sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

POR DENTRO DO CÉREBRO

 
Outro dia minha mulher me mandou um link com trechos de uma entrevista do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, feita pela revista eletrônica Poder. Achei bacana e de utilidade “publica” o assunto tratado. Por isso resolvi publicar no Blogson uma “seleção da seleção”, a minha escolha pessoal dos trechos selecionados. Pelo cuidado que tenho ao publicar no blog qualquer coisa que não tenha autoria reconhecida, procurei na internet e encontrei a entrevista completa, descobrindo ter sido concedida em 2012. Caso um dos (15) seguidores se interesse em ler o texto integral, o link está disponível no final deste post. Lêaí:

 
- O que é essa inovação tecnológica que as pessoas estão chamando de marca-passo do cérebro?
- Tem uma área nova na neurocirurgia chamada neuromodulação, o que popularmente se chama de marca-passo, mas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda. O estimulador fica embaixo da pele e são colocados eletrodos no cérebro, para estimular ou inibir o funcionamento de alguma área. Isso começou a ser utilizado para os pacientes de Parkinson. Quando a pessoa tem um tremor que não controla, você bota um eletrodo no ponto que o está provocando, inibe essa área e o tremor para. Esse procedimento está sendo ampliado para outras doenças. Daqui a um ou dois anos, distúrbios alimentares como obesidade mórbida e anorexia nervosa vão ser tratados com um estimulador cerebral. Porque não são doenças do estômago, e sim da cabeça.
- O que se conhece do cérebro humano?
- Hoje você tem os exames de ressonância magnética, em que consegue ver a ativação das áreas cerebrais, e cada vez mais o cérebro vem sendo desvendado. Ainda há muito o que descobrir, mas com essas técnicas de estimulação você vai entendendo cada vez mais o funcionamento dessas áreas. O que ainda é um mistério é o psiquismo, que é muito mais complexo.
- Existe alguma coisa que se possa fazer para o cérebro funcionar melhor?
- Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter motivação. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.
- Cabeça tem a ver com alma?
- Eu acho que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma… Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo.
- O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?
- Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num check-up, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.
- Você acha que a vida moderna atrapalha?
- Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.
- Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?
- O exagero. Na bebida, nas drogas, na comida. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bem num corpo muito maltratado, e vice-versa.
- Já aconteceu de você recomendar um procedimento e a pessoa não querer fazer?
- A gente recomenda, mas nunca pode forçar. Uma coisa é a ciência, e outra é a medicina. A pessoa, para se sentir viva, tem de ter um mínimo de qualidade. Estar vivo não é só estar respirando. A vida é um conjunto. Há doentes que preferem abreviar a vida em função de ter uma qualidade melhor. De que adianta ficar ali, só para dizer que está vivo, se o sujeito perde todas as suas referências, suas riquezas emocionais, psíquicas. É muito difícil, a gente tem de respeitar muito. É talvez esse respeito que esteja faltando. A Ética e a Moral devem voltar as salas de aula, desde a mais tenra idade.
- Como você lida com as famílias dos seus pacientes?
- Essa relação é muito importante. As famílias vão dar tranquilidade e confiança para fazer o que deve ser feito. Não basta o doente confiar no médico. O médico também tem de confiar no doente. E na família. Se é uma família que cria caso, que é brigada entre si, dividida, o cirurgião já não tem a mesma segurança de fazer o que deve ser feito. Muitas vezes o doente não tem como opinar, está anestesiado e no meio de uma cirurgia você encontra uma situação inesperada e tem de decidir por ele. Se tem certeza de que ele está fechado com você, a decisão é fácil. Mas se o doente é uma pessoa em quem você não confia, você fica inseguro de tomar certas decisões. É uma relação bilateral, como num casamento. Um doente que você opera é uma relação para o resto da vida.
- Você acredita em Deus?
- Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda,quando você acaba de operar, vai até a família e diz: “Ele está salvo”. Aí, a família olha pra você e diz: “Graças a Deus!”. Então, a gente acredita que não fomos apenas nós.
 
https://www.hgf.ce.gov.br/2012/02/10/por-dentro-do-cerebro-entrevista-com-o-neurocirurgiao-paulo-niemeyer-filho/
 

2 comentários:

  1. Não se pode mais usar o termo "Minha Mulher", os esquerdistas se incomodam e é chato. Brincadeira a parte, parabéns pelo post muito interessante.

    Pé Vermelho Paraná

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    Respostas
    1. Pois é, meu caro Unknown, há muito tempo eu aprendi esta regra (que não pretendo abandonar): Ao se referir à mulher de alguém, diga “esposa”; quando se referir à sua esposa utilize “mulher”. E na internet encontrei uma explicação portuguesa para essa situação:

      “Qual é a forma mais correcta: ‘mulher’» ou ‘esposa’?
      Estão ambas dicionarizadas no sentido que o prezado correspondente menciona. A forma mais aceita para designar a mulher casada é, contudo, mulher: do latim ‘muliere’, que queria dizer ‘mulher, mulher casada’, enquanto esposa, que também vem do latim, significava ‘noiva’.”
      Independente do que hoje é moda, acho muito brega alguém dizer “meu esposo” “ou minha esposa”. E obrigado pela visita!

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