quarta-feira, 4 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 14/20


Antes que alguém me acuse de covardia, eu, sempre que me encontro em situações difíceis, começo logo a demonstrar minha coragem na forma de gotas de suor gelado na testa.

A beleza não é tudo, mas fica faltando apenas uns dez por cento.

O homem está definitivamente velho quando aponta para o próprio sexo e diz: “Isto é um símbolo fálico”.

A gente tem que dar o exemplo, mas não tem que segui-lo.

Puritano é um sujeito que, às escondidas, não bebe.

Através da vida o homem deve manter uma absoluta incoerência.

E como dizia o bom cardiologista: “O coração tem reações que a razão desconhece”.

Neurótico é o sujeito cego de um olho que pensa que é do outro.

E afinal chega o dia em que o cara se sente tão velho quanto é.

Nunca tantos empresários marotos deveram tanto a tão poucos institutos.

Nas escolas primárias o que eu mais gostava eram os substantivos promíscuos e as frações ordinárias.

Só tenho para vos oferecer uísque, lazer e participação em negociatas.

A liberdade termina onde começa a escravidão alheia.

Nascer estadista em país subdesenvolvido é como nascer com um tremendo talento de violinista numa tribo que só conhece a percussão.

Elogio fúnebre é a defesa de um réu que acabou de cumprir prisão perpétua.

Quando a classe média inventou a poltrona terminou a aventura humana.

Tinha uma dessas caras fadadas a ampliar a solenidade dos enterros.

Os povos felizes não têm história e os homens felizes não deixam fama.

Certos escritores pretendem ser eternos e são apenas infindáveis.

É preciso deixar claro que quando digo “No meu tempo...” não estou sendo passadista, como tantos. Quando eu digo “No meu tempo”, estou pensando em daqui a dez anos.

Também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto.

Com quantos lugares comuns se faz uma originalidade?

Para fazer uma frase de dez palavras gasto em geral três mil e cem.

A dúvida metafísica jamais vai ganhar da certeza idiota.

A hipocrisia é uma homenagem que o capitalismo presta ao socialismo. E vice-versa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4