A reverência de hoje vai para (estou parecendo o
Gilberto Gil: “esse samba vai para...”)
Tavinho Moura, Fernando Brant e Milton Nascimento. Para explicar porque,
preciso antes contar uma historinha. Vamos lá:
Seis ou sete anos atrás, ficamos sabendo que
haveria um show do Lô Borges no Mercado Distrital de Santa Tereza e fomos conferir.
Creio que o mercado já estava em fase terminal. Talvez por isso qualquer
programa de índio acontecesse ali. Nesse dia, era justamente um programa
dedicado ao Dia do Índio ou coisa parecida. Não importa. Ficamos por ali
pentelhando, curtindo a excelente música do Lô, até que notei a presença de
mais dois músicos ligados ao Clube da Esquina: Beto Lopes – que está mais para
filho do Clube – e Tavinho Moura, esse sim, legítimo sócio fundador. Não tive dúvida, fui lá puxar conversa com ele.
Perguntei se iria cantar também e se iria rolar a música “Paixão e Fé” (rolou).
O motivo da pergunta é simples: há músicas
tão absurdamente lindas que, para mim, Deus esteve ao lado do autor dando
palpite, dando dicas durante a composição. É como se Ele fosse um coautor, tal
o êxtase que essas músicas provocam em quem as escuta. “Paixão e Fé” é uma dessas.
Não vou ficar enxugando gelo, mas o Tavinho Moura
é um compositor sofisticadíssimo. Suas melodias são sempre surpreendentes, pois
quando você está esperando um belo “zig”, ele vem com um “zag” inesperado, desconcertante e mais
bonito ainda. Não é à toa que sua obra mereceu um concerto no Palácio das Artes,
com a Orquestra Sinfônica regida pelo Wagner Tiso, outro sócio fundador do
Clube.
Eu sei que estou falando demais, mas é
impossível deixar de dizer que essa música não seria o que é sem a letra
arrebatadora do Fernando Brant e "A" interpretação do Milton Nascimento. A
propósito do Bituca, a Elis Regina disse que “se Deus cantasse, ele cantaria com a voz de Milton”. Dez a zero
para ela.
Essa gravação mais que antológica foi
incluída no disco “Clube da Esquina n.° 2” e conta com o auxílio luxuoso do Beto
Guedes no bandolim e uma participação especialíssima dos “Canarinhos de Petrópolis”. Além, é claro, de outras feras.
Não importa se quem ouve essa música é ateu,
budista, islâmico, judeu, católico ou evangélico. O que eu penso é que, depois que
a música termina você está melhor como pessoa, pois esteve muito próximo
do que eu chamaria de "Deus".
A seguir, a letra lindíssima feita pelo
Fernando Brant. Depois, para quem quiser ouvir, segue o link. E fica o aviso:
quem não gostar dessa música é um jumento irrecuperável ou débil mental.
Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressurreição
E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé
Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia da barca dos homens
Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor
Velejar, velejei...
Velejar, velejei...
Nenhum comentário:
Postar um comentário