Às vezes o Facebook serve para alguma coisa. Hoje,
por exemplo, serviu. Um “amigo”
desconhecido (porque nunca nos falamos ao vivo e a cores) postou o texto
abaixo, escrito pelo músico e compositor mineiro Tavito (aquele do “sem querer fui me lembrar de uma rua e seus
ramalhetes”), que fez parte da banda Som Imaginário, etc., etc. Achei muito legal e resolvi compartilhá-lo com os 2,3
leitores desta bagaça. Olhaí.
É uma
sensação estranha nesse inacreditável ano da graça de 2018 três pontinhos, que
é como eu o vejo e sinto; com a tensão do por acontecer, mas com a leveza da
esperança conquistada sobre o já acontecido. Meio enrolado, mas verdadeiro.
Nesses tempos de inimizades pesadas, Facebook pra cá, Twitter pra lá, Linkedin
pracolá, cheguei à conclusão de que não posso, não devo e não quero prescindir
da companhia direta e emocional de meus amigos, ainda que seja para exercícios
de filosofia barata e brejeira, essa de porta de padaria, que transita na minha
cabeça com tanta naturalidade.
Quero
ter o direito de acreditar numa realidade um pouquinho melhor do que esta que
aí está, a corriqueira verdade que vareja entre os Jaíres e os Inácios, os
perdidos da FEBEM e os cidadãos de bem, a galera de Heliópolis e os abonados de
Higienópolis.
Pretendo
(e vou) tomar uma atitude ainda neste ano “três pontinhos” - vou passar quinze
dias inteiros na minha Berzonte, Min'geraiss, não só porque devo, mas porque
quero; aliás e principalmente, porque preciso. Quero polir meus contatos, que,
por falta de manutenção estão dando um rame danado - deve ser o suor da
insanidade. Quero beijar minha irmã e meus sobrinhos. Quero beijar meu pai,
minha mãe e meu irmão mais velho, estes que infelizmente já se retiraram do
mundo vigente, mas que continuam firmes pensando e falando lá nos ouvidos do
coração.
Quero
ver meus amigos irmãos de vida, muitos já-idos – além de dezenas e centenas de
outros muitos personagens de minhas histórias, que conto, reconto e nunca
confiro o prazo de validade dos protagonistas. Quero ir naquele primeiro
quarteirão da Rua Ramalhete (que é o que vale pra nós), sentar o bundão no meio
fio e ficar - só ficar - pelo menos meia hora. Quero ir a pé, como fazia antes,
sem me esquecer de parar no botequim do Orélio pra comer uma paçoquinha de
amendoim com Coca-Cola e sonhar agora os sonhos que tive um dia, apenas pra
devolver-lhes as cores desbotadas pelo tempo. Quero sentir aquele sarro
inocente em que se esfregava o pinto distraído por sobre os panos que se
interpunham, recatados, entre nós e a maciez da pele das moças.
E quero
sentar no antigo Chez Bastião, falar com Mestre Marteleto e seu olhar
sorridente por trás dos óculos de tartaruga, ouvir as bravatas do Tuíca-proprietário,
uma verdadeira metralhadora de decibéis, enquanto toco em meu violão as
musiquinhas do velho Pacífico Mascarenhas, ou ainda alguma do velhíssimo
Conjunto Farroupilha, ou ainda praticar uma gracinha daquele tipo em que as
mulheres cantam "Eu sem você sou só desamor, um barco sem mar, um campo
sem flor..." e os homens "Aaaaah, que saudade! Que vontade de ver
renascer nossa vida...". Vai ser legal, sobretudo pra tentar salvar o que
resta de meu 2018 três pontinhos.
E quero
ver a mim mesmo, sem espelho. Não para derrubar muros de freira, nem jogar ovo
nos outros, tampouco para sair peidando pelas ruas com aquele decavê azul
roubado do pai. Vamos apenas juntar as moças e os moços e fazer uma festa mansa
e preguiçosa pra comemorar o sonho, o tempo e a inevitável distância – que,
como já disse o poeta, quando se encontram dão a fruta mais gostosa. E, em coro
com minhas incertezas, pedir a Deus que continue nos dando o amor como padrão e
o sonho como referência.
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