sexta-feira, 30 de novembro de 2018

QUE O DRUMMOND ME PERDOE

(Que o Drummond me perdoe).
Alguns anos vivi no Carlos Prates.
Principalmente nasci no Carlos Prates.
Por isso sou triste, medroso, inseguro: dúctil.

Tive esperança, tive sonhos, tive alegria.
Hoje sou um velho aposentado.
A juventude é só um amontoado de retratos.
Mas como dói!

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

AS TRÊS IDADES


Postei no Facebook há mais ou menos um ano, mas não sei se divulguei no Blogson (embora desconfie que sim). Enfim, só mais do mesmo, bem ruinzinho, nada de especial.



terça-feira, 27 de novembro de 2018

BORRACHALIOTECA

Já vou avisando que o título do post não é mais um jogo de palavras estilo Jotabê. Estava ouvindo rádio no carro e resolvi procurar uma estação que estivesse tocando alguma música legal. Quando sintonizei uma das minhas prediletas, especializada em rock, estava rolando um papo de gente desconhecida. Já ia procurar outra frequência quando ouvi falar em Son Salvador, cartunista de BH. Para quem não sabe (eu não sabia), Son Salvador nasceu em Sabará, cidade histórica que pertence à região da Grande BH.

Como um dos meus assuntos prediletos são desenhos de humor, fiquei escutando, para descobrir que o entrevistado não era o cartunista, mas o criador de uma biblioteca em Sabará. Gostei tanto da história que resolvi postá-la no blog. A seguir, para poupar meu punho com tendinite, transcrevo algumas coisas que descobri na internet sobre essa biblioteca.

Desde agosto de 2002 a borracharia do “Joaquim Borracheiro”, no município de Sabará, vem perdendo cada vez mais espaços para os livros. Não que o Joaquim que dá nome ao negócio seja um leitor assíduo, mas devido à Borrachalioteca, criação do seu filho Marcos Túlio Damascena, os pneus agora têm companhia.

Marcos teve a ideia de utilizar parte do pequeno espaço da borracharia do pai “para dividir o gosto pela literatura, servir a comunidade e fazer mais leitores”, como ele mesmo conta. (...)

Perguntado sobre a razão do sucesso da sua iniciativa, Marcos Damascena acredita que a Borrachalioteca deu tão certo por fugir do modelo das bibliotecas comuns, ambientes rígidos e silenciosos. “O ambiente daqui é muito mais familiar e livre do que o de uma biblioteca normal”.

Marcos cuida sozinho dos livros e os concilia ao trabalho com os pneus e ao curso de Letras na Faculdade de Sabará, no qual cursa o 3º período graças a uma bolsa conseguida por seu trabalho com a Borrachalioteca. Além da bolsa na faculdade, a Borrachalioteca também rendeu outros frutos a Marcos, como convites para palestras em universidades e empresas.

Enquanto conversava com Marcos para fazer esta matéria três pessoas foram à Borrachalioteca fazer empréstimos e outras duas vieram utilizar os serviços da borracharia. Os livros acabam por ser também uma ótima forma de propaganda para o negócio.

O único problema enfrentado nos últimos tempos vem sendo a falta de espaço. A situação é tão dramática que atualmente ele só aceita doações em casos excepcionais, enquanto busca uma solução para seu problema de espaço.(...) Marcelo Santiago, 19/9/2006

Em 2006, a biblioteca foi registrada como Instituto Cultural Aníbal Machado, em homenagem ao escritor sabarense de mesmo nome. Um ano depois, a iniciativa ganhou o Prêmio Viva Leitura, dos Ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC) e da Organização dos Estados Ibero americanos para Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Com o tempo, a Borrachalioteca se tornou Ponto de Cultura e ingressou no Polo Sou de Minas, Uai!, rede de bibliotecas comunitárias do Programa Prazer em Ler, do Instituto C&A. Com o aumento do acervo, a Borrachalioteca ganhou três novas unidades em outros locais: a nova biblioteca da Sala Son Salvador (olha o cartunista aí) , no bairro Cabral (2008); a Casa das Artes, no centro de Sabará, que abriga a Cordelteca Olegário Alfredo (2010) e o Espaço Libertação pela Leitura, no Presídio de Sabará (2010).

Borrachalioteca além de fornecer espaços de leitura, tem tentado estimular seu público a produzir e viver cultura também. Alguns exemplos disso são projetos como

Grupo Arautos da Poesia, em que jovens entre cinco e 17 anos, têm sido estimulados a navegar pelo mundo dos poemas, recitando e escrevendo.

"Projeto Pão e Poesia" (em parceria da Biblioteca Universitária), que distribui em padarias de Sabará, embalagens de papel impressas com poemas.

Hoje, segundo seu criador, a Borrachalioteca conta com 12.000 volumes exclusivamente de literatura. O público principal é composto de crianças e idosos. Para encerrar, um caso que ouvi no rádio. Perguntado sobre como fazia para ler quando ainda não tinha criado esse projeto, respondeu que ia sempre à Biblioteca Pública, onde retirava as obras que o interessavam. Um dia pegou um livro do Ferreira Gullar que, por coincidência, estava em Minas Gerais. Não teve dúvida – levou o livro da biblioteca para o poeta maranhense autografar.

- Como eu poderia devolver um livro autografado pelo Ferreira Gullar? Peguei um do Sidney Sheldon e devolvi. Naquela época podia fazer isso. Depois, mudaram o procedimento. Hoje, em caso de perda ou dano ao livro retirado da biblioteca, o leitor deve devolver um igual”. Figuraça!



domingo, 25 de novembro de 2018

BLACK FRIDAY - A VERDADE

- Pô, estou te chamando há duas horas!

- Quê?

- Tá surdo? Te chamei mil vezes e você não veio!

- Ah, estou cada vez mais parecido com liquidação da Black Friday.

- Qual é a idiotice desta vez?

- É que minha audição está 30% Off.

- Caraca!!!

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BLACK FRIDAY

Desde ontem meu punho e a mão direita estão doendo, de tanto ficar clicando o mouse. Creio que isso é um princípio de tendinite. Na verdade, o mouse é só o instrumento de tortura. A causa real é uma ansiedade que me faz ir e voltar dezenas de vezes por dia ao blog, às estatísticas do blog, aos comentários do blog, às postagens antigas do blog, às visualizações da porra do blog.

A ansiedade continuará, mas não quero que o mundo virtual detone meu mundo real, pois minha capacidade de suportar dor física é zero - e zero absoluto! Por isso, darei um tempo no velho Blogson, até que a dor do pulso passe (gostei do som). Isso terá uma vantagem adicional: a marca da minha bunda na espuma da almofada da cadeira sumirá aos poucos. See you later alligator!

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

PARA QUE SERVE A POESIA?


Em um trecho de “As Aventuras de Tom Sawyer”, Mark Twain, descreveu a "cena" hilariante da pintura de uma cerca da casa da tia do protagonista. No livro, Tom Sawyer troca o “direito” de pintá-la sozinho por frutas e quinquilharias recebidas dos amigos. Segundo li em algum lugar, esse caso baseou-se em um fato que realmente aconteceu com Mark Twain quando ainda garoto. Para mim, essa seria a prova de que muitos escritores – talvez todos – transportam para sua prosa ficcional lembranças e dados autobiográficos. Assim fizeram Fernando Sabino e Marcelo Rubens Paiva em seus romances de estreia “O Encontro Marcado” e “Feliz Ano Velho”, respectivamente.

Nas tramas dos poucos “contos” ou crônicas que tive a coragem de “cometer”, também utilizei lembranças minhas e de pessoas próximas sem nenhum problema, sem sentir nenhum desconforto, talvez por estar apenas contando uma história. Obviamente, obtendo resultados em níveis abissalmente inferiores aos alcançados pelos escritores mencionados.

Imagino que contos, crônicas ou romances – justamente pelo desenvolvimento necessariamente mais lento, por precisarem de roteiros, enredos, diálogos e cenários mais detalhados – permitem que seus autores tranquilamente utilizem como matéria prima sua vivência, suas experiências pessoais e até mesmo emoções passadas.

Essa conversa esquisita, mal escrita e aparentemente sem sentido tem a ver com os comentários surpreendentes e extremamente elogiosos que recebi por um "poema" publicado aqui no Blogson e – pasmem! – transcrito no blog “A Marreta do Azarão” (o “pasmem!” é só jogo de cena, porque ninguém além do “Marreta” segue este blog esquisito e mal-ajambrado). Fiquei tão surpreso quanto o Mick Jagger ao saber da morte do Jimi Hendrix. Perguntado sobre como estava se sentindo ao saber da notícia, respondeu: "I'm stoned!" Aí tinha marketing! (aqui também).

Graças a esses comentários (feitos duas pessoas distintas!), fiquei pensando por que escolho apresentar na forma de “poema” alguns assuntos que resolvem invadir meu cérebro – ainda que as “poesias” resultantes não passem às vezes de textos em prosa com frases quebradas artificialmente para parecerem versos (disfarce de poesia para tentar enganar um leitor mais inculto ou incauto), mesmo que não possuam nenhuma rima, métrica ou ritmo, ou ainda que sejam versos grosseiros, mal acabados, canhestros. Fiquei pensando na diferença entre prosa e poesia, ou entre ficção e poema, visualizei algumas imagens para tentar justificar essa eventual opção pela poesia, mas continuei sem ter uma explicação satisfatória para a escolha dessa ou daquela forma.

Com a dúvida instalada, corri ao dicionário para aprender o significado de poema e poesia. De acordo com o Aurélio, poesia é a “Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados”, enquanto um poema seria “Obra em verso ou não em que há poesia”. Confesso que não ajudou muito. Por isso, continuei a pesquisar na internet, encontrando uma penca de textos sobre o assunto, bem melhores do que este que está sendo agora escrito.

Fiquei sabendo, por exemplo, que a poesia é caracterizada “pela utilização de recursos para expressar a linguagem de forma especial e diferente do normal, e provoca diversos efeitos de sentido naqueles que recebem a mensagem”.

Melhorou um pouco, mas tive de perguntar de forma explícita: “Para que serve a poesia?” E o Google diligentemente ofereceu-me várias opções, das quais recolhi apenas estas duas, bem próximas do meu sentimento pessoal:

Poesia serve para rasgar a alma
Serve para se colocar para fora sentimentos incontidos
Serve para transferir para as letras algo do interior
(Letícia Andrea Pessoa)

Um poema não se faz só com palavras, faz-se com a vida, com as turbulências da vida e da alma. (www.tirodeletra.com.br).

E foi nesse sentido que eu enganchei minha explicação/ conclusão. Um texto em prosa é como um rio cujas águas vão deslizando pelos meandros e curvas suaves, tranquilamente, sem sobressaltos, serenamente. A poesia, ao contrário, lembra um rio turbulento, nervoso, com corredeiras, as águas agitadas despencando em cachoeiras e precipícios.

Em outras palavras, o texto em prosa lembra um arado que vai revolvendo a terra de forma metódica, enquanto a poesia lembra alguma coisa sendo arrancada da terra à mão, no muque. Serenidade versus explosão. Quando escolho escrever alguma coisa na forma de “poesia” (mesmo que seja prosa disfarçada em poema), é porque alguma coisa está explodindo dentro de mim.

Um texto em prosa é escrito de forma mais reflexiva, usando mais a imaginação que a emoção. Você não se despe emocionalmente para escrever um conto. A poesia, ao contrário, seria um espasmo da alma, uma catarse. Mas precisa de um disfarce para permitir que aflorem emoções profundas que não se mostrariam de outra forma. Por isso a utilização de uma “linguagem de forma (tão) especial e diferente do normal”.

Dependendo do estilo adotado ou da habilidade do autor, a poesia, o poema seriam instrumentos para arrancar com enxada ou cortar com bisturi as emoções mais escondidas, menos confessadas. E por ser assim, precisa se disfarçar um pouco, precisa aparentar não ser real, visceral. Talvez a melhor imagem para a poesia seja a de uma espada de samurai com suas formas elegantes. Pode ser pintada com cores alegres, disfarçada com arranjos de flores, talvez, mas continua afiada e letal como a espada de samurai que é.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

THE BOTTLES


TESTAMENTO

Esta casa agora é sua.
Seu também é tudo que nela existe:
Móveis, eletrodomésticos, discos, livros,
Revistas em quadrinhos, coleções.
DVDs, fitas VHS e retratos também são seus.

Meus arquivos no computador pode apagar, se achar melhor;
Minhas roupas e calçados, meus remédios,
Carro, saldo bancário, dívidas, carnês,
Contas para pagar, roupas de cama e mesa, ferramentas,
Utensílios de cozinha, quadros, plantas e vasos.

Telefones, celulares, tintas, pincéis, lápis e canetas,
Materiais de escritório, material de limpeza, alimentos,
Documentos, certidões, tudo o que for tangível, enfim, é seu.
Filha, irmãos e parentes também são seus.
A partir de agora, só seus. Nada mais me pertence.

Que mais você poderia desejar?
Não consigo te dar meus sonhos, minhas fraquezas.
Alegrias, lembranças, ódios, rancores, humor, farras,
Dores, decepções, conquistas, pensamentos, porres,
Crenças, certezas, conhecimentos, vivências, ignorância.

Medos, fantasias, amizades fugazes e inimizades eternas,
Esperanças e tudo o que está relacionado à Vida.
Não consigo te dar minha vida, infelizmente.
Mas, se quiser, posso te dar minha libertação. Apenas avise-me
Com três dias de antecedência.



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

BAOBÁS

Seis mil anos! Quando essas árvores nasceram a humanidade estava engatinhando no processo civilizatório. As imagens dos baobás são tão impactantes que resolvi guardá-las nesta blogoteca que é o Blogson. Talvez um pouco de humildade e silenciosa contemplação nos façam bem...




INJEÇÃO - 2DE1

Ontem ouvindo o “Pânico” no rádio no carro escutei uma música bem legal de uma dupla absurdamente desconhecida para mim (é, às vezes eu ovo Pânico). O refrão era meio chiclete e bastante adequado para meu estado atual de espírito. Aí foi só juntar fósforo aceso com gasolina, ou melhor, falta de assunto com música e divulgar no blog. O refrão é este:

Tem gente que prefere o remédio. Eu prefiro injeção. A dor é melhor que o azedo da desilusão”.


terça-feira, 13 de novembro de 2018

ARQUEOLOGIA OU HQUEOLOGIA

Estou com uma preguiça do caralho de escrever muito, mas o velho e bom Stan Lee merece. Lá pelos idos de 1973, meu irmão começou a comprar revistinhas em quadrinhos. Eram realmente “revistinhas”, por serem menores que as HQ da minha infância. Comprava várias por semana, cada uma dedicada a um super-herói Marvel – Capitão América, Hulk, Homem Aranha, Demolidor, Homem de Ferro, Namor, Thor, Quarteto Fantástico e uma de artes marciais de que não recordo o nome. Personagens desconhecidos criados por um desconhecido Stan Lee. Claro, apenas para mim. Mas eram muito boas, cada herói com seus vilões particulares.

Um belo dia meu irmão se casou, foi transferido para São Paulo e levou consigo a coleção de revistinhas (era uma coleção). Levou também um ou dois exemplares de “Dr. Macarra”, uma revista antigaça (mas antiga mesmo!) lançada pelo Carlos Estevão, um desenhista fabuloso.

Não sei nem vem ao caso quanto tempo ficou por lá. Talvez uns dois anos, por aí. A obra acabou e ele voltou para BH de mala e cuia, ou melhor, com malas e móveis. Dentre os móveis, uma cama de solteiro com gavetas, onde ficava guardada a coleção de HQ. Só se lembrou das revistas meses depois, apenas para descobrir que tinha dançado em todas, pois não sobrou nenhuma. Reclamar com a transportadora? Meses depois? Então tá...

Lamentei profundamente a perda, pois já era especialista em super-heróis Marvel. Sabia até o nome de um dos ilustradores feras (Joe Romita) que tinham desenhado algumas histórias. Mas vamos aos finalmentes.

Tenho guardado aqui em casa um “Almanaque do Globo Juvenil 1959”, que ganhei quando tinha nove aninhos (que meigo!). Como em todo almanaque de fim de ano que era publicado, as histórias são bem fraquinhas, mesmo que os personagens sejam top. Um dia, relendo aquelas velharias, tomei o maior susto (força de expressão, para ser sincero): uma das histórias - das mais toscas e infantis - estava creditada a ninguém menos que Stan Lee! Não sei se ele apenas roteirizou ou se também a desenhou. Aliás, nunca mais saberei, pois a parte do almanaque onde ficava essa história sumiu misteriosamente.

Talvez seja melhor assim, para manter íntegra a aura de fodão do velho e bom Stan (pois a historinha era uma bosta!). Mas, se algum arhqueólogo quiser desenterrar essa informação, a ajuda máxima que posso dar é mostrar a capa do tal almanaque. Olhaí.




domingo, 11 de novembro de 2018

NÃO VOU ME ADAPTAR - TITÃS

"Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, eu não encho mais a casa de alegria. Os anos se passaram enquanto eu dormia e quem eu queria bem me esquecia. Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar!"




CURTAS COMO SAIA DE PERIGUETE

CLICHÊ
Tem gente que gosta de dizer que “O que somos hoje é o resultado da soma das nossas escolhas".
Bacana, não? Até que funciona – se olharmos para trás. Mas resolvi sugerir uma versão mais ácida, mais desencantada desse clichê:
O que somos hoje é o resultado da subtração dos nossos sonhos irrealizados.


PELO AVESSO
Depois de tomar banho, sempre visto uma camiseta de algodão, dessas de ficar em casa, aposentadas depois de algum tempo de uso. Antes de me deitar tiro essa blusa, pois gosto mesmo é de dormir naked, sem roupa, peladão. Ultimamente, por conta de um recato tardio provocado pela alteração das formas originais do corpo (aumento de volume aqui, diminuição ali, etc.), tenho dormido de cueca. Pois é...

O fato é que no dia seguinte, ao acordar, ainda meio sonado, visto novamente a camisa (calça também!) e saio para ir à padaria. O problema é já sido avisado algumas vezes por funcionários ou clientes que estou com a t-shirt pelo avesso. Por estar em ambiente público, fico meio sem graça de me despir para corrigir a vacilada.

Mas hoje consegui a solução definitiva para a distração: pensei em uma camisa com as costuras expostas e com uma estampa ou frase no lado avesso. Aliás, a ideia não é minha, pois já vi roupas assim. Só a frase estampada é que seria da “lavra” de Jotabê:

AVESSO ÀS CONVENÇÕES SOCIAIS.


SONHOS DE UM ESCREVINHADOR

Este texto fazia parte de um post mais antigo, mas, depois de relido, achei que deveria ter vida própria.


Um de seus sonhos mais caros que acalentava era o de ser um escritor. Não um escritor qualquer. O que queria mesmo, o que sonhava era ser um bom, um grande escritor. Por isso, escrevia sempre, escrevia muito. Mas não dominava os fundamentos teóricos da língua. Por isso mesmo, agredia a concordância e a regência, atropelava a gramática e todas as demais regras e normas necessárias a uma linguagem culta, conhecimentos que se exigiriam de um escritor de verdade, sabedor do seu ofício.

Mostrava seus textos capengas, inexpressivos e sem inspiração, suas frases desconexas e mal formuladas, seus assuntos banais e vulgares
 a qualquer um que conseguisse encurralar, sempre esperando receber elogios e cumprimentos. Nunca publicou nada e o máximo que conseguia era ser discretamente ignorado e evitado pelos conhecidos e parentes, que se esquivavam de ficar sozinhos com ele em festas caseiras e eventos familiares.

A mudança só aconteceu quando - finalmente! - deu-se conta de que não era o escritor que imaginava e queria ser. Demorou, mas um dia percebeu que era apenas um escrevinhador medíocre, um vândalo da palavra escrita. A partir daí, primeiro ressabiadamente, meio constrangido, começou a abusar de clichês. Depois, desassombrada e desafiadoramente, passou a inventar palavras, a criar neologismos que nem ele sabia para que serviriam. 

Começou também a fazer experiências bizarras utilizando o Google Tradutor. Para isso, pegava um texto de sua autoria e traduzia para uma língua qualquer. Repetia a operação para uma nova língua, usando texto já traduzido. E assim, fazia até voltar ao português, depois de duas, três ou mais traduções sucessivas. O resultado assim obtido era um amontoado de frases sem sentido e quase sem nenhuma relação com o texto original, fato que o divertia muito.

Sempre vandalizando a língua, a estética e a lucidez, passou a abusar de cores, fontes e tamanhos variados, despreocupado com a ordem lógica, como se o texto original fosse apenas um jogo de montar, um brinquedo de encaixe, como se quisesse criar uma nova linguagem ou forma de expressão - que só para ele teria sentido e valor. Os textos assim obtidos passaram a ser apenas imagens, grafismos, sem necessidade de revisão.

Acreditava estar criando uma nova forma de arte, quando era apenas vandalismo contra o idioma, contra as palavras e frases. Longe de ser arte, era só artesania, artesanato, arteirice, artifício para esconder sua permanente falta de criatividade e valor literário. Inconsciente disso, seguiu vandalizando a língua, para ver até onde seu delírio poderia chegar.

sábado, 10 de novembro de 2018

RUDENESS' PRIDE?


Lá pela década de 1980, em uma das empresas onde trabalhei, fui colega de um senhor idoso, afável e muito simpático, tratado por todos como “Major”, sua última patente militar antes de ser reformado. Puxa-saco juramentado que sou, chamava-o de “Coronel”, patente adquirida automaticamente após a reforma.

Apesar da afabilidade e modos corteses, mantinha sobre sua mesa - a guisa de peso de papeis – um protótipo de sua autoria (segundo ele!) de uma granada de mão – na prática, um cilindro de ferro oxidado de uns doze centímetros de altura e sete de diâmetro, oco por dentro, todo ranhurado externamente e com tampa de rosca e pesado pra caramba. Buona gente, já se viu. Era da Arma de Cavalaria.

Segundo esse senhor, os militares da Cavalaria são normalmente mais abrutalhados, toscos e sem noção que os das outras Armas. Contou-me sobre um de patente mais graduada, que levantava a perna, peidava alto e dizia “Cavalaria!”.  Ao arrotar, fazia o mesmo. Devia ser a autêntica expressão do “Rudeness’ Pride”, do orgulho da própria grossura (ou rudeza). Segundo meu colega, uma característica comum naquela Arma.

Mas entrei nessa só para falar do orgulho que algumas pessoas aparentam ter da própria ignorância, pouco verniz civilizatório, falta de educação, ou como queiram chamar isso, porque o assunto de hoje é café, café gourmet.

Ganhamos de uma cunhada fodona e super conceituada três convites para um “Seminário Internacional do Café” que aconteceu em BH. Como sou viciado em café, lá fomos nós – eu, minha mulher e o filho mais novo. Antes, preciso de um parêntese: graças a duas noras e dois filhos metidos a entendedores de café, o produto que consumimos hoje em casa é “100% arábica” “torra média” e moído na hora, graças a um moedorzinho que minha mulher comprou pela internet. Uma das noras só bebe o café se tiver sido coado a não mais que quinze minutos. Apesar dessa frescura toda, o café fica bom mesmo. O problema é que os meninos ingerem uma bebida amarga (para mim, pelo menos), pois bebem aquela coisa sem açúcar nenhum. Fecha-se o parêntese.

Na Expominas, lugar onde aconteceu o seminário, encontravam-se dezenas de estandes de produtores, cada um – ou quase todos – oferecendo seu produto para degustação. E eu lá, encarando cada copinho que me estendiam. Mas tudo sem açúcar! Um dos expositores teve a coragem de vir com aquele papo de “acidez”, “sabor frutado” “complexo e encorpado”, como se estivesse falando de vinho francês.

Até tive vontade de comparar seu cafezinho com o famoso “Kopi Luwak”, o café cagado (produzido na Indonésia com grãos de café retirados das fezes de um bichinho chamado civeta e preço de mil dólares o quilo), mas estava com minha mulher ao lado e me segurei. Principalmente porque usaria a delicada expressão “café cagado”. Como eu queria dormir na minha cama, tive de me conter.

E aí é que eu queria chegar. Comecei a me sentir um bronco no meio daqueles "cafetões" (pessoas que vivem às custas do café, entendeu?), a sentir orgulho da minha própria ignorância "cafeeira" (talvez pudesse até dizer "cafe-feira"). Em que lugar da história ficaram os bebedores de café adoçado?

Até comentei com um ou dois expositores que estava me sentindo um muçulmano entre cristãos, pois o café que eu bebo diariamente leva açúcar (ou adoçante). Pude notar a expressão de horror em um deles, fazendo-me temer ser escorraçado da feira como herege e até a tomar um banho de água benta (fácil de acontecer, pois bastaria abençoar a chuva que caía sem parar). Para suavizar, contei a receita de café ensinada por meu falecido amigo Pintão.

Segundo ele, em um daqueles cafés do Rio de Janeiro do final do século XIX ou início do século XX, lia-se pintada na parede azulejada a seguinte frase, atribuída a um Barão de sei lá o quê, do tempo do império: "O café deve ser negro como a noite, quente como o inferno e doce como o amor". Nem esse lirismo todo abalou a rígida convicção  do cafetão.

A única coisa de positivo foi perceber que ao contar essas histórias eu estava exibindo um orgulho de gente inculta, incivilizada, o tal “Rudeness’ Pride”. Mesmo assim, fiquei irritado com essa frescura de café gourmet. Onde já se viu tomar café não adoçado? Meio contrariado, contabilizei mais esse fato na lista de comportamentos politicamente corretos que provocam em mim o desejo de mudar para outro planeta. A sorte é que ainda dá para rir um pouco desse tipo de coisa.

Hoje, ao contar para um conhecido a história do “muçulmano entre cristãos”, ele perguntou:
- Muçulmano não gosta de açúcar?
Não deu outra: fiquei feliz por constatar que a ignorância é um produto que nunca se extinguirá. Como diria um dos 2,3 leitores deste blog:
-Eita porra!

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

TIDU


- CHEGOU A HORA DE APAGAR O VELHINHO, VAMOS CANTAR...

- (Puta, que saco, meu!)

- ...AQUELA MUSIQUINHA, PARABÉNS, PARABÉNS...

- (Essa música é horrível!)

- ... PELO SEU ANIVERSÁRIO!!!    AÊÊÊÊ!!!!!...

- Tirando a música podre, obrigado pelo carinho!

- E aí, Ti Du, tá soprando quantos velhinhos hoje?

- Você não entende nada de velhinhos! NINGUÉM sopra velhinhos!

- Ferra ele, Tio!

- Quando é o caso, já se mete o cabra em uma UTI e procede-se à ventilação mecânica. Essa ventilação mecânica substitui a aspiração, "empurrando" o ar para dentro dos pulmões
.
- Puta merda, não tem nada mais gostoso que bolo de aniversário com aula de SAMU!

- Eu descobri isso no Google, pô! Sei lá, vai que...

- Que nada, Tio, você está bem demais! Mas não contou quantas velhinhas está soprando hoje...

- 69. E dispenso piadinhas com esse número, falou?

- Meia nove! Potaquipareu, é muita velhinha!

- Velinhas! Além do mais, nesta altura do campeonato, eu até que gostaria mesmo de soprar umas velhinhas. Talvez assim eu pudesse ver pelo menos uma delas apertando os olhinhos....

- Olha aí o Tio Du fazendo piada!

- ÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!!!...


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

BELORIZONTICES - TAVITO


Às vezes o Facebook serve para alguma coisa. Hoje, por exemplo, serviu. Um “amigo” desconhecido (porque nunca nos falamos ao vivo e a cores) postou o texto abaixo, escrito pelo músico e compositor mineiro Tavito (aquele do “sem querer fui me lembrar de uma rua e seus ramalhetes”), que fez parte da banda Som Imaginário, etc., etc. Achei muito legal e resolvi compartilhá-lo com os 2,3 leitores desta bagaça. Olhaí.

É uma sensação estranha nesse inacreditável ano da graça de 2018 três pontinhos, que é como eu o vejo e sinto; com a tensão do por acontecer, mas com a leveza da esperança conquistada sobre o já acontecido. Meio enrolado, mas verdadeiro. Nesses tempos de inimizades pesadas, Facebook pra cá, Twitter pra lá, Linkedin pracolá, cheguei à conclusão de que não posso, não devo e não quero prescindir da companhia direta e emocional de meus amigos, ainda que seja para exercícios de filosofia barata e brejeira, essa de porta de padaria, que transita na minha cabeça com tanta naturalidade.

Quero ter o direito de acreditar numa realidade um pouquinho melhor do que esta que aí está, a corriqueira verdade que vareja entre os Jaíres e os Inácios, os perdidos da FEBEM e os cidadãos de bem, a galera de Heliópolis e os abonados de Higienópolis.

Pretendo (e vou) tomar uma atitude ainda neste ano “três pontinhos” - vou passar quinze dias inteiros na minha Berzonte, Min'geraiss, não só porque devo, mas porque quero; aliás e principalmente, porque preciso. Quero polir meus contatos, que, por falta de manutenção estão dando um rame danado - deve ser o suor da insanidade. Quero beijar minha irmã e meus sobrinhos. Quero beijar meu pai, minha mãe e meu irmão mais velho, estes que infelizmente já se retiraram do mundo vigente, mas que continuam firmes pensando e falando lá nos ouvidos do coração.

Quero ver meus amigos irmãos de vida, muitos já-idos – além de dezenas e centenas de outros muitos personagens de minhas histórias, que conto, reconto e nunca confiro o prazo de validade dos protagonistas. Quero ir naquele primeiro quarteirão da Rua Ramalhete (que é o que vale pra nós), sentar o bundão no meio fio e ficar - só ficar - pelo menos meia hora. Quero ir a pé, como fazia antes, sem me esquecer de parar no botequim do Orélio pra comer uma paçoquinha de amendoim com Coca-Cola e sonhar agora os sonhos que tive um dia, apenas pra devolver-lhes as cores desbotadas pelo tempo. Quero sentir aquele sarro inocente em que se esfregava o pinto distraído por sobre os panos que se interpunham, recatados, entre nós e a maciez da pele das moças.

E quero sentar no antigo Chez Bastião, falar com Mestre Marteleto e seu olhar sorridente por trás dos óculos de tartaruga, ouvir as bravatas do Tuíca-proprietário, uma verdadeira metralhadora de decibéis, enquanto toco em meu violão as musiquinhas do velho Pacífico Mascarenhas, ou ainda alguma do velhíssimo Conjunto Farroupilha, ou ainda praticar uma gracinha daquele tipo em que as mulheres cantam "Eu sem você sou só desamor, um barco sem mar, um campo sem flor..." e os homens "Aaaaah, que saudade! Que vontade de ver renascer nossa vida...". Vai ser legal, sobretudo pra tentar salvar o que resta de meu 2018 três pontinhos.

E quero ver a mim mesmo, sem espelho. Não para derrubar muros de freira, nem jogar ovo nos outros, tampouco para sair peidando pelas ruas com aquele decavê azul roubado do pai. Vamos apenas juntar as moças e os moços e fazer uma festa mansa e preguiçosa pra comemorar o sonho, o tempo e a inevitável distância – que, como já disse o poeta, quando se encontram dão a fruta mais gostosa. E, em coro com minhas incertezas, pedir a Deus que continue nos dando o amor como padrão e o sonho como referência.


terça-feira, 6 de novembro de 2018

PENSAMENTOS DE MARX (DO GROUCHO, NÃO DO KARL)

A filosofia é a ciência que nos ensina a ser infelizes da maneira mais inteligente.

A política é a arte de procurar problemas, encontrá-los em todos os lados, diagnosticá-los incorretamente e aplicar as piores soluções.

A sinceridade e a honestidade são as chaves do sucesso. Se puderes falsificá-las, estás garantido.

Acho a televisão muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho vou para outra sala e leio um livro.

Algumas pessoas afirmam que o casamento interfere no romance. Não há dúvidas sobre isso. Sempre que você tem um romance, sua esposa é obrigada a interferir.

Antes que eu discurse, tenho algo importante para dizer.

Apenas um homem em mil é um líder de homens - os outros 999 seguem mulheres.

Aprenda com os erros dos outros. Você nunca pode viver o suficiente para fazer tudo sozinho.

As noivas modernas preferem conservar os buquês e jogar seus maridos fora.

Atrás de todo homem bem-sucedido, existe uma mulher. E, atrás desta, existe a mulher dele.

Bem-aventurados os quebrados, porque deixarão entrar a luz.

Certa manhã, atirei em um elefante de pijama. Como ele entrou no meu pijama eu nunca vou saber.

Do momento em que peguei seu livro até o que larguei, eu não consegui parar de rir. Um dia, eu pretendo lê-lo.

Ela conseguiu sua aparência de seu pai. Ele é cirurgião plástico.

Ele pode parecer um idiota e falar como um idiota, mas não deixe que isso te engane. Ele realmente é um idiota.

Embora o dinheiro não possa comprar felicidade, certamente permite que você escolha sua própria forma de miséria.

Esses são meus princípios, e se você não gosta deles ... bem, eu tenho outros.

Eu - e não os acontecimentos - tenho o poder de me fazer sentir feliz ou infeliz hoje. Eu posso escolher como é que quero estar. O ontem está morto, o amanhã ainda não chegou. Eu tenho apenas este dia, o de hoje, e vou ser feliz enquanto este decorrer.

Eu bebo para tornar as outras pessoas interessantes.

Eu corri atrás de uma garota por dois anos apenas para descobrir que os seus gostos eram exatamente como os meus: Nós dois éramos loucos por garotas.

Eu fui casado por um juiz. Eu deveria ter pedido por um júri.

Eu me lembro da primeira vez que fiz sexo. Guardei até o recibo.

Eu não posso dizer que não discordo de você.

Eu não sei o que você tem a dizer; não faz diferença mesmo; seja o que for, eu sou contra!

Eu não sou louco pela realidade, mas ainda é o único lugar para conseguir uma refeição decente.

Eu não sou vegetariano, mas como animais que são.

Eu não tenho nada além de respeito por você - e não muito disso.

Eu nunca esqueço um rosto, mas, no seu caso, vou abrir uma exceção.

Eu pretendo viver para sempre, ou morrer tentando.

Eu quero ser cremado. Um décimo das minhas cinzas deve ser dado ao meu agente, assim como está escrito em nosso contrato.

Ficar mais velho não é problema. Tens apenas que viver o tempo suficiente.

Há muitas coisas na vida mais importantes que o dinheiro, mas custam tanto...

Inteligência Militar é uma contradição em termos.

Não entro para clubes que me aceitam como sócio.

Nenhum homem desaparece antes do seu tempo - a não ser que o seu chefe saia primeiro.

Nós temos que ter uma guerra. Eu já paguei um mês de aluguel no campo de batalha

O homem não controla o seu próprio destino. A mulher da sua vida fá-lo por ele.

O humor é a razão a enlouquecer.

O matrimônio é a principal causa do divórcio.

O matrimônio é uma grande instituição. Naturalmente, se você gostar de viver em uma instituição.

Por que eu deveria me importar com a posteridade? Ela nunca fez nada por mim.

Qualquer um que diz que consegue ver através das mulheres está perdendo muito.

Se acredito na vida após a morte? Não sei nem se acredito na vida antes da morte! Acho que acredito na morte durante a vida.

Se já ouviste esta história antes, não me interrompas, porque eu gostaria de ouvi-la outra vez.

Se um gato preto cruza seu caminho, isso significa que o animal está indo para algum lugar.

Se você não está se divertindo, está fazendo algo errado.

Só há uma forma de saber se um homem é honesto... pergunte-o. Se ele disser 'sim', então você sabe que ele é corrupto.

Só me dê um sofá confortável, um cachorro, um bom livro e uma mulher. Então, se você conseguir que o cachorro vá a algum lugar e leia o livro, eu posso me divertir um pouco.

Uma cama de hospital é um taxi estacionado com o taxímetro a correr.


sábado, 3 de novembro de 2018

NOSTRADAMUS - EDUARDO DUSEK


Sabe, meu caro Dusek, sou seu fã desde o dia em que entre encantado e divertido assisti na TV sua interpretação de “Nostradamus”. Rolava um festival de MPB (talvez um dos últimos realizados) e lembro-me de vê-lo chegar trajando um paletó de fraque e bermuda (o que, na época, pensei que fosse). Você trazia preso a um barbante um balão cheio de gás, solto antes de sentar-se ao piano. E aquela música incrível, genial, cantada com uma voz meio anasalada, meio empostada. Foi realmente uma apresentação inesquecível.

Mas sua música possui um “defeito” grave (talvez fosse melhor dizer “suas músicas”): ela tem ironia, sarcasmo e humor, coisa que a maioria do povo brasileiro não entende nem assimila bem, acostumado que está às músicas de “sofrência” (dureza, meu irmão!), de corno, breganejas, pagodinhos, etc., etc. Em outras palavras, “a massa” não tem paladar para apreciar e comer seu “biscoito fino”, contradizendo a profecia/desejo de Oswald de Andrade.

Você, “infelizmente”, pertence a uma categoria seletíssima de compositores que sempre abusaram da ironia e humor em suas letras e músicas, por isso mesmo causando estranhamento e retorno financeiro menor que gente muito ruim consegue e sempre conseguiu. Você, melhor que eu, sabe identificar esse pessoal.

Bem, já falei demais, mas, depois de ler seu texto, não pude resistir à tentação de externar a admiração que sempre tive por você. Em outras palavras, você é foda! (mas as imagens do seu clipe oficial lembram muito as aberturas antigas do “Fantástico” – e isto não é um elogio).



CIRANDA

Ontem, enquanto tomava banho, veio à mente o pensamento "Como é fácil sentir-se triste na velhice!", pois estava meio triste, meio putão, "de bode", como na música "Nostradamus", do Eduardo Dusek. Aí fiquei mastigando a frase enquanto a água escorria sobre minha cabeça. Comecei a alterar a ordem e a trocar palavras como se quisesse lavar o sentido, para ver se saía alguma coisa melhor. A prova de que não saiu está aí abaixo.


Cada dado é uma palavra, cada palavra é um dado” (Sérgio Ricardo)

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4