sábado, 12 de abril de 2025

AH, COLUMBINA!

  
Um dia eu li ou ouvi o Amir Klink contar uma de suas inúmeras e incríveis histórias ocorridas quando era um navegador solitário ao redor do mundo. Mais precisamente, um navegador solitário e louco, pois só um maluco teria coragem de fazer o que ele fez. E uma dessas história é esta, narrada por ele mesmo:
 
Já ancorado na Antártica, ouvi ruídos que pareciam de fritura. Pensei: Será que até aqui existem chineses fritando pastéis?
Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada. O efeito visual era belíssimo. Pensei em fotografar, mas falei pra mim mesmo – “Calma, você terá muito tempo para isso...” Nos 637 dias que seguiram o fenômeno não se repetiu. As oportunidades são únicas.
 
Desencavei esta história, pela sua analogia distante com o caso de hoje, pois eu queria um desenho realista que reproduzisse com exatidão um fato acontecido aqui em casa tempos atrás, antes que colocássemos telas em todas as janelas. Claro que eu nunca conseguiria fazê-lo. Por isso, pedi ao ChatGPT para gerar um desenho para mim, a partir das minhas lembranças. E passei esta descrição para a IA:
 
Gostaria que fizesse um desenho que fosse o mais realista possível. Para isso, vou te dar as informações necessárias:
 
Temos um quintal muito grande nos fundos do imóvel onde moramos. No limite do lote, lá no fundo, construímos uma edícula e nela instalamos uma janela de vidro plano e transparente, sempre mantido impecavelmente limpo.
 
Um dia, uma rolinha (Columbina talpacoti), ave muito comum em nosso bairro, talvez fugindo de um gavião, tentou se esconder dentro da edícula sem perceber que a janela estava fechada. Voou direto de encontro ao vidro imaculadamente limpo e transparente, onde se esborrachou.
 
Não sei o que aconteceu com ela, mas sua marca ficou estampada no vidro, graças ao pó/poeira que havia em suas penas. Dava para ver nitidamente que talvez tenha tentado evitar a colisão, pressentida tarde demais. A imagem construída pela poeira mostrava a ave com a cabeça de lado, o olho fechado e o resto do corpo totalmente identificável, inclusive os pés, ligeiramente recolhidos junto ao corpo. Era uma imagem espetacular que eu me arrependo de não ter fotografado, pois dependendo da luminosidade do dia não era percebida.
 
Você conseguiria gerar essa imagem “fantasmagórica” para mim?
 
E o ChatGPT entregou este desenho:



 
Apesar de muito boa, não era a imagem guardada na minha memória evanescente. Assim, tentei explicitar mais um pouco:
 
Ficou boa a imagem, mas muito nítida, muito mais que a real. O corpo e os pés ficaram perfeitos, mas a cabeça deveria estar virada para a direita e como se estivesse com pescoço quebrado ou olhando para os pés. As asas deveriam estar semi-fechadas e, lembre-se, a imagem foi sugerida apenas pelo pó que se desprendeu do corpo da ave, nunca daria para ver as penas do corpo. Dá para tentar corrigir? E não precisa de nenhuma cor auxiliar nem detalhe da moldura da janela.
 
E veio o segundo desenho (muito pior que o primeiro):
 


 
Conclusão: uns dois dias depois, graças a uma chuva de vento, a imagem foi lavada e sumiu completamente. Hoje seria impossível algum passarinho se esborrachar na janela sem perceber o vidro fechado, pois instalamos uma telinha contra o mosquito da dengue em todas as janelas da casa.

Acho improvável obter um desenho tal como o "xerox feito com poeira" que um dia eu vi e que me encantou tanto. Deveria ter fotografado aquela imagem, pois assim como os cristais da história do Amir Klink, aquele acontecimento tão inusitado, tão especial nunca mais se repetiu - e nem se repetirá. Reproduzindo o que disse o navegador aloprado, "As oportunidades são únicas"

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