domingo, 26 de maio de 2019

O FIM DA HISTÓRIA



Aposentado falar sobre a situação atual do emprego ou desemprego é o mesmo que um abstêmio falar dos múltiplos lançamentos de cerveja artesanal: ainda que emita opiniões, só ouviu falar e não sabe o sabor dessas iguarias. Coincidentemente, eu sou essas duas pessoas. Por isso, não quero falar sobre o que não conheço. Meu negócio é outro, minha intenção é falar sobre profissões, algumas profissões.

Vira e mexe (talvez não com tanta frequência assim) a mídia (revistas, TVs, etc.) faz reportagens sobre as profissões do futuro - ou as que estão ameaçadas de extinção. Certamente não deve ser nada agradável para quem trabalha em uma das ameaçadas ler sobre isso. O que o sujeito pode fazer? Rezar para conseguir aposentar-se antes de ser demitido, por exemplo? Pedir pelamordedeus para ser remanejado para outro setor? Obviamente isso só será possível se a empresa tiver "outro" setor. Não há nada de engraçado nessa obsolescência forçada.

Perto de onde moro havia um sujeito que consertava máquinas de escrever. Provavelmente, ao perceber a queda cada vez mais acentuada de clientes, começou aos poucos a vender tubos e conexões, fios, cabos, tomadas e todo tipo de miudezas necessárias a uma instalação elétrica ou hidráulica. Mais um pouco e já estava vendendo cimento. No final, tinha transformado a antiga "assistência técnica para máquinas de escrever"  em depósito de materiais de construção. Mudou de endereço e de horário de funcionamento, pois começou a ficar aberto inclusive aos domingos até o meio dia, começou a vender areia, brita e tijolo e fez o maior sucesso. Isso, claro, até sua esposa obrigá-lo a vender o depósito depois de descobrir que estava mais saliente do que deveria. Mas nunca fiquei sabendo o que aconteceu com o funcionário que efetivamente consertava as máquinas de escrever.

As profissões do futuro já tem outra "pegada", principalmente pelos títulos ou especialidades sugeridas. (mesmo que não exijam um doutorado em Harvard). Recolhi algumas bastante curiosas: Condutor/ piloto de drone, Conselheiro de aposentadoria, Gestor de big data, Gestor de inovação, Gestor de marketing e-commerce, Gestor de resíduo, Gestor de sustentabilidade/ e-correlações, Profissional 3DTécnico em telemedicina. Acho que deveriam ter listado também "Produtor de fake-news", mas, talvez isso já seja inerente à raça humana, não necessitando de treinamento nem de especialização.

Mas o que me diverte mesmo são as profissões que tentam ou dizem conseguir prever o futuro. Futurólogos, economistas, videntes e astrólogos enquadram-se nessa categoria, mesmo que alguns possam ter mais credibilidade e respeitabilidade que outros (ainda que não tenham feito doutorado em Harvard!).

Agora, dureza mesmo é ser vidente. Para mim, um(a) vidente com um mínimo de vergonha na cara deveria ser capaz de prever a própria morte, por exemplo. Os mais espertos, entretanto, poderão alegar que o modo de auto-previsão está desabilitado. Os astrólogos estão em um nível intermediário de credibilidade. Alguns podem até mesmo declarar-se filósofos que encontrarão quem neles acreditem.

Mas o nível top é ocupado pelos economistas especializados em macroeconomia e pelos futurólogos. Mesmo que tenham alguma coisa de quixotescos (não todos, na verdade), só  tem gente bacana, mesmo que errem quase todas as previsões (o crescimento do PIB do Brasil é um exemplo recente). O que um profissional 3D pode dizer ao ser apresentado em um coquetel a um futurólogo? Poderá ficar tão acanhado e encolhido que talvez fique reduzido a um reles 2D (piadinha safada!). Em compensação, um gestor de resíduo provavelmente olhará com desdém para um encarregado de limpeza (ruim também).

Quando eu disse que as previsões feitas por especialistas me divertem, tinha em mente uma frase dita pelo economista gente fina Hélio Beltrão, Ministro da Desburocratização durante a presidência do general Figueiredo. Eu tinha a maior simpatia por ele, talvez por encarnar um Dom Quixote enfrentando o moinho da burocracia estatal incontrolável. Era tanto papelório que seria dele esta frase-desabafo: "O mundo acabará em papel". Hoje em dia esta afirmação talvez provocasse riso em alguns, pois com tantos micros, tablets, celulares e todo tipo de tranqueira tecnológica que fica obsoleta de forma cada vez mais acelerada, o  mais certo é que mundo provavelmente acabará em lixo eletrônico, com micro partículas de plástico ingeridas junto com alimentos normais.

Mas o melhor de todos é o filósofo e economista Francis Fukuyama, que ficou famoso ao publicar um artigo com o título "O Fim da História". Como não estou com paciência para procurar uma explicação curta sobre seu pensamento, limito-me a utilizar o título do artigo para finalizar este post (se quiser, procure se informar na internet, pois já está grandinho e habilitado a fazer isso). Pois o que o Francis Fukuyama fez foi decretar o fim da história (desta, pelo menos).



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