Há muitos anos, assisti na televisão a um
filme divertidíssimo do Mel Brooks (em uma Sessão Coruja,
provavelmente), sobre um médico (interpretado pelo próprio diretor) que assume
a direção de um hospital psiquiátrico. O hilário é que o médico - apesar de
psiquiatra - é altamente ansioso, daí o nome do filme. É uma paródia-homenagem
aos filmes de suspense do Hitchcock. A cena que lembra Psicose é
engraçadíssima. Mas a linha mestra deste texto não é cinema, é ansiedade, ou
melhor, a alta ansiedade que esse blog causa em mim.
O Blogson – como já foi dito um milhão de vezes – surgiu como uma opção de desova das tranqueiras que escrevia e encaminhava através de e-mail para meus filhos e um reduzidíssimo grupo de amigos. Mesmo tendo resgatado um volume lascado dessas bobagens e idiotices, uma hora essa fonte secaria. Por isso, escrevi o post “Perdendo o Gás”, onde comentei que ainda tinha cinquenta textos e desenhos inéditos (para o blog, bem entendido). Fiz até a "promessa" transcrita a seguir (já descumprida, obviamente):
Como preciso criar vergonha na cara e vencer essa dependência paralisante (acesso o Blogson umas trinta vezes por dia, sem exagero) resolvi chutar o balde: tenho 52 textos e desenhos programados para sair só às sextas-feiras.
Já que o número de acessos ao blog não aumenta mesmo, só espero que os 2,3 leitores frequentes desta bagaça não esqueçam o velho e alquebrado Jotabê. E se pensar em descumprir a programação mais uma vez, vou pedir à minha mulher para me acorrentar no pé da cama (nada a ver com práticas sado-masô, entendeu?). Talvez assim funcione (a programação, é claro).
Para vencer essa ansiedade, não ficar mal comigo mesmo e burlar a sexta-feira, criei um artifício: a reserva técnica de cinquenta posts continua valendo. Assim, se quiser divulgar um texto ou desenho no meio da semana, precisarei escrever alguma coisa para repor o estoque. Caso de tratamento psiquiátrico, concordam?
Depois disso, já postei bobagens novas e
idiotices fresquinhas, que mantiveram o estoque praticamente inalterado.
Curioso é o fato de acontecer comigo o que foi motivo de ironia do Rubem Braga:
eu sempre acho que o que acabei de escrever é mais “genial” que os mais
antigos. Em uma de suas fantásticas crônicas, ele escreveu:
“Os escritores adolescentes são horríveis pais, que vivem renegando os filhos semanas e às vezes dias depois de nascidos, passando seu amor de armas e bagagens para outro filho que acham um primor e que logo renegarão; com o tempo a gente fica menos ansioso e mais humilde e se às vezes contempla a filharada toda com aborrecimento pelo menos não a despreza mais por amor dos recém-nascidos, que já sabemos que não são grande coisa”.
Boa deixa! Pensando nas coisas que escrevi até agora, eu sinto também que “não são grande coisa”, mas tenho, sinceramente, certo carinho por esses textos. Ou seja, ainda que de forma desigual, eu gosto de tudo o que já escrevi, mesmo tendo certeza – como ensinou o velho Braga, “que não são grande coisa”.
O que nunca comentei é que tenho também uma
lista de ideias para novos posts, alguns já começados e há até os que possuem
apenas um título (sempre provisório), mas não lembro mais o que pretendia dizer
(ah, velhice!).
E para encerrar este texto movido a alta
ansiedade, preciso fazer uma confissão: eu já tenho pronto o último post
que sairá no Blogson. É sério! Um dia, pensando por quanto tempo ainda o
Blogson existiria, resolvi escrever seu último post. Assim, quando alguém
acessasse o blog e visse esse texto, saberia (saberá) que aquele é o ponto
final.
Não tenho dúvida que isso é um desejo, uma
compulsão de controlar minha vida e meus atos (mais um motivo para terapia),
mas, por via das dúvidas, sua publicação foi programada para o ano de 2020.
Mesmo que não pretenda parar agora (alguém se lembrou da "reserva
técnica"?), está tudo lá, prontinho, revisado e com título, definitivo.
Qual o título? CODA. Quem quiser saber por que, precisará esperar o dia chegar
ou pesquisar na internet.
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