sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

AH, ESSES APOIADORES!


Quando PT estava no poder, mesmo espumando de ódio pelo que lia ou ouvia, eu conseguia tirar algum humor disso (provavelmente só eu achava graça no que escrevia, mas, pelo menos, eu achava graça!). Hoje, mesmo espumando de ódio pelo que ouço ou leio, não consigo mais fazer piada sobre isso, sinto apenas desalento e tristeza, como se fosse o Hardy, a hiena mal humorada do desenho animado da Hanna-Barbera, cujo bordão era “Oh, vida, oh, azar!” E tão mal humorada que ao tentar sorrir a boca lhe doía.

E fico me perguntando por que agora é assim. Talvez, porque na época dos governos petistas, eu era contra o Lula et caterva, mas, agora, não sou contra o atual governo. Pelo menos, não totalmente contra. Por isso, tudo o que escrevo ou penso é medíocre, sem graça, sem originalidade, sem humor. A seguir, exemplos de partos cada vez mais difíceis.

Alguns “apoiadores” aparentam ter sido contaminados pelo “Coronha Vírus”, um vírus que ataca e lesa gravemente o cérebro dos infectados. Um dos sintomas é o apoio implícito à posse de armas e “soluções” autoritárias, fora a ojeriza que passam a sentir pelo Congresso Nacional e pelo STF.

Mesmo que já exista uma igreja de inspiração oriental com esse nome, alguns “apoiadores” agem como se pertencessem a uma nova igreja messiânica. Só que nesse caso, parecem confundir nome próprio com atributo. Em outras palavras, acreditam que o Messias, o salvador ungido por Deus é o mesmo Jair Messias (pior é que ele aparenta também estar acreditando nisso!). Alguns até exibem o “sinal da fé” da nova religião: com a mão parcialmente fechada e o dedo indicador perpendicular ao polegar, representando uma “arminha”.

Acho que foi bom o Bolsonaro ter sido batizado no Rio Jordão por um pastor evangélico. Agindo assim, descolou-se definitivamente da Igreja Católica e, melhor ainda, pode agora criar uma nova igreja evangélica, pois os “crentes” não têm essa frescura de papa, padres que estudam dez anos antes de ser ordenados, etc.

Alguns “apoiadores” parecem imaginar que Liberdade de Expressão só tem sentido se for para elogiar tudo o que o presidente diz ou faz.

Talvez confundidos pelo fato de haver tantos militares de altíssima patente na atual equipe de governo, alguns “apoiadores” parecem desejar que nas próximas eleições o presidente dispense todos os cabos eleitorais e só convoque generais eleitorais.

Tenho uma conhecida que é a expressão máxima do que entendo por  “apoiador” do presidente. Se alguém o critica pela última pisada no tomate, imediatamente sai em sua defesa em longos comentários. E nunca abaixa a guarda, pois continua a responder indefinidamente quem se anima a entrar nesse jogo.  Justamente por isso as redes sociais tornaram-se seu octógono, seu campo de batalha. Infelizmente, ela encontrou em mim um de seus maiores “clientes”, justamente por considerá-la um pé no saco. Talvez sejamos versões espelhadas da pessoa desagradável e repetitiva que infesta as redes sociais.

Fiquei sabendo que o Bolsonaro distribuiu um vídeo onde alguém conclama o povo a participar de uma manifestação contra o Congresso Nacional. Só para tentar entender: o que se pretende, afinal? Que o atual Congresso - tão "rebelde" e independente! - seja deposto, expulso, extinto ou o quê? Como cantou o Caetano Veloso, "Narciso acha feio o que não é espelho". Acho tudo isso muito triste, um sinal triste de um tempo onde a intolerância viceja.

Parece que o presidente adora soltar balão de ensaio para ver até onde pode chegar (literalmente). Não deveria, não precisaria, pois o Bolsonaro foi eleito! O que ele precisa é aprender a fechar a boca. Não precisaria de mais apoio. Até porque quem vai às manifestações em sua defesa é só o eleitor mais inflamado (que já votou nele!), ou seja, é só mais do mesmo. Agora, conviver com contrários é complicado para quem tem uma ânsia autoritária dentro de si. Uma ânsia do tipo “eu quero, eu posso, eu faço, eu mando”. Aparentemente, negociar, conversar, convencer, dialogar são palavras que não existem no seu dicionário (dele, óbvio).

Não sou socialista, sou de centro-direita (moderadíssimo), mas acho uma lástima esse tipo de atitude do Jair. Para aliviar, uma piada: se eu fosse o Mourão, dava um pé na bunda dele e ficava com seu lugar. E ainda diria: “isso é que dá ficar dando confiança para patentes inferiores”. Mas isso é piada, só uma piada!

Para terminar: acho que descobri por que o Bozo vira e mexe "pisa no tomate". É porque tomate é vermelho. E vermelho é a cor do PT! Issa!



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

SÃO TANTAS AS EMOÇÕES!


EMOÇÕES - I
No último sábado, saímos arrastando os pés atrás de um bloquinho que só toca músicas do Roberto Carlos (em ritmo de carnaval, lógico). O cortejo era formado pelo caminhão de som com os músicos, seguido pela galera que se esgoelava ao cantar os sucessos mais manjados do rei. Que, diga-se, também estava presente no desfile. Ou quase isso. Um jovem de terno azul, quepe de capitão de navio, óculos escuros e peruca preta seguia à frente da galera. Trazia nas mãos algumas rosas artificiais que jogou para os "fãs" ao final do desfile.

Ao bater o olho naquela figura bizarra, não tive dúvida: pedi à minha mulher que tirasse uma foto minha com ele. O resultado ficou bacana: eu com um braço no ombro do "rei", segurando na outra mão a lata de cerveja que minha mulher estava tomando. Se fosse colocar uma legenda no retrato, creio que a frase mais apropriada seria "O Rei e eu, mais falsos que nota de R$3,00”.


EMOÇÕES - II
Enquanto seguíamos o bloco, fiquei pensando que seria fantástico se começassem a tocar "Quero que vá tudo para o inferno" bem na hora em que estivéssemos passando em frente à igreja que frequento. Infelizmente, por falta de sincronismo ou caretice, tocaram a música "Jesus Cristo".

VIZINHANÇA
A igreja católica e casa paroquial do meu bairro localizam-se em sua rua principal, destino certo dos blocos que desfilam por ali. Graças à muvuca que se instala no bairro nos dias de carnaval, colocaram uma faixa na frente do imóvel vizinho à casa paroquial, com esta frase: "Caipifrutas Capetão". Fico imaginando que o padre ou o dono da birosca de bebidas podem pensar assim: “O ponto até que é bom, o que atrapalha é a vizinhança”

BLOCOS DE RUA
Existem aqueles que torcem o nariz para a pouca vergonha e a libertinagem do Carnaval. Eu tenho é inveja, pois acho que nasci na época errada. Fazer o que, não é mesmo? Como já disse umas mil vezes neste blog, o que eu mais aprecio nos festejos de Momo são justamente a transgressão, a avacalhação, a ironia e tudo que detona o “abominavelmente correto”. Entendeu por que eu disse ter nascido na época errada? Pois é. E uma das coisas que mais aprecio são os nomes imaginados para os blocos de rua. Nada de “Grêmios recreativos”, nada de “acadêmicos” disso ou daquilo. Que tal, por exemplo, um bloco que se chama “Bloquete”? Ou “Boca Froxa”?

Você não precisa saber sambar – é até bom  que não saiba, basta sair pulando, marchando, se arrastando ou simplesmente ficando sentado no boteco em frente à batucada. E curtir nomes extra sonoros, alguns com humor de colegiais, outros com cheiro de cerveja ou sacanagem. Dizem que atualmente existem 500 blocos em BH. Tendo tudo isso ou não, escolhi alguns nomes mais criativos, bem humorados ou sugestivos para finalizar este post. Olhaí:

Alcova Libertina (rock em ritmo de carnaval)
Almas Empenadas
AloPrado (do bairro Prado, obviamente)
Baianas Osadas
Beiço Do Wando
Bloco Da Estrela Da Morte (temático, totalmente inspirado na franquia Star Wars)
Bloco Do Muro Dos Poetas E Poesias (esse é o verdadeiro estranho no ninho!)
Bloquete
Boca Froxa
Cookie É Bão
Devotos Do Lúpulo (até o Marreta se arrastaria atrás desse)
Filhos Da PUC
Fui Pobre Mas Nem Lembro
Havayanas Usadas
Inimigos Do ENEM
Lavô. Tá Novo!
Me Bebe Que Eu Sou Cervejeiro (olha o marreta aí de novo)
Pena De Pavão De Krishna
Pinto No Lixo
Se Endurecer É Seu
Tá Mole Mas É Meu
Toco Cru Pegando Fogo
Trema Na Linguiça
Us Beethoven (quando surgiu os únicos instrumentos de percussão eram os surdos)
Volta Belchior


sábado, 22 de fevereiro de 2020

EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA


Pelo que deduzi de seus comentários aqui ou em seus próprios blogs, os quatro cavaleiros do apocalipse que me seguem não curtem muito o Carnaval, ao contrário de mim. Mesmo assim, vou enfiar minha baqueta nesse tambor. Para isso, vou expandir um comentário que fiz no blog do Ozymandias (preguiça é foda!). Bora lá.

Quando eu estava entrando na adolescência, o carnaval de BH era caracterizado pelos blocos caricatos que desfilavam em cima de caminhões. Todo mundo de cara pintada, roupas coloridas (uniformes) e nomes sonoros - Bocas Brancas, Satã e seus Asseclas, Galãs do Ritmo, etc. Cada bairro tinha o seu. O desfile acontecia na avenida principal da cidade. Existiam também as escolas de samba, mas de uma indigência de dar dó. E quem quisesse brincar carnaval precisava ir a um dos muitos "bailes carnavalescos" que aconteciam em clubes e associações comerciais.

Do Rio de Janeiro chegavam notícias dos desfiles de três tipos de agremiações: ranchos carnavalescos, "grandes sociedades" e escolas de samba. Das tais "grandes sociedades” só consigo lembrar o nome de uma delas:  "Fenianos". Lembro também de ter visto na TV imagens dos ranchos carnavalescos. Mal comparados, seriam como que desfiles de escolas de samba, só que em slow motion, tudo muito lento e sem graça. Está na cara que os dois primeiros tinham tudo para sumir do mapa. E sumiram mesmo, viraram apenas história 

Depois de ter escrito esta introdução, estou me perguntando o que isso tem a ver com o carnaval de BH. Deve ser alguma associação inconsciente com a teoria da seleção natural do Darwin ou uma overdose de leite com toddy, sei lá. Por que estou dizendo isso? Para comentar a evolução dos "festejos momescos" em BH.Nada me tira da cabeça que as autoridades da capital, ainda que na base do ato falho e independente de qual partido político estava no poder, sempre desejaram acabar com o carnaval por aqui. A cada ano que passava mudavam as regras até então em vigor, estabeleciam novos horários e locais de desfile, sempre cerceando, nunca facilitando nada. Creio que o esforço máximo foi quando mandaram blocos e escolas de samba desfilar numa tal de Via  240 ou coisa parecida, já no limite do município. Quando fiquei sabendo disso, pensei: -"Agora acabou!".

Só que não, como se diz hoje. De forma tímida e meio ressabiada, bloquinhos de rua começaram a surgir à margem da política oficial. O sucesso dos primeiros foi alimentando a criação de novos blocos, com número cada vez maior de participantes. E BH passou de exportadora de foliões (pois ninguém queria ficar nesse cemitério) a importadora, com gente vindo de todos os lugares. AS escolas de samba continuam a desfilar na avenida, mas o carnaval da cidade ficou com a cara que mais me atrai: uma zona total. Segundo reportagens na TV, o público esperado para os diversos desfiles em 2020 é de cinco milhões de pessoas. 

E é aí que eu quero chegar: Como disse antes, quando eu era jovem, o carnaval era brincado em salões. Aliás, conheci minha mulher em um desses bailes Percebeu que eu disse brincado em vez de pulado? Pois é. Tudo era muito certinho, muito chatinho. No Rio as escolas de samba davam seus primeiros passos rumo ao "maior espetáculo da terra". Em BH as escolas de samba eram o que se poderia chamar de programa de índio, tal a subnutrição que exibiam (fantasias, enredo, alegorias, etc.). Sinceramente, não sei como estão hoje.

Depois de me casar, comecei a pensar na festa de Momo e cheguei à seguinte conclusão: em BH e no Rio havia três tipos de carnaval; o que acontecia em clubes era uma coisa caretíssima (tanto que praticamente nem existe mais), o carnaval das escolas de samba virou um espetáculo televisivo, uma Folies Bergère anabolizada, coisa para turista estrangeiro e gente que curte espremer a bunda em uma arquibancada. 

Mas havia uma terceira opção que eu nunca tinha sacado quando era solteiro: o carnaval de rua, espontâneo, avesso a regras e normas e que vem a ser a última festa pagã, a última orgia autorizada, onde se enfia o pé na jaca (e há todo tipo de jaca para se escolher). Só que eu descobri isso depois de casado.

Hoje em dia, "do baixo" (não posso mais falar "do alto") de meus quase 70 anos, mesmo não pulando (sou tímido pra caralho), gosto de ver a zona em que a cidade se transforma, justamente por essa visão da última orgia permitida. Gente bêbada, mijando ou vomitando na rua, homem beijando homem, mulher beijando mulher, homem beijando mulher, fantasias politicamente incorretas, de mau gosto ou extremamente ridículas, para mim tudo está valendo. Em uma época cada vez mais tediosamente correta e cheia de mau humor, curtir uma transgressãozinha aos bons modos de vez em quando faz um bem danado (mesmo que seja só em fevereiro). É isso.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

FANTASIA


- Olha o Carnaval aí, gente!

- Isso é que é entusiasmo! Já escolheu a fantasia deste ano?

- Claro! E já mandei fazer.

- E qual é, posso saber?

- Vou me fantasiar de terra plana.

- De onde tirou essa ideia?

- Foi sugestão do marreta, meu amigo virtual.

- Marreta? Sei... E como será essa “terra plana”?

- Eu mandei silkar o mapa mundi em uma camiseta branca, com o título “terra plana”. Só isso.

- Você não perde nenhuma oportunidade de ser ridículo, não é mesmo?

- Ridículo é você, jumento! Não entendeu a ironia?

- Que ironia, caralho?

- Cara, como eu estou muito gordo, minha barriga está obscenamente redonda. Então, a camiseta vai acompanhar essa curvatura, entendeu?

- Captei! A terra plana fica curva. Bacana, mas ninguém vai entender isso.

- Se até você entendeu, não existe quem não entenda.

- Tá bom, grávido, mas comece a pensar em regime.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

CONVERSA PARA ESPANTAR MOSCAS

Meu pai teve sete irmãos que chegaram à idade adulta. Os homens morreram com a idade média de 70,8 anos. As mulheres com 81,7 anos.

Minha mãe teve nove irmãos que chegaram à idade adulta. Os homens já falecidos viveram em média 80 anos.  As mulheres já falecidas viveram em média 86 anos.

A idade média da família de meu pai (todos já falecidos) é de 74,7 anos. A idade média da família de minha mãe - considerados vivos e falecidos é de 85,7 anos. A irmã mais velha de minha mãe comemora 101 anos no dia 19 de fevereiro (lúcida!). O irmão mais novo fará 80 anos no próximo mês de abril.

Meu pai morreu aos 85 anos. Minha mãe aos 87 anos.

Os 4,3 leitores mais constantes do Blogson devem estar se perguntando onde pretendo chegar com essas informações que só a mim interessam. Vamos com calma.

Recentemente, em um post de “humor” sobre previsões para 2020, fechei o texto com esta frase:
“Chegarei ao final de 2020 com 70 anos bem e mal aproveitados (vivo ou morto, vá saber)”.

Curiosamente, dois amigos virtuais fizeram uma leitura mais literal e comentaram assim:

- “
Rapaz, é claro que chegará vivo. Aliás, não sei se você já pensou numa coisa. Se amanhã ou depois você morrer, ou eu também, alguém continuará com nossos blogs? Ou ao menos publicará neles uma última postagem com a notícia de nossa morte? Alguém mais tem a senha do Blogson? Do Marreta ninguém tem; quando meu filho for mais velho, acho que vou deixar a senha com ele para a notícia final do Marreta; se eu chegar até lá”.

- “vc falou em morte e pensei: se ele programar posts regulares até 2021 só vamos descobrir que se foi quando as postagens pararem de aparecer a longo prazo todo blog é um epitáfio
abs!
p.s.: peço que continues vivendo”

Fiquei sinceramente comovido com os comentários dos amigos Marreta e Scant e respondi assim:

- Ninguém tem a senha do Blogson e, mesmo se tivessem, duvido que algum dos filhos se interessaria em publicar alguma notícia. Se já não acessam enquanto estou vivo, por que iriam acessá-lo depois? Já pensei em definir uma regra no próprio blog, algo como um post programado para ser publicado dentro de um ano. Eu poderia ir atualizando sua data de vez em quando, coisas do tipo.

- Acho legal que você e o Marreta tenham usado palavras encorajadoras, mas a referência à eventual morte era mais uma piada interna que uma suspeita, pois eu sempre dou um jeito de falar mal de mim mesmo (assim não tem processo!). Mesmo assim, não há como negar que um sujeito de 70 anos está perto da "tábua da beirada". Quero viver mais? Claro que sim, mas não é um sentimento constante. Às vezes tenho, outras não. Depende do astral da hora.


Lembrando-me desse post e dos comentários que gerou, achei razoável a ideia de fazer uma abordagem estatística do assunto "Morte" aqui no blog. Da minha morte, é bom deixar claro.

Com essa ideia de jerico na cabeça resolvi consultar os dados do IBGE. Achei uma tabela bacanaça que estabelece a expectativa de sobrevida para homens e mulheres de acordo com a região do país. Por distração, vacilo ou desinteresse, copiei apenas os dados relativos ao Sudeste e, pior, esqueci onde encontrei esses dados. Mesmo assim podem ser de “grande” valia para os leitores desta bagaça. Como já foi dito anteriormente, completarei inacreditáveis 70 anos no próximo mês de junho. Então, segundo a tabela,terei uma sobrevida de 13 anos.

Mas, há outra informação que precisa ser considerada. De acordo com reportagem da revista Veja, se uma pessoa quiser viver muito, deve postergar ao máximo sua aposentadoria, pois, segundo estatística americana, as pessoas morrem 12 anos após aposentar-se (em média!). Eu me aposentei em 2009, se não me engano. Mais doze, 2021. Como eu tenho alguns perrengues (mais depressão), abato um ano (por minha conta). Chegamos a 2020, quando completarei 70 anos de vida. Às vezes acho que está bom, que não preciso de nada mais que isso, às vezes não. Depende do humor, capisce?

Então, estamos na seguinte situação: se puxar a genética dos homens da família de meu pai, morrerei com 70,8 anos. Se tiver a sorte de herdar os genes predominantes da família de minha mãe, posso imaginar que viverei pelo menos até os 82,4 anos. Se me basear apenas na vida de meus pais, viverei até os 86 anos. Pela taxa de sobrevida do IBGE, até os 83 anos. E finalmente, pela estatística americana, até os 70 anos (epa!).

Se alguém teve saco de prestar atenção nessa baba cósmica que foi falada até agora, perceberá que a tabela de sobrevida é bastante pertinente. Em outras palavras, o Blogson provavelmente morrerá definitivamente no ano de 2033, pois não desejo ser psicografado por ninguém. Piorar o que já é ruim, nem pensar! (Deixando claro: eu não acredito em espiritismo). Agripino Grieco, um sarcástico crítico literário brasileiro ironizou os textos “psicografados” de autores famosos ao dizer que “a morte faz muito mal ao estilo”.

E tem mais: pode ficar tranquilo, amigo Scant, não tenho nenhum estoque de posts programados. Aliás, nem meio. Se essa conversa tivesse acontecido no início do blog a coisa seria diferente. Como eu guardava todo tipo de bobagem que encaminhava por e-mail a meus filhos e uns poucos amigos (às vezes até sete e-mails em um único dia), eu tinha material para mais de 200 posts quando o Blogson foi criado. Hoje a “fome” é tanta que daria para imitar o Charlie Chaplin no filme “Em busca do Ouro”, na cena em que ele tenta cozinhar um sapato. Então, o critério é este: depois de trinta dias (no máximo) sem aparecer nada de novo no blog, você poderá imaginar que talvez eu tenha ido pro saco. E chega por hoje. Olha a tabela aí.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

TÊNIS DE MESA

Graças ao fato de ser simultaneamente vaidoso, inseguro, imaturo e complexado, reconheço-me como uma pessoa exibicionista. Mas não daqueles que abrem o sobretudo e fazem "tcharã!" ao passar perto de uma moça. Meu exibicionismo se manifesta nas frases curtas que posto no Facebook, justamente pela maior visibilidade que conseguem ao ganhar cores e tamanho maior da fonte.

Pois bem, graças às reações iradas ao encontro do Papa com o Lula, provoquei meus "amigos" com as duas frases abaixo:


O encontro do Lula com o papa é só uma reunião de trabalho entre "deus" e o papa.

Depois do politicamente correto inventaram agora o religiosamente correto!

Para minha surpresa, a frase do "religiosamente" correto provocou um tsunami de comentários. Seis "amigos de facebook" - quatro de esquerda entusiasmada e dois de direita efervescente foram responsáveis por 62 longos, imensos comentários. Estava tão entediante ler tudo o que esses “amigos” escreviam que acabei dizendo estar me sentindo como se fosse a rede de uma mesa de ping pong onde meus amigos só trocavam raquetadas. Mas o entusiasmo não arrefeceu e eu mandei o seguinte recado (que recebeu 59 comentários até agora!):

Tenho quatro amigos de facebook que gostam de comentar o que escrevo ou apenas manifestar sua visão, sua opinião sobre tudo ou quase tudo que rola nas redes sociais ou no dia a dia real. O que os distingue é que dois são de direita “entusiasmada” e dois são de esquerda “efervescente”. Graças a uma brincadeira que fiz (toda brincadeira tem um fundo de verdade, não é mesmo?), estão escrevendo longos comentários ora atacando esse, ora defendendo aquele. Muito bem. Resolvi dar uma pausa nisso para dizer o seguinte:
Votei uma vez no Lula, justamente quando elegeu-se pela primeira vez. Arrependi-me amargamente. Votei no Bolsonaro no segundo turno e fiquei tão envergonhado que comecei a mentir, dizendo que tinha votado em branco. Tenho aversão pelo Lula e sinto desprezo pelo Bolsonaro. Como odeio o PT, infelizmente devo dizer que votei mesmo no Bozo, pois já estava saturado de Lulas, Gleisis, Delubios e toda a cambada do PT. Mas fiquei em choque com o circo de horrores que o Jair montou, um circo onde os “artistas” são tão caricatos que parecem ter trabalhado antes como palhaços (sem querer ofender os palhaços profissionais!).
Não sou de direita, não sou de esquerda, muito antes pelo contrário. Nunca fui nem irei a nenhuma passeata ou manifestação contra ou a favor de quem quer que seja, pois pertenço ao bloco do eu sozinho. Nas vezes em que votei nesses senhores, pensava que sua eleição poderia ser boa para o POVO BRASILEIRO e torci muito para o Lula fazer um bom governo; hoje, torço muito para que o Bolsonaro faça um bom governo. Mas minha ideologia é a moderação. Por isso, comunico aos (...) que não comentarei nada sobre o que escreveram.

Hoje, pela manhã, fui conferir o resultado da "partida de ping pong" e descobri 
inacreditáveis 62 comentários feitos por apenas 6 amigos, sendo 4 de direita e dois de esquerda. O que se pode deduzir é que além de cordial, o brasileiro também é muito calmo e ponderado. Eu, heim?



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

DESIGN POUCO INTELIGENTE


Confissão: este texto é uma colcha de retalhos feita com tecidos de padronagens semelhantes, ou seja, é uma colagem de esboços e rascunhos semi-abandonados (talvez devessem mesmo ter ficado na lixeira).


Estou terminando a leitura do livro "21 questões para o século 21" do escritor Yuval Harari (já devia ter acabado há muito tempo, mas minha sala de leitura predileta é o banheiro). É um livro excepcionalmente bem escrito, agradabilíssimo e muitas vezes surpreendente. Sugiro, recomendo sua leitura, pois estou pensando em ler de novo esse livro. Sério!

Há informações curiosíssimas e reflexões impecáveis sobre uma porrada de assuntos. E uma das que mais chamaram minha atenção diz respeito ao fascismo, palavra muito empregada pelo pessoal de esquerda - inclusive para ofender ou rotular quem não pensa como eles. Para não perder tempo, transcrevo pequenos trechos que tem a ver com o tema de hoje. Bora lá:

"Fascismo é aquilo que acontece quando o nacionalismo quer tornar a vida fácil para ele, negando todas as outras identidades e obrigações".

"Como um fascista avalia a arte? Como um fascista sabe se um filme é bom? É muito simples. Só existe um parâmetro. Se um filme atende aos interesses nacionais - é um bom filme, se não atende aos interesses nacionais - é um filme ruim. E como um fascista decide o que se deve ensinar às crianças na escola? Ele emprega o mesmo parâmetro. Ensinar às crianças tudo o que atenda aos interesses da nação; a verdade não tem importância".


Quando eu cismo de falar sobre algum assunto de forma séria, sem piadinhas, eu me torno chato ou ridículo, pois centenas de pessoas já disseram de forma mais elaborada e melhor analisada o que tento dizer. Talvez fosse melhor opção voltar aos joguinhos de palavras e trocadilhos de quinta categoria, mas ser medíocre é a sina do Blogson. Por isso, vamos tentar caminhar.

Eu nunca fui de esquerda. Aliás, tenho profunda antipatia pela ala mais radical desse povo. Mas estou cada vez mais assustado com o despreparo, o radicalismo, a falta de senso, a boçalidade instaladas em Brasília. Sem contar as trapalhadas de Larry, Moe e Curly. Para piorar, existe ainda um carimbador maluco morando nos EUA. Salvam-se o Paulo Guedes, o Mourão e mais alguns não evangélicos. Por isso, se houver reeleição do atual mandatário, eu confirmarei que Deus não existe mesmo. O que me consola é saber (sentir) que eu não demoro muito a morrer (talvez, até mesmo antes do final do atual mandato).

Considero-me de centro-direita, mas está cada vez mais difícil tentar manter a neutralidade hoje em dia. Nosso presidente tem o grave defeito (ou qualidade negativa) de escolher as pessoas menos indicadas para ocupar alguns postos chave de seu governo. Essas escolhas passam a impressão de que só existem toupeiras caricatas no nicho ideológico onde ele pinça seus auxiliares.

A conclusão a que se chega é que não importa para ele o que o escolhido pensa ou pretenda fazer, basta que seja de (extrema) direita. E a lista é grandinha: um ministro da educação que tropeça de forma grosseira no idioma oficial do país, um ex-secretário de cultura que plagia um fóssil nazista (não apenas nos propósitos, mas até nas palavras), uma titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (pastora evangélica, coincidentemente) que defende um programa de abstinência sexual (!!!) como prevenção à gravidez na adolescência, um presidente da Capes que defende o “design inteligente”, e, agora, um ex-missionário evangélico na Amazônia indicado para assumir a chefia de órgão da Funai responsável pela proteção a indígenas isolados. Só gênio!

Numa boa, acho que quem é a favor do design inteligente é o Messias (mas à moda dele, lógico), pois está criando uma equipe à sua imagem e semelhança. Infelizmente isso é um direito dele, mas que incomoda, incomoda. Por exemplo, eu não tenho preconceito contra criacionistas (mentira, tenho sim, pois eles são uma fonte inesgotável de diversão!). Aliás, pensando bem, o sentimento que tenho em relação a eles deve ser o mesmo que os ateus tem em relação aos católicos. Tipo meneando a cabeça e fazendo tsk tsk tsk, aquele estalinho produzido com a língua colada nos incisivos, em sinal de deboche, piedade ou desprezo. Mas quando um criacionista disfarçado é alçado ao posto máximo da "Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior" e diz querer "colocar um contraponto à Teoria da Evolução" é porque a laicidade do país está indo pro brejo.

Alem disso, colocar um ex-missionário evangélico (se fosse um padre daria no mesmo) para chefiar o órgão de proteção a tribos indígenas isoladas é o mesmo que - usando uma expressão que aprendi com meu pai - "dar milho a bode". Será ele capaz de resistir à tentação de catequizar e evangelizar os índios?

Mas o show de horrores fica ainda melhor quando uma pastora evangélica acredita que em pleno século XXI as adolescentes brasileiras deixarão de fazer sexo só para não engravidar! Me ajude aí, Dona Damares!

Creio que o maior defeito de alguns ministros é a exibição de comportamentos caricatos, condenáveis ou desprezíveis (pensando bem, esse não é o maior defeito, é só a ponta do iceberg). Mas não é exclusividade do momento atual, basta lembrar do ministro Magri da era Collor - aquele para quem "cachorro também é gente" - com seu cabelo alla Sílvio Santos ou o próprio presidente "pé na bunda" com suas camisetas cheias de mensagens e palavras de ordem (e a reforma da Casa da Dinda torrando o dinheiro surrupiado!).


Eu ainda sou (apesar de tudo) católico e aceito que cada um creia no que quiser, até mesmo em duendes ou na fada dos dentes, se assim desejar. Mas que isso fique dentro de sua casa ou, no máximo, compartilhado com seus amigos. Agora, em um um país oficialmente laico esse tipo de raciocínio utilizado para traçar políticas públicas nunca deveria ser aceito. A frase "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" deveria ser proibida ou "harmonizada" com religiões não cristãs. Creio que o Bolsonaro teria um troço se visse impressas frases desse tipo:

"Brasil acima de tudo, Ganesh acima de todos" ou "Brasil acima de tudo, Xangô acima de todos" ou ainda, em homenagem aos ateus, "Brasil acima de tudo, nada ou ninguém acima de todos".

Essa visão aparentemente bitolada e fundamentalista que o presidente e alguns de seus ministros exibem ao nunca levar em conta a existência de pessoas que não têm as mesmas crenças que exibem levam-me a pensar que a definição de fascista do Harari cai como uma luva em cada um deles. 

Quando vejo manifestações extremadas de nacionalismo, lembro-me da música do Beto Guedes (creio que a letra não é dele) que diz "Terra és o mais bonito dos planetas, 'tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã". E eu fico pensando que idiotice essa da espécie humana de ficar igual cachorro, levantando a perninha para demarcar território. Posso estar errado, devo estar errado, mas não consigo pensar diferente. Meu país é a Terra, mesmo que eu prefira morar em BH ou na beira de uma praia mais deserta (talvez eu nunca tenha deixado de ser um tilelê, um bicho-grilo sem drogas). 

Por isso, às vezes divirto-me (ou me exaspero) em "comentar" as barbaridades mais recentes, quase todas elas acontecendo no Brasil. É uma forma de prevenir um eventual infarto ou AVC, de tanto ódio ou desconsolo que sinto, pois o fundo do poço nunca chega, lembra um sítio arqueológico com várias camadas de "relíquias". Nunca fui nacionalista, menos ainda extremista. Como já disse mil vezes, não sou de direita não sou de esquerda, muito antes pelo contrário. Acho que sou de Marte, sei lá. O Ziraldo fez um cartoon onde uma estaca atravessava a barriga do sujeito, enquanto ele dizia "só dói quando eu rio". Talvez seja essa sensação de desalento que me faça tentar fazer piadas idiotas e sem graça, pois às vezes a realidade pode ser nauseante (ou inquietante).


Há muito tempo, li que a história mundial é uma alternância de conservadorismo moralizante e comportamento mais liberal. Estamos em um período que parece fértil a manifestações retrógradas, intolerância, preconceitos diversos, etc. E pelo que às vezes diz, faz ou defende, o capitão demonstra ser um bom exemplo disso (aliás ele é um dos surfistas dessa onda).

Mas preciso deixar claro que fico feliz quando há melhora dos indicadores, quando há diminuição da taxa de desemprego, torço intensamente para o atual presidente fazer um bom governo e jamais desejarei ver o circo pegar fogo, mas nas próximas eleições eu juro que anularei meu voto se os candidatos do segundo turno forem novamente o Messias e o Haddad (ou algum radical da esquerda).

Olha o grande Ziraldo aí:





sábado, 15 de fevereiro de 2020

O NOME DO HERÓI É CELTON


Os quatro seguidores identificáveis que o Blogson possui são fissurados em HQ (alguns, mais que os outros). Eu também gosto, sempre gostei. Mas, por ter uma mente infantil sempre preferi histórias de humor com personagens antropomórficos (Pato Donald, etc.) ou caricatos (Piratas do Tietê, os Escrotinhos, etc.). Por isso, muitos dos personagens endeusados por meus amigos virtuais são ilustríssimos desconhecidos para mim (e assim continuarão).

Hoje, com uma preguiça do caralho para escrever alguma coisa, qualquer coisa, resolvi buscar na minha cidade um personagem de história em quadrinho. O nome do “herói” é Celton. Já viu que um nome desses não sugere enredos fantásticos ou incríveis aventuras, não é?. E é isso mesmo. Mesmo que o traço do desenho seja muito bom, lembrando HQs da década de 1950/1960, nunca consegui ler até o fim nenhuma das duas revistas que chegaram às minhas mãos. Mas a história do autor é bem legal. Olhaí um texto publicado em 2015 na revista “Encontro”:

O silêncio da noite é interrompido pelas sirenes policiais que soam distante. Nem sempre é possível saber o que movimenta a noite em Belo Horizonte. A única certeza é a de que, independentemente da circunstância, a cidade pode dormir tranquila. Afinal, o super-herói da capital está sempre pronto para nos defender. Seu nome é Celton.

Ele já foi cientista e até se chamou Homem-Felino. Mas, hoje, o protagonista das grandes missões na metrópole de "Bêlo City" é um mecânico cujos poderes, impressionante força física e velocidade acima do normal, ficam em segundo plano. Diferente dos heróis comuns, Celton evita confusões e, com toda a cordialidade que sua origem mineira lhe proporciona, procura sempre as melhores soluções para os problemas que atormentam os seus protegidos.

Celton também é Lacarmélio. Seu uniforme extravagante, na maioria das vezes um terno amarelo, chama a atenção de todos que conseguem flagrá-lo no trânsito engarrafado. O bravo guerreiro está sempre com sua bandeira empunhada. Nos dizeres do estandarte, letras garrafais anunciam sua causa: "Estou vendendo as revistinhas que eu mesmo fiz. R$ 2". E, assim, criador e criatura confundem a própria história. Ou seria estória?

Aos seis anos de idade, o menino nascido em Inhapim, região leste de Minas, já dava sinais de sua paixão pelas histórias em quadrinhos. Morava em Itabirinha de Mantena quando a família decidiu se mudar para a capital. Aos 13 anos já trabalhava como vendedor de mexerica. Foi ainda engraxate e, aos poucos, despertava o dom de conquistar os clientes nas ruas – entre um sapato lustrado e outro, o adolescente apresentava um personagem criado por ele mesmo. Os desenhos ganhavam mais sentido e expressão a cada roteiro produzido. Até que chegou o momento em que Lacarmélio sentiu que estava na hora de dar mais visibilidade ao seu herói.

Nenhuma editora quis apostar nas aventuras de Celton, nem mesmo em São Paulo. Certo de que poderia emplacar suas histórias, tentou a produção independente e convenceu a mãe a pegar um empréstimo no banco para financiar seu sonho. No entanto, as vendas da publicação nas bancas da cidade não foram suficientes. Foi quando resolveu investir naquele talento despertado lá na adolescência e passou, ele mesmo, a vender suas produções. E ele deixou o país, em direção aos Estados Unidos, a terra da livre iniciativa.

Os seis meses em Nova Iorque foram longos, mas determinantes para a mudança que ocorreria na trajetória desse brasileiro. "Certo dia, parei numa banca de revistas e vi vários heróis nos quadrinhos. Cada um deles representava, de certa forma, o lugar onde morava. E pensei: quem representa minha cidade, meu país?". Quando voltou ao Brasil, trouxe na bagagem a ideia de lançar seu trabalho no cenário da linda Belo Horizonte.

Celton então ganhou mais que uma causa, conquistou leitores. Resultado de um imenso levantamento sobre a região metropolitana, o herói brasileiro se tornou um típico belo-horizontino. Seus surpreendentes desafios se passavam agora na avenida Afonso Pena, Praça Sete, Mineirão etc. Quem comprava a revista levava, também, um pouco da história da cidade com suas peculiaridades e folclores. Até mesmo lendas urbanas, como "Loira do Bonfim" e "Capeta do Vilarinho", ficaram ainda mais atraentes para o imaginário público depois que receberam os traços de Lacarmélio e a participação de Celton. Há quem pense até que assim surgiram essas estórias. O fato é que o suspense em torno delas na capital mineira gera burburinhos, que sobrevivem há muitas gerações.

Lacarmélio Alfêo de Araújo, 52, é a identidade secreta de Celton, o herói das revistas em quadrinhos que ele cria, edita e vende no trânsito. "Minha placa está para mim, assim como a teia para o Homem-Aranha. Sem ela, consigo andar tranquilamente na rua. Com ela, todos me conhecem", afirma o quadrinista, tema do recém-lançado livro "O Fazedor de Histórias" (Editora 361), escrito por Fidélis Alcântara.


Lacarmélio... isso lá é nome que se use? Claro que é, Botelho Pinto! Há tempos que não o vejo nos sinais, mas fico pensando que o desenhista de “Celton” talvez nunca se tenha dado conta de que o verdadeiro herói não é o personagem que criou, mas o próprio autor. Olha ele aí com seu terno igual ao do “Máscara”.





CONJUNTOS DISJUNTOS


- Rapaz, não estão poupando ninguém, sobrou até para o papa agora. Estão comendo o cu dele no Facebook!
- Cu de quem?
- Do papa!
- Ninguém come cu de papa! Podem até comer o fígado, mas cu não.
- Você entendeu! Mas não viu o que estão dizendo dele? Está sendo chamado de comunista por ter recebido o Lula e dado uma benção nele.
- Ué, é só um encontro de trabalho entre "deus" e o papa! Falando sério, mesmo que seja puro marketing do Lula, ele é um ex-presidente uma personalidade conhecida no mundo todo e, claro, ex-presidiário. Não vejo muito problema nisso.
- Você diz isso por ser um cara moderado, tranquilão. Vá explicar isso para as matilhas hidrófobas do Facebook!
- Estão fazendo a mesma coisa com o Paulo Guedes. E ele também é um representante do Messias!
- Até você fazendo piadinhas! O mundo está mesmo perto do fim...
- Dia desses estava matutando sobre a estranheza que me causa o entusiasmo acrítico dos apoiadores do Bolsonaro. O comportamento que adotam é proteção total contra quem quer que ouse criticar as falas cheias de truculência e grosseria do presidente. Lembram aquelas mães histéricas e descontroladas que tomam para si as brigas de seus pimpolhos. Na verdade, as defesas que postam nas redes sociais fazem pensar que o Messias é um coitadinho indefeso. Mas não é disso que quero falar, até porque os idólatras do Lula comportam-se da mesma maneira. Você já deve ter estudado ou ouvido falar de teoria dos conjuntos, não?
- Claro que já! No Blogson Crusoe saiu uma série muito boa sobre isso, com o título "Noções Bázecas Sobre Conjuntos".
- O nome disso é merchandising, mas tudo bem. Eu estava pensando que dá para utilizar esses conceitos para interpretar a sociedade brasileira.
- Diz aí, Einstein!
- Pois bem, pensando nesse comportamento esquizofrênico dos extremistas surgiu a ideia que as duas grandes forças ideológicas de hoje em dia lembram bastante dois conjuntos disjuntos. 
- Como é? Você viajou agora! Imagino que seu estoque de orégano deve estar no final. Conjuntos disjuntos... Que porra é essa?
- Nunca ouviu falar nisso? Claro que já! Talvez você considere a Matemática uma ciência muito abstrata e de pouca utilidade no dia a dia (exceto para coisas corriqueiras como enviar foguetes à Lua ou colocar satélites em órbita, por exemplo). Talvez ache essa matéria um porre e de difícil aprendizado, responsável por você ter tirado algumas (ou muitas) notas baixas durante sua breve passagem pelos bancos escolares.
- Matemática é foda, nunca gostei.
- Vai gostar agora: "dois conjuntos são ditos disjuntos se não tiverem nenhum elemento em comum. Em outras palavras, dois conjuntos são disjuntos se sua interseção for o conjunto vazio”. Percebeu como esta definição caiu como luva na porção radical da Esquerda e da Direita? Nada do que um lado pensa ou faz é bom ou está correto. E não há diálogo nenhum que conserte isso, pois o "outro" sempre é demonizado.
- Bacana! Você é mesmo um Einstein!
- Einstein era físico. Se quiser puxar meu saco arranja alguém ligado à Matemática.
- Tá bom, Sócrates, continua com sua viagem.
- Sócrates... Agora, pensando nas pessoas e setores mais equilibrados da sociedade, pode-se usar esta definição: “Em teoria dos conjuntos, a interseção ou intersecção, é um conjunto de elementos que, simultaneamente, pertencem a dois ou mais conjuntos”. Tradução: as pessoas e setores moderados da sociedade conseguem enxergar e aproveitar ou aprovar o que há de positivo em cada um dos lados que se hostilizam  (e rejeitar o que entendem como negativo). Essa visão foi apresentada em setembro de 2017 no post "O Quiz Que Eu Quis Postar No Facebook"  publicado pelo Blogson.
- Agora o merchã é por sua conta!
- Nada que prejudique minha imagem!
- Acabou com sua viagem?
- Na verdade, a viagem mesmo começa é agora. Na minha visão, o país deveria buscar na união de conjuntos a solução para essa polarização idiota.
- Puta que pariu! O cara está estudando para fazer concurso de santo! Explica aí, pastor!
- “A união de dois ou mais conjuntos é o conjunto dos elementos que pertencem a pelo menos um destes conjuntos. Em outras palavras, a união de dois conjuntos A e B é formada por todos os elementos pertencentes a A ou B ou a ambos”. Percebeu que isso define e permite a convivência pacífica entre opostos?
- Cara, você merecia ganhar o Nobel da Paz! Usar a matemática para conseguir convivência pacífica entre opostos é coisa de gente foda!
- Pode ironizar, babaca. Pior é usar a matemática para falar de “Triângulo amoroso”, “Quadradinho de oito” e coisas do tipo.
- Arrasou!


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

GENTILEZA GERA GENTILEZA - 12


E aqui se encerra a digitalização do texto laboriosamente copiado por meu amigo Pintão. Espero que tenha ficado legível para leitura.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

TODO DIA

eu sonhei que eu andava, que eu corria
mas não andava, não andava nem corria,
eu deslizava, deslizava e não saía
do lugar onde eu estava e não sabia
que minha vida assim seria,
todo dia, todo dia, todo dia!

sem ver estrada, sem ver a guia
e eu, desgovernado, pressentia
que nenhum esforço que eu fizesse ajudaria
a entender o que Vida me dizia
e ela não dizia nada, nunca diria
pois nada tinha a me dizer, só fingiria.

GENTILEZA GERA GENTILEZA - 07

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

EM BH ESTÁ ASSIM...

Se houvesse uma máquina do tempo confiável os belorizontinos poderiam dar consultoria a Noé...

PARABÉNS E PÊSAMES

Não sei precisar o ano exato, mas foi entre 2012 eu 2015 que o poeta Ferreira Gullar deu uma entrevista à revista VEJA. Gostei tanto que copiei a entrevista na íntegra (eu era assinante). Em determinado momento da entrevista disse o seguinte:

“É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento”.

É bom deixar claro que ele falava do triunfo do capitalismo sobre o comunismo, mas não o exaltava, apenas aceitava ser esse triunfo uma “fatalidade”:

 “Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce inteligente, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós”.

Essas frases vieram à minha mente ao ler notícias sobre a epidemia de coronavírus na China. Fiquei triste ao pensar que o país que construiu um hospital em apenas 10 dias é o mesmo que advertiu um médico por sua “conduta alarmista e ilegal” simplesmente por alertar seus colegas sobre os riscos de infecção do novo vírus.

Para mim, dois exemplos acabados de autoritarismo: no caso do hospital foi uma ação do tipo “faça e faça rápido!”, sem licitação, sem entraves burocráticos. Já no caso do médico, um burocrata encastelado no poder provavelmente entendeu que divulgar uma notícia preocupante era ruim para o país e para suas próprias convicções e a ação foi “cale-se!” Quanto mais autoritarismo, menos tolerância

Essa é a conclusão simples a que se chega com a notícia da morte do primeiro médico chinês a alertar sobre a ameaça de novo surto de corona vírus na China (mesmo que o assunto não seja esse, lembrei-me do Jair, tão afeito a arroubos e rompantes autoritários, tão intolerante, tão cheio de verdades eternas e certezas inabaláveis!).

O que aconteceu? No final de 2019 um médico oftalmologista chinês teria enviado mensagens para alguns colegas falando de possíveis casos de novo surto da epidemia que castigou a China entre 2002 e 2003. Ao tomar conhecimento das mensagens autoridades chinesas teriam desconfiado do seu alerta, chegando inclusive a enviar uma carta de advertência ao médico, reclamando de sua “conduta alarmista e ilegal” de “espalhar rumores on line” e de “perturbar seriamente a ordem social”.

Hoje, o médico oftalmologista - de 34 anos e uma filha de 5 anos - é só parte de uma estatística das mortes causadas por essa epidemia. Parabéns pelo hospital, pêsames por mortes que poderiam ser ter sido evitadas.

GENTILEZA GERA GENTILEZA - 05

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4