segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

DESIGN POUCO INTELIGENTE


Confissão: este texto é uma colcha de retalhos feita com tecidos de padronagens semelhantes, ou seja, é uma colagem de esboços e rascunhos semi-abandonados (talvez devessem mesmo ter ficado na lixeira).


Estou terminando a leitura do livro "21 questões para o século 21" do escritor Yuval Harari (já devia ter acabado há muito tempo, mas minha sala de leitura predileta é o banheiro). É um livro excepcionalmente bem escrito, agradabilíssimo e muitas vezes surpreendente. Sugiro, recomendo sua leitura, pois estou pensando em ler de novo esse livro. Sério!

Há informações curiosíssimas e reflexões impecáveis sobre uma porrada de assuntos. E uma das que mais chamaram minha atenção diz respeito ao fascismo, palavra muito empregada pelo pessoal de esquerda - inclusive para ofender ou rotular quem não pensa como eles. Para não perder tempo, transcrevo pequenos trechos que tem a ver com o tema de hoje. Bora lá:

"Fascismo é aquilo que acontece quando o nacionalismo quer tornar a vida fácil para ele, negando todas as outras identidades e obrigações".

"Como um fascista avalia a arte? Como um fascista sabe se um filme é bom? É muito simples. Só existe um parâmetro. Se um filme atende aos interesses nacionais - é um bom filme, se não atende aos interesses nacionais - é um filme ruim. E como um fascista decide o que se deve ensinar às crianças na escola? Ele emprega o mesmo parâmetro. Ensinar às crianças tudo o que atenda aos interesses da nação; a verdade não tem importância".


Quando eu cismo de falar sobre algum assunto de forma séria, sem piadinhas, eu me torno chato ou ridículo, pois centenas de pessoas já disseram de forma mais elaborada e melhor analisada o que tento dizer. Talvez fosse melhor opção voltar aos joguinhos de palavras e trocadilhos de quinta categoria, mas ser medíocre é a sina do Blogson. Por isso, vamos tentar caminhar.

Eu nunca fui de esquerda. Aliás, tenho profunda antipatia pela ala mais radical desse povo. Mas estou cada vez mais assustado com o despreparo, o radicalismo, a falta de senso, a boçalidade instaladas em Brasília. Sem contar as trapalhadas de Larry, Moe e Curly. Para piorar, existe ainda um carimbador maluco morando nos EUA. Salvam-se o Paulo Guedes, o Mourão e mais alguns não evangélicos. Por isso, se houver reeleição do atual mandatário, eu confirmarei que Deus não existe mesmo. O que me consola é saber (sentir) que eu não demoro muito a morrer (talvez, até mesmo antes do final do atual mandato).

Considero-me de centro-direita, mas está cada vez mais difícil tentar manter a neutralidade hoje em dia. Nosso presidente tem o grave defeito (ou qualidade negativa) de escolher as pessoas menos indicadas para ocupar alguns postos chave de seu governo. Essas escolhas passam a impressão de que só existem toupeiras caricatas no nicho ideológico onde ele pinça seus auxiliares.

A conclusão a que se chega é que não importa para ele o que o escolhido pensa ou pretenda fazer, basta que seja de (extrema) direita. E a lista é grandinha: um ministro da educação que tropeça de forma grosseira no idioma oficial do país, um ex-secretário de cultura que plagia um fóssil nazista (não apenas nos propósitos, mas até nas palavras), uma titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (pastora evangélica, coincidentemente) que defende um programa de abstinência sexual (!!!) como prevenção à gravidez na adolescência, um presidente da Capes que defende o “design inteligente”, e, agora, um ex-missionário evangélico na Amazônia indicado para assumir a chefia de órgão da Funai responsável pela proteção a indígenas isolados. Só gênio!

Numa boa, acho que quem é a favor do design inteligente é o Messias (mas à moda dele, lógico), pois está criando uma equipe à sua imagem e semelhança. Infelizmente isso é um direito dele, mas que incomoda, incomoda. Por exemplo, eu não tenho preconceito contra criacionistas (mentira, tenho sim, pois eles são uma fonte inesgotável de diversão!). Aliás, pensando bem, o sentimento que tenho em relação a eles deve ser o mesmo que os ateus tem em relação aos católicos. Tipo meneando a cabeça e fazendo tsk tsk tsk, aquele estalinho produzido com a língua colada nos incisivos, em sinal de deboche, piedade ou desprezo. Mas quando um criacionista disfarçado é alçado ao posto máximo da "Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior" e diz querer "colocar um contraponto à Teoria da Evolução" é porque a laicidade do país está indo pro brejo.

Alem disso, colocar um ex-missionário evangélico (se fosse um padre daria no mesmo) para chefiar o órgão de proteção a tribos indígenas isoladas é o mesmo que - usando uma expressão que aprendi com meu pai - "dar milho a bode". Será ele capaz de resistir à tentação de catequizar e evangelizar os índios?

Mas o show de horrores fica ainda melhor quando uma pastora evangélica acredita que em pleno século XXI as adolescentes brasileiras deixarão de fazer sexo só para não engravidar! Me ajude aí, Dona Damares!

Creio que o maior defeito de alguns ministros é a exibição de comportamentos caricatos, condenáveis ou desprezíveis (pensando bem, esse não é o maior defeito, é só a ponta do iceberg). Mas não é exclusividade do momento atual, basta lembrar do ministro Magri da era Collor - aquele para quem "cachorro também é gente" - com seu cabelo alla Sílvio Santos ou o próprio presidente "pé na bunda" com suas camisetas cheias de mensagens e palavras de ordem (e a reforma da Casa da Dinda torrando o dinheiro surrupiado!).


Eu ainda sou (apesar de tudo) católico e aceito que cada um creia no que quiser, até mesmo em duendes ou na fada dos dentes, se assim desejar. Mas que isso fique dentro de sua casa ou, no máximo, compartilhado com seus amigos. Agora, em um um país oficialmente laico esse tipo de raciocínio utilizado para traçar políticas públicas nunca deveria ser aceito. A frase "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" deveria ser proibida ou "harmonizada" com religiões não cristãs. Creio que o Bolsonaro teria um troço se visse impressas frases desse tipo:

"Brasil acima de tudo, Ganesh acima de todos" ou "Brasil acima de tudo, Xangô acima de todos" ou ainda, em homenagem aos ateus, "Brasil acima de tudo, nada ou ninguém acima de todos".

Essa visão aparentemente bitolada e fundamentalista que o presidente e alguns de seus ministros exibem ao nunca levar em conta a existência de pessoas que não têm as mesmas crenças que exibem levam-me a pensar que a definição de fascista do Harari cai como uma luva em cada um deles. 

Quando vejo manifestações extremadas de nacionalismo, lembro-me da música do Beto Guedes (creio que a letra não é dele) que diz "Terra és o mais bonito dos planetas, 'tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã". E eu fico pensando que idiotice essa da espécie humana de ficar igual cachorro, levantando a perninha para demarcar território. Posso estar errado, devo estar errado, mas não consigo pensar diferente. Meu país é a Terra, mesmo que eu prefira morar em BH ou na beira de uma praia mais deserta (talvez eu nunca tenha deixado de ser um tilelê, um bicho-grilo sem drogas). 

Por isso, às vezes divirto-me (ou me exaspero) em "comentar" as barbaridades mais recentes, quase todas elas acontecendo no Brasil. É uma forma de prevenir um eventual infarto ou AVC, de tanto ódio ou desconsolo que sinto, pois o fundo do poço nunca chega, lembra um sítio arqueológico com várias camadas de "relíquias". Nunca fui nacionalista, menos ainda extremista. Como já disse mil vezes, não sou de direita não sou de esquerda, muito antes pelo contrário. Acho que sou de Marte, sei lá. O Ziraldo fez um cartoon onde uma estaca atravessava a barriga do sujeito, enquanto ele dizia "só dói quando eu rio". Talvez seja essa sensação de desalento que me faça tentar fazer piadas idiotas e sem graça, pois às vezes a realidade pode ser nauseante (ou inquietante).


Há muito tempo, li que a história mundial é uma alternância de conservadorismo moralizante e comportamento mais liberal. Estamos em um período que parece fértil a manifestações retrógradas, intolerância, preconceitos diversos, etc. E pelo que às vezes diz, faz ou defende, o capitão demonstra ser um bom exemplo disso (aliás ele é um dos surfistas dessa onda).

Mas preciso deixar claro que fico feliz quando há melhora dos indicadores, quando há diminuição da taxa de desemprego, torço intensamente para o atual presidente fazer um bom governo e jamais desejarei ver o circo pegar fogo, mas nas próximas eleições eu juro que anularei meu voto se os candidatos do segundo turno forem novamente o Messias e o Haddad (ou algum radical da esquerda).

Olha o grande Ziraldo aí:





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