quinta-feira, 29 de julho de 2021

SEPARANDO O JOIO DO JOIO


 
Já contei parte desta história aqui, mas vou repetir. Não creio que isso tenha acontecido com todos os meus tios, mas sei que pouco antes de morrer pelo menos um dos irmãos de meu pai rasgou ou queimou tudo o que tinha escrito até então. Meu pai dizia que Tio Chiquinho escrevia super, super bem e que até colaborou em algum jornal, mas isso foi insuficiente para desejar ver preservada sua “obra”. Aparentemente, muitas pessoas acham necessário ou gostam de "apagar rastros", destruir papeis e documentos que eventualmente poderiam mudar a imagem que construiram de si e para si mesmos. 
 
Meu pai também escrevia bem, mas tinha um vício quase indesculpável: para impressionar colegas e superiores misturava comentários irônicos e até engraçados nos textos técnicos relacionados à profissão por ele exercida. Essa salada tornava a leitura dessa mistura bastante indigesta (pelo menos para mim, a quem submetia o que acabara de escrever). Talvez fosse esse o pecado dos textos que me deixou ler. Tenho certeza de que o resultado seria fabuloso se tivesse resolvido registrar casos de sua infância e do tempo em que permaneceu no distrito de São José dos Oratórios (onde nasceu), porque ele era um ótimo contador de casos.
 
Mas não sei o destino de toda a papelada que produziu, pois foi meu irmão que se incumbiu de limpar, triar, guardar ou jogar fora o que nosso pai deixou. Além dos textos escritos por ele, guardava também uma papelada imensa que recortava de jornais e revistas. Anotava muita coisa, escreveu outro tanto, mas não sei se sobrou algo a ser preservado, pois meu irmão disse que os cupins fizeram uma festa com esses papeis. Por isso, ele pode ter feito com os guardados de Seu Amintas o que nossos tios fizeram antes de morrer com a papelada por eles produzida: talvez tenha queimado tudo.
 
Mas alguma coisa meu irmão preservou (de imenso valor sentimental para mim). Depois da morte de nosso pai descobri que ele guardava rótulos dos produtos produzidos pelo laboratório farmacêutico da família (que faliu). Meu irmão disse que me daria um jogo dessas relíquias Como hoje não nos falamos mais, a coisa parou por aí. Mas, tudo bem, talvez um dia, lá no Centro Oriente, eu resolva "baixar" em alguém só para conhecer esses rótulos que nunca vi (bazinga!).
 
Por que estou dizendo isso? Por um comentário que um amigo virtual fez em um post que publiquei há algum tempo. Comentando sobre o que eu tinha escrito sobre meu pai ele disse que “Talvez se na época dele houvesse blogs, a obra dele teria ficado registrada, feito a sua. Feito a minha. Mas não sei se eu quero algum possível futuro neto lendo a herança do avô”.
 
Achei extremamente curiosa a última frase, pois meu pensamento vai na direção oposta. Não tenho a menor vergonha, o mínimo receio de que meus filhos ou netas leiam o que publiquei aqui no blog. Pelo contrário, gostaria que lessem e curtissem tudo!
 
E o motivo é o fato de ter-me atirado no velho Blogson sem nenhuma rede de proteção, sem filtro quase nenhum. A cada espatifada que eu dava no chão surgiam peças do mosaico que fui montando de mim mesmo.  E o que começou como uma brincadeira, um passatempo para um idoso aposentado acabou se transformando em  uma terapia gratuita, uma blogoterapia de longa duração que me permitiu ver com bastante nitidez quem eu realmente sou hoje, quem eu fui e o que fiz para chegar até este momento.
 
Com essa visão e com o empurrão de outro amigo virtual, resolvi me divertir mais um pouco. Como a inspiração tem andado mais seca que rio intermitente do semi-árido nordestino, resolvi selecionar material entre os mais de 2.200 posts como se fosse publicar um livro ou e-books “de grátis” na Amazon. E mesmo que isso seja apenas ficção, mesmo que nunca publique porra nenhuma, o prazer de separar o joio do joio está sendo muito grande (que foi, acha que aqui tem algum trigo? No Blogson é assim: joio primeira escolha, joio segunda escolha e quirera). E assim vai rolando minha vida até onde der, pois tenho sentido que minha blogoterapia está chegando ao fim. Mas deletar o que publiquei no blog, nem pensar!

4 comentários:

  1. Rapaz, acho que o primeiro comentário é meu, né?
    Sua blogoterapia está chegando ao fim? Vá sonhando... Blgo não é terapia, não, é neurose.

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    1. Corretíssimo. O outro amigo citado é o Scant. Quanto à neurose, você está 50% certo (no meu caso, pelo menos), pois como sou extremamente egocêntrico e adoro falar (mal) de mim, o efeito terapêutico fica assegurado, captou?

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    2. Acho que captei. Meio que a cobra que morde o próprio rabo, né?

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    3. Isso de cobra e rabo ficou meio esquisito, mas vamos deixar pra lá.

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