"Diferente de pinturas rupestres e sombras rudimentares
transformadas em sofisticadas miragens em cavernas a memória é um túnel por nós
construído com pequenos pontos hipnóticos tomando direções sem sentido. Nesse
contexto a realidade é um drinque batizado de Segundo”. (“J”)
Ótimo texto para iniciar
este post, um post de esclarecimento e resposta, útil também para uma de minhas
sessões de "terapia blóguica".
Bora lá.
Muito bem. Meu amigo virtual
Marreta perguntou se dois dos mais recentes posts foram feitos por mim. A
resposta em cada um deles foi "sim", mas é em um deles que quero me
deter um pouco.
Já disse antes e repito que
tudo o que sai no Blogson é de minha própria autoria ou “lavra”, até mesmo (ou
principalmente) se for uma merdinha irrelevante (tenho especialização nisso).
As únicas exceções estão confinadas na antiga seção "Reverência" (abandonada) e na "Produção Terceirizada". Todo o resto é meu, mesmo que possa,
se for o caso, fazer citações de outros autores (como fiz no início). Nesses
casos, o texto é publicado entre aspas, geralmente em itálico.
Mostrei a dois filhos o
"Perfil para o Facebook" e recebi duas sugestões: a primeira era para
intercalar qualidades com defeitos; a outra era mais um puxão de orelha, pois um deles criticou a mania que eu tenho de me "menosprezar". Rejeitei
os dois comentários, pois o propósito inicial era só listar defeitos. Além
disso, quando faço isso, sinto-me melhor e superior à maioria das pessoas,
aquelas que escondem o sujo debaixo do tapete, as mesmas que só contam
vantagens - mesmo sabendo que ninguém acredita nelas. Resumindo, os
"príncipes" (e princesas) da poesia do Álvaro de Campos (heterônimo
de Fernando Pessoa). Só para lembrar alguns trechinhos (e para enriquecer este
post), olha que beleza, que pontaria certeira:
Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos
os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu,
tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
(...)
Eu
verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a
gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca
teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca
foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me
dera ouvir de alguém a voz humana
Que
confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que
contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não,
são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há
neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Nem preciso dizer que a primeira coisa que
pensei ao ler esse poema pela primeira vez foi "esse cara sou eu!"
Pois é, o "perfilado" no "post do
perfil" sou eu. Eu mesmo, sem benevolência, sem esconder nada. Tive a ideia de
fazer esse post depois de acordar após mais um pesadelo ligado à última
empresa onde trabalhei (e que odiei). Fiquei pensando quantas vezes fui vil, desprezível e
desprezado, caluniador (nunca fui) e caluniado, dedicado e incompetente,
sarcástico e humilhado e a lista foi só aumentando. Aí resolvi tirar as
qualidades para que os defeitos pudessem brilhar sem sombra. Aliás, faltaram
vários, não lembrados quando estava fazendo a relação (que deu trabalho!).
Mas não são defeitos permanentes nem cotidianos. Entrando pelo “túnel da memória”, a sensação que tenho
é que em sessenta e seis anos de vida (que merda!), em algum momento eu pude ser identificado por cada um (e muitos mais) dos adjetivos relacionados, mesmo que apenas
em pensamento, mesmo que só por um Segundo.
Por óbvio, está claro que alguns dos defeitos
são minha marca registrada, fazem parte de mim, estão gravados em meu DNA,
juntamente com as qualidades (não as que algumas pessoas de boa fé acreditam ser
minhas, mas as que realmente tenho).
Por essa eu não esperava, valeu a honrosa lembrança, JB. E eu confesso a você que não vejo a menor graça na suspeita perfeição.
ResponderExcluir"J"