sábado, 15 de fevereiro de 2025

QUIXOTESCO

 
Talvez por não ter hoje ninguém com quem conversar, eu converso com qualquer pessoa que se disponha a me dar um mínimo de atenção. Algum leitor poderá perguntar se não converso com meus filhos ou com minha mulher. Minha resposta é que filhos e mulher não são “amigos”. Na verdade são mais que amigos, objeto que são de meu mais profundo amor, mas não têm a mesma característica de um colega de serviço ou de companheiros reunidos em torno de uma mesa de bar, pois já sabem como eu penso quais são meus interesses, minhas neuroses e obsessões, já estão acostumados com as bobagens que falo e penso.
 
E uma dessas obsessões têm-me feito pensar que sou um “cavaleiro da triste figura” moderno, um Dom Quixote do século XXI, pois tenho gastado todas as oportunidades de contato com estranhos para falar sobre meu mais recente “moinho”, a poluição ambiental provocada pelo plástico displicentemente jogado no lixo. Às vezes, para me justificar eu cito este belíssimo verso escrito por John Lennon: “You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one”.
 
Talvez eu seja um sonhador, talvez sempre tenha sido, mas não me iludo, não deixo que a ilusão me cegue. Todo dia, na farmácia, padaria ou supermercado, para manifestar minha recusa quando me oferecem sacolas plásticas para embalar as compras, eu falo da ilha de plástico que existe no Oceano Pacífico. Diariamente eu combato o moinho de minha predileção sabendo, tendo a certeza de ser “um nada no mundo”, como cantou Gonzaguinha.
 
Eu sei que o mundo não mudará nem mesmo uma molécula com minha pregação ecológica, mas continuo “joãobatistando”, continuo sendo “a voz que clama no deserto”. Assim, ao recusar a sacola que me é oferecida, eu pergunto se o atendente já ouviu falar da ilha de plástico que existe no Oceano Pacífico, uma massa de plástico, madeira e cordas que graças à ação das correntes marítimas flutua hoje em algum lugar do oceano, ocupa uma área maior que São Paulo e que pesa 80.000 toneladas.
 
Mas agora preciso atualizar as informações, pois descobri que existem cinco (!) grandes ilhas de plástico flutuando nos mares - duas no Oceano Atlântico, duas no Oceano Pacífico e uma no Oceano Índico. Além disso, dependendo da fonte consultada, se fica sabendo que a área ocupada pela maior delas, conhecida como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico tem uma área de cerca de 1,6 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a três vezes o tamanho da França.  Há quem estime que tenha o dobro do tamanho do Texas, pode ser maior que o estado do Amazonas, sete vezes a área do estado de São Paulo ou a soma das áreas da França, Espanha e Alemanha juntas (essa precisão é que encanta!).
 
Resumindo, independente do tamanho da área ocupada, é lixo pra kawaka. Por isso, diante do espanto de quem tentou embalar minhas compras em uma ou duas insignificantes sacolinhas, eu recuso dizendo solenemente: “Não, obrigado, a Natureza agradece”. Nada mais quixotesco, concordam? Também, quem manda não gostar de cerveja nem ter amigos para jogar conversa fora em uma mesa de bar?
 

2 comentários:

  1. E eu tinha ouvido falar dessa tal ilha de plástico mas nunca tinha pesquisado sobre. Então vi umas fotos, uns vídeos, e é uma coisa dantesca! (nem sempre tenho a chance de escrever uma palavra que ninguém conhece mais, a não ser, nós, velhos letrados).
    Pior é que é impossível fugir dos plásticos. Ele está em todo lugar. Pelo menos, faço também minha parte que não fará diferença alguma no contexto geral: uso sempre sacolas retornáveis quando vou ao mercado.

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