia Federal em aparelhos do agente Wladimir Soares — investigado pela trama golpista — revelaram áudios em que ele menciona um grupo armado preparado para prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e admite que a equipe estava disposta a usar força letal, afirmando que iriam ‘matar meio mundo’ se necessário.
Em um dos áudios, Wladimir revela que ele e sua equipe estavam prontos para prender o ministro Alexandre de Moraes e outros membros do STF, caso Bolsonaro tivesse autorizado.
Ele também menciona que a operação só não aconteceu porque Bolsonaro não deu a ordem esperada.
‘A gente ia com muita vontade, ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio mundo de gente. Não ia estar nem aí’, declarou”. Se quiser, leia a íntegra da reportagem aqui:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/05/14/em-audio-policial-cita-equipe-formada-para-prender-ministros-matar-meio-mundo-e-se-queixa-de-bolsonaro-deu-para-tras.ghtml
 
E agora é para fechar o post: quando leio coisas desse tipo, quando me lembro da época dos generais-presidentes, acho estranho quando alguém me marreta por preferir o roubo de bens materiais que o roubo da liberdade e da democracia – lembrando que “preferir” não é sinônimo de “concordar”.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

MALHANDO EM FERRO FRIO

 
Acho que estou muito velho, pois não tenho mais paciência para malhar em ferro frio, dar murro em ponta de faca ou marrada em cabeça de carneiro. Usando uma expressão antiga, sempre fico de bode quando vejo o ódio e o rancor serem guardados em geladeira, só para que não se acabem. Mas o sentimento que mais me incomoda é a crença radical de alguns, ou melhor, a crença de alguns radicais de que é impossível, inadequado, condenável que pessoas não radicais sejam obrigadas a fazer escolhas de Sofia, plebiscitárias, momentos em que o bom senso manda escolher a opção que se entende menos pior – mesmo que não se concorde com nenhuma delas. Tentando clarear o raciocínio, são aqueles momentos quando ou você come buchada de bode ou passa fome, quando bebe cerveja ou morre de sede, quando é vacinado com vacina chinesa ou morre de covid. Espero ter sido claro até agora.
 
E um dos temas favoritos daqueles que não aceitam o resultado das últimas eleições presidenciais é o fato de o candidato eleito ter sido beneficiado pela anulação de provas conta ele. Essa é uma história que vale a pena (re)contar. Mas talvez seja interessante voltar um pouco mais no tempo, tempo da Dilma.
 
Quando a então presidente Dilma Rousseff sofreu um processo de impeachment e foi destituída do cargo para a qual tinha sido eleita, muita gente vibrou com isso e eu fui um desses. Quem estava a favor e vibrou com o pé na bunda aplicado estava pouco se lixando se as filigranas jurídicas utilizadas contra a “presidanta” eram adequadas, corretas e incontestáveis, pois o que importava era o resultado alcançado. Para avivar a memória, um texto elaborado pelo ChatGPT:
 
O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, foi um processo legalmente previsto na Constituição Federal e na Lei nº 1.079/1950, que trata dos crimes de responsabilidade. No entanto, sua legitimidade e correção são temas de intenso debate jurídico e político no Brasil.
- Argumentos a favor da legalidade do impeachment
Os defensores do impeachment argumentam que Dilma cometeu crimes de responsabilidade ao realizar as chamadas "pedaladas fiscais" e editar decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso Nacional. Essas ações teriam violado normas orçamentárias e fiscais, justificando o processo de impedimento. O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou ações que questionavam o rito do impeachment, indicando que o processo seguiu os trâmites legais estabelecidos. ​
- Argumentos que questionam a legitimidade do impeachment
Críticos do processo afirmam que não houve comprovação de dolo ou má-fé por parte de Dilma, requisitos essenciais para caracterizar crime de responsabilidade. Além disso, apontam que práticas semelhantes foram adotadas por governos anteriores sem consequências legais. O Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) considerou o impeachment inconstitucional, argumentando que os atos atribuídos à presidente não configuravam crimes de responsabilidade conforme definido na legislação. ​
- Conclusão
Embora o processo de impeachment tenha seguido os procedimentos legais previstos, sua legitimidade continua sendo objeto de debate. A controvérsia reside na interpretação sobre se as ações de Dilma Rousseff configuraram efetivamente crimes de responsabilidade ou se o processo foi motivado por fatores políticos. Assim, a questão permanece aberta à análise e interpretação de juristas, políticos e da sociedade em geral.

Curiosa conclusão! Mas, e que se pode dizer sobre a “descondenação” do atual presidente? Não vou bancar o gato mestre nem tentar exibir um conhecimento que não tenho. Por isso, novamente pedi ao ChatGPT para destrinchar esse assunto. E saiu isto:
 
A anulação das provas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi fundamentada em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontaram irregularidades processuais e violações de garantias fundamentais.
Decisões do STF sobre as provas
Em setembro de 2023, o ministro Dias Toffoli, do STF, anulou todas as provas obtidas por meio do acordo de leniência da Odebrecht, utilizadas pela Operação Lava Jato. Toffoli considerou que essas provas foram obtidas de maneira ilegal, descrevendo os métodos empregados como "heterodoxos e ilegais”. Ele também afirmou que a prisão de Lula foi "um dos maiores erros judiciários da história do país”.
Anulação das condenações
Anteriormente, em abril de 2021, o plenário do STF confirmou a decisão do ministro Edson Fachin que declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar os casos relacionados a Lula, anulando as condenações anteriores. Além disso, o STF reconheceu a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro nos julgamentos do ex-presidente.​
Conclusão
Portanto, a anulação das provas contra Lula foi baseada em decisões do STF que identificaram irregularidades processuais e violações de garantias fundamentais, questionando a legalidade das provas obtidas e a imparcialidade dos julgamentos anteriores.
 
Neste momento, diante das informações obtidas, eu começo a rir e a achar graça do ódio exibido pelos mesmos que aplaudiram a deposição da Dilma graças às filigranas jurídicas que a embasaram. E a graça que vejo nisso é o fato de o Lula ter-se beneficiado de outras filigranas jurídicas para anular processos, condenação e provas contra ele.
 
Ou seja, o senso de justiça do homem comum não foi ratificado pelas decisões técnicas extraídas da Constituição. Onde está o erro? Em uma constituição com mais de 200 artigos ou nos brilhantes advogados que encontraram as brechas para descondenar alguém que muita gente desejaria ver preso? Ou o erro está nos juízes cuja missão é a defesa da Constituição e que, por isso, proferem suas sentenças totalmente de acordo com ela?
 
Refletindo sobre a ironia de ver que o uso inteligente de filigranas jurídicas beneficiou um e prejudicou outra, submeti novamente à Inteligência Artificial minhas dúvidas e questionamentos sobre isso e esta foi sua resposta:
 
De fato, tanto a anulação das provas contra Lula quanto o impeachment da Dilma Rousseff envolveram forte uso de instrumentos jurídicos, muitas vezes interpretados de maneira técnica e formalista, o que distancia esses eventos daquilo que o "senso comum de justiça" — ou seja, a percepção popular de certo e errado — poderia esperar.
No caso do Lula, a anulação se baseou em princípios fundamentais, como o do juiz imparcial e da competência do foro. Tecnicamente, são fundamentos sólidos, pois se um juiz é parcial, todo o processo é contaminado. Porém, para a maioria das pessoas, que viu denúncias, delações, reportagens e condenações se acumularem durante anos, o argumento da parcialidade pareceu uma "brecha" para livrá-lo de consequências, independentemente de sua culpa ou inocência.
No caso da Dilma, o processo seguiu formalidades legais, mas a acusação (pedaladas fiscais e decretos de suplementação) foi considerada por muitos fraca ou irrelevante se comparada à gravidade associada à palavra "impeachment". Para o "homem comum", ficou a impressão de que se destituiu uma presidente sem um crime grave e inquestionável, usando tecnicalidades fiscais para justificar o que, no fundo, era uma grande disputa política.
Em resumo:
Juridicamente, os processos encontram amparo técnico.
Politicamente e moralmente, ambos geram dúvida sobre se o direito foi usado para realizar a justiça, ou para atingir fins pré-determinados.
Para o senso comum, tanto a anulação quanto o impeachment podem parecer "filigranas jurídicas" moldadas para atender interesses maiores.
 
Para terminar essa xaropada, deixo claro (pela enésima vez) que – mesmo tendo votado nele –, para mim fica a sensação de que no caso do Lula existiram de fato crimes que não foram punidos. No caso da Dilma uma perseguição injusta. Ou seja, as filigranas jurídicas condenaram uma e "descondenaram" outro. Essa também é a “opinião” do ChatGPT:
 
Ou seja: mesmo havendo indícios e suspeitas fundadas, os erros processuais (como a parcialidade de Moro) levaram à anulação dos processos, não a uma absolvição de mérito. Isso gera a sensação de "culpado que escapou" graças a filigranas jurídicas.
No caso da Dilma, a impressão é a de que não houve crime grave que justificasse a interrupção de um mandato presidencial. Foi mais uma manobra político-parlamentar embalada sob a aparência de legalidade. Assim, a filigrana jurídica serviu para condená-la, mesmo sem uma prova moralmente robusta de crime.
Em resumo:
As filigranas jurídicas salvaram Lula, mesmo que houvesse culpa material.
As filigranas jurídicas derrubaram Dilma, mesmo que não houvesse culpa grave.
Essa dissonância entre a aparência legal e o senso de justiça comum alimentou — e ainda alimenta — a desconfiança generalizada em relação às instituições brasileiras.
Filigranas Jurídicas e o Senso de Justiça
A história recente do Brasil expôs uma contradição desconfortável entre a aplicação da lei e o senso comum de justiça. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, a anulação de suas condenações se apoiou em fundamentos jurídicos sólidos, como o direito a um juiz imparcial e a competência adequada do foro. No entanto, permanece a sensação de que, embora erros processuais tenham ocorrido, crimes materiais graves ficaram sem a devida punição.
Já no caso de Dilma Rousseff, o impeachment seguiu o ritual previsto em lei, mas a acusação que o sustentou — manobras fiscais conhecidas como "pedaladas" — parece desproporcional à gravidade de destituir uma presidente eleita. Para muitos, tratou-se de uma perseguição política disfarçada de correção jurídica.
Assim, em um cenário paradoxal, as filigranas jurídicas serviram para "descondenar" quem parecia culpado e para "condenar" quem não cometera crime grave. A consequência é o enfraquecimento da confiança popular na Justiça e nas instituições, visto que o direito, longe de pacificar, acabou aprofundando a sensação de injustiça.
 
E agora é para acabar mesmo! Se você leu até aqui, parabéns, pois tem um fígado melhor que o meu. E, se quer saber, mesmo diante de todas as observações corretas geradas por uma Inteligência Artificial, mesmo detestando o PT e o Lula, nunca me arrependi e nunca me arrependerei de ter dado meu voto útil para impedir a eleição do ídolo da “direitalha” radical. Captou? Fui.
 

DIFÍCIL, MUITO DIFÍCIL!

    Em outubro de 2013 um bando de ativistas de uma tal “Frente de Libertação Animal” invadiu um instituto de pesquisas para “libertar” uma ...