sexta-feira, 11 de abril de 2025

CONTEÚDOS HISTÓRICOS

 
Diz o ditado que “há males que vêm para o bem”. Parece que isso aconteceu comigo hoje, depois de ler a notícia de que a câmara municipal de BH aprovou o uso da Bíblia em escolas como “material de apoio”. O projeto de lei que quer normatizar essa excrescência é de autoria da vereadora Flavia Borja (DC), “cristã conservadora”, segundo seu perfil no Instagram. Parece que a proposta é de que a Bíblia seja utilizada para disseminar “conteúdos culturais históricos, geográficos e arqueológicos”.
 
Eu nasci e me criei em uma família católica “raiz”, minha mulher também é catoliquíssima. A consequência disso é que durante muitos anos eu fui à missa aos domingos, teve até uma fase de missas diárias, tentei ler toda a Bíblia, mas graças a essas leituras e a uma rebeldia intelectual natural, passei primeiro a questionar os textos bíblicos e, depois, até a minha própria fé.
 
Hoje eu brinco dizendo ser um “ateu-católico” ou um “católico-ateu”. Por isso, quando leio notícias desse tipo eu fico puto e me desespero, pois, sinceramente, não consigo enxergar esses “conteúdos culturais históricos, geográficos e arqueológicos” na “Vívlia” (como dizia uma freira mexicana com quem conversei). Além disso, acho justo que os livros sagrados de outras religiões (como o Bhagavad Gita ou o Alcorão, por exemplo) sejam também estejam disponíveis para “disseminar conteúdos culturais históricos, geográficos e arqueológicos”.
 
Como isso não acontecerá, espero que essa lei não seja sancionada pelo nosso alcaide atual. Mas, como disse no início, “há males que vêm para o bem”, pois a minha raiva ao ler a notícia despertou um desejo adormecido de criar um “diálogo de spamtar” daqueles bem idiotas. O diálogo imaginado acabou gerando uma HQ muitíssimo mal acabada (que será publicada em seguida. Apesar do resultado obtido ser bem "mais ou menos", eu me diverti enquanto fazia. Olhaí.

- Senhor, eu subi aqui para receber vossos mandamentos!
- Você não trabalha não?
- Bom, eu deixei alguns parentes para cuidar do rebanho na minha ausência.
- Sei...
- E então, quando começamos?
- Você pelo menos trouxe as lajotas de arenito?
- Arenito?
- É, para tornar mais fácil a gravação!
- Pô, Chefia, isso é mole para o Senhor!
- Além dos ensinamentos que vou ditar, você espera que eu também fique com calos nas mãos?
- Mas eu vou gastar uma eternidade!
- Bobagem, são só 40 dias! Preparado para começar a gravar?

3 comentários:

  1. Também não concordo que a Bíblia especificamente, seja objeto de estudo em escolas municipais para turmas do Fundamental. A menos que houvesse no currículo, uma matéria sobre "religião comparada", onde se estudaria de forma básica (bem ao nível do Fundamental) as grandes tradições religiosas.
    Não há dúvida que a Bíblia é o livro mais importante do Ocidente. Rica sim em história (ainda que narrada do ponto de vista da religião hebraica), sagas, provérbios, poesias, filosofia, moral, etc. Me causa também uma estranheza com a forte oposição ao livro em círculos acadêmicos de esquerda. Mas é compreensível, lá eles preferem a Bíblia de Marx e Engels(ainda que muitos socialistas defendam que o socialismo tem origem na Bíblia. Uma afirmação a se discutir).

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    1. Eu nunca li Marx nem Engels e estou pouco me lixando para o que escreveram. Também não sei se a Bíblia provoca "forte oposição em círculos acadêmicos de esquerda". Não sendo de esquerda, minhas críticas partiram de dentro de mim mesmo, do desejo sincero de conhecer esse livro, de ler todo o seu conteúdo. E uma dúvida puxa outra, que puxa uma crítica, que puxa mais outra e a coisa vai tomando vulto. Por exemplo, dá para acreditar na longevidade dos patriarcas tais como Adão (930), Set (912), Enosh (905), Cainã (910), Malaleel (895), Jared (962), Henoc (365), Matusalém (969), Lamec (777) e Noé (950)? A resposta imediata é: só se você for muito burro ou ingênuo!
      E há outras idiotices do gênero em um livro que se pretende ser fonte de pesquisa histórica. Quem crê em Adão e Eva desconhece a existência de humanos que coabitaram a Terra com nossos ancestrais. E vou mais longe: quem crê em Adão e Eva tem todas as condições para acreditar em Papai Noel e no coelhinho da Páscoa..
      Como disse, nasci em uma família católica e me casei em outra família católica. Hoje tenho um filho ateu, um cunhado e um sobrinho umbandistas, tio e primos evangélicos, outros espíritas, etc. Essa multiplicidade de crenças me faz rejeitar a visão de uma vereadora "cristã conservadora" que quer ver sua crença sendo abençoada em um país que (ainda) é laico. Por isso a minha raiva.
      Para mim a religião pode fazer um bem enorme a quem tem fé, mas sempre será perniciosa quando essa fé for contaminada pela crendice, pela intolerância com outras crenças e pelo autoritarismo que não entende que a religião – qualquer uma – pode ser extremamente tóxica ameaçadora e até perigosa para quem questiona ou duvida de seus ensinamentos.
      Quanto a considerar a Bíblia como fonte de consulta histórica ou arqueológica é querer que o livro sagrado dos cristãos seja uma espécie de “Manual do Escoteiro Mirim” para adultos e crentes.Deixem a religião fora das escolas! Que ela seja praticada apenas dentro de casa ou nos templos e igrejas (onde vai quem quer). Seria tão bom se isso acontecesse!

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  2. Concordo. Que cada tenha a decência de guardar a sua fé para si.

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