sábado, 15 de fevereiro de 2020

O NOME DO HERÓI É CELTON


Os quatro seguidores identificáveis que o Blogson possui são fissurados em HQ (alguns, mais que os outros). Eu também gosto, sempre gostei. Mas, por ter uma mente infantil sempre preferi histórias de humor com personagens antropomórficos (Pato Donald, etc.) ou caricatos (Piratas do Tietê, os Escrotinhos, etc.). Por isso, muitos dos personagens endeusados por meus amigos virtuais são ilustríssimos desconhecidos para mim (e assim continuarão).

Hoje, com uma preguiça do caralho para escrever alguma coisa, qualquer coisa, resolvi buscar na minha cidade um personagem de história em quadrinho. O nome do “herói” é Celton. Já viu que um nome desses não sugere enredos fantásticos ou incríveis aventuras, não é?. E é isso mesmo. Mesmo que o traço do desenho seja muito bom, lembrando HQs da década de 1950/1960, nunca consegui ler até o fim nenhuma das duas revistas que chegaram às minhas mãos. Mas a história do autor é bem legal. Olhaí um texto publicado em 2015 na revista “Encontro”:

O silêncio da noite é interrompido pelas sirenes policiais que soam distante. Nem sempre é possível saber o que movimenta a noite em Belo Horizonte. A única certeza é a de que, independentemente da circunstância, a cidade pode dormir tranquila. Afinal, o super-herói da capital está sempre pronto para nos defender. Seu nome é Celton.

Ele já foi cientista e até se chamou Homem-Felino. Mas, hoje, o protagonista das grandes missões na metrópole de "Bêlo City" é um mecânico cujos poderes, impressionante força física e velocidade acima do normal, ficam em segundo plano. Diferente dos heróis comuns, Celton evita confusões e, com toda a cordialidade que sua origem mineira lhe proporciona, procura sempre as melhores soluções para os problemas que atormentam os seus protegidos.

Celton também é Lacarmélio. Seu uniforme extravagante, na maioria das vezes um terno amarelo, chama a atenção de todos que conseguem flagrá-lo no trânsito engarrafado. O bravo guerreiro está sempre com sua bandeira empunhada. Nos dizeres do estandarte, letras garrafais anunciam sua causa: "Estou vendendo as revistinhas que eu mesmo fiz. R$ 2". E, assim, criador e criatura confundem a própria história. Ou seria estória?

Aos seis anos de idade, o menino nascido em Inhapim, região leste de Minas, já dava sinais de sua paixão pelas histórias em quadrinhos. Morava em Itabirinha de Mantena quando a família decidiu se mudar para a capital. Aos 13 anos já trabalhava como vendedor de mexerica. Foi ainda engraxate e, aos poucos, despertava o dom de conquistar os clientes nas ruas – entre um sapato lustrado e outro, o adolescente apresentava um personagem criado por ele mesmo. Os desenhos ganhavam mais sentido e expressão a cada roteiro produzido. Até que chegou o momento em que Lacarmélio sentiu que estava na hora de dar mais visibilidade ao seu herói.

Nenhuma editora quis apostar nas aventuras de Celton, nem mesmo em São Paulo. Certo de que poderia emplacar suas histórias, tentou a produção independente e convenceu a mãe a pegar um empréstimo no banco para financiar seu sonho. No entanto, as vendas da publicação nas bancas da cidade não foram suficientes. Foi quando resolveu investir naquele talento despertado lá na adolescência e passou, ele mesmo, a vender suas produções. E ele deixou o país, em direção aos Estados Unidos, a terra da livre iniciativa.

Os seis meses em Nova Iorque foram longos, mas determinantes para a mudança que ocorreria na trajetória desse brasileiro. "Certo dia, parei numa banca de revistas e vi vários heróis nos quadrinhos. Cada um deles representava, de certa forma, o lugar onde morava. E pensei: quem representa minha cidade, meu país?". Quando voltou ao Brasil, trouxe na bagagem a ideia de lançar seu trabalho no cenário da linda Belo Horizonte.

Celton então ganhou mais que uma causa, conquistou leitores. Resultado de um imenso levantamento sobre a região metropolitana, o herói brasileiro se tornou um típico belo-horizontino. Seus surpreendentes desafios se passavam agora na avenida Afonso Pena, Praça Sete, Mineirão etc. Quem comprava a revista levava, também, um pouco da história da cidade com suas peculiaridades e folclores. Até mesmo lendas urbanas, como "Loira do Bonfim" e "Capeta do Vilarinho", ficaram ainda mais atraentes para o imaginário público depois que receberam os traços de Lacarmélio e a participação de Celton. Há quem pense até que assim surgiram essas estórias. O fato é que o suspense em torno delas na capital mineira gera burburinhos, que sobrevivem há muitas gerações.

Lacarmélio Alfêo de Araújo, 52, é a identidade secreta de Celton, o herói das revistas em quadrinhos que ele cria, edita e vende no trânsito. "Minha placa está para mim, assim como a teia para o Homem-Aranha. Sem ela, consigo andar tranquilamente na rua. Com ela, todos me conhecem", afirma o quadrinista, tema do recém-lançado livro "O Fazedor de Histórias" (Editora 361), escrito por Fidélis Alcântara.


Lacarmélio... isso lá é nome que se use? Claro que é, Botelho Pinto! Há tempos que não o vejo nos sinais, mas fico pensando que o desenhista de “Celton” talvez nunca se tenha dado conta de que o verdadeiro herói não é o personagem que criou, mas o próprio autor. Olha ele aí com seu terno igual ao do “Máscara”.





3 comentários:

  1. Rapaz, eu fiquei bem curioso com esta figura. Por que você não compra uma edição, escaneia e posta aqui no Blogson?

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    1. Eu tinha uma revista, comprada por meu cunhado. Mas eu achei uma merda tão grande que dei para alguém (a revista!) ou joguei fora. Na minha opinião, se ele tivesse um roteirista bom, a revista poderia ter um ganho de qualidade. Na internet você vê várias capas. Em determinado momento, ele criou uma edição "chapa branca", encomendada pela prefeitura ou alguma empresa pública. Como eu tenho alguma vocação para a transgressão, achei que isso era prostituição e perdi o respeito por ele, mesmo sabendo que a grana poderia ser vital para ele. Lembro-me também de ver muros pichados com frases tipo "Celton vem aí". Dê uma olhada neste link. http://www.guiadosquadrinhos.com/artista/trabalhos-de/lacarmelio-araujo-celton/2383

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    2. Talvez este link te atenda. https://www.facebook.com/pages/category/Artist/Celton-lacarm%C3%A9lio-108794765906351/

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FOLHA DE PAPEL

  De repente, sem aviso nenhum, nenhum indício, nenhum sinal, você se sente prensado, achatado, bidimensional como uma folha de papel. E aí....