MILLÔR NA VEJA - 13/20

O caixa de banco, este sim, pode dizer com sinceridade: “O dinheiro não traz felicidade”.

Chama-se Bodas de Prata uma comemoração em que ambos os cônjuges pensam: “Bom, agora falta pouco”.

Eu não vim ao mundo para a medíocre tarefa de corrigir as pessoas quando estão erradas. Me reservo o privilégio de corrigir as pessoas quando elas estão certas.

Sinto a sensação cada vez mais desagradável de ser feliz num mundo em que isso está completamente fora de moda.

A nobreza de uma ideia não tem nada a ver com o canalha que a exprime.

Vocês não sabem como é divertido o absoluto ceticismo. Pode-se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca de roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada.

Pontualidade é – com ar de grande superioridade moral – ficar esperando pelo atraso do outro.

Não fies nem um tostão a quem mete os olhos no chão.

Quem só aceita não escolhe.

A sujeira da nação não a lava todo o sabão.

Uma pequena ave que deglute corpos duros e sólidos da natureza das rochas conhece bem a capacidade da abertura externa de seu reto.

Toda mulher tem direito a vinte anos de hesitações.

Na escuridão da Arca é que começaram a nascer os híbridos.

A verdade é que ninguém se sente mais muito bem quando está imensamente feliz.

A paciência? Ali, na primeira porta. Mas bate devagar, se não ela fica furiosa.

Bem, eu sabia que todos os homens tinham um preço. Meu erro foi achar que o preço era tabelado.

Os Dez Mandamentos nunca impediram nada. Mas deram cada ideia!

A democracia sempre existiu. E de maneira perfeita, em determinados momentos da História. Por exemplo: quando há guerras os pobres são chamados a defender sua terra.

Casal, casal, rima bem e rima mal.

Não poupe o vinho do padre nem a mulher do compadre.

Algumas mulheres deixam que aconteça. Outras acontece que deixam.

Um amigo insiste para que eu colabore com o governo. Pensando bem: por que amigo?

Em certas reuniões mundanas, banqueiros, políticos e industriais e financistas ficam me olhando com um ar de superioridade absurda, como se eu não fosse corrupto.

No Brasil se come tão mal que, em certas regiões, carne de sol e farinha d’água já são consideradas comida macrobiótica.

Pensar – eis um verbo reflexivo.