Recentemente a mitologia grega ressurgiu em minha vida, resgatando os primeiros contatos que tive com ela ao ler os livros infantis do Monteiro Lobato. Hoje, quem está conhecendo esse mundo fascinante são as netas Bia e Cacá, que ouvem o pai ler esses mesmos livros que li quando tinha uns dez, doze anos.
Mesmo não sendo um entendido nesse assunto,
creio que os alicerces da cultura ocidental foram construídos com elementos e
personagens da civilização grega – filosofia, estatuária, conceitos
arquitetônicos, matemática, símbolos e mitologia. Fica difícil imaginar um
vocabulário culto sem a influência de prefixos, sufixos ou vocábulos inteiros tomados
de empréstimo à língua, mitologia e seus personagens da Hélade.
Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras,
Euclides, Heródoto, Homero... Experimente tirar uma gangue como essa para ver o
que aconteceria com a cultura e as ciências ocidentais! A medicina e, principalmente,
a psicologia usaram e abusaram desse patrimônio. Basta lembrar de palavras e
expressões como Narcisismo, Complexo de Édipo, Hipnose, Morfina, Histeria,
Somatização e dos sufixos Filia e Fobia.
Talvez tenha sido na mitologia riquíssima que
os gregos mais tenham se destacado. E é de uma dessas lendas que quero falar –
o amor trágico de Orfeu e Eurídice. Para quem não conhece ou não se lembra, Orfeu
era o bicho para criar melodias que encantavam e seduziam quem as ouvisse.
Provavelmente foi com uma cantada dessas que conquistou o amor de Eurídice, com
quem se casou.
Mas havia uma serpente no meio do caminho, no
meio do caminho havia uma serpente. Não aquela cobra sedutora da Bíblia, mas
uma cobra que picou e matou Eurídice. Inconformado, Orfeu resolveu descer ao
reino de Hades (Plutão, para os romanos) para convencê-lo a deixar Eurídice
voltar para o mundo dos vivos. Provavelmente executou e cantou seus maiores
sucessos. Performance que deve ter agradado muito, pois Hades permitiu que Orfeu
levasse de volta sua amada Eurídice. Só impôs uma condição (parece que os
deuses antigos eram chegados a uma pegadinha): Orfeu deveria sair e ser
seguido pela amada até a superfície, até que ambos estivessem totalmente fora
do reino das sombras. E não podia olhar para trás! Mas olhou, o cretino. Cheio
de ansiedade e medo de perdê-la, Orfeu não resistiu e se virou antes da hora. E
Eurídice foi puxada de volta para sempre ao mundo dos mortos.
Depois desse desfile de lembranças e
pedantismo, vamos baixar o nível. Outro dia, depois de publicar uma postagem
falando de rock e do Festival de Woodstock, fiquei um pouco “melanchólico”.
Mesmo que a vida atual esteja uma pedreira, aquela melancolia me fez pensar que
não vale a pena olhar para trás, olhar para o passado. Você pode tirar dele
ensinamentos e lembranças divertidas, mas não o cultue, não deixe que ele
envenene seu presente.
E foi assim que me lembrei da história de
Orfeu e Eurídice lida há tanto tempo. Se essa lenda fosse uma fábula, qual
seria a moral da história? Talvez pudesse ser: "Evite olhar para trás: o passado que não volta pode envenenar o presente". Que acham disso? Eu achei uma merda, para ser
sincero. Ou vocês acham que é sopa ser Esopo? Fui.
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