Dia desses, em um encontro casual no
supermercado, comentei com um primo de minha mulher sobre meu aborrecimento com
o blog, por continuar a fazer postagens depois que a inspiração sumiu. E até
brinquei ao dizer que hoje sou mais um gigolô de autores célebres. Ele riu e passou
a comentar o que eu tinha dito.
- Você
não é ninguém, você é só o Zezinho, marido da minha prima. Ninguém te conhece,
ninguém está interessado em saber o que pensa. Se você fosse o Luan Santana
você seria mais lido que jornal dentro do banheiro. Eu já tive a veleidade de
ser um escritor famoso, mas descobri que faltava qualidade no que eu escrevia.
Argumentei que gostaria muito que ele lesse
um dos e-books de poesia que publiquei, mas ele já descartou de cara:
-
Detesto poesia!
- OK,
vou te mandar um arquivo em Word com o texto do e-book “Meu nome é Ricardo”.
- Mande
aberto no watsapp.
Mandei duas crônicas, pedindo para que
opinasse. Até hoje não me respondeu. Em compensação, recebi ontem à noite um
texto escrito por ele aparentemente ainda na época do Orkut, quando eu nem
sabia o que era rede social. Mas, por sua ressonância com minha inquietação
atual, resolvi publicá-lo aqui no velho Blogson. Lêaí.
“Tenho
me sentido irrelevante, insignificante, cada vez mais insignificante, tão desimportante
como uma ameba. Meu desejo de ser querido, amado, admirado por outras pessoas me
levou a escrever e registrar todo tipo de pensamento que surgia só pra me
comunicar.
Tudo me
parecia espirituoso, engraçado, inteligente, profundo, mas a verdade
inconveniente não tardou em se mostrar. Meu talento é inexistente, minhas ideias
repetitivas.
A inspiração, essa antiga cúmplice, abandonou-me
sem deixar bilhete. Resta um vazio, um amontoado de textos sem graça espalhados
pelo Orkut, flutuando como garrafas lançadas ao mar – mas sem a menor
expectativa de que alguém as encontre.
Publicar ali se tornou um exercício burocrático. Sinto-me hoje como um funcionário público obrigado a escrever
relatórios enfadonhos e maçantes que ninguém lê. Ao meu lado, outros funcionários igualmente
desiludidos, mas ainda convencidos de sua própria genialidade. Cada um
digitando suas supostas verdades universais, despejando reflexões infladas
sobre a vida, a arte, a existência, como se estivessem escrevendo a última
grande obra da humanidade. O espetáculo da presunção segue firme, mesmo sem
plateia.
O que
sobra hoje é só cansaço, irritação e decepção para quem já sonhou publicar um
livro. Hoje o que resta é a vontade de sumir, submergir, mas fugir de quem ou
de quê?
Hoje eu
sei que a lembrança de uma pessoa comum dura apenas uma ou duas gerações. Que
dizer então dos textos medíocres que escreveu? Quem estará interessado em ler
ou entender textos desimportantes, bobos, pretensiosos e maçantes publicados na
internet?
Nem
mesmo os parentes se interessarão. A eles bastarão algumas lembranças e muitas
críticas, pois o mundo de ontem só interessa a quem viveu ontem; o hoje e o
amanhã já exigirão toda a energia e atenção dos sobreviventes.
Não
tenho mais paciência para ler mediocridades escritas por pessoas como eu, pois qualidade
literária na internet é tão rara como a existência de vida no universo.
Acho
que estou cansado de tudo, acho que estou cansado da vida. Talvez eu aproveite melhor
o meu tempo plantando uma horta, pois se plantar alface eu saberei que só
colherei alface, não me sentirei enganado. E conseguirei me afastar desse
deserto de ideias e talento que a internet mostrou ser”.
(dezembro/2010)