quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

SINFONIA

 
O Samba de uma Nota Só composto por Tom Jobim é (para mim) uma de suas composições mais geniais. Sem querer bancar o entendedor, o que me encanta nessa música é o fato da linha melódica da primeira parte se resumir apenas a uma nota  (de “Eis aqui este sambinha...” até “Mas a base é uma só”). O que muda são as outras notas que compõem os acordes. Aliás, informação prestada na própria letra (“outras notas vão entrar”).
 
Novamente, sem querer bancar o “gato mestre”, creio ser essa a única situação em que ficar “batendo na mesma tecla” funcione. Hoje, cada vez mais, eu sinto que precisamos ter a mente aberta (papo de neurocirurgião), reavaliar conceitos, espanar ideias preconcebidas, deixar de ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”, como cantou o incensado Raul Seixas.
 
Rever crenças antigas, examinar outras trilhas por onde caminhar deveriam ser práticas e comportamentos  adotados se não por todos, pelo menos pelos mais inteligentes e bem preparados – e líderes políticos (nem sempre inteligentes, nem sempre bem preparados).
 
Precisamos oxigenar nossos cérebros, deixar o sol entrar em nossa mentes (como cantava o grupo 5th. Dimension – “let the sunshine in”). A vida é uma sinfonia tocada por todo tipo de instrumentos, não apenas por um.
 
E se quer saber por que escrevi este texto, eu explico. São quatro horas da madrugada e eu estou acordado desde a 01h30. Bom sono, bons sonhos!.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

E HÁ QUEM ACREDITE!

 
O papa Francisco tem 88 anos, está internado em um hospital de Roma e agora luta pela vida devido a um grave quadro respiratório. Para alguém que, ainda jovem, teve parte de um pulmão extraído, os prognósticos não são animadores. Isso me faz pensar que um sucessor para ocupar o trono de Pedro pode ser escolhido ainda neste ano.
 
Infelizmente, o estado de saúde atual do papa encaixa-se na frase “assim caminha a humanidade”. O que não se encaixa é o ódio que alguns radicais sentem por ele, que já foi até chamado de “comunista” (ahahahah!!!!!) e criticado por abençoar um casal gay.  Agora, porém, esse ódio exibe sua face mais doentia, a ponto de me fazer sentir vergonha de ter nascido no mesmo país que essa escória, capaz de usar as redes sociais para espalhar mensagens como estas:
 
"Espero que morra agonizando."
"Logo este papa comunista vagabundo sem vergonha, que cagou no trono de Pedro, vai comer capim pela raiz."
"Nunca foi papa, foi um vagabundo comunista que adora terrorista."
"Papa comunista tem que morrer."
"Todo sofrimento do mundo é pouco para essa desgraça."
"Vou festejar muito o dia em que esse papa for para o inferno."
"Vou rezar para que ele morra logo."
 
E há quem acredite que o brasileiro é cordial!
 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

PARDON, PARDAL!

 
Na casa de minha avó, havia dois animais de estimação: um cachorro preto e grande, cujo nome nunca soube, e um periquito verde em uma gaiola. Minha mãe limpava sua gaiola, trocava a água e prendia meio jiló nos arames. Depois que eles morreram, nunca mais houve animais naquela casa. Tentei convencer minha mãe a ter um cachorro, mas foi inútil. Quando comecei a namorar minha mulher, encontrei uma cultura familiar totalmente diferente.
 
Para começar, havia o Minsk, um cachorro simpaticíssimo que após a morte foi sucessivamente substituído pelo Vinte-e-Cinco, Zulu, Pretinha e por uma dálmata de olhos meio vampirescos, amedrontadores, de nome não lembrado. Havia também um ou dois viveiros para criação de pombos-correios que meu cunhado sempre despachava para participar de torneios da Sociedade Columbófila de BH.
 
Mas o que realmente chamou minha atenção foi a quantidade de gaiolas penduradas em pregos batidos nas paredes externas da casa. Descobri que meu sogro, seus irmãos e pelo menos dois irmãos de minha mulher eram passarinheiros, entusiasmados criadores de passarinhos. Nas gaiolas podiam ser vistas pequenas aves de plumagem colorida ou belo canto e nomes sonoros: canário belga, periquito australiano, curió, sabiá, bem-te-vi, pássaro-preto, coleirinho, trinca-ferro, todos super bem tratados – mas aprisionados, ao contrário dos bandos de pardais que voejavam livremente pelas redondezas e ainda “filavam” a comida que os prisioneiros deixavam cair fora das gaiolas.
 
Creio que ninguém nunca quis aprisioná-los em gaiolas, justamente pela cor sem graça de suas penas e por não cantarem. Aves desprezadas, importadas de Portugal no início do século XX para ajudar no combate à febre amarela, pois se acreditava que o mosquito Aedes aegypti faria parte de sua dieta. Não saberia dizer se os pardais cumpriram corretamente a missão para a qual foram importados, mas certamente deram-se muito bem no país, pois logo se espalharam para todo lado, fazendo seus ninhos não em árvores, mas nos beirais das casas ou canos dos sinais de trânsito. Talvez por isso, em BH, os radares instalados no alto de postes metálicos receberam o apelido de “pardais”.
 
Recentemente li a notícia de que os pardais estão desaparecendo. Não só no Brasil, mas em outros países onde são encontrados. E o motivo é a crescente verticalização das cidades e a perda dos espaços onde nidificam, com prédios cada vez mais altos substituindo as casas que os abrigavam.
 
Toda vez que fico sabendo que uma espécie animal ou vegetal está ameaçada de extinção, eu me entristeço muito, muito mesmo, pois sei que é real uma propaganda do WWF - World Wide Fund, que dizia: “extinção é para sempre”. E foi isso que senti ao ler sobre o sumiço dos pardais.
 
Nunca fui passarinheiro. Nunca quis criar passarinhos em gaiolas pequenas, só para ouvir seu canto. Talvez, por ter passado a infância em uma “gaiola dourada”, nunca desejei essa vida para aves capturadas na natureza e mantidas em cativeiro. E, mesmo que essas aves sejam bem tratadas, com gaiolas limpas e alimentação diária, elas sempre estarão privadas de algo essencial: a liberdade.
 
Tentei convencer um de meus cunhados dessa carência, mas ele riu e disse que se libertasse seus passarinhos eles logo morreriam, virariam comida de gato “por não estar acostumados a viver livres”. Então, por que foram presos? Eu também era bem tratado, amorosamente tratado, mas ansiava pela liberdade de poder sair sem a vigilância dos meus pais. Eu era, como os passarinhos do meu cunhado, um “manso de gaiola”, na definição de um colega.
 
E os pardais possuíam essa liberdade. Por isso ao ler a notícia sobre seu sumiço em BH, descobri que onde moro é um dos bairros aonde podem ser vistos, pois Santa Tereza é um bairro antigo, ainda cheio de casas velhas, com telhados adequados para a construção de seus ninhos.
 
Por isso (mesmo que seja essa uma atitude quixotesca), ao saber que os pardais estão na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)" resolvi tentar impedir ou adiar essa extinção. Não tento mais usar jato de água para derrubar seus ninhos (na verdade, creio que eles nem têm mais interesse em construí-los em nossos beirais). Além disso, sempre matei baratas que vêm da rua com generosos jatos de inseticida, só para vê-las estrebuchando no chão. E sempre as deixei para servir de alimento para os pardais – sem me preocupar com o fato de que eu também os estava envenenando. Mas isso acabou. Para não prejudicar os dois ou três pardais que ainda aparecem por aqui, barata comigo agora é na chinelada – “plaft!!!” (depois preciso lavar aquela gosma nojenta).
 
Para ser sincero, além do romantismo ambientalista que é parte da minha personalidade de sonhador, a preocupação com sua futura extinção é também consequência de identificação com espécies em vias de desaparecer. Captou a mensagem?


sábado, 22 de fevereiro de 2025

YO NO CREO EN ROBOTS, PERO QUE LOS HAY, LOS HAY

 
O titular do blog Crônicas do Edu é um sujeito generoso. E não só generoso, mas também crédulo, pois é extremamente condescendente com o que lê aqui neste blog. E por que crédulo? Porque considera pouco 50 visualizações por dia para o “conteúdo que entrega” este velho e alquebrado Blogson.
 
Lamento dizer, mas o Blogson é uma canoa fazendo água – nunca um navio de grande calado singrando os mares da internet (gostou, Edu?). E você está sendo enganado ao acreditar que os “milhares de publicações” (3.111, para ser exato) – fruto do fato de ser este um blog antigo – impulsionam visualizações estratosféricas.
 
Mesmo grato pelos elogios imerecidos, preciso discordar totalmente quando você diz que as visualizações anabolizadas “não têm nada a ver com robôs”. Como diria o autor de Dom Quixote: "Yo no creo en robots, pero que los hay, los hay."

Matutando com meus borbotões, fico pensando: já que os robôs gostam tanto de anabolizar as visualizações do Blogson, por que não aproveitam e compram os fabulosos e-books de autoria de Jotabê?

E para matar a cobra e mostrar o pau, apresento a seguir um histograma que mostra a chegada dos robôs em sua revoada matinal. Olhaí.



Mais uma cobra mostrada (com todo respeito, claro!)
 
1- Segundo as estatísticas do blogger:
- total de visualizações: 203.196
- total de postagens: 3.111
- total de comentários: 6.183
 
2- Segundo as  estatísticas jotabélicas:
- soma das visualizações por post: 120.160
- visualizações por post:  120.160 / 3.111 = 38,6
(a média dos nove posts mais recentes foi de 6 visualizações por post)
 
Perceberam a diferença entre as visualizações com ajuda dos robôs e a soma real?
203.196 – 120.160 = 83.036 visualizações fantasmas ou robóticas

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

POR DENTRO DO CÉREBRO

 
Outro dia minha mulher me mandou um link com trechos de uma entrevista do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, feita pela revista eletrônica Poder. Achei bacana e de utilidade “publica” o assunto tratado. Por isso resolvi publicar no Blogson uma “seleção da seleção”, a minha escolha pessoal dos trechos selecionados. Pelo cuidado que tenho ao publicar no blog qualquer coisa que não tenha autoria reconhecida, procurei na internet e encontrei a entrevista completa, descobrindo ter sido concedida em 2012. Caso um dos (15) seguidores se interesse em ler o texto integral, o link está disponível no final deste post. Lêaí:

 
- O que é essa inovação tecnológica que as pessoas estão chamando de marca-passo do cérebro?
- Tem uma área nova na neurocirurgia chamada neuromodulação, o que popularmente se chama de marca-passo, mas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda. O estimulador fica embaixo da pele e são colocados eletrodos no cérebro, para estimular ou inibir o funcionamento de alguma área. Isso começou a ser utilizado para os pacientes de Parkinson. Quando a pessoa tem um tremor que não controla, você bota um eletrodo no ponto que o está provocando, inibe essa área e o tremor para. Esse procedimento está sendo ampliado para outras doenças. Daqui a um ou dois anos, distúrbios alimentares como obesidade mórbida e anorexia nervosa vão ser tratados com um estimulador cerebral. Porque não são doenças do estômago, e sim da cabeça.
- O que se conhece do cérebro humano?
- Hoje você tem os exames de ressonância magnética, em que consegue ver a ativação das áreas cerebrais, e cada vez mais o cérebro vem sendo desvendado. Ainda há muito o que descobrir, mas com essas técnicas de estimulação você vai entendendo cada vez mais o funcionamento dessas áreas. O que ainda é um mistério é o psiquismo, que é muito mais complexo.
- Existe alguma coisa que se possa fazer para o cérebro funcionar melhor?
- Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter motivação. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.
- Cabeça tem a ver com alma?
- Eu acho que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma… Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo.
- O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?
- Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num check-up, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.
- Você acha que a vida moderna atrapalha?
- Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.
- Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?
- O exagero. Na bebida, nas drogas, na comida. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bem num corpo muito maltratado, e vice-versa.
- Já aconteceu de você recomendar um procedimento e a pessoa não querer fazer?
- A gente recomenda, mas nunca pode forçar. Uma coisa é a ciência, e outra é a medicina. A pessoa, para se sentir viva, tem de ter um mínimo de qualidade. Estar vivo não é só estar respirando. A vida é um conjunto. Há doentes que preferem abreviar a vida em função de ter uma qualidade melhor. De que adianta ficar ali, só para dizer que está vivo, se o sujeito perde todas as suas referências, suas riquezas emocionais, psíquicas. É muito difícil, a gente tem de respeitar muito. É talvez esse respeito que esteja faltando. A Ética e a Moral devem voltar as salas de aula, desde a mais tenra idade.
- Como você lida com as famílias dos seus pacientes?
- Essa relação é muito importante. As famílias vão dar tranquilidade e confiança para fazer o que deve ser feito. Não basta o doente confiar no médico. O médico também tem de confiar no doente. E na família. Se é uma família que cria caso, que é brigada entre si, dividida, o cirurgião já não tem a mesma segurança de fazer o que deve ser feito. Muitas vezes o doente não tem como opinar, está anestesiado e no meio de uma cirurgia você encontra uma situação inesperada e tem de decidir por ele. Se tem certeza de que ele está fechado com você, a decisão é fácil. Mas se o doente é uma pessoa em quem você não confia, você fica inseguro de tomar certas decisões. É uma relação bilateral, como num casamento. Um doente que você opera é uma relação para o resto da vida.
- Você acredita em Deus?
- Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda,quando você acaba de operar, vai até a família e diz: “Ele está salvo”. Aí, a família olha pra você e diz: “Graças a Deus!”. Então, a gente acredita que não fomos apenas nós.
 
https://www.hgf.ce.gov.br/2012/02/10/por-dentro-do-cerebro-entrevista-com-o-neurocirurgiao-paulo-niemeyer-filho/
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

RAMPA PARA O FRACASSO

 
Uma vez eu li que o cantor-compositor Tom Zé, lá no início de sua carreira, teria participado de um programa de calouros com o nome tipo "Escada para o Sucesso". A música interpretada tinha sido composta por ele e o título era "Rampa para o fracasso". Contei este caso porque eu me identifico muito com sua mente anárquica e também porque "passo recibo", já disse isso várias vezes. E o novo recibo é a saída de mais dois seguidores do blog, provavelmente pelo post com a transcrição da carta-manifesto do advogado Kakay. Fazer o que, não é mesmo? 

Uma coisa me tranquiliza: mesmo que já tenha ficado exasperado com essas evasões, hoje eu não dou a mínima e até acho graça. O velho Blogson é daqueles blogs em que o titular sua até sangue para fornecer material de leitura com a máxima frequência possível. Mas nem sempre isso se reflete na manutenção ou aumento de seguidores. E este é um fato que observo desde a primeira infância do blog.
 
Naqueles momentos eu estava puto com o Lula e alguns entenderam que eu era de direita, conservador, “confiável”. E a plateia (ou seria patuleia?) cresceu, chegando a inacreditáveis 23 seguidores (acho que esse é o número). Mas, claro, comparado com os blogs que eu chamo de blogbusters essa plateia é um nada no mundo.  Mesmo assim, foi diminuindo à medida que eu começava a falar mal de seus ídolos e valores (discutíveis), mas sempre deixando claro quer não sou de esquerda.
 
Ontem o Blogson registrava 17 seguidores e hoje acordou com 15. Fico me perguntando o que esperam encontrar no blog: seria um espelho ou eco que reflita suas convicções, crenças e cólera represada? Postagens sem graça e sem gracejos?
 
Por essa mania de defender a moderação e o equilíbrio, já fui até acusado de duplipensar (que nem sei direito o que significa), mas tento me explicar dizendo ser do signo de gêmeos – um gêmeo pensa de um jeito e o outro pensa o oposto. Uma coisa é certa: se eu fosse uma ave, seria um tucano raiz, daqueles à moda antiga, voando com alguma dificuldade e com um bico enorme que lembra meu nariz (ou seria o contrário disso?).
 
Preciso confessar não saber o que faz um blog ter muitos seguidores. Alguns têm tantos que parecem tomar anabolizantes. Infelizmente não é o meu caso, pois não tenho nenhuma seguidora que se chama Ana. Mas tudo bem. E aos dois que abandonaram o barco de ontem para hoje, (mesmo que odeie música sertaneja) só posso oferecer uma música da cantora Roberta Miranda: “Vá com Deus!”

"OUÇA UM BOM CONSELHO"

Porra, assim fica difícil! Duas notícias-bomba em menos de uma semana é overdose para blog nenhum botar defeito! Às vezes as coisas mudam tão rapidamente que me fazem lembrar dos versos da música “Velha Roupa Colorida”, de Belchior: “o que há algum tempo era jovem e novo hoje é antigo”.
 
E foi isso que aconteceu ao saber da notícia de que a Procuradoria-Geral da República finalmente denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado, pois o que eu queria mesmo é falar da carta-manifesto do advogado Kakay.
 
Já disse isso várias vezes, mas vou repetir: odeio radicalismos e radicais de qualquer tipo, independentemente da “cor” de suas bandeiras. Sempre fui contra todo tipo de maniqueísmo, seja político ou religioso. Talvez eu não consiga me expressar com a clareza que gostaria, mas que fique claro: detesto o PT e seus medalhões (mas menos que o pessoal da extrema direita).  Ainda assim, por falta de opções, já recorri a alguns de seus candidatos como barreira contra algo que considerava ainda mais nefasto. Por exemplo, mesmo sem simpatizar com ele, votei no Lula como vacina contra um antivacina declarado.
 
Por isso, vou deixar passar a denúncia do estimado Cavalão para me concentrar na carta aberta do Dr. Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Pelo que percebo, o Dr. Kakay é daqueles advogados que tiram minhoca do asfalto, encontram cabelo em ovo, dão nó em pingo d’água e tiram leite de pedra — enfim, é muito foda, como prova a quantidade de figurões da política que já solicitaram seus serviços. E justamente por isso sua carta-manifesto me inquietou. No texto, que viralizou após ser enviado por mensagem, ele relata episódios que, segundo sua análise, mostram um Lula diferente. E não para melhor.
 
Temos uma amiga que nos contou o conselho dado por seu pai às quatro filhas na entrada da adolescência. Segundo ela, para prevenir que uma delas tivesse uma gravidez indesejada e inoportuna, sempre dizia esta frase cheia de sabedoria e simplicidade: “Cabeça de pinto não tem juízo!”
 
Essa frase me vem à mente sempre que leio sobre a queda de popularidade de Lula. Em sua carta-manifesto encaminhada a vários figurões da política, o badalado advogado criminalista Kakay, externou sua preocupação ao dizer que “o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado”.
 
Esse isolamento aí é que me fez pensar no conselho dado pelo pai de minha amiga. Embora o Kakay não tenha mencionado o nome de ninguém, tenho a impressão de que esse isolamento se deve principalmente à segunda primeira dama, doida para protagonizar ações para as quais não foi eleita e por quem tenho uma antipatia natural tão grande quanto a que sinto pela Gleisi Hofman. Pensem bem, o Lula estava viúvo, fama de comedor e, de repente... fica alguém dando palpites e falando abobrinhas no seu ouvido. Ninguém merece!
 
Pouco importa o motivo da queda de popularidade do presidente, pois o que considero intolerável é a possibilidade da volta da extrema direita ao poder em 2026. E foi essa amálgama de sentimentos que me fez querer publicar na íntegra a carta do Kakay, pois o Blogson Crusoe também tem a função de blogoteca, disponível para futuras consultas. 

A carta-manifesto lembra uma antiga música do Chico Buarque - "Ouça um bom conselho que eu te dou de graça". E era isso que se esperaria de um Lula sensato, mas o que aconteceu foi uma ordem partida de dentro do Palácio do Planalto, determinando que ninguém fosse a um evento na casa do Kakay. Assim a casa cai! Lêaí:
 
 
Lula, a esperança da democracia.
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro", Clarice Lispector.
Lula ganhou 3 vezes e elegeu Dilma como sua sucessora. À época elegeria o qualquer de seus Ministros pois era imbatível.
Certa vez conversando com um Senador-do PT- ele me disse que tinha um ano tentava uma audiência com a Presidenta Dilma. Ela não fazia política. Sofreu impeachment.
Um dia no Governo Lula um Senador da oposição me liga as 11 hs da manhã e reclama que tinha assumido há 15 dias- era suplente- e que não havia sido recebido pelo Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. Liguei para o Zé . As 12.30 a gente estava almoçando no Palácio do Planalto. O Zé - de longe o mais preparado dos Ministros- deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do Senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado.
Neste atual governo Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do fascismo impedindo que tivéssemos mais 4 anos de Bolsonaro. Seria o fim da democracia. Seriam destruídas de maneira irrecuperável tudo que foi construído nos governos democráticos, não só do PT. O fascismo acaba com tudo. Este o maior legado do Lula. Para tanto foi necessário, senão não teríamos ganhado, fazer uma aliança ampla demais. Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro. Aqui em casa , no dia da diplomação , 12 de dezembro,determinado político se aproximou em um momento em que Lula e eu conversávamos, colocou amistosamente a mão no meu ombro e fez uma brincadeira. Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo :” este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser.” Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro. Este o brilhantismo do Lula neste momento difícil. Não fosse sua maturidade não teríamos tido chance de vencer o fascismo. Por isto cometo aqui certa indelicadeza de comentar este fato: para ressaltar a maturidade do Presidente Lula.
Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.
Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.
Com a extrema direita crescendo no mundo e , evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.
Claro que as circunstâncias estão favoráveis ao projeto de perder as eleições. Não dou tanto importância para estas pesquisas feitas o tempo todo. Mas prestei atenção nesta que indica que 62% não querem que Lula seja candidato a reeleição. A pergunta é : quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do Presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o “ grupo” do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo . E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel.
Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.
Que Deus se apiede de nós!
É necessário lembrar o mestre Torquato Neto no Poema do Aviso Final:
“É preciso que haja algum respeito , ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadada.”

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

MOTHER NATURE

 
Um dia – e esse dia virá –
Quando a espécie humana tiver desaparecido,
A Natureza – através de seus exércitos
De liquens, musgos, fungos e ervas,
Gramíneas, samambaias, arbustos e árvores,
Começará a ocupar os espaços,
As casas, os muros e prédios vazios,
Os túneis, as barragens, as fábricas abandonadas,
Tudo o que antes a ela pertencia.
E o planeta respirará aliviado.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O HOMEM QUE INVENTOU TRUMP

Tenho lido alguns textos que me provocaram forte impressão. Por isso, independente de estar ou não sem assunto, resolvi publicá-los aqui no Blogson, nem que seja apenas para poder relê-los quando quiser. O primeiro deles foi recebido pelo whatsapp de um amigo. Trata-se de um artigo de Simon Schwartzman, sociólogo e membro da Academia Brasileira de Ciências, publicado no jornal "O Estado de São Paulo". Como a mensagem veio na forma de imagem, resolvi digitar tudo (trabalhinho danado!). O texto é este:


O Homem Que Inventou Trump

Em uma longa entrevista ao jornalista Ross Douthat no The New York Times de 31/01/2025, Steve Bannon, a quem se atribui ter levado Donald Trump à sua primeira vitória em 2016, mostra-se articulado, culto, divertido, e quase convence. De família pobre democrata dos tempos de John F. Kennedy formado pela Harvard Business School, Bannon se define como populista e nacionalista.

A pax americana segundo ele, que se impôs ao mundo ocidental após a 2ª Guerra, é uma construção que tem no topo uma elite bilionária, sustentada por uma grande burocracia de pessoas com títulos universitários – a “classe dos diplomados” – incluindo generais, professores universitários e jornalistas da grande imprensa –, e grupos de interesse formados por sindicatos e organizações que se articulam em nome de direitos sociais para receber parte do bolo. Tudo à custa do little guy, o homem do povo que é enviado para matar e morrer em guerras longínquas cujos valores e estilos de vida são corroídos pelas políticas identitárias financiadas com recursos públicos e cura os empregos e salários são aviltados pelos imigrantes e a concorrência de investimentos em outros países.

Para vencer esse sistema, seria preciso se comunicar diretamente com o povo pelas redes sociais, deixando de lado a grande imprensa; usar argumentos emocionais, para não precisar discutir com a classe dos diplomados; e encontrar um líder capaz de dar voz aos ressentimentos e frustrações do little guy: Donald Trump. Uma vez no poder, seria necessário equilibrar as contas, cobrando impostos dos milionários e cortando subsídios; proteger a indústria nacional, com investimento e barreiras alfandegárias; desmontar a burocracia pública e as organizações sociais que ela alimenta; deportar os imigrantes e taxar as importações, valorizando o trabalhador americano. A estratégia funcionou para ganhar eleições, tanto a primeira quanto a de 2024, mas não para governar. Bannon saiu do primeiro governo Trump logo nos primeiros meses, e ficou fora do atual, criticando de longe a influência do novo grupo de bilionários das tecnologias digitais – Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg –, que, segundo ele, forma uma nova oligarquia de “trans-humanistas”. Eles seriam os líderes de um novo “tecnofeudalismo”, com o poder concentrado nas mãos de engenheiros e, cada vez mais, em sistemas autônomos de inteligência artificial. Nesse novo mundo, as hierarquias baseadas nas fortunas familiares e nos diplomas seriam substituídas pela nova hierarquia formada pela simbiose homem-máquina, acumulação ilimitada de recursos em poucas mãos e administração tecnocrática da sociedade das pessoas e da natureza, levando ao fim as identidades locais e nacionais.

Como explicar que Trump tenha abraçado essa distopia, e em que medida isso afeta a lealdade de Bannon à sua criatura? Trump é imperfeito, explica Bannon, e tende a ficar sempre do lado de empresários bem sucedidos, que agora são esses. Mas essa imperfeição seria a sua grandeza, diz ele, o que o tornaria comparável aos grandes presidentes americanos como George Washington e Abraham Lincoln, embora Trump mesmo prefira se comparar a Andrew Jackson, o presidente que ficou famoso por entregar a economia americana aos robber barons do final do século 19.

Bannon foi astuto ao perceber as debilidades da democracia americana e como atacá-la, e apostar num personagem sem limites como Trump como instrumento para vencê-la, mas nenhum dos dois parece ter ideia do que colocar em seu lugar. Nestas primeiras semanas do novo governo, o que vemos são movimentos para cumprir as promessas mais espetaculares e destrutivas da campanha, como a deportação de milhões de imigrantes, a suspensão da cooperação internacional o ataque às políticas de inclusão e ao funcionamento da administração federal, as barreiras alfandegárias à China e aos países vizinhos e a indicação de personalidades marginais para os cargos mais importantes. A aposta de que dos escombros uma nova e mais grandiosa América surgiria, sob o comando dos novos tecnocratas bilionários, foi abalada pelo surpreendente sistema de inteligência artificial chinês, lembrando que é a China, e não os Estados Unidos, que lidera hoje a pesquisa, a produção industrial e o uso das novas tecnologias em quase todos os campos.

Trump tem dito, em seus ataques às políticas de inclusão, que agora as pessoas passarão a valer pelos seus méritos, e não mais por seus supostos direitos. Mas o little guy é, justamente, aquele que não conseguiu se valer das oportunidades criadas pela sociedade americana em seus melhores momentos, e é difícil conciliar essa suposta redescoberta do mérito com o ataque generalizado à “classe dos diplomados” e suas instituições, incluindo as universidades, os centros de pesquisa e as agências governamentais nas áreas de educação, saúde e meio ambiente.

É provável que, passado primeiro susto, a sociedade norte-americana comece a reagir e, daqui a dois anos, Trump perca, nas eleições, a maioria que tem no Congresso. Mas o diagnóstico de Bannon sobre a debilidade e a vulnerabilidade da democracia Americana e de outras que tentam emulá-la, continua valendo, e deve preocupar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

ARAMAICO

 

- Estou pensando em aprender aramaico...

- Aramaico?

- Sim, aramaico, a língua falada por JotaCristo.

- E para que você quer aprender uma língua morta?

- Morta, não! Descobri que na Síria e na Turquia ainda existem comunidades que falam aramaico.

- Tá, mas pra que saber uma língua que só meia dúzia de gatos pingados ainda utiliza? Vai virar antropólogo ou arqueólogo?

- Marketing pessoal...

- Agora seu cérebro fritou de vez!

- Seu problema é ser muito limitado, não consegue pensar fora da caixa!

- Tá bom, Olivetto, que “marketing pessoal” é esse?

- Tenho pensado que estou perto da tábua da beirada, pois minha saúde não tem estado muito boa. Por isso, acho que todo mundo com mais de setenta anos devia aprender aramaico.

- Esta é mais uma de suas piadas sem graça?

- Tô falando sério! Quando chegar o momento, acho vai pegar muito bem se eu puder conversar com “Filho do Dono” na língua dele!

- Pããããta que pariu!

CULTURA INÚTIL

 
Li em algum lugar que o Vinicius de Moraes, de comportamento normalmente afetuoso, vivia oferecendo parcerias a seus amigos. E parece que foi isso que aconteceu quando resolveu escrever uma letra para a música “Gente Humilde”, composta na década de 1940 pelo violonista Garoto.
 
Com a letra praticamente toda pronta, Vinicius pediu que Chico Buarque a completasse, pois queria firmar parceria com Chico”. E o sogro do Carlinhos Brown escreveu estes versos: "Pela varanda flores tristes e baldias, como a alegria que não tem onde encostar".
 
O que provavelmente eles não soubessem é que essa música já tinha uma letra escrita. A versão original nunca chegou a ser gravada comercialmente e teria sido interpretada uma única vez em um programa de rádio, no início da década de 1950. A título de curiosidade, ei-lalá:
 
Em um subúrbio afastado da cidade
Vive João e a mulher com quem casou
Em um casebre onde a felicidade
Bateu à porta foi entrando e lá ficou
E à noitinha alguém que passa pela estrada
Ouve ao longe o gemer de um violão
Que acompanha
A voz da Rita numa canção dolente
É a voz da gente humilde
Que é feliz.
 
Sinceramente, todos devemos agradecer o desconhecimento de Vinicius e Chico Buarque, que nos presentearam com uma letra primorosa para uma melodia linda. Compare a primeira letra com esta belezura:
 
Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar
 
Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar
 
São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar
 
E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar

Para concluir esta aula de cultura inútil, um comentário e uma confissão:
- Consegue cantar os versos da primeira letra sem problema? Percebeu que a letra é bem menor? Como fazer a divisão dos versos para que se encaixem na linha melódica? Difícil, não?

- Hoje bateu uma tristeza diferente, ao pensar que era mais feliz quando ainda tinha um pouco de fé, fé que me confortava e acalmava quando batia a depressão ou desespero. Foi quando me lembrei do verso “E eu que não creio peço a Deus por minha gente”. Sim, hoje eu sei que era mais feliz.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

QUIXOTESCO

 
Talvez por não ter hoje ninguém com quem conversar, eu converso com qualquer pessoa que se disponha a me dar um mínimo de atenção. Algum leitor poderá perguntar se não converso com meus filhos ou com minha mulher. Minha resposta é que filhos e mulher não são “amigos”. Na verdade são mais que amigos, objeto que são de meu mais profundo amor, mas não têm a mesma característica de um colega de serviço ou de companheiros reunidos em torno de uma mesa de bar, pois já sabem como eu penso quais são meus interesses, minhas neuroses e obsessões, já estão acostumados com as bobagens que falo e penso.
 
E uma dessas obsessões têm-me feito pensar que sou um “cavaleiro da triste figura” moderno, um Dom Quixote do século XXI, pois tenho gastado todas as oportunidades de contato com estranhos para falar sobre meu mais recente “moinho”, a poluição ambiental provocada pelo plástico displicentemente jogado no lixo. Às vezes, para me justificar eu cito este belíssimo verso escrito por John Lennon: “You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one”.
 
Talvez eu seja um sonhador, talvez sempre tenha sido, mas não me iludo, não deixo que a ilusão me cegue. Todo dia, na farmácia, padaria ou supermercado, para manifestar minha recusa quando me oferecem sacolas plásticas para embalar as compras, eu falo da ilha de plástico que existe no Oceano Pacífico. Diariamente eu combato o moinho de minha predileção sabendo, tendo a certeza de ser “um nada no mundo”, como cantou Gonzaguinha.
 
Eu sei que o mundo não mudará nem mesmo uma molécula com minha pregação ecológica, mas continuo “joãobatistando”, continuo sendo “a voz que clama no deserto”. Assim, ao recusar a sacola que me é oferecida, eu pergunto se o atendente já ouviu falar da ilha de plástico que existe no Oceano Pacífico, uma massa de plástico, madeira e cordas que graças à ação das correntes marítimas flutua hoje em algum lugar do oceano, ocupa uma área maior que São Paulo e que pesa 80.000 toneladas.
 
Mas agora preciso atualizar as informações, pois descobri que existem cinco (!) grandes ilhas de plástico flutuando nos mares - duas no Oceano Atlântico, duas no Oceano Pacífico e uma no Oceano Índico. Além disso, dependendo da fonte consultada, se fica sabendo que a área ocupada pela maior delas, conhecida como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico tem uma área de cerca de 1,6 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a três vezes o tamanho da França.  Há quem estime que tenha o dobro do tamanho do Texas, pode ser maior que o estado do Amazonas, sete vezes a área do estado de São Paulo ou a soma das áreas da França, Espanha e Alemanha juntas (essa precisão é que encanta!).
 
Resumindo, independente do tamanho da área ocupada, é lixo pra kawaka. Por isso, diante do espanto de quem tentou embalar minhas compras em uma ou duas insignificantes sacolinhas, eu recuso dizendo solenemente: “Não, obrigado, a Natureza agradece”. Nada mais quixotesco, concordam? Também, quem manda não gostar de cerveja nem ter amigos para jogar conversa fora em uma mesa de bar?
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

PAIXÃO E FÉ – TAVINHO MOURA E FERNANDO BRANT

Tenho andado meio musical ultimamente, ouvindo músicas que me deixam até babando na blusa (talvez algumas pessoas inconvenientes possam dizer isso é coisa de velho senil, mas não é verdade). Por isso, resolvi compartilhar com os milhares de robôs que vivem aparecendo por aqui, outra música linda, a segunda em dois dias! E a sugestão de hoje merece até uma reverência para os músicos envolvidos nessa gravação: os compositores Tavinho Moura e Fernando Brant e Milton Nascimento em um de seus melhores momentos como intérprete. Para explicar porque, preciso antes contar uma historinha. Vamos lá:

Há muitos anos, ficamos sabendo que haveria um show do Lô Borges no hoje extinto Mercado Distrital de Santa Tereza e fomos conferir. Creio que o mercado já estava em fase terminal. Talvez por isso qualquer programa de índio acontecesse ali. Nesse dia, era justamente um programa dedicado ao Dia do Índio ou coisa parecida. Não importa. Ficamos por ali pentelhando, curtindo a excelente música do Lô, até que notei a presença de mais dois músicos ligados ao Clube da Esquina: Beto Lopes – que está mais para filho do Clube – e Tavinho Moura, esse sim, legítimo sócio fundador.  Não tive dúvida, fui lá puxar conversa com ele. Perguntei se iria cantar também e se iria rolar a música “Paixão e Fé” (rolou).

O motivo da pergunta era simples: há músicas tão absurdamente lindas que, para mim, mesmo sendo hoje um católico-ateu, Deus esteve ao lado do autor dando palpite ("põe este acorde", muda a linha melódica um pouco"), dando dicas durante a composição. É como se Ele fosse um coautor, tal o êxtase que essas músicas provocam em quem as escuta. “Paixão e Fé” é uma dessas.

Não vou ficar enxugando gelo, mas o Tavinho Moura é um compositor sofisticadíssimo. Suas melodias são sempre surpreendentes, pois quando você está esperando um belo “zig”, ele vem com um “zag” inesperado, desconcertante e mais bonito ainda. Não é à toa que sua obra mereceu um concerto no Palácio das Artes (que eu, infelizmente, perdi), com a Orquestra Sinfônica regida pelo Wagner Tiso, outro sócio fundador do Clube.

Eu sei que estou falando demais, mas é impossível deixar de dizer que essa música não seria o que é sem a letra arrebatadora do Fernando Brant e "A" interpretação divina do Milton Nascimento. A propósito do Bituca, a Elis Regina disse uma vez que “se Deus cantasse, ele cantaria com a voz de Milton”. Dez a zero para ela. Hoje, infelizmente, isso não é mais verdade.

Essa gravação mais que antológica foi incluída no disco “Clube da Esquina n.° 2” e conta com o auxílio luxuoso do Beto Guedes no bandolim e uma participação especialíssima dos “Canarinhos de Petrópolis”. Além, é claro, de outras feras.

Não importa se quem ouve essa música é ateu, budista, islâmico, judeu, católico ou evangélico. O que eu penso é que, depois que a música termina você está melhor como pessoa, pois esteve muito próximo do que eu chamaria de "Deus".

A seguir, a letra lindíssima feita pelo Fernando Brant. Depois, para quem quiser ouvir, segue o link. E fica o aviso: quem não gostar dessa música é um jumento irrecuperável ou débil mental.

Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressurreição

E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé

Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia da barca dos homens

Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor

Velejar, velejei...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

CORAÇÃO SELVAGEM - BELCHIOR

Belchior tinha 30 anos quando compôs “Coração Selvagem”, com versos que eu gostaria de ter escrito (eu nunca conseguiria!), de tão bonitos que são:
 
Mas quando você me amar
Me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo,
Tempo de me apaixonar
 
Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida:
"Vida, pisa devagar, meu coração, cuidado, é frágil"
Meu coração é como um vidro, como um beijo de novela
 
Essa música me provoca saudades de mim mesmo, pois eu tinha 27 anos quando a ouvi pela primeira vez e nunca imaginaria que a Vida pisaria tanto em meu frágil coração. E é por isso que eu a estou compartilhando com os leitores aqui do blog.
 


 

 


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

LIVRINHO PORRETA

 
Se existe uma coisa em que me amarro é na chamada cultura inútil, aquela que você poderia ter morrido sem saber, pois não serve para porra nenhuma, nem mesmo para conversa de botequim. E se ampliar um assunto já naturalmente atraente para mim, melhor ainda. E um desses assuntos é a Bíblia. “Livrinho” danado de porreta!
 
Segundo Philip C. Almond, professor emérito em História do Pensamento Religioso na Universidade de Queensland, na Austrália, “a Bíblia continua sendo a coleção de livros mais importante da civilização ocidental. Independentemente de nossas crenças religiosas, ela formou, informou e moldou todos nós - consciente ou inconscientemente, para o bem ou para o mal”.
 
Ainda falando sobre isso, lembrou que “a visão de mundo bíblica é a causa oculta (e muitas vezes não tão oculta) das práticas econômicas, sociais e pessoais. Ela continua sendo, como sempre foi, uma das principais fontes de paz e conflito”.
 
Mesmo não tendo essa elegância para expressar os pensamentos que foram surgindo sobre o tema, eu já tinha chegado às mesmas conclusões por conta própria. O que realmente me atraiu são informações que eu desconhecia. E a melhor de todas será utilizada para fechar este texto. Por isso, vamos dar uma recapitulada na matéria “que cairá na prova”:
 
- Segundo a professora Elizabeth Polczer, especialista em estudos bíblicos da Universidade Villanova, nos Estados Unidos, a Bíblia foi escrita por pelo menos 40 autores diferentes, cada um contribuindo com partes distintas para um mosaico literário e religioso.
 
- A Bíblia, considerados o Antigo e o Novo Testamento, é composta por 73 livros na versão católica, escritos em épocas distintas por diferentes pessoas e em três línguas diferentes. Já a versão protestante tem 66 livros, enquanto algumas tradições ortodoxas incluem ainda mais textos.
 
- O Antigo Testamento, também conhecido como Bíblia Hebraica, começou a ser escrito antes de 1200 a.C., mas alguns dos livros mais antigos (como partes do Gênesis) podem ter origens ainda mais remotas, preservadas por tradição oral antes de serem registradas. Já o Novo Testamento teria sido escrito entre 50 d.C. e 110 d.C.
 
- Os livros como Gênesis e Êxodo, tradicionalmente atribuídos a Moisés, são agora considerados obras de múltiplos autores, compilados ao longo de séculos. “As contradições e repetições nesses textos sugerem que eles foram escritos por várias fontes”, afirma Polczer.
 
- Os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – também são alvo de debates. Embora tenham sido atribuídos aos chamados Quatro Evangelistas, a professora ressalta que esses textos são tecnicamente anônimos. “A atribuição a Mateus e João, discípulos diretos de Jesus, pode ser mais conveniente do que histórica”, observa.
 
- A Bíblia foi originalmente redigida em hebraico, aramaico e grego. No final do século IV, São Jerônimo traduziu esses textos para o latim, tradução que ficou conhecida como Vulgata. Essa versão em latim foi utilizada por John Wycliffe para sua tradução para o inglês. E ninguém reclamou de nada, se a tradução do latim para o inglês estava correta ou uma merda só.
 
- A mesma sorte não teve William Tyndale. O “idiota” resolveu fazer uma tradução direta dos textos originais. E o que deveria merecer aplausos teve um efeito contrário: foi estrangulado e depois queimado como herege em 1536. Também, quem mandou querer bancar o sabichão?

domingo, 9 de fevereiro de 2025

O QUINTO CAVALEIRO


No futuro (se houver um futuro), por sua visão imediatista, simplista, por seu espírito beligerante e pelo radicalismo de suas atitudes, talvez Donald Tramp não seja lembrado como o 47º presidente eleito dos Estados Unidos, mas como o candidato a quinto cavaleiro do Apocalipse. Nos primeiros dias de seu segundo mandato, tomou as seguintes providências: 

Descaso com o Meio Ambiente:
- Formalizou a retirada dos Estados Unidos do Acordo Climático de Paris.
- Revogou políticas anteriores voltadas para a sustentabilidade e o combate às mudanças climáticas.
- Autorizou a exploração doméstica de petróleo, gás natural e minerais críticos, reduzindo regulamentações ambientais e priorizando a eficiência na concessão de licenças. Também desfez subsídios para veículos elétricos.
- Revogou restrições anteriores à exploração de recursos naturais no Alasca, priorizando a exploração de gás natural.
- Permitiu o escoamento de água de áreas protegidas para a preservação de peixes até regiões com falta de abastecimento hídrico pelas queimadas na Califórnia.
- Declarou emergência energética nos EUA para flexibilizar a produção interna de petróleo bruto, gás natural, produtos petrolíferos refinados, urânio, carvão, biocombustíveis, etc., com o objetivo de baratear os custos de energia.
- Restringiu temporariamente a permissão para o aluguel de terrenos dos EUA para a instalação de parques de geração de energia eólica.
- Assinou ordem executiva permitindo a operação de oleodutos que passarão por terras sagradas para os povos indígenas e por reservas hídricas importantes.
- Nomeou para o cargo de chefe da Agência de Proteção Ambiental um sujeito que não crê no efeito do dióxido de carbono sobre o aquecimento global (“eu não concordaria que ele é um contribuidor primário para o aquecimento global”).
 
Inimigo “Púbico” Número 1
Parece ser uma norma entre os radicais de direita o horror à chamada diversidade de gênero e alterações cirúrgicas na região do púbis. E o Tramp está nesse grupo, pois meteu a caneta em uma ordem executiva "restaurando políticas tradicionais" e definindo sexo como uma classificação biológica imutável em que só existe “homem” e “mulher”. Essa norma impacta o registro em documentos do governo. Também determina a suspensão de materiais que promovam “ideologia de gênero” e o financiamento a programas sobre o tema.
Não totalmente satisfeito, assinou ordem executiva obrigando espaços públicos a terem sexos definidos, masculino e feminino, ou seja, banheiros de gênero neutro serão proibidos.
Além disso, no dia seguinte à sua posse foram removidos dos sites da Casa Branca e de agências federais palavras e expressões como gay, lésbica, bissexual, LGBTQ, HIV, orientação sexual e transgênero.
Cometeu outras baixarias nessa área, mas não quero espichar demais este texto.
 
Mais Burradas:
- A postura linha-dura contra imigrantes foi intensificada com penas mais severas e deportações em massa – ironicamente, uma política endurecida por um filho de mãe imigrante.
- No cenário internacional, revogou sanções contra colonos judeus na Cisjordânia e cancelou regulações para mitigar riscos ligados à inteligência artificial.
- Como um de seus primeiros atos, concedeu também perdão total e incondicional aos condenados pela invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Com isso, cerca de 1.500 pessoas envolvidas no ataque foram liberadas imediatamente da prisão, em um gesto de apoio àqueles que, sob sua ótica, “lutavam contra uma eleição fraudulenta”.
 
E tome ameaças de anexação de territórios e todo tipo de delírio, fanfarronadas e babaquice, que deixam arrepiadas as pessoas mais sensatas. Falando sério, é ou não é um alívio saber que no Brasil não tem ninguém tão idiota assim? Ou o idiota sou eu, por acreditar nisso?

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

A LETTER BILINGUE

 
Hi, Mr. President Trump! Or seria Tramp? (I never sei the correct form!) You don’t know me (thank God!), but posso tell you to make you feel better que não sou one of the illegal immigrants que o senhor acabou de deportar of your country.
 
O motivo desta letter é para open your eyes to a triste e e dura reality. You say a lot of things para impressionar or intimidate the entire world. Your idea de renomear the Gulf of Mexico to the Gulf of America is ridiculous! Your ameaças to annex Groelândia or Canada sound like delirium of a brain com Alzheimer. But believe me, I sincerely hope that this apparent dementia is just a jogada de marketingmesmo que you, an very old man, já esteja in that risk group.
 
But the principal reason for this letter is your dream of making America great again e the return to the good old times.
 
I’m sorry to say, Mr. President, that you may never consiga isso, pois curiously os empires parecem seguir cycles of crescimento, apogeu e queda.
 
And who says isso  it’s not this ignorant guy que vos escreve, but the famous historian Arnold Toynbee. Para ele this process is inevitable, as strong societies eventually become complacent and decadent com o tempo.
 
Segundo li somewhere, a sina  of all great empires ao longo da history has always followed this defined cycle: formation and expansion; peak; stagnation and decline; and finally, collapse.
 
Mesmo não sendo a political scientist, I believe your beloved America parece to be in the stagnation and decline phase. And which country assumiria a world hegemony, which nation would destronaria the United States from its current position?
 
Mesmo que eu really don’t like the idea, imagino que a new superpower será a China. So, I recommend that you abandone um pouco the burgers and fried potatoes and start using pauzinhos to eat (in China, they’re called “kuai-tzu”) duck laqueado, chao chao rice, chun juan (rolinho primavera) ou zòngzi (bolinho de arroz recheado).
Bon appétit!

 

A PERDA DA INOCÊNCIA

  Nosso filho trocou de apartamento e a mudança não foi só de móveis e de endereços. A seguir, o relato que recebi dessa história.   Hoje na...