Dia desses o dono do blog “A Marreta do
Azarão” encheu minha bola (por favor, fique no singular para não
causar interpretações equivocadas e maliciosas) em um post de seu blog, ao
elogiar as tranqueiras que escrevo, chegando ao ponto máximo da bajulação
explícita ao transcrever um trecho do post “Pandora”.
E até fez o seguinte comentário:
“Jotabê
- tenho certeza - não é daqueles velhos "garotões", que se metem a
usar bermudões, boné, andar pelas ruas com seu iphone no ouvido ou baixar o
nível de seu pensamento e vocabulário para falar a linguagem dos jovens. Está
cheio de velhos por aí - e mais ainda de velhas - que fazem esse papel
ridículo, eu conheço um punhado”.
Quem quiser ler o texto na íntegra, siga o
link (algum corporativismo entre blogueiros nunca é demais):
Depois de ler os elogios, não seria nada
demais se eu ficasse mais sem graça que sundae de chuchu, mais vermelho que o
PT (ruborizado,
entendeu?) ou com cara de cachorro que peidou na igreja, mas acabei só pensando
nas suposições feitas por ele. Fones de ouvido, por exemplo, é mole, pois nem
os tenho. Quanto à linguagem, a coisa complica um pouco.
Já disse que ao conversar com qualquer pessoa
sintonizo o estilo e ajusto o vocabulário de acordo com cada um. Linguagem de
carroceiro, gírias e palavrões em abundância, linguagem culta, estilo comedido,
etc. Enfim, comportamento de camaleão, espelho ou maria-vai-com-as-outras.
Na linguagem escrita a coisa fica mais fácil, até porque só escrevo hoje para o
Blogson. Assim, adoto sistematicamente linguagem coloquial cheia de erros (os
erros não são propositais), pois ter que vestir terno ou fraque só para usar
algumas palavras mais empoladas da "ultima flor do Lácio" é
dose.
Acho até que tenho bom vocabulário (umas cem
palavras, talvez), mas prefiro linguagem descontraída. O que não significa
gostar de utilizar linguagem obscena. Evito ao máximo utilizar palavras
relacionadas à genitália feminina, pois é muito difícil ser engraçado ou sutil
sendo tão explícito. E tenho também certo pudor, pois nasci em 1950, em uma
família católica, meu!
Como a minha praia é tentar fazer (sor)rir,
eu adoto propositalmente expressões, palavras e gírias que ouço na rua (moro em
frente a um colégio público), principalmente quando penso criar algum diálogo
idiota (todos, a bem da verdade). Com essa jogada, tento fazer uma espécie de
pescaria de leitores (provavelmente jovens, porque velho morre de medo de
computador).
Então, minha linguagem escrita é resultado de
um caldo proveniente do que eu classificaria de "cultura pop", pois
tento liquidificar todas as informações que recebo das mais diversas mídias.
Não tenho facebook nem twitter, mas consigo entender a mecânica dessas redes,
pois minha mulher e filhos as utilizam. É por aí.
Mas queria me deter um pouco mais ainda na
questão vestuário, pois fiquei com uma dúvida: existiria uma moda
específica para idosos? O problema é que não conheço merda nenhuma dessa área
para tentar responder essa pergunta.
Para mim, desfile lembra sete de
setembro e passarela é aquela coisa que ninguém utiliza quando quer
atravessar um avenida super movimentada. Essa minha incapacidade já foi
abordada outras vezes no Blogson, como no post “Trocando
em Miúdos” (nunca é demais uma propagandinha, porque até mesmo ateus
acreditam que a propaganda é a alma do negócio).
Então, só para lembrar, transcrevo uma frase:
“Não
sei escolher nada e o máximo que consigo é saber que uma calça não é um vestido
e que uma sandália, afinal, nunca foi uma botina”.
Talvez por conta dessa deficiência
incapacitante, desse daltonismo fashion, meu modo de vestir é bastante
simples (isso é real). Quando ainda trabalhava, usava calça jeans e camisa de
malha tipo polo (da Riachuelo). Depois que me aposentei, troquei as camisas
de gola pelas t-shirt, mas continuo usando calça jeans (modelo básico),
mas não do jeito que o pré-idoso Zezé di Camargo (53 anos) parece gostar de
usar. As calças são tão justas que acredito que ele precise sempre escolher
entre a cueca e o saco, porque imagino que ali não cabem os dois juntos.
As camisetas t-shirt que visto não têm
nenhuma estampa e são, em geral, de cores sóbrias, tipo marrom, preto, cinza e
bege (apesar de, por insistência de minha mulher, eu às vezes usar também
outras cores). Mas bermuda, nem pensar.
Se a pessoa é jovem pode usar (quase) tudo,
que fica bom (ou não fica tão ruim). Isso é o que eu chamaria de dádiva da
juventude. Mas, velho? Por mim, deveria existir uma lei proibindo os homens com
mais de quarenta anos de usar bermuda, porque o resultado é sempre um desastre.
Se a pessoa for baixinha, aí é que arregaça mais. Não sei por que, mas sempre
acho que baixinho de bermuda está usando fralda geriátrica "cheia".
Seria talvez a versão masculina do estilo "maria mijona" (o que quer
que isso signifique). Sério!
Mesmo que eu me recuse a usar, já observei
que as bermudas poderiam ser divididas em três tipos principais. São eles:
- bermuda de velho rico: normalmente nas
cores branco ou bege, comprimento ligeiramente acima do joelho. São usadas com
camisa polo da Polo mesmo (ou Lacoste ou Hilfinger ou sei lá o que), por dentro
da calça (ou bermuda). Os velhinhos que as vestem sempre tem cara de gente
sebosa, pedante e chata. Ah!, e calçam tênis com meia branca de cano longo, até
o meio da canela. Uma bosta.
- bermuda de velho brega: podem ser de
qualquer tipo de tecido (jeans, xadrez, etc.). As camisas e camisetas podem
também ser de qualquer tipo, mas o efeito visual é sempre uma agressão. Tenho
um amigo que usa bermuda jeans com camisa social de manga curta e chinelo de
couro. Precisa comentar? Mas o máximo dessa categoria é uma bermuda que lembra
calça social, acompanhada de camisa de tipo social de manga curta, tênis e meia
social preta até a canela. Nessas horas você pensa que a raça humana pode mesmo
ser um equívoco da natureza.
- bermuda de velho sem noção. Esses são os
piores. Creio que é a eles que o Azarão se referiu. As bermudas são iguais às
que os filhos vestem; têm "trocentos" bolsos e umas cordinhas
inexplicáveis na boca da perna. O comprimento às vezes pode chegar até o meio
da canela(!), como se tivessem sido herdadas de um filho mais alto que o pai.
Quem usa essa merda veste qualquer tipo de camisa ou camiseta: do tipo "mamãe
sou gay", ou com estampas da banda Kiss, ou com frases engraçadíssimas(?)
ou inteligentes(?) ou ainda, no ápice do mau gosto, aquelas tipo
"regata", sem manga, que na minha juventude usavam-se em aulas de
educação física.
Esses caras usam qualquer tipo de calçado:
chinelo de borracha, tênis, sapato sem meia, chinelão de couro, sandália
franciscana, etc. Se forem gordinhos, é batata: as bermudas escorregam para os
quadris, mostrando o cofrinho, e as camisas deixam aparecer um pedaço da
barriga. Sem sacanagem, é só olhar para deduzir que o sujeito é frequentador
(ou dono) de bares tipo copo sujo.
O Azarão falou em boné. Ai, meu
caro, fodeu de vez. Toda vez que eu vejo um jovem com um andar meio gingado,
vestindo bermuda, chinelo de borracha e boné, já fico ligado, porque sempre
acho que pode ser marginal.
Em Beagá a moçada da periferia está usando
essa coisa com o bico para trás e como se a cabeça fosse maior que o boné. Aí,
se ventar um pouco mais forte o boné vai embora. Pensando bem, isso é tão ruim
quanto o estilo neimarketing de usar, quando as orelhas são
"guardadas" dentro da copa de um boné maior que a cabeça. Uma super
bosta.
E na rua, se vejo um velho usando boné com o
bico virado para trás, atravesso logo para o outro lado ou evito contato
visual. Sei lá, vai que o cara me conhece e vem me cumprimentar! Que eu poderia
fazer? Estender um crucifixo em sua direção? Jogar água benta? Dizer "esconjuro-te,
demônio"? O mais garantido é passar o resto do dia com depressão ou
enjoo.
Sei que sou a
última pessoa indicada para fazer esses comentários, mas continuo permitindo-me
pensar que assim como existe uma "Moda
Verão", talvez exista também uma Moda Velhão.
Uma coisa é certa: estando ou não
com a razão, quem usou na juventude calça de bolso redondo e camisa com manga “boca
de sino” (copiada do integrante masculino do “Trio
Esperança”, meu!!!) não passa nenhuma credibilidade quando se mete a fazer
avaliações de estilo e de moda.
eu também só uso calça jeans (de macho, nada de lycra, elastano, que já vem com perna rasgada, suja, desbotada, muito menos as do Zezé di Camargo) e camisas polo estilo Riachuelo e camisetas a la Hering, e também nas cores cinza, preta, azul-marinho, branca de vez em quando.
ResponderExcluirSim, as bermudas a que me referi são mesmo as que os velhos roubam dos guarda-roupas dos netos, em nylon fosforescente, cheia de cordinhas, bolsos etc.
A espécie humana pode ser um equívoco da natureza? Ainda tem dúvidas?
Olha, Jotabê, você me surpreendeu com seu conhecimento bermudístico. Já que está aposentado, talvez seja hora de começar uma nova carreira - um dinheirinho a mais no orçamento não faz mal pra ninguém -, a de consultor de moda para a terceira idade. Um old stylist.
Vou aproveitar essa provocação para responder de forma séria. Eu acho bermuda uma merda tão grande para gente mais velha que acabo observando os manés que saem às ruas vestidos com ela. Creio que é mais ou menos a situação dos ateus: em geral, entendem mais de religião dos que aqueles que creem em Deus. Agora, “old stylist”? Nesse negócio de “old” o máximo que me atrevo a comentar é que o uísque “Old Eight” era ruim demais.
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