segunda-feira, 30 de outubro de 2017

RHAPSODY IN BLUE - GEORGE GERSHWIN

Achei que já tinha contado essa história no Blogson, mas parece que me enganei. Por isso, vamos lá: nunca tive sofisticação intelectual suficiente para gostar de música erudita (ou “clássica”, como eu dizia antes). Por isso, tirando umas obras mais manjadas, daquelas tocadas em casamentos e assemelhados, nunca me interessei por isso. Ou melhor, até pensei em ouvir, mas sabia que seria uma tarefa árdua demais para o tempo de lazer de que dispunha.

No fim da década de 1970, ainda praticamente recém-casado, lembro-me que a Globo transmitia nas manhãs de sábado um programa dedicado à divulgação da música erudita, com o nome de “Concertos para a Juventude”.  Sempre passei batido, até que um dia, não sei mais por qual motivo, ouvi um som magnífico enquanto girava o seletor de canais. Voltei o seletor e fiquei ouvindo e vendo uma orquestra em que o maestro, sentado ao piano, ora regia, ora “esmerilava” o teclado. E fiquei ouvindo aquele som bonito e diferente, até que, em determinado momento, a orquestra toca uma melodia lindíssima que parecia não se encaixar no restante da música. Fiquei fascinado e ligadíssimo para saber que música divina era aquela.

Para resumir, era “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin, interpretado por uma orquestra regida pelo pianista-maestro Leonard Bernstein. Depois disso, procurei e achei um vinil com essa música, interpretada justamente pelo maestro-pianista. Não tive dúvida, comprei na hora. O que posso dizer é que já ouvi essa música algumas dezenas de vezes (mas nunca consigo reproduzi-la na mente).

Recentemente descobri que a tal apresentação da série “Concertos para a Juventude” está no Youtube. Por isso, resolvi compartilhar com meus dois leitores esse som incrível (fica aqui a dica: a melodia lindíssima começa aos dez minutos e quarenta segundos do vídeo). Para dar um pouco mais de diversão, escaneei a contracapa do vinil, onde é contada a história de como essa obra surgiu. É o texto apresentado a seguir. Infelizmente, não sei o autor, mas é muito legal. Olhaí: 


“Whiteman Judges Named" (Nomeados os Juízes do Whiteman), dizia uma pequena nota na página de diversões da Tribune de Nova York de 4 de janeiro de1924. "O Comitê decidirá O que é Música Americana", dizia o subtítulo. A matéria começava: "Entre os membros do comitê de juízes que estarão no What Is American Music? do concerto de Paul Whiteman a ser realizado no Aeolian Hall, terça feira à tarde, 12 de fevereiro, estarão Sergei Rachmaninoff, Jascha Heifetz, Efrem Zimbalist e Alma Gluck... Essa questão do que é precisamente música americana.tem suscitado enorme interesse nos círculos musicais e Mr. Whiteman está recebendo toda espécie de manuscritos, de blues a sinfonias. George Gershwin está trabalhando em um concerto de jazz...”
A nota foi lida para George Gershwin por seu irmão Ira. O compositor estava nos retoques finais do preparo da partitura para o musical da Broadway Sweet Little Devil para seu lançamento em Boston. Ele se lembrou de ter conversado com Paul Whiteman sobre um proposto, eventual concerto de jazz para o qual ele produziria uma peça longa, uma composição séria utilizando fórmulas e ritmos do jazz. Agora, porém, a data de concerto estava subitamente apenas cinco semanas adiante.
Antes de partir para Boston e tratar de Sweet Little Devil, Gershwin procurou Paul Whiteman e este lhe fez ver que produzindo apenas uma peça para piano ele poderia atender em tempo à encomenda. Pois Whiteman tinha à mão, como seu arranjador, o maior profissional nesse campo, Ferde Grofé.
No trem para Boston, com uns poucos temas fixados em sua mente para, possível uso, Gershwin se pôs a organizar a peça. "Foi no trem", disse ele mais tarde, "com seus ritmos de aço, sua orquestra barulhenta... (frequentemente ouço música no próprio coração do ruído) que de repente ouvi – até vi no papel – toda a construção da Rapsódia, do começo ao fim. Não me vieram novos temas, mas trabalhei no material temático que já estava 'na minha mente e tentei conceber a composição como um todo... Quando cheguei a Boston, tinha o plano definido da peça, definido em sua real substância".
A real substância foi reunida e arrumada na sala de trabalho do apartamento de Gershwin em Nova York, na Rua 110,quando ele voltou de Boston. Foi esboçada para dois pianos, deixando grandes espaços vazios para quando o piano solista devesse atuar sem acompanhamento. Grofé estava aí mesmo, pegando o manuscrito à medida que ia sendo completado, uma seção cada vez, e rapidamente fazia a orquestração.
Gershwin fez algumas indicações da instrumentação que tinha em mente, mas não indicava os instrumentos o músico ou músicos de Whiteman para esta ou aquela passagem!
O clarinetista Ross Gorman podia tocar um fabuloso glissando onde outros não poderiam, e as notas iniciais foram concebidas tendo em mente suas especiais habilidades. Embora a obra tenha sido descrita como "para jazz band e piano", a banda de Whiteman era, mais, uma grande orquestra de dança formada de elementos que possuíam fundamentos de jazz e não raro tinham pela frente carreiras de sucesso como músicos de jazz individualmente.
O título final foi dado por Ira. Na tarde do concerto George ainda não tinha acrescentado a parte completa do piano mas, apesar disso, tocou com perfeita calma diante das páginas ainda em branco.
Rapsódia veio depois do último dos vinte e três números do programa. Como Whiteman não tinha a partitura completa, devia esperar que Gershwin lhe desse a deixa para trazer de volta a orquestra depois das passagens de solo. Contudo, tudo saiu bem e animou o público, que começara achando que este concerto experimental teria apenas interesse educativo.
"O concerto", escreveu Carl van Vechten a Gershwin dois dias depois, "em verdade foi o que se poderia dizer um extravagante tumulto; você o coroou com o que sou forçado a considerar como o mais importante esforço sério de um compositor americano. Vá em frente e você deixará toda a Europa atônita."






MÃO DUPLA


sábado, 28 de outubro de 2017

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Durante a primeira vida do Blogson, imaginei escrever um texto sobre o impacto do Medo em minha vida. Até cheguei a pensar no nome - “Sob o Domínio do Medo” -, que seria uma descarada cópia do título que deram no Brasil a um excelente filme estrelado pelo Dustin Hoffman. Como resolvi matar o blog, descartei esse e outros temas que já tinha começado a rascunhar.

Depois que o velho blog da solidão ampliada ressuscitou,  perdi definitivamente o desejo de escrever sobre isso, apesar de minha vida ter sido integralmente pautada, balizada e  controlada pelo Medo, ou melhor, pelos mais diferentes tipos de medo.

Ainda bem que desisti de escrever sobre esse tema, pois descobri hoje um poema do Drummond que iluminaria a indigência do meu texto e o ridículo da minha tentativa de viajar pelos domínios dos meus próprios medos. Olhaí que beleza:


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

VELAS IÇADAS - IVAN LINS & VITOR MARTINS



Seu coração é um barco de velas içadas
Longe dos mares, do tempo, das loucas marés
Seu coração é um barco de velas içadas
Sem nevoeiros, tormentas, sequer um revés

Seu coração é um barco jamais navegado
Nunca mostrou-se por dentro, abrindo os porões
Seu coração é um barco que vive ancorado
Nunca arriscou-se ao vento, às grandes paixões

Nunca soltou as amarras
Nunca ficou à deriva
Nunca sofreu um naufrágio
Nunca cruzou com piratas e aventureiros
Nunca cumpriu o destino das embarcações


Esta é uma música linda com uma letra igualmente linda. Mas, constrange-me dizer que sempre acreditei que a letra dizia “Meu coração”, o que dava um sentido totalmente distinto àquele imaginado pelo inspiradíssimo Vitor Martins. Só hoje descobri que é “Seu coração”! Isso é que dá ser egocêntrico e voltado apenas para o próprio umbigo. Mas letra e música continuam lindíssimas.

Mesmo assim, poderia tranquilamente dizer que meu coração “é um barco de velas içadas, longe dos mares, do tempo, das loucas marés. Meu coração é um barco que vive ancorado. Nunca soltou as amarras, nunca ficou à deriva, nunca cumpriu o destino das embarcações”. E o tempo de arriscar-me ao vento passou.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

BOLOGÉTICA

DE 1980 a 1993 tive a sorte, o prazer e a honra de poder conversar quase diariamente com meu amigo e colega Luis Felipe, o Pintão, um sujeito agradabilíssimo, extremamente culto, bom de papo e com idade para ser meu pai. Os assuntos eram variados e divertidos, pois ele era um leitor voraz de livros, revistas científicas e jornais, além de ter uma história de vida bem pouco convencional para um engenheiro. Por isso, sempre vinha com alguma novidade. Conversávamos despreocupadamente, alheios às atividades que estivéssemos realizando. Gastávamos parte do dia útil divertindo-nos com cultura inútil. Às vezes o assunto era religião, coisa que sempre me entusiasmava. Ele, um ateu convertido ao catolicismo, era sereno e tranquilo em suas ponderações e opiniões, sem ser doutrinário. Era também “irmão leigo” da ordem dos dominicanos, tal a profundidade de sua fé.

Um dia comentou sobre “apologética”, coisa de que nunca tinha ouvido falar. Segundo ele, em seu período de conversão, um frade dominicano emprestou a ele um livrão para consulta e estudos. O título era “Apologética” ou, no português atropelado pelo frade alemão, “Bologética”.

Achei graça da história e perguntei de que se tratava. Segundo meu amigo (assim entendi na época - e nunca procurei saber mais), “bologética” seria um embasamento lógico e teórico para a fé. As explicações que deu me fizeram pensar em uma espécie de geometria euclidiana da fé, em uma geometria religiosa (ou religiosidade "euclidiana"), pois partia de um enunciado básico, aceito como verdade absoluta, pétrea, e daí desenvolvia-se toda uma teoria (não sei se é essa a palavra correta) lógica e racional, à semelhança dos axiomas e postulados euclidianos. Imagino que o primeiro “postulado” seria “Deus existe”. A partir daí, todo um cenário se descortinava e era explicado.

Bom, por que estou falando disso? Justamente por ter lido “Sapiens”, um livro incrível e – para minhas crenças – muito perturbador, apesar de excelente. Para mim, que já disse centenas de vezes precisar mais de Deus que Ele de mim, foi duro mastigar as informações e a lógica poderosa do autor. Depois da leitura desse livro, poderia ter-me tornado ateu – e esta é uma questão ainda não resolvida em minha mente –, mas resolvi juntar os cacos da minha crença, colar e organizar o que sobrou de minha fé. Ou seja, resolvi criar minha própria "bologética", mesmo que isso seja risível, ainda que eu possa ser motivo de pena, escárnio ou chacota para muita gente.

Mas não quero listar no Blogson as crenças que restaram. Não por me envergonhar disso, mas por terem se transformado em sentimentos muito íntimos e pessoais. Mas dou uma pista: não sei se foi Lavoisier o autor desta frase (ou algo parecido com ela): "Não posso imaginar um relógio sem que haja um relojoeiro". Minhas limitações culturais e de conhecimento formal levam-me a concordar com esse pensamento.

Foi meu amigo Pintão que chamou minha atenção para a descrição poética e bastante razoável do Big Bang, contida no Gênesis: "A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita." Sinceramente, eu gosto muito dessa ideia de cinco mil anos: "Fiat Lux!" Se houver um dia uma explicação lógica, uma teoria consistente que me convença e que explique a origem do Big Bang, ou melhor, o milionésimo de segundo antes, eu revirarei tudo de novo em minha mente. Até lá, para mim, este é o primeiro postulado do que sobrou: "Deus" estaria no "antes" do Big Bang.

Coerente com esse raciocínio (ou com a falta de), o que posso dizer é que continuo a acreditar em Deus - o que quer que Ele signifique. Mas, certamente, não mais no Deus dos judeus, dos muçulmanos, dos evangélicos e do Antigo Testamento. O Novo Testamento é uma boa medida do Deus em que quero e continuo a acreditar. Lembrando: eu preciso mais de Deus que Ele de mim. E basta por hoje.
  




  

terça-feira, 24 de outubro de 2017

SOU UMA CRIANÇA, NÃO ENTENDO NADA - ERASMO CARLOS

Ultimamente tenho pensado muito na letra dessa música. Mas, talvez, fizesse pequenas modificações. Poderia ficar assim:

Antigamente eu nunca me excedia,
Nem fazia qualquer coisa errada.
Naturalmente, minha mãe diria:
“Ele é um coitadinho e não entende nada”.
E eu vivia amedrontado e mudo,
Era uma criança que não tinha escudo.

E por aí seguiu minha infância. Mas preciso deixar claro (já disse antes) que nunca deixei de me sentir amado e protegido por meus pais. O problema estava justamente na super proteção, que acabou por me deixar com medo de tudo, medo que foi se alterando e sendo substituído ou complementado por outros medos. Resumindo, minha vida foi e tem sido integralmente pautada e balizada pelo Medo.




PASPALHO NO TRATO

Como eu não gosto de jogar nada fora, acabo postando no blog todo tipo de idiotice que passa pela minha mente. Com isso, o velho Blogson acaba por virar uma lixeira de ideias mal formadas. O que me consola é que pessoas ilustres também tem (ou tinham) esse costume. Charles Chaplin foi um desses, pois filmava e guardava tudo. O que nos distingue é apenas a genialidade de um, confrontada com a mediocridade do outro. E eu sou o outro (precisava dizer?). Muito bem. Aí vai mais um lixo fresquinho, fresquinho (só o lixo, OK?):

Tenho ouvido e lido na internet tanta abobrinha, tanta ideia de jerico, de jumento, de cavalgadura, de quadrúpede, que imagino que as pessoas que as divulgam alimentam-se melhor apenas pastando. Por isso, acho que seria uma boa vender grama comum em bandejas, para ser consumida como salada. E já que o nome científico da gramínea é Paspalum Notatum, até sugiro um nome comercial para o produto: "Paspalho no Trato".


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

É SOMENTE REQUENTAR



Esta sensação é tão verdadeira que para dar mais ênfase a ela até usei uma expressão terceirizada.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

SAIU NO FEICIBUQUE - 050 (THE LAST)

A frases curtas que criei ou aproveitei de terceiros e divulguei no Facebook desde a criação de meu perfil foram também aproveitadas no Blogson, num total de 49 posts com o ridículo título “Saiu no Feicibuque”.  No Facebook, para quem não sabe (acho isso impossível), frases e períodos curtos de até 130 caracteres recebem destaque especial ao ser exibidos em letras grandes (e brancas) sobre um fundo com quinze opções de cor a escolher. Imagino que isso deve ser uma reação aos 140 caracteres do Twitter, mas isso não vem ao caso.

Normalmente escolho fundo preto ou vermelho, por achar muito frescas as outras opções. Em algumas ocasiões os textos imaginados tinham mais de 130 caracteres, obrigando-me a fazê-los em Word como forma de “ludibriar” o Facebook, ao transformá-los em imagens. Esses casos foram apresentados com fundo marrom (ou café ou sei lá que cor).

As frases e períodos assim apresentados podem ser um modelo de concisão, mas não necessariamente (quase nunca) de elegância de estilo. Aliás, o Blogson nunca foi nenhum modelo de elegância estilística, mesmo – ou principalmente – em textos longos (cada vez mais raros). Paciência.

Muito bem, o post de hoje é o quinquagésimo (que língua, essa nossa!) e último dessa série. O motivo é ter ficado de saco cheio de sempre usar o título idiota. Assim, mesmo que sejam aproveitamentos de bobagens escritas no Facebook, os posts terão a partir de agora títulos individuais. Mas, fica avisado: frase ou texto capenga apresentado como imagem em fundo vermelho, preto ou café, já sabe, “saiu no feicibuque”. Olhaí.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

OS TRÊS MACACOS VELHOS

Nem preciso dizer que os dois leitores (são dois mesmo) desta bagaça conhecem os "três macacos sábios", certo? Mas tenho certeza de que nunca ouviram falar dos "três macacos velhos". 

Até pensei em dar "acabamento" (olhos, dedos, boca, etc.). Para isso precisaria copiar o desenho, feito originalmente com formas do Word, mas achei que o resultado ficou tão bacana que resolvi deixar assim mesmo. (vou acabar criando uma nova forma de "arte", feita só com recursos do Word). Vê aí.




O GRITO DAS TORCIDAS

Sempre me surpreendo quando ouço os gritos de guerra dos fanáticos por futebol. Acho constrangedor e inadequado ouvir alguém gritando “Galô!!!”, “Zêro!!!”, “Mengo!!!” (e outros que desconheço) sem mais nem menos, nos lugares e ocasiões mais inesperadas, mais inadequadas.

Isso me faz pensar que essas pessoas – que a maioria das pessoas – não têm mesmo nada a dizer sobre nada. E essa impressão acaba me confortando um pouco, pois sinto que também não tenho mais nada a dizer, nada de relevante, nada de criativo, nada de original, nada que importe. Talvez - quem sabe? - valha a pena virar mais um torcedor fanático. Mesmo não gostando de futebol.

Galô!!! Zêro!!! Mengo!!!

terça-feira, 17 de outubro de 2017

GALOPEIRA

De repente, um diálogo assim até poderia acontecer.


- Hello!

- Ouvindo a Adele, Aécio? Aqui é o Ronaldo Caiado.

- Fala, Excelência!

- Quebrei o ombro. Tava na fazenda e cai da mula...

- Mula? Sério? Então agora não é mais Caiado, é Caído! Ha ha ha!

- Pode rir, mané! Só liguei pra te avisar que não vou votar no seu processo.

- Espera aí, só pode ser trote! Faz isso comigo não!

- Faço sim! Por isso, se contava com meu voto, pode tirar o cavalinho da chuva.

- Tô ferrado! Quem caiu do cavalo agora fui eu!

SAIU NO FEICIBUQUE - 049 (TUTTI)


terça-feira, 10 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 20/20

Declarou, com toda a dignidade: “Admito perder tudo, menos a honra!” E continuou procurando.

Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo.

Afinal de contas o que nos absolve não é o juiz nem a sociedade. É a nossa habilidade em não deixar vestígios.

Não se esqueça meu filho, o poder corrompe. E o poder absoluto corrompe muito melhor.

O dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo.

A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar ao amigo de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.

Como não pode existir mais de um caos, a palavra já vem no plural.

A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo o que lhe ensinaram e a Esquerda acredita cegamente em tudo o que ensina.

Se fosse apenas para medir a dimensão de nossos homens públicos nem teria sido necessário inventar o sistema métrico.

Por mais hábil que seja, o político acaba sempre cometendo alguma sinceridade.

O estranho é que o cérebro, feito essencialmente para produzir ideias, exulta quando tem uma.

Os clássicos mudam de opinião para agradar os que os interpretam.

Pode não preocupar os cientistas mas a mim preocupa muito: será que também há vida imbecil nos outros planetas?

Em terra de cego quem tem um olho é economista. (frase de 1980. Seria uma alusão ao Delfim?)

Em terra de cego quem tem um olho é estrangeiro

Em terra de cego quem tem um olho nem quer ser rei.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 19/20


Eles irmanam na bandalheira, perfilham na venalidade, sobrinham na falsificação, bisnetam na traficância. Em suma, primam pela corrupção. Nepotismo é isso aí, cara.

O Economista é um ficcionista que venceu na vida.

Ideologia – a crença que o cego tem na existência do arco-íris.

E como dizia o velhinho com profundo espírito crítico: “O pior dessa juventude é que a gente não faz parte dela”.

Quem me pede pra contar toda a verdade já está me exigindo uma mentira.

Chato é o cara que conta tudo tim-tim por tim-tim e depois entra em detalhes.

Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta. Só tiveram que proibir o povo de falar errado.

A dialética é uma faca de dois gumes.

Está bem, vamos concordar que Deus é brasileiro. Mas pra defender o Brasil de tanta corrupção só botando Deus no gol.

Se você não conseguir impor seus direitos através de meios dignos, a única solução é procurar um advogado.

A Lei é uma forma mais ou menos hábil de contornar a Justiça.

A Advocacia é a maneira pragmática (técnica) de burlar a lei.

A Diplomacia é a intriga levada a suas extremas consequências.

A Astronomia é a Astrologia que venceu na vida.

O padre é o subterfúgio da Fé.

O Ser Humano é um fracasso da Natureza.

Você jamais poderá se vangloriar do brilho do seu espírito enquanto ninguém responder indignado.

Vocês já observaram o refinamento, o cuidado, o extremo acabamento – e, claro, o custo – com que, neste país, se exerce a incompetência?

A riqueza não traz felicidade. Pelo menos jamais aquela felicidade ampla, geral e irrestrita que os que não têm dinheiro pensam existir.

Não é que o crime não compensa. É que, quando compensa, muda de nome.

Sempre há mais liberdade quando menos se a usa.

Um capenga não tem uma perna menor do que a outra. Ao contrário – tem uma perna maior do que a outra.

Depois de bem ajustado o preço a gente deve sempre trabalhar por amor à arte.

Idade da razão é quando a gente faz as maiores besteiras sem ficar preocupado com isso.

Realmente este é o país onde há a maior possibilidade de se criar um mundo inteiramente novo – caos não falta.

Escritores populares são impopulares entre os escritores.

Erudito é um sujeito que tem mais cultura do que cabe nele.

O cara fica velho quando já nem precisa evitar a tentação – a tentação o evita.

Errar é humano. Botar a culpa nos outros também.


Eu posso não ser um bom exemplo. Mas sou um bom aviso.

domingo, 8 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 18/20


Brasil, taí um país que é preciso ver pra crer.

Quando você tiver que usar respiração boca a boca, evite, pelo menos, envolvimento emocional.

A suprema ambição do ideólogo é a mesma de todo fanático: botar na fogueira todos os que duvidam.

Nas noites de Brasília, cheias de mordomia, todos os gastos são pardos.

Nenhum homem é uma ilha a não ser quando devidamente registrado no serviço de cartografia da Marinha.

Quem não foge a tempo não ensina estratégia

Ladrão que corre pouco não vai longe na carreira

A grande vantagem do analfabeto é que ele jamais erra na colocação da crase.

Fair-play é ganhar a eleição pra Academia e ficar com aquele ar superior de quem perdeu.

Tem gente que se acha uma pessoa honesta apenas porque é medíocre em sua desonestidade.

As maiores ofensas têm um alcance extremamente longo: um dia você acaba merecendo.

Em matéria de sentimento nenhum mais impróprio do que o amor-próprio.

Por que é que os criticados sempre têm muito melhor memória do que os críticos?

O caminho mais longo entre dois pontos é a ideologia.

A lei é uma forma de impedir que a imoralidade ocasional prejudique a do sistema.

Abdicar é uma decisão extremamente generosa que só se toma sob grande pressão.

Nem o trabalho, nem a contenção moral, nem o respeito ao próximo jamais mataram ninguém. Mas, por via das dúvidas, é bom evitar tudo isso.

Os alemães criaram uma palavra para designar a sua elite intelectual: Intelligensia. Mas só há uma palavra para designar a nossa elite política: Ignoransia.

A humildade é apenas o lado avesso do orgulho.

Debochado: um humorista que transbordou.

Quanto mais pobre um país mais cheio de dignidades.

Felizmente o Brasil não perdeu o senso moral. Está só dormente.

A experiência é um cheque sem fundo sobre um banco que já faliu.

Ei, mundo! Não só temos que aceitar que todo homem médio é um chato como temos que levar em conta que quase todo homem é médio.

Certos líderes brasileiros nos fazem entender os hindus adorarem as vacas.

Crime – quantas legislações se cometem em teu nome!

Comunismo é uma religião igualzinha às outras. Pra quem acredita, não precisa explicação. Pra quem não acredita, não adianta explicação.

A verdade não está no meio. Nem a mentira nos extremos.

Se você quer ser considerado um perfeito patife, defenda sempre as causas justas.

O maior preconceito é pensar que não se o tem.


sábado, 7 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 17/20



História - Uma coisa que não aconteceu contada por alguém que não estava lá.

Fé – está bem que você acredite em Deus. Mas vai armado.

Propaganda - A madrasta da prostituição.

A vida, afinal, não passa de uma longa caminhada para acabar com ela.

Eu me recuso a aceitar qualquer teoria feita por teóricos.

Propaganda – a madrinha da prostituição.

Certas peças de teatro extremamente badaladas só fracassam porque o público não foi devidamente ensaiado.

Saudosismo – um ismo como outro qualquer.

Vamos lá, decide qual você prefere: o capitalismo selvagem ou o socialismo hipócrita?

O homem é o único animal que sabe que é idiota.

Provérbio é uma verdade velhinha, muito velhinha, quase parando!

O máximo de distorção ideológica é um mendigo ter medo do comunismo.

O Brasil é o único país do mundo em que a solitária melhora a situação do preso.

No fim quem vence sempre é o agente funerário.

A pobreza não é, necessariamente, vergonhosa. Há muito pobre sem vergonha.

Uma coisa é certa: os maiores excessos sempre foram os de moderação.

Tanta plástica no rosto, no seio, na bunda e ninguém aí para inventar uma plástica no caráter.

Como a natureza abomina o vácuo, a tecnologia criou o engarrafamento de trânsito.

As más companhias não fazem o homem mau. Na verdade as más companhias, e sobretudo as péssimas companhias, fazem a gente parecer muito melhor do que é.

Não somos a imagem de Deus. Somos apenas a sua autocrítica.

Sansão, sim, é que era um espetáculo. Quando acabou seu show a casa veio abaixo.

O ego é a única coisa que vaza por cima.

A Experiência é uma boa escola, mas não tem alunos.

Clássico é um escritor que não se contentou em chatear apenas os contemporâneos.

Se isso continuar assim, vamos acabar tendo que apelar para a competência.

De todas as taras sexuais a mais estranha é a abstinência.

Tenho resistido a inúmeras tentações, mas, na verdade, todas muito fraquinhas.

O futebol é o ópio do povo. E o narcotráfico da mídia.

Uma pessoa que diz que eu tenho muito talento não tem nenhum.

Padre tão soberbo que só tinha virtudes cardeais.



sexta-feira, 6 de outubro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 16/20



A cada dia aumenta em mim a sensação perturbadora de ser feliz num mundo em que isso é considerado reacionário.

Descrente – Indivíduo que crê piamente na descrença

Justiça – Sistema de leis legalizando a injustiça.

Fantasia – O que chamamos de memória.

Tudo que eu não digo sempre vale a pena.

O amor – a dois – fica entre o amor impróprio – a três – e o amor próprio, individual.

Ela chorava tanto a morte do marido que acabou sentindo muito.

Nunca faço planos pro futuro. Mas ele faz cada um pra mim!

O homem é um animal que se justifica.

Brasília é o desnecessário tornado irreversível.

Pra mim você é como o ar que eu respiro: nem percebo!

O lobo é o homem do lobo.

O homem nasce feio, cresce horrendo, morre horripilante e ainda se acha o rei da criação!

Político tão aberto, tão aberto, que não retém nem uma ideia

Por que cada vez há mais gente de porque e menos de por quê?

Viver é desenhar sem borracha.

Se você não pode realizar seus sonhos, realize ao menos os seus pesadelos.

O inferno é a felicidade dos outros.

No dia do socialismo perfeito a beleza física será a aristocracia dominante.

Muita gente que fala o tempo todo contra a corrupção está apenas cuspindo no prato em que não comeu.

Quem diz que a ordem dos fatores não altera o produto é porque nunca recebeu determinadas ordens.

Se você acha que mula-sem-cabeça não existe é porque nunca olhou em volta.

Quem inventou a frase “Isso nem merece comentário” decididamente não foi um fofoqueiro.

O curioso é que o prólogo é a última coisa que o autor escreve.

Deus fez todos os animais. Exceto o camelo, que foi projeto de um Grupo de Trabalho.

Era um realista: exigia injustiça igual para todos.

Se te dizem que você parece um homem de bem, vai lá dentro e lava a cara.

Verba volant, scripta manent. A palavra voa, a escrita fica. Isto é, fica para mostrar os imbecis que somos.

A História torna o homem incrédulo, a poesia, indefeso, a matemática, frio, a filosofia, soberbo, a moral, chato; é, o homem não tem jeito!

Se o Reino dos Céus é dos pobres de espírito, então, meu Deus, estamos num paraíso.



MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4