quinta-feira, 31 de agosto de 2017
terça-feira, 29 de agosto de 2017
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
MOAGEM
Entre quatro e cinco da manhã eu acordo. A
televisão está ligada (ela está sempre ligada) e um telepastor vocifera ameaçadoramente uma oração ou
exibe os milagres operados em sua igreja (numa prova de que o diabo existe e é um
gozador). Apesar do som baixo do aparelho, não consigo mais dormir. O controle remoto está debaixo do travesseiro de minha mulher. Sento-me na
beirada da cama por alguns instantes (como ensinou o cardiologista). Estou
definitivamente desperto. Levanto-me meio trôpego e vou ao banheiro. Olho com
inveja para minha mulher, que dorme tranquilamente. Minha boca está seca. Arrasto-me até a cozinha e bebo um gole de água. Mais um gole para tomar
os remédios de hipotireoidismo e hipertensão. Entro no quarto onde o
computador está sempre ligado. Sem acender a luz, ligo o monitor e acesso o Blogson ou o Facebook. Fico por ali até dar seis horas, quando o despertador toca
e acorda minha mulher. Volto à cozinha, faço um sanduíche de pão de forma com
queijo cottage e preparo para mim um café com leite, com leite gelado, adoçante e
o café que sobrou do dia anterior. Preparo também um capuccino para minha
mulher . Tomo meu café enquanto leio a revista Veja ou algum livro. Coloco
comida e água para o Zulu, que já está meio enlouquecido de fome. Aproveito
para dar a ele o comprimido que toma duas vezes por dia. Vou ao banheiro
levando um sudoku para fazer. Lavo minhas mãos e volto ao computador. Nenhuma
alteração. Começo a preparar um café novinho. Enquanto a água vai esquentando,
lavo a garrafa, moo os grãos de café, coloco no coador de papel e espero a
fervura. Coado o café, tomo o primeiro do dia, adoçado com dez gotas de
sucralose (meus filhos condenam isso, mas não ligo). Levo um café quentinho
para minha mulher e volto ao computador. Nada de novo. Resolvo lavar algumas
vasilhas sujas na noite anterior. Às vezes molho as plantas, às vezes não. Se há
roupas para lavar, limpo a poeira de asfalto depositada nos varais enquanto minha
mulher separa as peças sujas, dividindo-as por categorias (“roupas escuras”,
“de ficar em casa”, de "de sair", “toalhas de banho”, “lençóis, fronhas e toalhas de mesa”,
etc.). Começo a colocá-las na máquina de lavar. À medida que os ciclos de lavagem se sucedem, tomo mais um café e olho o computador outra vez enquanto a
máquina não para. Ao fim de cada ciclo estendo algumas roupas no varal e coloco
outras na secadora. Essa rotina ocupa praticamente toda a primeira parte do
dia. Depois, enquanto minha mulher vai preparando o almoço, tento ajudá-la
cortando ou picando algum alimento. Às vezes dou uma olhada no computador e
tomo mais um café. Como uma fruta e a ansiedade começa a se manifestar. no desejo de comer alguma coisa Chegada
a hora do almoço, tento me alimentar de forma regrada e com calma. Acesso
novamente o blog e o Facebook. Tento escrever alguma coisa ou ler algum
livro, mas começo a cochilar. Levanto-me, tomo mais um café e às vezes saímos
para fazer compras no supermercado. No meio da tarde começo a fazer novo café.
Enquanto vê televisão, minha mulher fica absorta com costuras e outros de seus
quefazeres. Leio algum livro ou mexo no computador. Ultimamente, para cumprir
uma promessa que fiz em 1997, temos ido à missa diariamente, às vezes pela
manhã, outras à noite. Curiosamente, essa é uma atividade calmante e prazerosa
graças às orações padronizadas da celebração, verdadeiros mantras católicos.
Com exceção dos domingos e dos dias com missas de sétimo dia mais concorridas,
a igreja fica extremamente vazia e silenciosa, com não mais que trinta pessoas
presentes às celebrações. Durante a missa, meu olhar às vezes se volta para as
velas acesas, atraído por seu brilho hipnótico e repousante. Vou à padaria
todas as noites pois nunca comemos pão dormido. Vejo um pouco de jornal na
televisão ou algum programa da TV a cabo, mas começo quase imediatamente a
cochilar. Dou o segundo comprimido para o cachorro, tomo a segunda dose do
remédio para hipertensão e faço um lanche. Tento ler mais um pouco mas começo a cochilar sem controle. levanto-me, escovo os dentes, tomo banho e
deito-me para ver televisão, mas adormeço imediatamente. Assim, sem que eu preste atenção, mais um dia se
passou.
Entre
quatro e cinco da manhã eu acordo sento-me na beirada da cama por alguns
instantes levanto-me meio trôpego e vou ao banheiro olho com inveja para minha
mulher que dorme tranquilamente minha boca está seca vou até a
cozinha e bebo um gole de água mais um gole para tomar os remédios de
hipotireoidismo e hipertensão vou para o quarto onde o computador está sempre
ligado sem acender a luz ligo o monitor e acesso o blog ou o Facebook fico por
ali até dar seis horas quando o despertador toca e acorda minha mulher volto à
cozinha faço um sanduíche de pão de forma com queijo cottage preparo para mim
um café com leite com leite gelado adoçante e o café que sobrou do dia anterior
preparo também um capuccino para minha mulher tomo meu café enquanto leio a
revista veja ou algum livro coloco comida e água para o Zulu que já está meio
enlouquecido de fome aproveito para dar a ele o comprimido que toma duas vezes
por dia vou ao banheiro levando um sudoku para fazer lavo minhas mãos e volto
ao computador nenhuma alteração começo a preparar um café novinho: enquanto a
água vai esquentando lavo a garrafa moo os grãos de café coloco no coador de
café e espero a fervura coado o café tomo o primeiro do dia adoçado com dez
gotas de sucralose levo um café quentinho para minha mulher e volto ao
computador nada de novo resolvo lavar algumas vasilhas sujas na noite anterior
enquanto minha mulher vai preparando o almoço tento ajudá-la cortando ou
picando algum alimento às vezes dou uma olhada no computador e tomo mais um
café como uma fruta e a ansiedade começa a se manifestar chegada a hora do
almoço tento me alimentar de forma regrada e com calma acesso novamente o
Blogson e o Facebook tento escrever alguma coisa ou ler algum livro mas começo
a cochilar levanto-me tomo mais um café e às vezes saímos para fazer compras no
supermercado no meio da tarde começo a fazer novo café enquanto vê televisão
minha mulher fica absorta com costuras e outros de seus quefazeres leio algum
livro ou mexo no computador temos ido à missa diariamente às vezes pela manhã
outras à noite vou à padaria todas as noites pois nunca comemos pão dormido
vejo um pouco de jornal na televisão ou algum programa da TV a cabo mas começo
quase imediatamente a cochilar dou o segundo comprimido para o cachorro tomo a
segunda dose do remédio para hipertensão e faço um lanche escovo os dentes tomo
banho e deito-me para ver televisão mas adormeço imediatamente. Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado, a rotina se multiplica. Assim, sem perceber, mais uma semana se
passou.
Entre
quatro e cinco da manhã eu acordo sento-me na beirada da cama por alguns
instantes levanto-me meio trôpego e vou ao banheiro olho com inveja para minha
mulher que dorme tranquilamente minha boca está seca vou até a
cozinha e bebo um gole de água mais um gole para tomar os remédios de hipotireoidismo
e hipertensão vou para o quarto onde o computador está sempre ligado sem
acender a luz ligo o monitor e acesso o blog ou o Facebook fico por ali até dar
seis horas quando o despertador toca e acorda minha mulher volto à cozinha faço
um sanduíche de pão de forma com queijo cottage preparo para mim um café com
leite com leite gelado adoçante e o café que sobrou do dia anterior preparo
também um capuccino para minha mulher... Passa uma semana,
passa mais uma, passam duas, três. Assim, sem que eu me dê conta disso, mais um
mês se passou.
Entre
quatro e cinco da manhã eu acordo sento-me na beirada da cama por alguns
instantes levanto-me meio trôpego e vou ao banheiro olho com inveja para minha
mulher que dorme tranquilamente minha boca está seca vou até a
cozinha e bebo um gole de água mais um gole para tomar os remédios de
hipotireoidismo e hipertensão vou para o quarto onde o computador está sempre
ligado sem acender a luz ligo o monitor e acesso o blog ou o Facebook... Os meses se sucedem:
janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro,
outubro, novembro, dezembro. E assim, sem que eu perceba, mais um ano se
passou.
Entre
quatro e cinco da manhã eu acordo sento-me na beirada da cama por alguns
instantes levanto-me meio trôpego e vou ao banheiro olho com inveja para minha
mulher que dorme tranquilamente minha boca está seca vou até a
cozinha e bebo um gole de água... A rotina diária é opressiva, asfixiante e tem a lentidão de um
veículo enguiçado que está sendo empurrado, mas os anos passam velozes como
carros em estradas sem radar. Em nenhum desses casos ninguém nunca se dá conta de nada. E assim, sem que se perceba, a vida vai se
aproximando silenciosamente de seu final.
domingo, 27 de agosto de 2017
MARGINAL
Este texto tem motivações anteriores e posteriores ao post "Divisor" recentemente publicado (uma prova de que o Blogson é a materialização da Teoria da Relatividade. Não entendeu? Relaxe, não é mesmo para entender, é só uma piadinha sem nexo).
Nos últimos tempos (fiquei tentado a escrever “nos penúltimos tempos”) tem aumentado a minha percepção de ser uma pessoa cada vez mais marginal. Mas não no sentido de ser alguém alternativo, diferenciado. Nem como sinônimo de criminoso, bandido ou malfeitor.
Nos últimos tempos (fiquei tentado a escrever “nos penúltimos tempos”) tem aumentado a minha percepção de ser uma pessoa cada vez mais marginal. Mas não no sentido de ser alguém alternativo, diferenciado. Nem como sinônimo de criminoso, bandido ou malfeitor.
Não me sinto marginalizado nem esquecido por ninguém. A sensação que tenho agora é de estar à margem da Vida, como alguém que está na arquibancada de algum estádio em dia de jogo ou como se fosse uma espécie de Observador, personagem de quadrinhos criados pelo Stan Lee.
Talvez a melhor imagem para definir esse sentimento seja o que acontece com as águas de um rio. Em seu leito, o fluxo das águas não acontece de forma homogênea nem na mesma velocidade; "(...) este fato é devido à morfologia do rio, em que o atrito da água nas margens e no leito causa um efeito de retardamento da velocidade".
Assim, esse “marginal” está associado à imagem que me veio à mente, a sensação de ser algo flutuando em um rio, sendo levado pelo curso natural das águas. O que me diferencia é o fato de estar próximo da barranca, da beira, movimentando-me lentamente e sujeito a ser barrado ou ter o deslocamento impedido por algum galho caído n’água, pedra ou vegetação ao longo das margens.
Ou seja, eu vejo as pessoas como se estivessem movendo-se em diferentes velocidades, o fluxo principal mais veloz e de maior volume acontecendo no meio desse rio existencial. Foi assim divagando que acabei pensando na imagem do "vidro espesso do Tempo", que acabou sendo o ponto de partida para mais um falso poema, baseado em uma situação rigorosamente verdadeira.
E agora, engato na resposta que dei a um comentário gentilíssimo de um dos dois leitores reais do Blogson, a gente fina "J". Nos últimos tempos tenho me dado conta de que as pessoas com quem mais me identifico intelectualmente são jovens mai cultos, mais antenados, na faixa dos trinta aos (estourando) cinquenta. Porque são pessoas que ainda tem sonhos, que criam, que viajam na maionese (ou em algum "vapor barato"), que não conversam apenas sobre futebol e cerveja ou coisa do gênero.
Aqui cabe um adendo: defini essa faixa etária pois é nela que estão situados meus filhos, com idade variando de trinta a quarenta anos. Na prática, dependendo da cabeça (inteligência, formação, cultura, sensibilidade) de cada um, esse intervalo pode ser mais ampliado.
Voltando à ideia da identificação, infelizmente, de nada adianta sua existência, pois há a porra do vidro blindado do Tempo a impedir o contato, uma barreira, quase um "choque de gerações". Ou seria como se eu ficasse olhando através do vidro os bebês de um berçário; ou ainda, mais adequado, como se eu estivesse preso e só pudesse ter contato com as pessoas através de um vidro blindado, falando ao telefone, como vejo em alguns filmes estrangeiros (nem sei se existe isso no Brasil).
Isto não é - nem nunca pretendi que fosse - um lamento, é só o registro de mais uma das auto-análises que conto ao meu "psicanalista digital" que é o Blogson Crusoe. Pensando bem, talvez eu sempre tenha estado à margem, talvez eu sempre tenha pertencido apenas a um "corguinho", a um insignificante e tortuoso afluente do rio da Vida. Sempre marginal, cumprindo a sina estabelecida no próprio Blogson - o blog da solidão ampliada.
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
PORQUE ME AFANAM NESTE PAIZ
São tantas e tão desanimadoras as notícias
que mostram a falta de vergonha na cara existente hoje no Brasil que eu nem sei
mais o que pensar. Sinceramente, dá para sentir orgulho hoje em dia de um país
de merda como este nosso? Para mim, não dá.
Para todo lado, para qualquer lado, só se vê notícia ruim, cabeluda, daquelas de fazer corar um frade de pedra (definitivamente, esta é uma expressão muito idiota).
Olha esta pequena amostra:
- O
número de mortes violentas no Brasil chega a 60.000/ano;
- Só
neste ano já morreram 97 policiais militares no Rio de Janeiro;
-
Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o 4º país mais corrupto do mundo;
- A
Operação Lavajato foi iniciada em março de 2014, mas até hoje nenhum político
com mandato foi julgado pelo STF.
- Até
para usar tornozeleira eletrônica (e ficar em prisão domiciliar) o sujeito fura
fila.
- Malas
de dinheiro circulam livremente por aí e não acontece nada (só a furação de
fila).
-
Alunos agridem fisicamente os professores e não se vê uma reação efetiva para
que se corrija um absurdo desses.
-
Políticos querem a criação de um fundo de 3,6 bilhões para financiar campanhas.
- Etc., etc., etc.
Em 1900 o Conde de Afonso Celso publicou o
livro "PORQUE ME UFANO DE MEU PAIZ".
Subtítulo: "RIGHT OR WRONG, MY
COUNTRY". Talvez, na época, ele estivesse com a razão... Mas,
provavelmente, devia estar se referindo ao Canadá! Melhor seria se tivesse
escrito um livro com o título "PORQUE
ME AFANAM NESTE PAIZ".
Só para finalizar, um pensamento idiota que
me ocorreu (só tenho pensamentos idiotas): o autor desse livro chamava-se
Affonso Celso e recebeu o título de "Conde
de Affonso Celso". Acho que ele poderia se apresentar assim:
-
"Affonso Celso ao seu dispor, o verdadeiro Conde d'Eu, Conde d'Eu
mesmo".
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
MINAS SÃO PESSOAS
“Minas
são muitas”, disse o mineiro Guimarães Rosa. Bom, mas não só Minas são muitas pois a autoria
desta frase é atribuída a mais de um; no caso, Carlos Drummond de Andrade - o
que prova que a internet é mesmo a pátria da prostituição literária, lugar onde
se atribui a determinado autor frases, textos e poemas que ele nunca cogitou de
escrever.
Mas voltemos ao início (revertere ad locum, etc., etc.): Minas são muitas. Ok, mas Fernando Pessoa
também era. Muitos. Para desovar sua extensa produção literária o cabra criou mais de
setenta heterônimos. Isso, obviamente, é do conhecimento dos dois leitores do
Blogson (dois?... Dois!!!). Mesmo assim, movido pela curiosidade (eppur si muove!),
resolvi identificar esse povo todo, pois cultura inútil é das poucas coisas que
sempre me atraíram (além da força gravitacional). E o que encontrei foi isso:
“É importante
ressaltar que os '72 heterônimos' não são todos heterônimos
propriamente ditos, mas sim heterônimos e personagens fictícios. Em ordem aproximada
de criação.
01. Dr. Pancrácio - jornalista de A
PALAVRA e de O PALRADOR, contista, poeta e charadista.
02. Luís António Congo - colaborador
de O PALRADOR, cronista e apresentador de Eduardo Lança.
03. Eduardo Lança - colaborador de o
PALRADOR, poeta luso-brasileiro.
04. A. Francisco de Paula Angard -
colaborador de o PALRADOR, autor de «textos scientificos».
05. Pedro da Silva Salles (Pad Zé) -
colaborador de o PALRADOR, autor e director da secção de anedotas.
06. José Rodrigues do Valle (Scicio),
- colaborador de o PALRADOR, charadista e dito «director literário».
07. Pip - colaborador de o PALRADOR,
poeta humorístico, autor de anedotas e charadas, predecessor neste domínio do
Dr. Pancrácio.
08. Dr. Caloiro - colaborador de o
PALRADOR, jornalista-repórter de «A pesca das pérolas».
09. Morris & Theodor -
colaborador de o PALRADOR, charadista.
10. Diabo Azul - colaborador de o
PALRADOR, charadista.
11. Parry - colaborador de o
PALRADOR, charadista.
12. Gallião Pequeno - colaborador de
o PALRADOR, charadista.
13. Accursio Urbano - colaborador de
o PALRADOR, charadista
14. Cecília - colaborador de o
PALRADOR, charadista.
15. José Rasteiro - colaborador de o
PALRADOR, autor de provérbios e adivinhas.
16. Tagus - colaborador no NATAL
MERCURY (Durban).
17. Adolph Moscow - colaborador de o
PALRADOR, romancista, autor de «Os Rapazes de Barrowby».
18. Marvell Kisch autor de um romance
anunciado em O PALRADOR, («A Riqueza de um Doido»).
19. Gabriel Keene - autor de um
romance anunciado em O PALRADOR, («Em Dias de Perigo»).
20. Sableton-Kay - autor de um
romance anunciado em O PALRADOR, («A Lucta Aerea»).
21.Dr. Gaudêncio Nabos - director de
O PALRADOR (3.ª série), jornalista e humorista anglo-português).
22. Nympha Negra - colaborador de O
PALRADOR, charadista.
23. Professor Trochee - autor de um
ensaio humorístico de conselhos aos jovens poetas.
24. David Merrick - poeta, contista e
dramaturgo.
25. Lucas Merrick - contista (irmão
de David?).
26. Willyam Links Esk - personagem de
ficção que assina uma carta num inglês defeituoso (13/4/1905).
27. Charles Robert Anon - poeta,
filósofo e contista.
28. Horace James Faber - ensaísta e
contista.
29. Navas - tradutor de Horace J.
Faber.
30. Alexander Search - poeta e
contista.
31. Charles James Search - tradutor e
ensaísta (irmão de Alexander).
32. Herr Prosit - tradutor de O
Estudante de Salamanca de Espronceda.
33. Jean Seul de Méluret - poeta e
ensaísta em francês.
34. Pantaleão - poeta e
prosador.
35. Torquato Mendes Fonseca da Cunha
Rey - autor (falecido) de um escrito sem título que Pantaleão decide
publicar.
36. Gomes Pipa - anunciado como
colaborador de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis como autor de «Contos
políticos».
37. Íbis - personagem da infância que
acompanha Pessoa até ao fim da vida nas relações com os seus íntimos que
sobretudo se exprimiu de viva voz, mas também assinou poemas.
38. Joaquim Moura Costa - poeta
satírico, militante republicano, colaborador de O PHOSPHORO.
39. Faustino Antunes (A. Moreira) -
psicólogo, autor de um «Ensaio sobre a Intuição»).
40. António Gomes - «licenciado em
philosophia pela Universidade dos Inúteis», autor da «Historia Cómica do
Çapateiro Affonso».
41. Vicente Guedes - tradutor, poeta,
contista da Íbis, autor de um diário.
42. Gervásio Guedes - (irmão de
Vicente?) autor de um texto anunciado, «A Coroação de Jorge Quinto», em tempos
de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis.
43. Carlos Otto - poeta e autor do
«Tratado de Lucta Livre».
44. Miguel Otto - irmão provável de
Carlos a quem teria sido passada a incumbência da tradução do «Tratado de Lucta
Livre».
45. Frederick Wyatt - poeta e
prosador em inglês.
46. Rev. Walter Wyatt - irmão clérigo
de Frederick?
47. Alfred Wyatt - mais um irmão
Wyatt, residente em Paris.
48. Bernardo Soares - poeta e
prosador.
49. António Mora - filósofo e
sociólogo, teórico do Neopaganismo.
50. Sher Henay - compilador e
prefaciador de uma antologia sensacionalista em inglês.
51. Ricardo Reis - neoclássico,
racionalista e semipagão.
52. Alberto Caeiro - o camponês
sábio.
53. Álvaro de Campos - futurista,
neurótico e angustiado.
54. Barão de Teive - prosador, autor
de «Educação do Stoico» e «Daphnis e Chloe».
55. Maria José - escreve e assina «A
Carta da Corcunda para o Serralheiro».
56. Abílio Quaresma - personagem de
Pêro Botelho e autor de contos policiais.
57. Pero Botelho - contista e autor
de cartas.
58. Efbeedee Pasha - autor de
«Stories» humorísticas.
59. Thomas Crosse - inglês de pendor
épico-ocultista, divulgador da cultura portuguesa.
60. I.I. Crosse - coadjuvante do
irmão Thomas na divulgação de Campos e Caeiro.
61. A.A. Crosse - charadista e
cruzadista”
Como deu para perceber, mesmo sendo
mais de setenta (aparentemente, setenta e dois), a lista só contém 61. A mim
pouco importa o número exato, se são 61, 72 ou 128, como afirma um advogado
pernambucano (advogado dá nó em pingo d’água;
alguns dão nó e escondem a ponta, mas isto é outra estória).
O que sei é
que se ele escreveu poemas e textos absolutamente geniais, era de péssimo gosto, horroroso
para escolher nomes decentes para seus “personagens”. Mas ele era o cara, ou melhor, os
caras.
domingo, 20 de agosto de 2017
DIVISOR
Ontem,
em uma feira independente de artes e produtos gráficos
Reencontrei
minha turma
Gente
criativa, sonhadora, cheia de projetos
Jovens.
Admirei
seus grafismos, livros, fotografias, posters e sonhos
Fiquei
feliz em poder revê-los
Tentei
interagir, mas desisti.
A
separar-nos definitivamente havia
Intransponível
O vidro espesso do Tempo.
sábado, 19 de agosto de 2017
FÓSSEIS - A MARRETA DO AZARÃO (BLOG)
Ah,
vontade!
De
andar pelos muros,
Divisar
horizontes de telhados musguentos,
De
braços abertos, pôres do sol agourentos,
Acastanhados.
Trem
bala, levitar sobre os muros
Não ter
de escolher um lado.
Ser
amigo do tombo.
Ah,
vontade!
De
atravessar o córrego poluído,
Varar o
espaço, de margem a margem,
(Ponta
dos pés, de tênis novos, alados),
Correndo
pelo cano de ferro corroído:
Tubulações
de águas e esgotos municipais.
Sentir
a queda
Sabendo
da impossibilidade de cair.
Ah, saudade!
Das
minhas ossadas,
Saudades
dos fósseis de mim
Que minha pá já não consegue escavar.sexta-feira, 18 de agosto de 2017
SEMI-ÓTICA
Às vezes sinto-me tentado a aprender alguma
coisa nova, mais erudita, que me tire da mediocridade e lave um pouco a lama da
ignorância em que estou mergulhado. Mas percebo que alguns temas são tão
distantes do meu dia a dia, da minha origem e educação, que a linguagem é tão
culta, o palavreado (ou vocabulário) utilizado tão sofisticado que acabo me
embaralhando todo. Semiótica é um desses assuntos.
Outro dia resolvi aprender que bicho é esse e
– à falta de livros para ler – mergulhei na internet, mais especificamente na
Wikipédia, que é a mãe dos muito burros. Não entendi nada, misturei alhos com
baralhos (esta foi uma tentativa de atualizar o clichê) e fiquei na mesma. Ou
quase, pois achei uma utilidade para a palavra semiótica. Como possuo uma visão parcial, meio distorcida e
fragmentada da Realidade, creio poder dizer que vejo a Vida sob uma semi-ótica particular, pessoal.
Mas alguma coisa guardei. Por exemplo,
descobri (mas não demoro a esquecer) que “semiótica” é o estudo dos signos – mas não sinônimo de astrologia, obviamente.
Segundo a Wikipédia, “é o estudo dos
signos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem
sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação”.
Bacana, mas não entendi porra
nenhuma. Em compensação encontrei estas duas frases: “A semiótica é um saber muito antigo, que estuda os modos como o homem
percebe o que o rodeia.”
E que é a “Ciência que estuda como o ser humano
interpreta os vários elementos da linguagem utilizando seus sentidos e quais
reações esses elementos provocam”.
Por ser esse um assunto tão
fora da minha realidade e do meu cotidiano, nem tentei entender o significado
de palavras como “significante” e "significado”. Para mim, o significado de significante deve ser o oposto de insignificante. Mas tive minha atenção voltada para três palavras
de sonoridade distantemente familiar: primeiridade,
secundidade e
terceiridade. Aí resolvi fazer minha
leitura pessoal da Dona Semiótica, usando essas três palavrinhas como sinônimo de
infância, fase adulta (ou produtiva) e velhice (acaso pensou que este era um
texto sério? Dançou!)
Assim, resolvi usar
imagens (ou signos ou o que quer que sejam) para identificar as três fases da
vida, de acordo com a simbologia que se queira dar a elas (isso foi profundo!). Feitos os devidos
comentários, bora lá:
domingo, 13 de agosto de 2017
QUEM VÊ FACE NÃO VÊ CORAÇÃO
Não sei por que nunca consigo expulsar
algumas coisas da minha cabeça. Caspa, por exemplo, é uma delas. Sair até que
saem, mas sempre estão de volta (ao contrário dos cabelos, que vão para nunca
mais voltar). Outra coisa difícil de tirar é pensamento ou preocupação inútil
(sou bom nisso!), verdadeira caspa mental. E a mais recente é a quantidade de
amigos que algumas pessoas têm no Facebook.
Sei de pessoas com mais de 4.000 amigos. É
muito amigo! Se o sujeito for educado e cumprimentar um por um ou mandar
mensagem no dia do aniversário, ficará só por conta disso. Talvez precisasse
até de um(a) ajudante ou secretário(a). Se fosse político, certamente teria
vários aspones para auxiliá-lo. Como nenhum de meus
"amigos de Facebook" é político, nenhum deles tem assessor
parlamentar.
Mas é nessas horas que precisariam ter pelo
menos um assessor paralamentar a trabalheira dos diabos que dá
ter muito amigo nas redes sociais (essa eu não podia deixar passar!). Meditando sobre
essa emocionante questão,
fiquei pensando qual é a quantidade máxima de "amigos" que alguém
deveria ter. Imagino que 5.000 é o limite do aceitável. Acho que só o Roberto Chapinha Carlos
manifestou o desejo de "ter
um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar", mas acredito que
isso foi antes do advento do Facebook.
Cinco mil amigos! Como conhecer ou lembrar-se
de cada um? Eu mesmo posso dizer que alguns dos meus 116 amigos são
ilustres (ilustríssimos seria mais correto) desconhecidos, pois não os conheço,
nunca nos falamos e nunca nos vimos pessoalmente - o que não impede que tenha
por eles imensa simpatia. Por
tudo isso, imaginei que seria bom existir uma forma de classificar todo mundo,
de enquadrá-los quanto ao grau de amizade.
Até onde sei, antes havia só a opção "curtir"
para aprovar (ou não) os posts de bichinhos, bebês e orações tão ao gosto dos
usuários. Hoje já existem também os ícones de coraçãozinho, carinha raivosa, carinha chorosa, espantada ou sorridente (uma gracinha, como
diria a finada Hebe Camargo). Ora, se existem os emojis para sintetizar
emoções (servem também para economizar palavras e evitar erros de português),
por que não criar alguns para definir a proximidade ou grau de amizade,
intimidade ou parentesco com cada "perfilado"?
Afinal, como já dizia minha avó, "quem vê Face não vê coração".
Poderia, por exemplo, ser assim:
- “Amigos” que são ídolos –
Temer, Neymar, Lula, Anitta, Dória, Darth Vader, Bolsonaro, Homer Simpson, e
congêneres;
- “Amigos” que amamos
loucamente - pai, mãe, esposa, filhos, amante(s), o dono do bar onde
enchemos a cara todo dia e o gerente de banco responsável por aplicar o nosso
dinheirinho de caixa dois;
- “Amigos” de quem gostamos pra
kawaka - amigos verdadeiros, irmãos, cunhados, amigos de infância e
parentes próximos;
- “Amigos” por quem temos simpatia -
vizinhos, colegas e ex-colegas de profissão e parentes distantes;
- “Amigos” com quem convivemos apenas
socialmente (em casamentos e em velórios principalmente);
- “Amigos” que desprezamos
solenemente ou por quem sentimos antipatia gratuita (mas não demonstramos);
- “Amigos” que odiamos
entusiasticamente (idem);
- “Amigos” que não conhecemos
pessoalmente - ilustres desconhecidos, amigos nem tão ilustres assim
e ET de Varginha.
Ficaria ótimo, concordam? E essa
classificação não precisaria ser rígida. Poderíamos, por exemplo, classificar
um cunhado mala na categoria “odiamos” ou um desconhecido na categoria “pra
kawaka”.
Isso abriria possibilidades comerciais
fantásticas para o Facebook, talvez até trazendo de volta gente que hoje
utiliza muito mais o Twitter, o Whatsapp ou Instagram (Jotabê é marketing
puro). Por isso, deixo este recado ao criador do Facebook:
- Zuckinha, meu filho, não precisa agradecer esta proposta de melhoria, pois foi feita de forma desinteressada, de coração (mas eu receberia com carinho um cheque de alguns milhões de dólares a título de retribuição).
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
EDEDÊ
Hoje em dia usa-se muito (muito mesmo!) uma
expressão que soa meio enigmática para mim, ignorante que sou. Mas tem um som legal:
“Estado democrático de direito”. Dita
com voz grave e empostada então, fica ainda melhor. Mas tenho dificuldade em traduzi-la, justamente por ser usada indistintamente pela Direita e pela Esquerda, pelos políticos e
pelos corruptos (isso ficou meio pleonástico), sinal de que já virou clichê.
Todos usam essa expressão ora defendendo ora
atacando (ainda que veladamente) alguma coisa. A Esquerda, por exemplo, a
utiliza para atacar o atual governo por desprezar o “Estado democrático de direito”, enquanto apoia explicitamente a
progressiva ditadura em que a Venezuela vem se transformando. Aparentemente, a
leitura dessa expressão que fazem no íntimo de seus corações e convicções é “Estado Socialista de direito”.
A Direita a utiliza para defender o status quo. Parece, entretanto, que alguns
(a minoria, obviamente), ao defender a intervenção militar para resolver
qualquer “meu pé me dói”, está
pensando na verdade em “Estado
democrático de Direita”.
A mim bastaria que o Brasil fosse apenas um Estado Democrático (sempre!). E
direito (no sentido de correto, honesto). E eu ficaria feliz pelo resto da vida. Mas creio que isso é pedir muito.
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
HEURECA!
Estava eu no meu canto, ensimesmado (acho que ficaria melhor dizer “em
mimesmado”), ruminando (aposentado adora esse tipo de coisa), remoendo algumas
das várias cabeçadas que dei ao longo da vida, pensando na minha
vida profissional. Nas três vezes em que - para ganhar mais -, pedi demissão de
empresas onde amava trabalhar, acabei quebrando a cara, acabei me arrependendo
amargamente, pois as novas empresas eram um lixo (mesmo que eu estivesse
ganhando um pouco mais).
E todas as vezes em que eu
penso nisso o efeito é vivenciar novamente a atitude impensada, mal
refletida. É como se eu estivesse cometendo o mesmo equívoco, o mesmo erro
novamente. Depois da última vez em que isso aconteceu, sonhei inúmeras vezes
com a antiga empresa, sempre acordando tristíssimo, puto da vida.
Estava nessa de
auto-piedade quando minha mente deu um estalo (não, não quebrou nada, as
cabeçadas são apenas metafóricas), pois ficou claro o significado prático de "arrependimento" (ou "remorso"). Não tenho nenhuma dúvida de que esse assunto já
foi tratado de forma mais elegante, profunda e técnica pela moçada da Psicologia. Mesmo
assim, ainda que seja banal, simplória, é minha visão.
Sentir “arrependimento” é como cometer o mesmo erro duas vezes, a segunda acontecendo apenas na mente. E dói mais que na primeira vez.
Sentir “arrependimento” é como cometer o mesmo erro duas vezes, a segunda acontecendo apenas na mente. E dói mais que na primeira vez.
terça-feira, 8 de agosto de 2017
TERCEIRIZAÇÃO
Resolvi
demitir alguns desejos antigos
rever
metas não atingidas.
Ofereci a meus sonhos mais caros
um
plano de demissão incentivada - e eles aceitaram.
Sabia que as metas, ao contrário dos sonhos
esperavam,
exigiam ser cumpridas.
Tentei traçar novas metas, contratar sonhos novos
mas
falhei.
Os sonhos nunca podem ser terceirizados.
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
POISON
Trago em mim a acidez do vinagre,
Amargor.
Amargor.
Paredes úmidas, mofadas,
Frialdade.
Frialdade.
Madeira atacada por cupins,
Vazio.
Vazio.
Dia chuvoso, sem sol,
Melancolia.
Melancolia.
Amargor, Frialdade, Vazio, Melancolia:
Velhice.
Velhice.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
CROMO SOMA
Ela
tem paixão pela ordem, mas eu flerto com o caos
Ela
pede portas e janelas trancadas e eu sonho com espaços abertos
Se
Ela ama caixas, arquivos e gavetas, eu nunca sei onde estou
Da
goiaba ela come a polpa, eu gosto só da casca.
Do
pão ela come a casca e eu banqueteio-me com o miolo
O
vermelho vivo é sua cor, eu prefiro preto ou azul
Ela
é linda, alegre e falante, eu sou um ogro taciturno
Ela
é generosa e solidária; eu, arredio e egoísta
Quase
nada temos em comum.
Antagonismo aparente, somos
complementares
Ela
é a melhor parte de mim
Entranhou-se em meu DNA, em meus genes.
Em meus cromossomos somos soma
Um mais um é igual a um ou pode ser mais que dois
Um mais um é igual a um ou pode ser mais que dois
Almas
gêmeas, talvez.
TRILOGIA DA MEDIOCRIDADE
Este post é o final da "trilogia da
mediocridade" iniciada com o título "Ingente Necessidade". É
também um verdadeiro anticlímax e fruto de um delírio pessoal, surgido às cinco
da matina. Explicando mais um pouquinho, o que aconteceu recentemente foi ter
dormido com a sensação ruim de não conseguir escrever mais nada e acordado às
cinco da manhã com a ideia de transformar essa incapacidade (provavelmente
definitiva) em imagem (olha o spoiler aí!).
O texto a ser "despedaçado" foi este:
Depois das sucessivas traduções (a ordem adotada foi português >> basco >> finlandês >> português), ficou assim:
Como a qualidade deste blog - que já era ruim - está em queda livre, a "trilogia de três" acabou virando uma "trilogia de quatro", pois resolvi deixar a imagem em um post isolado (mau gosto pega!). Mas não demora, pois já está pronta. Isso me fez lembrar de uma piadinha que meu amigo Pintão gostava de repetir:
Os quatro cavaleiros do Apocalipse são três, Esaú e Jacó.
Enquanto ia despertando, comecei a pensar em
cores e formatos diversos (e eu não uso drogas!), nos seis tamboretes que minha
mulher pintou com cores diferentes, bandeirinhas do Volpi e na criação de um
texto como se fosse a feitura de um artesanato, pintura, colagem, madeira
entalhada. Já completamente desperto, comecei a planejar o que faria:
primeiro um texto que falasse - na terceira pessoa! - da mediocridade e falta
de inspiração da maioria dos posts do Blogson.
A etapa seguinte seria deformar o texto
através de traduções sucessivas com o auxílio do Google Tradutor (ferramenta,
diga-se, que eu acho fantástica). Pensando em usar uma língua de cada
continente, cheguei a fazer uma experiência com um texto qualquer, mas o
resultado assim obtido foi uma massa de palavras sem nexo nenhum. Por isso,
decidi utilizar só duas línguas além do português. As escolhidas foram o basco
e o finlandês, justamente por não pertencerem (descoberta recente) à família de
línguas indo-europeias.
A parte final do plano seria despedaçar
(literalmente) o texto assim obtido, usar cores, fontes e tamanhos diferentes
em cada pedaço e remontar fora de ordem. Por isso eu falei no início deste post
em anticlímax e spoiler, pois tudo isso já tinha sido contado na segunda
parte desta trilogia da mediocridade e da falta de inspiração.
Só mais uma curiosidade: depois de imaginar
esse cenário, surgiu a ideia de fazer no texto a ser ainda escrito um
contraponto ao conceito de “arte”. E aí veio à mente a palavra “artesanato”,
que chegou “acompanhada” de arteirice, artifício e artesania. Para
não pagar mico, consultei um dicionário do Aurélio que temos em casa, mas não
encontrei referência a “artesania”, evidência de que seria um neologismo ou
talvez pelo fato de nossa edição ser muito antiga (é a primeira). Fiquei ali de
bobeira, folheando o dicionário, até ter a atenção voltada para o trecho de um
poema do Drummond citado no prefácio, que se encaixa bem neste post:
Lutar
com palavras
É a
luta mais vã.
Entanto
lutamos
mal
rompe a manhã.
Interessado em ler o poema completo recorri
ao Google, mas descobri “trocentas” transcrições apenas desses versos, sinal de
que a “cultura de orelha de livro” (a minha) é praxe na internet. Como estava
de bobeira mesmo, resolvi pesquisar na internet a palavra “artesania”. Achei
duas definições que transcrevo a seguir:
Segundo o Dicionário Informal, artesania
é uma palavra “de uso recorrente no
Brasil, embora ainda considerada, em termos linguísticos, um 'estrangeirismo'.
Aqui, a palavra é tomada do espanhol e pensada como sendo os processos que
implicam na experimentação, investigação, espaços produtivos e produto final,
pelos quais o artesão transita para ter um resultado adequado, o que inclui,
ainda, a inventividade e a necessidade de métodos apropriados, mesmo em se
tratando de um trabalho informal, sem compromisso com a seriação. Artesania
sugere, deste modo, o ato de fazer o artesanato e não meramente o produto
final".
Na definição do DICIO - Dicionário On
Line de Português, artesania significa "Obra
de artesão; artesanato. Aquilo que diz respeito às técnicas artesanais".
Os dois leitores (eu disse “dois”!) deste
blog já conhecem meu estado de espírito oscilante, mas para o caso de um “surfista
prateado”, ET ou alguém de outra galáxia acessar por engano o Blogson e ficar
sem entender (normal!) o motivo de tantas explicações para um produto tão ruim
(idem), talvez a letra da música “Aviso
aos Navegantes”, do Lulu Santos, seja um bom começo para esse entendimento.
Bom, depois de tanta enrolação, só me resta
apresentar o produto final deste delírio, lembrando que foi extremamente
divertida a sua confecção, mesmo que seja apenas uma brincadeira sem nenhum
valor (nem mesmo estético).
O texto a ser "despedaçado" foi este:
Um de
seus sonhos mais caros que acalentava era o de ser um escritor. Não um escritor
qualquer. O que queria mesmo, o que sonhava era ser um bom, um grande escritor.
Por isso, escrevia sempre, escrevia muito. Mas não dominava os fundamentos
teóricos da língua. Por isso mesmo, agredia a concordância e a
regência, atropelava a gramática e todas as demais regras e normas
necessárias a uma linguagem culta, conhecimentos que se exigiriam de um
escritor de verdade, sabedor do seu ofício.
Mostrava
seus textos capengas, inexpressivos e sem inspiração, suas frases desconexas e
mal formuladas, seus assuntos banais e vulgares a qualquer um que
conseguisse encurralar, sempre esperando receber elogios e cumprimentos. Nunca
publicou nada e o máximo que conseguia era ser discretamente ignorado e evitado
pelos conhecidos e parentes, que se esquivavam de ficar sozinhos com ele em
festas caseiras e eventos familiares.
A
mudança só aconteceu quando - finalmente! - deu-se conta de que não era o
escritor que imaginava e queria ser. Demorou, mas um dia percebeu que era
apenas um escrevinhador medíocre, um vândalo da palavra escrita. A partir daí,
primeiro ressabiadamente, meio constrangido, começou a abusar de clichês.
Depois, desassombrada e desafiadoramente, passou a inventar palavras, a criar
neologismos que nem ele sabia para que serviriam.
Começou
também a fazer experiências bizarras utilizando o Google Tradutor. Para isso,
pegava um texto de sua autoria e traduzia para uma língua qualquer. Repetia a
operação para uma nova língua, usando texto já traduzido. E assim, fazia até
voltar ao português, depois de duas, três ou mais traduções sucessivas. O
resultado assim obtido era um amontoado de frases sem sentido e quase sem
nenhuma relação com o texto original, fato que o divertia muito.
Sempre
vandalizando a língua, a estética e a lucidez, passou a abusar de cores, fontes
e tamanhos variados, despreocupado com a ordem lógica, como se o texto original
fosse apenas um jogo de montar, um brinquedo de encaixe, como se quisesse
criar uma nova linguagem ou forma de expressão - que só para ele teria sentido
e valor. Os textos assim obtidos passaram a ser apenas imagens, grafismos, sem
necessidade de revisão.
Acreditava
estar criando uma nova forma de arte, quando era apenas vandalismo contra o
idioma, contra as palavras e frases. Longe de ser arte, era só artesania,
artesanato, arteirice, artifício para esconder sua permanente falta de
criatividade e valor literário. Inconsciente disso, seguiu vandalizando a
língua, para ver até onde seu delírio poderia chegar.
Depois das sucessivas traduções (a ordem adotada foi português >> basco >> finlandês >> português), ficou assim:
Um dos
seu sonho mais acalentado era para ser um escritor. Não é um escritor. O que eu
quero, e que sonha ser um grande escritor. Então, sempre escrevendo, escrevendo
muito.
Ele
mostrou seus textos coxos, inexpressivos e sem inspiração, suas frases
fragmentada e mal projetado, pode-se começar a assuntos diários e vulgar, é
esperado para louvar e elogios. Ele nunca publicou nada, tanto quanto eu podia
e não podia ser ignorado e conhecidos e parentes, que o tinha contornadas
apenas uma casa ou reuniões familiares.
A única
mudança ocorreu - finalmente! - para a conta, e que não seria um escritor que
imaginado. Ele pegou, mas um dia eu percebi que era apenas um medíocre
Scribbler, vandalismo palavra escrita. A partir daí, o primeiro
ressabiadamente, trepidação, ela começou muitos clichês. Então, ele estava com
medo de ir para o desafio e veio com palavras que não sabem o que é bom para
eles para criar neologismos.
Ele
também começou a fazer experimentos estranhos usando o Google Translate. Para
fazer isso, eu vou levá-la ao texto e traduzido em todas as línguas. Repita a
operação de uma nova linguagem, o uso de texto já traduzido. E assim, regressar
a Portugal, dois, três ou mais dos seguintes traduções. O resultado obtido
desta forma é amontoado sem sentido da frase e quase nada a ver com o texto
original, é o fato de que era muito divertido.
Toda
linguagem, estética e clareza de vandalizando, cores, fontes e um versátil,
tamanhos despreocupados direito em uma ordem lógica do texto original, como se
o jogo tinha acabado de ligar brinquedo montado, como alguém começou a criar
uma nova linguagem ou expressão - é o único significado e seu valor seria. Tais
textos apenas nas imagens de teste, gráficos, sem novamente.
Os
crentes devem criar uma nova forma de arte, quando era apenas contra palavras
vandalismo e frases da língua. Longe de arte, apenas ofícios, artes e ofícios,
arteirice, engano para esconder a falta de criatividade e valor literário permanente.
eles não sabem disso, a linguagem continuou vandalizar seu delírio para ver até
onde ele poderia conseguir.
Como a qualidade deste blog - que já era ruim - está em queda livre, a "trilogia de três" acabou virando uma "trilogia de quatro", pois resolvi deixar a imagem em um post isolado (mau gosto pega!). Mas não demora, pois já está pronta. Isso me fez lembrar de uma piadinha que meu amigo Pintão gostava de repetir:
Os quatro cavaleiros do Apocalipse são três, Esaú e Jacó.
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