sexta-feira, 22 de setembro de 2017

MILLÔR NA VEJA - 02/20

Não pretendo transcrever dados biográficos do Millôr Fernandes, pois a internet está cheia disso para quem se interessar. Minha intenção – já que não encontrei a frase que buscava – é compartilhar com os dois leitores do Blogson a surpresa e o prazer que senti ao ler frases e sacadas geniais que fui descobrindo nos exemplares de VEJA à medida que ia “desbastando” as 988 edições da revista que examinei à procura de um único, específico pensamento do Millôr.

Então, este post, o anterior e os subsequentes registram apenas algumas impressões pessoais e minha admiração quase irrestrita por um escritor extremamente lúcido, para quem “livre pensar era só pensar”. Só esta frase (com o verbo no presente) já o colocaria em posição de destaque em qualquer antologia de frases filosóficas e aforismos geniais. Preciso também lembrar que – na minha visão! – o Millôr é um dos integrantes da “santíssima trindade do humor brasileiro”. O Luís Fernando Veríssimo é o segundo; o terceiro, ainda não defini.

Isto significa também que as frases e pequenos textos que tive a paciência de transcrever literalmente (mesmo discordando da ausência de alguma vírgula) talvez sirvam também para me definir um pouco mais, pois muitos poderão achar sem graça, sem lógica e desimportantes, mas, para mim, são majoritariamente geniais e engraçadas. É oportuno dizer que minha opção por frases isoladas e períodos curtos deve-se ao fato de que o arquivo de VEJA foi digitalizado apenas como imagem. Se eu quisesse transcrever um texto maior, teria que digitar tudo, numa trabalheira dos diabos.

Lembro também que por mais que goste de textos sérios e de poesia, tenho especial predileção pelo humor. Talvez por achar a Vida uma coisa estranha e muitas vezes dolorida e amarga. E o non sense e o humor seriam o antídoto, o anestésico para suportar as dores físicas e mentais do envelhecimento e, antes disso, da solidão. Neste caso, o Millôr sempre se mostrou – para mim! – o remédio mais eficiente.

Feitos esses comentários, quero registrar algumas impressões que ficaram, decorrentes do exame de dez revistas por dia, em média. Como não sou crítico literário nem psicólogo, repito que são apenas impressões minhas, sem nenhum vínculo obrigatório com a verdade ou com uma análise mais apurada. Bora lá:

O Millôr morreu em 2012, com 88 anos (isto eu tirei da internet). Tendo nascido em 1923, estava com 45 anos quando começou a publicar na VEJA (edição 013, de 04/12/1968) e n'O Pasquim (26/06/1969). Em 08/12/1982, na edição 744 de 08/12/1982 foi publicada sua última colaboração na revista. Estava com 59 anos.

Entre 1982 e 2004 trabalhou na revista “Isto É”. Provavelmente deve ser dessa época a tal frase que me fez estar agora escrevendo estas abobrinhas. Como não existe acervo digital da “Isto É”, fica por isso mesmo.

Em 15/09/2004, na edição 1871, voltou a publicar na VEJA. Estava com 81 anos. Seu último trabalho foi publicado na edição 2130, de 16/09/2009. Estava com 86 anos.

Comparando os dois períodos em que trabalhou na revista VEJA, observei o seguinte:
- No primeiro período, sua seção era apresentada em duas páginas. Na segunda vez, ficou só com uma;
- Aparentava menosprezar a medicina e a psicologia, talvez por nunca adoecer (segundo ele mesmo) e por ser “indecentemente feliz” (idem). Fez vários cartoons ironizando a terapia de divã e chegou a escrever um texto com o título “psicanalhismo”;
- Tinha obsessão por escrever o próprio nome sempre de uma maneira diferente (braile, lingua de sinais, código morse, letras com perspectiva distorcida, manuscrita, etc.);
- Seu traço de desenho era feio e mal acabado, mas muito eficiente. Abusava das cores berrantes e deixava que elas ultrapassassem o limite da forma, aparentemente de propósito;
- Usou vários títulos para agrupar suas frases em cada número: DICIONÁRIO IRREFLETIDO, HEIN, COMO FOI MESMO A HISTÓRIA?, LIVRE-PENSAR É SÓ PENSAR, PROVERBINHOS À MODA LUSITANA, REFLEQÇÕES AUTO-REFERENTES, REFLEXÕES SEM DOR, etc.

Acho que agora chega, não é? Os próximos posts trarão as 462 frases que transcrevi. Parece muito, mas não é., pois o critério adotado para a escolha e transcrição foi este: não podiam ser datadas nem vinculadas a determinada época ou personalidade. Assim, as inúmeras ironias e piadas feitas com o Lula, Delfim Neto, presidente João Figueiredo e outros mais foram deixadas de lado. E agora, chega mesmo.

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