domingo, 2 de fevereiro de 2020

DELÍRIO TRUPICAL


Às vezes a Realidade e o bom senso - mesmo que de forma espaçada - invadem minha mente, tentam permanecer um pouco mais, etc.; mas nada disso aconteceu quando resolvi criar uns cinco ou seis blogs satélites do velho Blogson, todos eles monotemáticos. Por puro delírio trupical achei que seria uma boa ter um blog dedicado apenas à seção "Eu Não Sei Desenhar", outro destinado a exibir as "Literatices" (“Prosa” e "Versos"), um terceiro que abrigasse os "Diálogos de Spamtar" e assim por diante. A ideia era deixar blogs que atendessem pessoas com diferentes tipos de temperamento. E, por que não admitir?, uma obra para a posteridade, mas que já cheirava mal antes mesmo de começar a ser obrada.

E como surgiu essa ideia de jerico? Como nos filmes de sessão da tarde, "tudo começou quando...". Bom, tudo começou quando resolvi alimentar o inativo blog Lingüiça no Fumeiro com cópias das histórias do Pintão. Depois disso, meio que à sorrelfa, à socapa (muito chique!), continuei a postar todos os textos com casos e lembranças da época em que ainda trabalhava. Confesso que a ideia original era tentar contactar antigos colegas de profissão que compartilharam essas histórias. Seria uma espécie de acerto final, uma despedida sincera, pois estava na maior deprê.

Só que o imponderável aconteceu. Mesmo sem divulgar, sem falar nada sobre isso com ninguém, percebi que alguém estava acessando e lendo esses posts. E logo o leitor desconhecido deu-se a conhecer: era meu novo amigo virtual Scant, que inclusive fez com que eu criasse posts originalíssimos ao pedir para ler as anotações sobre o filósofo Spinoza que meu amigo Pintão teve o trabalho de copiar à mão e me entregar, só para que eu pudesse matar minha curiosidade a respeito de alguém mencionado por Einstein na frase: "Eu acredito no Deus de Spinosa".

Para enterrar de vez a ideia de jerico que me fez trupicar (creio que “trupicar” seria uma corruptela caipira de “tropeçar”) na tentação de criar um "sistema solar" ridículo para o Blogson, preciso dizer que não mais criarei nem meio blog, que dirá seis! O que realmente farei é excluir, acabar, passar a régua no Lingüiça. Antes, entretanto, de dar o xeque mate definitivo, publicarei os posts com imagens das folhas escritas por meu amigo Pintão. Como nunca li essas páginas manuscritas (e duvido que alguém as queira ler), resolvi pesquisar na internet sobre o filósofo judeu e descobri que ele é um dos meus, ou seja, um cara que ousou pensar livremente (e foi ferrado por isso). A seguir, uma brevíssima biografia sobre o velho e bom Baruch (velho nada, pois morreu com 45 anos). E os posts sobre ele receberão o mesmo título que têm hoje no Lingüiça. Olhaí:


"Baruch de Espinosa (Amsterdã, 24 de novembro de 1632 — Haia, 21 de fevereiro de 1677), foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa que havia fugido da inquisição lusitana, e é considerado o fundador da crítica bíblica moderna.

Ganhou fama pelas suas posições opostas à superstição: a sua frase Deus sive natura, 'Deus, ou seja, a Natureza' é um conceito filosófico, e não religioso. Notabilizou-se também por ter escrito sua ética na forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.

Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã puniu Espinoza com o chérem, o equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia é uma obra metafórico-alegórica, que não pede leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus.

O texto original do banimento foi escrito em português e diz o seguinte: 'Os Senhores do Mahamad (Conselho da Sinagoga) fazem saber a Vosmecês: como há dias que tendo notícia das más opiniões e obras de Baruch de Spinoza procuraram, por diferentes caminhos e promessas, retirá-lo de seus maus caminhos, e não podendo remediá-lo, antes pelo contrário, tendo cada dia maiores notícias das horrendas heresias que cometia e ensinava, e das monstruosas ações que praticava, tendo disto muitas testemunhas fidedignas que deporão e testemunharão tudo em presença do dito Spinoza, coisas de que ele ficou convencido, o qual tudo examinado em presença dos senhores Hahamim (conselheiros), deliberaram com seu parecer que o dito Spinoza seja heremizado (excluído) e afastado da nação de Israel como de fato o heremizaram com o Herem (anátema) seguinte:

Com a sentença dos Anjos e dos Santos, com o consentimento do Deus Bendito e com o consentimento de toda esta Congregação, diante destes santos Livros, nós heremizamos, expulsamos, amaldiçoamos e esconjuramos Baruch de Spinoza (...) Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja em seu deitar, maldito seja em seu levantar, maldito seja em seu sair, e maldito seja em seu entrar (...) E que Adonai (Soberano Senhor) apague o seu nome de sob os céus, e que Adonai o afaste, para sua desgraça, de todas as tribos de Israel, com todas as maldições do firmamento escritas no Livro desta Lei. E vós, os dedicados a Adonai, que Deus vos conserve todos vivos. Advertindo que ninguém lhe pode falar pela boca nem por escrito nem conceder-lhe nenhum favor, nem debaixo do mesmo teto estar com ele, nem a uma distância de menos de quatro côvados, nem ler Papel algum feito ou escrito por ele.'

Após o chérem, Spinoza adotou 'Benedictus' (termo latino para 'Bendito', isto é, uma tradução do seu nome original, Benedito), como primeiro nome, assim atestando seu desvencilho da religião judaica.
Para sua subsistência, trabalhava com polimento de lentes durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rijnsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, em prestigiosas posições de ensino. Em 1670 mudou-se para a cidade da Haia, e desenvolveu suas principais obras. Convidado a lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou porque teria de acatar as normas ideológicas da universidade e seria impossível continuar com a sua obra de forma independente. Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Postuma editada por seus amigos".

Alguém notou as várias formas em que o nome Espinosa aparece? Pois é, não sei qual é a grafia correta e deixei tal como encontrei. Fim.



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