sexta-feira, 6 de novembro de 2015

MODA VERÃO

Dia desses o dono do blog “A Marreta do Azarãoencheu minha bola (por favor, fique no singular para não causar interpretações equivocadas e maliciosas) em um post de seu blog, ao elogiar as tranqueiras que escrevo, chegando ao ponto máximo da bajulação explícita ao transcrever um trecho do post “Pandora”. E até fez o seguinte comentário:

Jotabê - tenho certeza - não é daqueles velhos "garotões", que se metem a usar bermudões, boné, andar pelas ruas com seu iphone no ouvido ou baixar o nível de seu pensamento e vocabulário para falar a linguagem dos jovens. Está cheio de velhos por aí - e mais ainda de velhas - que fazem esse papel ridículo, eu conheço um punhado”.

Quem quiser ler o texto na íntegra, siga o link (algum corporativismo entre blogueiros nunca é demais):

Depois de ler os elogios, não seria nada demais se eu ficasse mais sem graça que sundae de chuchu, mais vermelho que o PT (ruborizado, entendeu?) ou com cara de cachorro que peidou na igreja, mas acabei só pensando nas suposições feitas por ele. Fones de ouvido, por exemplo, é mole, pois nem os tenho. Quanto à linguagem, a coisa complica um pouco.

Já disse que ao conversar com qualquer pessoa sintonizo o estilo e ajusto o vocabulário de acordo com cada um. Linguagem de carroceiro, gírias e palavrões em abundância, linguagem culta, estilo comedido, etc. Enfim, comportamento de camaleão, espelho ou maria-vai-com-as-outras. Na linguagem escrita a coisa fica mais fácil, até porque só escrevo hoje para o Blogson. Assim, adoto sistematicamente linguagem coloquial cheia de erros (os erros não são propositais), pois ter que vestir terno ou fraque só para usar algumas palavras mais empoladas da "ultima flor do Lácio" é dose.

Acho até que tenho bom vocabulário (umas cem palavras, talvez), mas prefiro linguagem descontraída. O que não significa gostar de utilizar linguagem obscena. Evito ao máximo utilizar palavras relacionadas à genitália feminina, pois é muito difícil ser engraçado ou sutil sendo tão explícito. E tenho também certo pudor, pois nasci em 1950, em uma família católica, meu!

Como a minha praia é tentar fazer (sor)rir, eu adoto propositalmente expressões, palavras e gírias que ouço na rua (moro em frente a um colégio público), principalmente quando penso criar algum diálogo idiota (todos, a bem da verdade). Com essa jogada, tento fazer uma espécie de pescaria de leitores (provavelmente jovens, porque velho morre de medo de computador).

Então, minha linguagem escrita é resultado de um caldo proveniente do que eu classificaria de "cultura pop", pois tento liquidificar todas as informações que recebo das mais diversas mídias. Não tenho facebook nem twitter, mas consigo entender a mecânica dessas redes, pois minha mulher e filhos as utilizam. É por aí.

Mas queria me deter um pouco mais ainda na questão vestuário, pois fiquei com uma dúvida: existiria uma moda específica para idosos? O problema é que não conheço merda nenhuma dessa área para tentar responder essa pergunta.

Para mim, desfile lembra sete de setembro e passarela é aquela coisa que ninguém utiliza quando quer atravessar um avenida super movimentada. Essa minha incapacidade já foi abordada outras vezes no Blogson, como no post “Trocando em Miúdos” (nunca é demais uma propagandinha, porque até mesmo ateus acreditam que a propaganda é a alma do negócio).

Então, só para lembrar, transcrevo uma frase: “Não sei escolher nada e o máximo que consigo é saber que uma calça não é um vestido e que uma sandália, afinal, nunca foi uma botina”.

Talvez por conta dessa deficiência incapacitante, desse daltonismo fashion, meu modo de vestir é bastante simples (isso é real). Quando ainda trabalhava, usava calça jeans e camisa de malha tipo polo (da Riachuelo). Depois que me aposentei, troquei as camisas de gola pelas t-shirt, mas continuo usando calça jeans (modelo básico), mas não do jeito que o pré-idoso Zezé di Camargo (53 anos) parece gostar de usar. As calças são tão justas que acredito que ele precise sempre escolher entre a cueca e o saco, porque imagino que ali não cabem os dois juntos.

As camisetas t-shirt que visto não têm nenhuma estampa e são, em geral, de cores sóbrias, tipo marrom, preto, cinza e bege (apesar de, por insistência de minha mulher, eu às vezes usar também outras cores). Mas bermuda, nem pensar.

Se a pessoa é jovem pode usar (quase) tudo, que fica bom (ou não fica tão ruim). Isso é o que eu chamaria de dádiva da juventude. Mas, velho? Por mim, deveria existir uma lei proibindo os homens com mais de quarenta anos de usar bermuda, porque o resultado é sempre um desastre. Se a pessoa for baixinha, aí é que arregaça mais. Não sei por que, mas sempre acho que baixinho de bermuda está usando fralda geriátrica "cheia". Seria talvez a versão masculina do estilo "maria mijona" (o que quer que isso signifique). Sério!

Mesmo que eu me recuse a usar, já observei que as bermudas poderiam ser divididas em três tipos principais. São eles:

- bermuda de velho rico: normalmente nas cores branco ou bege, comprimento ligeiramente acima do joelho. São usadas com camisa polo da Polo mesmo (ou Lacoste ou Hilfinger ou sei lá o que), por dentro da calça (ou bermuda). Os velhinhos que as vestem sempre tem cara de gente sebosa, pedante e chata. Ah!, e calçam tênis com meia branca de cano longo, até o meio da canela. Uma bosta.

- bermuda de velho brega: podem ser de qualquer tipo de tecido (jeans, xadrez, etc.). As camisas e camisetas podem também ser de qualquer tipo, mas o efeito visual é sempre uma agressão. Tenho um amigo que usa bermuda jeans com camisa social de manga curta e chinelo de couro. Precisa comentar? Mas o máximo dessa categoria é uma bermuda que lembra calça social, acompanhada de camisa de tipo social de manga curta, tênis e meia social preta até a canela. Nessas horas você pensa que a raça humana pode mesmo ser um equívoco da natureza.

- bermuda de velho sem noção. Esses são os piores. Creio que é a eles que o Azarão se referiu. As bermudas são iguais às que os filhos vestem; têm "trocentos" bolsos e umas cordinhas inexplicáveis na boca da perna. O comprimento às vezes pode chegar até o meio da canela(!), como se tivessem sido herdadas de um filho mais alto que o pai.

Quem usa essa merda veste qualquer tipo de camisa ou camiseta: do tipo "mamãe sou gay", ou com estampas da banda Kiss, ou com frases engraçadíssimas(?) ou inteligentes(?) ou ainda, no ápice do mau gosto, aquelas tipo "regata", sem manga, que na minha juventude usavam-se em aulas de educação física.

Esses caras usam qualquer tipo de calçado: chinelo de borracha, tênis, sapato sem meia, chinelão de couro, sandália franciscana, etc. Se forem gordinhos, é batata: as bermudas escorregam para os quadris, mostrando o cofrinho, e as camisas deixam aparecer um pedaço da barriga. Sem sacanagem, é só olhar para deduzir que o sujeito é frequentador (ou dono) de bares tipo copo sujo.

O Azarão falou em boné. Ai, meu caro, fodeu de vez. Toda vez que eu vejo um jovem com um andar meio gingado, vestindo bermuda, chinelo de borracha e boné, já fico ligado, porque sempre acho que pode ser marginal.

Em Beagá a moçada da periferia está usando essa coisa com o bico para trás e como se a cabeça fosse maior que o boné. Aí, se ventar um pouco mais forte o boné vai embora. Pensando bem, isso é tão ruim quanto o estilo neimarketing de usar, quando as orelhas são "guardadas" dentro da copa de um boné maior que a cabeça. Uma super bosta.

E na rua, se vejo um velho usando boné com o bico virado para trás, atravesso logo para o outro lado ou evito contato visual. Sei lá, vai que o cara me conhece e vem me cumprimentar! Que eu poderia fazer? Estender um crucifixo em sua direção? Jogar água benta? Dizer "esconjuro-te, demônio"? O mais garantido é passar o resto do dia com depressão ou enjoo.

Sei que sou a última pessoa indicada para fazer esses comentários, mas continuo permitindo-me pensar que assim como existe uma "Moda Verão", talvez exista também uma Moda Velhão.

Uma coisa é certa: estando ou não com a razão, quem usou na juventude calça de bolso redondo e camisa com manga “boca de sino” (copiada do integrante masculino do “Trio Esperança”, meu!!!) não passa nenhuma credibilidade quando se mete a fazer avaliações de estilo e de moda.

2 comentários:

  1. eu também só uso calça jeans (de macho, nada de lycra, elastano, que já vem com perna rasgada, suja, desbotada, muito menos as do Zezé di Camargo) e camisas polo estilo Riachuelo e camisetas a la Hering, e também nas cores cinza, preta, azul-marinho, branca de vez em quando.
    Sim, as bermudas a que me referi são mesmo as que os velhos roubam dos guarda-roupas dos netos, em nylon fosforescente, cheia de cordinhas, bolsos etc.
    A espécie humana pode ser um equívoco da natureza? Ainda tem dúvidas?
    Olha, Jotabê, você me surpreendeu com seu conhecimento bermudístico. Já que está aposentado, talvez seja hora de começar uma nova carreira - um dinheirinho a mais no orçamento não faz mal pra ninguém -, a de consultor de moda para a terceira idade. Um old stylist.

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    1. Vou aproveitar essa provocação para responder de forma séria. Eu acho bermuda uma merda tão grande para gente mais velha que acabo observando os manés que saem às ruas vestidos com ela. Creio que é mais ou menos a situação dos ateus: em geral, entendem mais de religião dos que aqueles que creem em Deus. Agora, “old stylist”? Nesse negócio de “old” o máximo que me atrevo a comentar é que o uísque “Old Eight” era ruim demais.

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