Pelo que deduzi de seus comentários aqui
ou em seus próprios blogs, os quatro
cavaleiros do apocalipse que me seguem não curtem muito o Carnaval, ao
contrário de mim. Mesmo assim, vou enfiar minha baqueta nesse tambor. Para
isso, vou expandir um comentário que fiz no blog do Ozymandias (preguiça é
foda!). Bora lá.
Quando eu estava entrando na adolescência, o
carnaval de BH era caracterizado pelos blocos caricatos que desfilavam em cima
de caminhões. Todo mundo de cara pintada, roupas coloridas (uniformes) e nomes
sonoros - Bocas Brancas, Satã e seus Asseclas,
Galãs do Ritmo, etc. Cada bairro tinha o seu. O desfile acontecia na
avenida principal da cidade. Existiam também as escolas de samba, mas de uma
indigência de dar dó. E quem quisesse brincar carnaval precisava ir a um dos
muitos "bailes carnavalescos" que aconteciam em clubes e associações
comerciais.
Do Rio de Janeiro chegavam notícias dos
desfiles de três tipos de agremiações: ranchos carnavalescos, "grandes
sociedades" e escolas de samba. Das tais "grandes sociedades” só
consigo lembrar o nome de uma delas: "Fenianos".
Lembro também de ter visto na TV imagens dos ranchos carnavalescos. Mal
comparados, seriam como que desfiles de escolas de samba, só que em slow motion, tudo muito lento e sem
graça. Está na cara que os dois primeiros tinham tudo para sumir do mapa. E sumiram mesmo, viraram apenas história
Depois de ter escrito esta introdução, estou me perguntando o que isso tem a ver com o carnaval de BH. Deve ser alguma associação inconsciente com a teoria da seleção natural do Darwin ou uma overdose de leite com toddy, sei lá. Por que estou dizendo isso? Para comentar a evolução dos "festejos momescos" em BH.Nada me tira da cabeça que as autoridades da capital, ainda que na base do ato falho e independente de qual partido político estava no poder, sempre desejaram acabar com o carnaval por aqui. A cada ano que passava mudavam as regras até então em vigor, estabeleciam novos horários e locais de desfile, sempre cerceando, nunca facilitando nada. Creio que o esforço máximo foi quando mandaram blocos e escolas de samba desfilar numa tal de Via 240 ou coisa parecida, já no limite do município. Quando fiquei sabendo disso, pensei: -"Agora acabou!".
Depois de ter escrito esta introdução, estou me perguntando o que isso tem a ver com o carnaval de BH. Deve ser alguma associação inconsciente com a teoria da seleção natural do Darwin ou uma overdose de leite com toddy, sei lá. Por que estou dizendo isso? Para comentar a evolução dos "festejos momescos" em BH.Nada me tira da cabeça que as autoridades da capital, ainda que na base do ato falho e independente de qual partido político estava no poder, sempre desejaram acabar com o carnaval por aqui. A cada ano que passava mudavam as regras até então em vigor, estabeleciam novos horários e locais de desfile, sempre cerceando, nunca facilitando nada. Creio que o esforço máximo foi quando mandaram blocos e escolas de samba desfilar numa tal de Via 240 ou coisa parecida, já no limite do município. Quando fiquei sabendo disso, pensei: -"Agora acabou!".
Só que não, como se diz hoje. De forma tímida
e meio ressabiada, bloquinhos de rua começaram a surgir à margem da política
oficial. O sucesso dos primeiros foi alimentando a criação de novos blocos, com número cada
vez maior de participantes. E BH passou de exportadora de foliões (pois ninguém
queria ficar nesse cemitério) a importadora, com gente vindo de todos os
lugares. AS escolas de samba continuam a desfilar na avenida, mas o carnaval da cidade ficou com a cara que mais me atrai: uma zona
total. Segundo reportagens na TV, o público esperado para os diversos desfiles
em 2020 é de cinco milhões de pessoas.
E é aí que eu quero chegar: Como disse antes,
quando eu era jovem, o carnaval era brincado em salões. Aliás, conheci minha
mulher em um desses bailes Percebeu que eu disse brincado em vez de pulado?
Pois é. Tudo era muito certinho, muito chatinho. No Rio as escolas de samba
davam seus primeiros passos rumo ao "maior
espetáculo da terra". Em BH as escolas de samba eram o que se poderia
chamar de programa de índio, tal a subnutrição que exibiam (fantasias, enredo,
alegorias, etc.). Sinceramente, não sei como estão hoje.
Depois de me casar, comecei a pensar na festa
de Momo e cheguei à seguinte conclusão: em BH e no Rio havia três tipos de
carnaval; o que acontecia em clubes era uma coisa caretíssima (tanto que
praticamente nem existe mais), o carnaval das escolas de samba virou um espetáculo
televisivo, uma Folies Bergère anabolizada,
coisa para turista estrangeiro e gente que curte espremer a bunda em uma arquibancada.
Mas havia uma terceira opção que eu nunca
tinha sacado quando era solteiro: o carnaval de rua, espontâneo, avesso a regras e normas e que vem a ser a última
festa pagã, a última orgia autorizada, onde se enfia o pé na jaca (e há todo
tipo de jaca para se escolher). Só que eu descobri isso depois de casado.
Hoje em dia, "do baixo" (não posso mais falar "do alto") de meus quase 70 anos, mesmo não pulando (sou tímido
pra caralho), gosto de ver a zona em que a cidade se transforma, justamente por
essa visão da última orgia permitida. Gente bêbada, mijando ou vomitando na rua, homem beijando homem, mulher beijando mulher, homem beijando mulher, fantasias politicamente incorretas, de mau gosto ou extremamente ridículas, para mim tudo está valendo. Em uma época cada vez mais tediosamente
correta e cheia de mau humor, curtir uma transgressãozinha aos bons modos de vez em quando faz
um bem danado (mesmo que seja só em fevereiro). É isso.
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