sábado, 15 de fevereiro de 2020

CONJUNTOS DISJUNTOS


- Rapaz, não estão poupando ninguém, sobrou até para o papa agora. Estão comendo o cu dele no Facebook!
- Cu de quem?
- Do papa!
- Ninguém come cu de papa! Podem até comer o fígado, mas cu não.
- Você entendeu! Mas não viu o que estão dizendo dele? Está sendo chamado de comunista por ter recebido o Lula e dado uma benção nele.
- Ué, é só um encontro de trabalho entre "deus" e o papa! Falando sério, mesmo que seja puro marketing do Lula, ele é um ex-presidente uma personalidade conhecida no mundo todo e, claro, ex-presidiário. Não vejo muito problema nisso.
- Você diz isso por ser um cara moderado, tranquilão. Vá explicar isso para as matilhas hidrófobas do Facebook!
- Estão fazendo a mesma coisa com o Paulo Guedes. E ele também é um representante do Messias!
- Até você fazendo piadinhas! O mundo está mesmo perto do fim...
- Dia desses estava matutando sobre a estranheza que me causa o entusiasmo acrítico dos apoiadores do Bolsonaro. O comportamento que adotam é proteção total contra quem quer que ouse criticar as falas cheias de truculência e grosseria do presidente. Lembram aquelas mães histéricas e descontroladas que tomam para si as brigas de seus pimpolhos. Na verdade, as defesas que postam nas redes sociais fazem pensar que o Messias é um coitadinho indefeso. Mas não é disso que quero falar, até porque os idólatras do Lula comportam-se da mesma maneira. Você já deve ter estudado ou ouvido falar de teoria dos conjuntos, não?
- Claro que já! No Blogson Crusoe saiu uma série muito boa sobre isso, com o título "Noções Bázecas Sobre Conjuntos".
- O nome disso é merchandising, mas tudo bem. Eu estava pensando que dá para utilizar esses conceitos para interpretar a sociedade brasileira.
- Diz aí, Einstein!
- Pois bem, pensando nesse comportamento esquizofrênico dos extremistas surgiu a ideia que as duas grandes forças ideológicas de hoje em dia lembram bastante dois conjuntos disjuntos. 
- Como é? Você viajou agora! Imagino que seu estoque de orégano deve estar no final. Conjuntos disjuntos... Que porra é essa?
- Nunca ouviu falar nisso? Claro que já! Talvez você considere a Matemática uma ciência muito abstrata e de pouca utilidade no dia a dia (exceto para coisas corriqueiras como enviar foguetes à Lua ou colocar satélites em órbita, por exemplo). Talvez ache essa matéria um porre e de difícil aprendizado, responsável por você ter tirado algumas (ou muitas) notas baixas durante sua breve passagem pelos bancos escolares.
- Matemática é foda, nunca gostei.
- Vai gostar agora: "dois conjuntos são ditos disjuntos se não tiverem nenhum elemento em comum. Em outras palavras, dois conjuntos são disjuntos se sua interseção for o conjunto vazio”. Percebeu como esta definição caiu como luva na porção radical da Esquerda e da Direita? Nada do que um lado pensa ou faz é bom ou está correto. E não há diálogo nenhum que conserte isso, pois o "outro" sempre é demonizado.
- Bacana! Você é mesmo um Einstein!
- Einstein era físico. Se quiser puxar meu saco arranja alguém ligado à Matemática.
- Tá bom, Sócrates, continua com sua viagem.
- Sócrates... Agora, pensando nas pessoas e setores mais equilibrados da sociedade, pode-se usar esta definição: “Em teoria dos conjuntos, a interseção ou intersecção, é um conjunto de elementos que, simultaneamente, pertencem a dois ou mais conjuntos”. Tradução: as pessoas e setores moderados da sociedade conseguem enxergar e aproveitar ou aprovar o que há de positivo em cada um dos lados que se hostilizam  (e rejeitar o que entendem como negativo). Essa visão foi apresentada em setembro de 2017 no post "O Quiz Que Eu Quis Postar No Facebook"  publicado pelo Blogson.
- Agora o merchã é por sua conta!
- Nada que prejudique minha imagem!
- Acabou com sua viagem?
- Na verdade, a viagem mesmo começa é agora. Na minha visão, o país deveria buscar na união de conjuntos a solução para essa polarização idiota.
- Puta que pariu! O cara está estudando para fazer concurso de santo! Explica aí, pastor!
- “A união de dois ou mais conjuntos é o conjunto dos elementos que pertencem a pelo menos um destes conjuntos. Em outras palavras, a união de dois conjuntos A e B é formada por todos os elementos pertencentes a A ou B ou a ambos”. Percebeu que isso define e permite a convivência pacífica entre opostos?
- Cara, você merecia ganhar o Nobel da Paz! Usar a matemática para conseguir convivência pacífica entre opostos é coisa de gente foda!
- Pode ironizar, babaca. Pior é usar a matemática para falar de “Triângulo amoroso”, “Quadradinho de oito” e coisas do tipo.
- Arrasou!


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