Este texto fazia parte de um post mais antigo, mas, depois de relido, achei que deveria ter vida própria.
Um de seus sonhos mais caros que acalentava era o de ser um escritor. Não um escritor qualquer. O que queria mesmo, o que sonhava era ser um bom, um grande escritor. Por isso, escrevia sempre, escrevia muito. Mas não dominava os fundamentos teóricos da língua. Por isso mesmo, agredia a concordância e a regência, atropelava a gramática e todas as demais regras e normas necessárias a uma linguagem culta, conhecimentos que se exigiriam de um escritor de verdade, sabedor do seu ofício.
Um de seus sonhos mais caros que acalentava era o de ser um escritor. Não um escritor qualquer. O que queria mesmo, o que sonhava era ser um bom, um grande escritor. Por isso, escrevia sempre, escrevia muito. Mas não dominava os fundamentos teóricos da língua. Por isso mesmo, agredia a concordância e a regência, atropelava a gramática e todas as demais regras e normas necessárias a uma linguagem culta, conhecimentos que se exigiriam de um escritor de verdade, sabedor do seu ofício.
Mostrava seus textos capengas, inexpressivos e sem inspiração, suas frases desconexas e mal formuladas, seus assuntos banais e vulgares a qualquer um que conseguisse encurralar, sempre esperando receber elogios e cumprimentos. Nunca publicou nada e o máximo que conseguia era ser discretamente ignorado e evitado pelos conhecidos e parentes, que se esquivavam de ficar sozinhos com ele em festas caseiras e eventos familiares.
A mudança só aconteceu quando - finalmente! - deu-se conta de que não era o escritor que imaginava e queria ser. Demorou, mas um dia percebeu que era apenas um escrevinhador medíocre, um vândalo da palavra escrita. A partir daí, primeiro ressabiadamente, meio constrangido, começou a abusar de clichês. Depois, desassombrada e desafiadoramente, passou a inventar palavras, a criar neologismos que nem ele sabia para que serviriam.
Começou também a fazer experiências bizarras utilizando o Google Tradutor. Para isso, pegava um texto de sua autoria e traduzia para uma língua qualquer. Repetia a operação para uma nova língua, usando texto já traduzido. E assim, fazia até voltar ao português, depois de duas, três ou mais traduções sucessivas. O resultado assim obtido era um amontoado de frases sem sentido e quase sem nenhuma relação com o texto original, fato que o divertia muito.
Sempre vandalizando a língua, a estética e a lucidez, passou a abusar de cores, fontes e tamanhos variados, despreocupado com a ordem lógica, como se o texto original fosse apenas um jogo de montar, um brinquedo de encaixe, como se quisesse criar uma nova linguagem ou forma de expressão - que só para ele teria sentido e valor. Os textos assim obtidos passaram a ser apenas imagens, grafismos, sem necessidade de revisão.
Acreditava estar criando uma nova forma de arte, quando era apenas vandalismo contra o idioma, contra as palavras e frases. Longe de ser arte, era só artesania, artesanato, arteirice, artifício para esconder sua permanente falta de criatividade e valor literário. Inconsciente disso, seguiu vandalizando a língua, para ver até onde seu delírio poderia chegar.
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