terça-feira, 1 de agosto de 2017

UM ESCREVINHADOR ANGUSTIADO

Mesmo que o título seja diferente, esta é a segunda parte do post “Ingente Necessidade”. O que eu queria dizer mesmo? Ah, sim, estava dizendo da minha crescente dificuldade para (ou seria “em”?) escrever e da absoluta falta de inspiração. Mas fiquemos agora só na falta de inspiração.

Há muito anos, li em uma revista Veja (assim espero!) uma frase do Millôr Fernandes sobre mentira que achei absolutamente genial. Quase consigo vê-la totalmente: creio que estava localizada no final da primeira das duas páginas que publicava semanalmente. Lembro também que o fundo do texto era amarelo... e só. Não consigo reproduzir o principal, um dos mais inteligentes pensamentos que já li.

Como sou aposentado e tenho um pouquinho de TOC, resolvi consultar o acervo digital da revista, na tentativa de encontrar a tal frase. Para isso, precisava identificar quando o Millôr começou e quando deixou de ser colaborador da Veja. Descobri que isso aconteceu em dois períodos distintos: de 1968 a 1982 e de 2004 a 2009. Feitas as contas, isso significa mais de 900 números. Descobri sacadas geniais, mas até agora não encontrei a “frase do milênio”. Continuo pesquisando, pois falta pouco ("apenas" 807 revistas!). Meu único medo é que essa frase tenha sido publicada no período de 1982 a 2004, quando trocou a Veja pela Isto É.

Mas não é disso que eu queria falar. Comparando o que o Millôr publicou no primeiro período com o que produziu no segundo, percebi nitidamente a queda de inspiração e de humor ocorridas ao longo do tempo. Se não tivesse acontecido uma descontinuidade, talvez essa queda de qualidade nem fosse notada por mim. Ele continuou genial, mas a produção mais antiga é mais engraçada, espirituosa, as frases e pensamentos são mais brilhantes, sei lá. Essa constatação combina com uma afirmação feita pelo Chico Buarque, que disse ser a inspiração “uma dádiva da juventude”.

Bom, longe de mim a pretensão de me comparar com dois gênios. Há também o fato de o Blogson ter apenas três anos, o que significa que seus posts são relativamente recentes, produzidos depois de ter-me aposentado. Mesmo assim, percebo que minha criatividade e inspiração estão em queda, e queda livre.

Pode ser que isso seja decorrente do desejo de ser sempre “inteligente”, “brilhante” ou “espirituoso”, mesmo que nunca tenha sido nada disso realmente. Mas a ânsia de “encantar” pode estar causando um efeito broxante (no cérebro, no cérebro!), pois se eu desejo escrever apenas textos brilhantes, o mais certo é que isso tenha um efeito paralisante, castrador na mente.

Pensando nessas coisas todas, resolvi escrever um texto ficcional contando os pesadelos e delírios de um sujeito que desejava ser escritor. Esse texto foi publicado involuntariamente, pois ainda estava inacabado. Por isso, foi excluído da lista de posts do Blogson. Mas isto é assunto para outro dia.

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