Nas próximas eleições eu
quero votar em gente de verdade. Não quero saber de postes, divindades, mitos,
antas, palhaços, cantores, atores, padres ou pastores. Desprezo e dispenso
também semianalfabetos, radicais, fundamentalistas, “personalidades
midiáticas”, jogadores de futebol e animadores de televisão. Não quero mais saber
de personagens de fábulas, folclore nem de donos da verdade eterna. Nem de
messias, bessias ou pais da pátria. Quero votar em pessoas reais, gente como
eu, como você. Se alguém souber de algum candidato assim, me avise.
sábado, 30 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 10/20
Por que é que as mulheres se preocupam tanto com as roupas, se os homens só as desejam sem?
Os moralistas organizaram os Alcoólicos Anônimos. Os imoralistas vão às
boates para dar publicidade a seus pileques.
Problema algébrico – Sabendo-se a data do nascimento de uma mulher,
fazer com que o número de anos decorridos entre essa data e o momento atual
coincidam com a idade dela.Há certos casais que nunca pensam em separação: só
pensam em assassinato.
Há certos casais que nunca pensam em separação: só pensam em
assassinato.
O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas.
E dizer que certos canalhas que conhecemos ainda vão se transformar em
gloriosos ancestrais.
Todos nós possuímos uma coisa tradicional: pelo menos uma tara.
É quando você fica fora de si que a gente pode olhar direitinho o que é
que tem lá dentro.
Não é que, com a idade, você aprenda mais coisas; você aprende é a
ocultar melhor o que ignora.
É maravilhoso a gente possuir uma esposa. Sobretudo quando não se é
casado.
Sem dúvida era um supremo defensor do status quo o sujeito que dizia:
“Eu daria dez anos de minha vida pra ser dez anos mais moço”.
Tenho a maior admiração pelo ser humano – excetuando os homens, é claro.
Os caras que se orgulham muito da ascendência só estão mostrando o
quanto já descenderam.
Hoje em dia, a única família que permanece unida é aquela que mora num
quarto e sala conjugado.
As manchas de óleo na roupa saem facilmente com qualquer tipo de chama.
Pedestre é um indivíduo que pode estacionar onde quiser.
É fácil dominar uma mulher e convencer um homem; o difícil é explicar a
uma criança.
Tenho a certeza de que, alguns anos depois de minha morte, minha obra
terá seu valor reconhecido. Mas aí já estarei completamente fora de perigo.
Chama-se de entrevista política o ato de falar naquilo que se devia
estar fazendo.
Chama-se casamento bem sucedido aquele em que, ao voltar da lua de mel,
os cônjuges ainda se falam.
A justiça é igual para todos. Aí já começa a injustiça.
Ah, o colégio. Eis um local onde a ignorância é levada a suas extremas
consequências.
Uma linda mulher de quarenta anos: cara e coroa.
Na próxima guerra, o lugar mais seguro será o exército. Os estrategistas
sempre saberão colocá-lo fora do alcance das bombas atômicas – o que não se
poderá fazer com as cidades.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 09/20
Comida é bom, bebida é ótimo, música é admirável, literatura é sublime,
mas só o sexo provoca ereção.
Todo homem é seu valor dividido pela sua auto-estimativa.
Na vida prática um pintor abstrato é quase sempre apenas figurativo.
A semântica é o ópio dos psicanalistas.
Motorista incompetente, descuidado e audacioso, oferece-se para
trabalhar com ortopedista recém-formado. Devido à maneira como guia poderá
fazer inúmeros clientes para seu patrão.
O político mineiro procura não parecer o que é, porque o outro pode não
ser o que parece, também pode ser e não parecer, pode nem ser nem parecer. E
até – raras vezes – surge um superenganador que é e parece.
Engraçado, na catalogação dos pecados capitais, os teólogos esqueceram
justamente o mais importante – o capital propriamente dito.
Pô, e pra mim nada? Estão pensando que eu sou incorruptível?
O poder é um camaleão ao contrário – todos tomam sua cor.
O benefício da dúvida é uma espécie de INPS da metafísica.
Arroto – Som burguês, incompreensível nas classes mais pobres.
Medidas de emergência – Pacote político previsto há longo tempo.
Destino é um coelho cego procurando cenouras num deserto.
Segurança é a do erudito que vive botando i em nossos pingos.
Milagre é o espantoso que se encontra com o inacreditável.
O ruído do jornal que queima é seu protesto contra a incineração das
ideias.
O ciúme é o álibi de quem não ama.
Racista é o cara que, possivelmente, jamais mandou examinar sua árvore
genealógica.
Não somos unânimes nem quando estamos sozinhos.
Latefúndio é terra pra cachorro.
Cada vez tenho mais orgulho de minha humildade e mais fé em meu
ceticismo.
A velhice começa quando você começa a perceber demais a juventude.
Todo homem nasce egoísta, mesquinho, vaidoso e autoritário. Com o passar
do tempo, uns poucos degeneram e viram democratas.
Teorizem o que quiserem mas o ideal é um socialismo com vitrines.
Bem, se os homens são assim mesmo, então todas as regras estão erradas.
Quem me mostra um trabalho e pede que eu seja absolutamente sincero é um
hipócrita.
É impressionante como a gente é idiota aos 20 anos. E como, com o passar
do tempo, a gente vai se transformando num idiota mais velho.
Fraternidade universal, claro; mas, se possível, pagamento à vista!
E como dizia o comunista: “Meu filho, um dia tudo isso será ateu”.
O governo tem enorme preocupação com a estabilização da nossa moeda.
Então por que condenar os grandes patriotas que a colocam em segurança em
contas numeradas na Suíça?
Bem cedo eu percebi que já era tarde.
Desculpem – jamais pretendi estar sempre com a razão. Mas não consigo
evitar que ela esteja sempre comigo.
A honestidade não tem cúmplices.
A hipotenusa é o dobro do quadrado das hipóteses.
Companheiros de profissão, cuidado com a sátira! Ela pode glorificar.
Cada ideologia tem a inquisição que merece.
O primeiro preceito do algemado é não pensar em comichão.
Toda alegria é assim; já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino.
Muito mais ainda é muito pouco, mas um pouco menos já é demais!
A vantagem definitiva do espiritualismo cristão sobre o materialismo
marxista é que espiritualismo dá pra dividir por todos.
Uma roubalheira sem precedentes é apenas um precedente de uma
roubalheira maior.
A grandeza da Lei está em sua total imparcialidade. A lei pune
igualmente qualquer cidadão, rico ou pobre, poderoso ou humilde, que se banhe
em lugares públicos, durma em bancos de jardim ou assalte transeuntes.
Corrupção: quantas medidas provisórias se fazem em teu nome!
O cinema e a literatura inventaram o herói sem causa. O parlamento
brasileiro consagrou o canalha sem jaça.
Sempre nos julgamos pelos projetos. E julgamos os outros pelos
resultados.
Quem ganha salário mínimo está condenado ao fim de mês perpétuo.
Só a hipocrisia garante a tranquilidade social.
Assessor no Congresso, atendendo o telefone: “Probo? Não senhor. Aqui
não tem ninguém com esse nome”.
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
UPGRADE LITERÁRIO
Estava pensando em que os antigos contos que li
e ouvi na infância mereceriam uma espanada, uma atualização, para torná-los mais
atraentes à geração smart-phone. Por exemplo, a história dos três porquinhos Cícero, Heitor e Prático
poderia receber um upgrade brasileiro, com a inclusão do ganancioso porquinho
Gedel. Assim, em vez de apenas casas de palha, gravetos ou tijolos, a história
ganharia também um castelo. Castelo de areia, óbvio.
Outra atualização que poderia acontecer seria com as
histórias das "Mil e Uma Noites"contadas pela princesa Xerazade só para livrar
seu pescoço (o resto estava liberado). Uma delas é a manjada “Ali
Babá e os Quarenta Ladrões”. A versão brasileira poderia ser “As 1291 noites (até hoje) da Lavajato”. As
histórias contadas seriam as delações premiadas de várias personalidades, também
para livrar o próprio pescoço (as tornozeleiras ficam). E o conto do Ali
Babá, claro, teria muuuito mais
que 40 ladrões ali. Uma baba, na verdade!
MILLÔR NA VEJA - 08/20
Depois de quatro anos de teatro ainda não era homossexual. Mas já tinha
um certo sotaque.
E como dizia a patrícia romana para a filha que chegava de madrugada:
“Está muito bem: até as 3 você ficou na bacanal – mas depois, onde é que
andou?”
O uísque, tomado com moderação, não oferece nenhum perigo, nem mesmo em
grandes quantidades.
A natureza é essa entidade exibicionista que não consegue passar do
inverno ao verão sem uma descontrolada primavera.
Bastaria a invenção do sutiã para provar que as mulheres são mais
mentirosas do que os homens.
Se você não pode com os argumentos do adversário, sempre tem a
possibilidade de lhe atirar uma pedra na cabeça.
O amor chega sem ser visto e sai fazendo aquele quebra-quebra.
Aproveita a vida, irmão. Já passou mais tempo do que você pensa.
Um homem começa a ficar velho quando já prefere andar só do que mal
acompanhado.
As pessoas que falam muito acabam contando coisas que não aconteceram.
Cuidado, amigo: até um grande homem é capaz de um gesto de grandeza.
O pinho é uma madeira formidável com a qual se fazem esplêndidos móveis
de jacarandá.
Se a tecnologia não tivesse inventado o limpador de para-brisa, onde é
que o guarda ia enfiar a multa?
Essas pessoas que falam tanto na inocência das crianças, será que já
nasceram adultas?
Um desses dias em que a gente se sente como gostaria de se sentir.
Em terra de cego o rei diz que tem um olho.
Um verdadeiro cético não prega nem o ceticismo.
Se você tem alguma qualidade procure, ao menos, disfarçá-la. Este não é
um mundo para competentes.
O preço da segurança é a eterna chateação.
O preço da badalação é a eterna solidão.
Pra ajudar a salvar o mundo precisamos acreditar profundamente em todas
as contrafações.
Suposição é a convicção alheia.
Com uma fé realmente profunda adquirimos o direito à irresponsabilidade.
A sociedade humana foi inventada pela solidão.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 07/20
Sustentar a mulher com quem você foi casado é o mesmo que ficar pagando
as prestações de um carro que caiu no precipício.
Você está bêbado quando começa a sentir solidariedade e não consegue
pronunciar essa palavra.
Os fabricantes de caçarola devem levantar um monumento à galinha
desconhecida.
Problema algébrico – Sabendo-se a data do nascimento de uma mulher,
fazer com que o número de anos decorridos entre essa data e o momento atual
coincidam com a idade dela.
Senso de humor tinha aquela mulher. Toda vez que, na intimidade do
banheiro, ficava nua, morria de rir de seus admiradores.
Em toda paixão há sempre uma possibilidade de manchete policial.
O mendigo também achava que Deodoro era muito maior do que Castro Alves,
pois, no verão, sua estátua dava muito mais sombra.
O bom da gente ser pobre, triste, feio, doente e velho é que nada pior
nos pode acontecer.
Matemática capitalista: Quem de 100 tira 51 perde o controle da empresa.
Quando um baterista morre deve-se fazer um minuto de barulho.
Ainda espero viver o bastante para ver o subdesenvolvimento dos planetas
unidos do Hemisfério Norte esmagado pelo imperialismo dos planetas unidos do
Hemisfério Sul.
E quando alguém da polícia telefonou àquele empreiteiro perguntando se o
automóvel dele tinha sido roubado, ele respondeu imediatamente: “Em absoluto!
Comprei com meu dinheiro”.
Responda depressa: Stradivárius é um só ou são muitos?
Quero que fique bem claro: eu não sou contra o roubo. Sou apenas contra
ser roubado.
Quando a burrice manda, a suprema burrice é ser sábio.
Sim, ele foi muito infeliz no casamento – teve quatro filhos, todos eles
mulheres.
Não ter vaidade é a maior de todas.
Nas noites de frio a pobreza entra pelos buracos da roupa.
O amigo íntimo nos trai menos por traiçoeiro do que por íntimo.
Ele ama tanto os pobres de seu país que, para não humilhá-los com sua
riqueza, manda todo o seu dinheiro pros bancos suíços.
E como dizia o superinfeliz: “de vez em quando quero me lembrar quando
foi que ela me passou pra trás e não consigo. Até a memória me trai”.
No princípio era a verba (slogan para uma agência de publicidade).
Há pessoas que só dizem a verdade para passar alguém para trás.
Um milionário, para se arruinar, basta perder o dinheiro que tem. Eu,
para me arruinar, ainda tenho de trabalhar muito, até ficar rico.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 06/20
Escritores populares são impopulares entre os escritores.
Erudito é um sujeito que tem mais cultura do que cabe nele.
O cara fica velho quando já nem precisa evitar a tentação – a tentação o
evita.
Errar é humano. Botar a culpa nos outros também.
Eu posso não ser um bom exemplo. Mas sou um bom aviso.
Declarou, com toda a dignidade: “Admito perder tudo, menos a honra!” E
continuou procurando.
Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia sobrar muito
dinheiro no mundo.
Afinal de contas o que nos absolve não é o juiz nem a sociedade. É a
nossa habilidade em não deixar vestígios.
Não se esqueça meu filho, o poder corrompe. E o poder absoluto corrompe
muito melhor.
O dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo.
A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar ao amigo de todos os
seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
Como não pode existir mais de um caos, a palavra já vem no plural.
A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita
acredita cegamente em tudo o que lhe ensinaram e a Esquerda acredita cegamente
em tudo o que ensina.
Se fosse apenas para medir a dimensão de nossos homens públicos nem
teria sido necessário inventar o sistema métrico.
Por mais hábil que seja, o político acaba sempre cometendo alguma
sinceridade.
O estranho é que o cérebro, feito essencialmente para produzir ideias,
exulta quando tem uma.
Os clássicos mudam de opinião para agradar os que os interpretam.
Pode não preocupar os cientistas mas a mim preocupa muito: será que
também há vida imbecil nos outros planetas?
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 05/20
Estava tão convencida de sua beleza que, quando se olhava no espelho,
não se reconhecia.
Era tão sério, tão sério, que quando ria a boca doía por falta de uso.
Era tão mentiroso, que quando dizia que mentia ninguém acreditava.
Era tão alto, tão alto, que tinha na vista uma catarata de verdade.
Falava tanto, tanto, que afinal lhe puseram antena e botões de controle.
Como fui criado sem pais, educado sem escolas, o governo nunca me deu um lápis, os padres nunca me ensinaram uma lição, e os pais da pátria não me indicaram nenhum caminho, posso afirmar – aliás, sem qualquer orgulho – que sou cem por cento eu mesmo.
Quando, ao apertar a barriga na altura do fígado, você sentir dor, deixe imediatamente de apertar.
Há certos médicos tão competentes que nós, saudáveis, sentimos que estamos perdendo alguma coisa.
Como fui criado sem pais, educado sem escolas, o governo nunca me deu um lápis, os padres nunca me ensinaram uma lição, e os pais da pátria não me indicaram nenhum caminho, posso afirmar – aliás, sem qualquer orgulho – que sou cem por cento eu mesmo.
Quando, ao apertar a barriga na altura do fígado, você sentir dor, deixe imediatamente de apertar.
Há certos médicos tão competentes que nós, saudáveis, sentimos que estamos perdendo alguma coisa.
Vício foi o nome que a virtude inventou para estragar o prazer dos
outros.
Hoje, em matéria de vista, já ficamos contentes se moramos num local em
que a vista não somos nós.
Cúmulo do esnobismo é passear no autódromo levando o chofer.
Só mesmo quem varia muito de homem pode dizer o quanto os homens variam.
E como dizia Confúcio: o suor do trabalho e o suor do prazer não cheiram
igual.
Mesmo a mulher mais honesta do mundo gostaria de saber quanto vale se um
dia resolvesse valer.
Certos subconscientes precisam apenas de um bom tapa na cara.
Agora que os botânicos já fazem rosas sem espinho, a filosofia popular
nos parece um pouco mais tola.
Depois que o homem explodiu o átomo só falta uma coisa – o átomo
explodir o homem.
Mulher com espírito cívico estava ali. Todo dia 13 de maio deixava o
marido sair de casa sozinho.
Senti que o seu silêncio merecia uma resposta imediata.
Algumas pessoas matam. As outras se satisfazem lendo as notícias dos
assassinatos.
Os usurários não são propriamente usurários: são tímidos no pagar.
Os gagos não são propriamente gagos. São pessoas que duvidam das
próprias palavras.
Os chatos não são propriamente chatos. São indivíduos que permanecem no
local depois que seu interesse acabou.
Um egoísta não é propriamente um egoísta. É um indivíduo tão interessado nos outros que se interessa sobretudo por si mesmo, a fim de evitar que os outros sejam obrigados a fazê-lo.
EU TAMBÉM QUERO FAZER UMA PEC
A Operação Lava-Jato despertou minha atenção
para um número assustador. Não, não estou falando do rombo (ou roubo) causado
pela corrupção desenfreada. O que me assusta é o número de processos que chega
ao STF. Li em algum lugar que, em média, há sete mil processos para cada
ministro. A imagem que faço disso é o trânsito das grandes cidades na hora do
rush. Impossível não ter engarrafamento!
Com um volume desses não é de estranhar que
os processos dos políticos delatados na Lava-Jato andem em passo de cágado
(proparoxítono, entendeu?). Como não sou advogado, fiquei pensando em uma
solução para isso. Aí resolvi sugerir uma PEC – Proposta de Engenheiro Civil.
Pensem bem, se existe o “foro privilegiado”
para políticos com mandato – o que os torna “mais iguais” que o resto da
população, o que os impediria de também receber tratamento VIP na hora de ser
julgados? Ou seja, por causa dessa “mais igualdade”, Suas Excelências deveriam
também ser julgadas mais rapidamente. Garanto que quem não é político e tem
processo no STF cederia sua vez com mucho gusto.
domingo, 24 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 04/20
A vida não é um retrato: é uma caricatura, e nem parecida.
Chama-se de criminoso primário um criminoso que foi apanhado pela
primeira vez.
Símile – tão discreto quanto o outro lado da Lua.
O grave problema do falsário é controlar a tentação de fazer uma nota de
200.
Quando você está fora de si, o pessoal vê melhor o que você tem dentro.
Os conservadores têm de reconhecer uma vantagem na importação de
ideologias exóticas: não pagamos royalties.
A frustração é uma forma de julgamento tão boa quanto qualquer outra.
O crime não compensa – mas pelo menos você escolhe a hora, o local e o
método de trabalho.
Os pais foram feitos para transmitir ignorância aos filhos.
Me deem mil atos de absoluta moralidade e eu construirei um bordel.
Como dizia minha avó: todo mundo se queixa da falta de memória. Ninguém
se queixa da falta de caráter.
Crítico é uma espécie de cachorro que está sempre fazendo xixi no poste
errado.
Afinal eu descobri a liberdade que eles todos queriam – era a liberdade
de se copiarem uns aos outros.
A mulher se separou do ginecologista porque não aguentava mais. Além de
trabalhar dez horas no consultório, ainda ele ainda levava trabalho pra casa.
O diabo inventou o arrependimento pra gente cobiçar em paz a mulher do
próximo.
Creio profundamente no meu ceticismo.
E não se pode negar que isso aqui está muito bom – pra quem não tem nada
melhor.
Dizia do marido: “Pra mim ele é um livro aberto”. E tome crítica
literária!
O meu ideal social sempre foi um capitalismo dirigido por socialistas.
Ou vice-versa.
Homem de extrema responsabilidade está aqui mesmo: toda vez que acontece
alguma coisa de grave à minha volta todos são unânimes em me apontar como o
maior responsável.
Afinal de contas o que nos absolve não é o juiz nem a sociedade. É a
nossa habilidade em não deixar vestígios.
Já que o Reino dos Céus é dos humildes, me digam aí, não podiam mandar a
minha parte em dinheiro?
Não estamos apenas contestando, mas, fundamentalmente, contestando pelo
direito de contestação. E mais ainda: exigimos também o direito de contestar a
contestação dos outros.
Ornitólogos chegaram à conclusão de que as cegonhas e siriemas descansam
com uma perna levantada porque se levantassem as duas não dava.
Andar – exercício praticado do momento em que o ser humano desce do
automóvel ao momento em que ele entra no elevador.
sábado, 23 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 03/20
Para tentar localizar “a frase”,
preparei uma planilha com a data de publicação e os números das revistas que
iria pesquisar. Como era um trabalho meio sacal, comecei a procurar
aleatoriamente, dando baixa nos exemplares já examinados. Assim, as frases,
desenhos e pensamentos selecionados não estão apresentados cronologicamente. Pensei
em ordenar em ordem alfabética, mas não gostei do resultado. Por isso, ficou na
ordem em que foram transcritos.
A planilha de controle que criei permitiu saber que faltam quatro
revistas no acervo digital da VEJA.
Mais precisamente, as edições de números 430,
de 01/12/1976; 572, de 22/08/1979; 733, de 22/09/1982; 1927, de 19/10/2005.
A partir de agora, só “Millôr na VEJA”, e mais nada. Som na caixa!
É preciso botar fora mais ou menos 3000 palavras pra sintetizar uma
frase.
Por que tanto medo? Afinal, a vida também é uma pena de morte.
Consulta aí o livro de ética, última edição: a gente ainda é obrigado a
falar bem dos mortos?
Você pode crer: o pior cego é o que quer ver.
O homem é um animal que ri. É rindo que mostra o animal que é.
Brasileiro, sim. Mas sempre respeitando a lei e a ordem.
Anarquia é apenas um regime em que você dá ao palhaço a administração do
circo. (E quase sempre ele é muito bem sucedido.)
Eu sou um homem muito conhecido no mundo inteiro. Mas não digam nada a
ninguém que isso é segredo.
Realmente voto não enche barriga, mas chega aquele momento em que o
pessoal já comeu o suficiente.
A democracia é o derradeiro refúgio da impossibilidade de governo.
O tempo é uma medida arbitrária inventado pelos suíços para medir o
atraso dos meus amigos.
Teoria da comunicação: Uma prostituta é apenas uma mulher de consumo de
massa.
O que é que tem o cós a ver com as calças?
Responda depressa: Você tem quatro filhos ou quatro filhos o têm?
Como sexo as mulheres são insuportáveis. Mas na hora do sexo não tem
nada melhor.
Em boca fechada não entra broca de dentista.
Todos falam das injustiças da sorte e do destino. Olha aqui, bichos: se
houvesse gente que morresse e gente que não morresse, aí sim, vocês iam sentir
o que era injustiça.
O que distingue o burro do cavalo é a burrice do cavalo.
Se existissem coisas impensáveis, não haveria a palavra.
Tudo perdido, menos a desonestidade.
Um cachaceiro é um bêbado vulgar. Um bebedor de vinho é um embriagado.
Um bebedor de uísque é um dipsomaníaco. Para distingui-los é necessário ver bem
o que bebem. Ou observar como são postos pra fora do bar.
A guerra entre o homem e a mulher é eterna porque tem sempre alguém
assinando a paz em separado.
A liberdade é apenas uma lamentável negligência das autoridades.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
MILLÔR NA VEJA - 02/20
Não pretendo transcrever
dados biográficos do Millôr Fernandes, pois a internet está cheia disso para
quem se interessar. Minha intenção – já que não encontrei a frase que buscava –
é compartilhar com os dois leitores do Blogson a surpresa e o prazer que senti
ao ler frases e sacadas geniais que fui descobrindo nos exemplares de VEJA à
medida que ia “desbastando” as 988 edições da revista que examinei à procura de
um único, específico pensamento do Millôr.
Então, este post, o anterior
e os subsequentes registram apenas algumas impressões pessoais e minha
admiração quase irrestrita por um escritor extremamente lúcido, para quem “livre pensar era só pensar”. Só esta
frase (com o verbo no presente) já o colocaria em posição de destaque em
qualquer antologia de frases filosóficas e aforismos geniais. Preciso também
lembrar que – na minha visão! – o Millôr é um dos integrantes da “santíssima
trindade do humor brasileiro”. O Luís Fernando Veríssimo é o segundo; o
terceiro, ainda não defini.
Isto significa também que as
frases e pequenos textos que tive a paciência de transcrever literalmente
(mesmo discordando da ausência de alguma vírgula) talvez sirvam também para me
definir um pouco mais, pois muitos poderão achar sem graça, sem lógica e
desimportantes, mas, para mim, são majoritariamente geniais e engraçadas. É
oportuno dizer que minha opção por frases isoladas e períodos curtos deve-se ao
fato de que o arquivo de VEJA foi digitalizado apenas como imagem. Se eu
quisesse transcrever um texto maior, teria que digitar tudo, numa trabalheira
dos diabos.
Lembro também que por mais
que goste de textos sérios e de poesia, tenho especial predileção pelo humor.
Talvez por achar a Vida uma coisa
estranha e muitas vezes dolorida e amarga. E o non sense e o humor seriam o antídoto, o anestésico para suportar as dores físicas e mentais do envelhecimento e, antes disso, da solidão. Neste
caso, o Millôr sempre se mostrou – para mim! – o remédio mais eficiente.
Feitos esses comentários, quero registrar
algumas impressões que ficaram, decorrentes do exame de dez revistas por dia,
em média. Como não sou crítico literário nem psicólogo, repito que são apenas
impressões minhas, sem nenhum vínculo obrigatório com a verdade ou com uma
análise mais apurada. Bora lá:
O Millôr morreu em 2012, com 88 anos (isto eu
tirei da internet). Tendo nascido em 1923, estava com 45 anos quando começou a publicar
na VEJA (edição 013, de 04/12/1968) e n'O Pasquim (26/06/1969). Em 08/12/1982,
na edição 744 de 08/12/1982 foi publicada sua última colaboração na revista.
Estava com 59 anos.
Entre 1982 e 2004 trabalhou na revista “Isto É”. Provavelmente deve ser dessa
época a tal frase que me fez estar agora escrevendo estas abobrinhas. Como não
existe acervo digital da “Isto É”, fica por isso mesmo.
Em 15/09/2004, na edição 1871, voltou a publicar
na VEJA. Estava com 81 anos. Seu último trabalho foi publicado na edição 2130,
de 16/09/2009. Estava com 86 anos.
Comparando os dois períodos em que trabalhou na revista VEJA, observei o seguinte:
Comparando os dois períodos em que trabalhou na revista VEJA, observei o seguinte:
- No primeiro período,
sua seção era apresentada em duas páginas. Na segunda vez, ficou só com uma;
- Aparentava menosprezar a medicina e a psicologia, talvez por nunca adoecer (segundo ele mesmo) e por ser “indecentemente feliz” (idem). Fez vários cartoons ironizando a terapia de divã e chegou a escrever um texto com o título “psicanalhismo”;
- Tinha obsessão por escrever o próprio nome sempre de uma maneira diferente (braile, lingua de sinais, código morse, letras com perspectiva distorcida, manuscrita, etc.);
- Seu traço de desenho era feio e mal acabado, mas muito eficiente. Abusava das cores berrantes e deixava que elas ultrapassassem o limite da forma, aparentemente de propósito;
- Aparentava menosprezar a medicina e a psicologia, talvez por nunca adoecer (segundo ele mesmo) e por ser “indecentemente feliz” (idem). Fez vários cartoons ironizando a terapia de divã e chegou a escrever um texto com o título “psicanalhismo”;
- Tinha obsessão por escrever o próprio nome sempre de uma maneira diferente (braile, lingua de sinais, código morse, letras com perspectiva distorcida, manuscrita, etc.);
- Seu traço de desenho era feio e mal acabado, mas muito eficiente. Abusava das cores berrantes e deixava que elas ultrapassassem o limite da forma, aparentemente de propósito;
- Usou vários títulos
para agrupar suas frases em cada número: DICIONÁRIO IRREFLETIDO, HEIN, COMO FOI MESMO
A HISTÓRIA?, LIVRE-PENSAR É SÓ PENSAR, PROVERBINHOS À MODA LUSITANA, REFLEQÇÕES AUTO-REFERENTES, REFLEXÕES SEM DOR,
etc.
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