domingo, 29 de janeiro de 2017

TÚNEL DA MEMÓRIA

"Diferente de pinturas rupestres e sombras rudimentares transformadas em sofisticadas miragens em cavernas a memória é um túnel por nós construído com pequenos pontos hipnóticos tomando direções sem sentido. Nesse contexto a realidade é um drinque batizado de Segundo”. (“J”)

Ótimo texto para iniciar este post, um post de esclarecimento e resposta, útil também para uma de minhas sessões de "terapia blóguica". Bora lá.

Muito bem. Meu amigo virtual Marreta perguntou se dois dos mais recentes posts foram feitos por mim. A resposta em cada um deles foi "sim", mas é em um deles que quero me deter um pouco.

Já disse antes e repito que tudo o que sai no Blogson é de minha própria autoria ou “lavra”, até mesmo (ou principalmente) se for uma merdinha irrelevante (tenho especialização nisso). As únicas exceções estão confinadas na antiga seção "Reverência" (abandonada) e na "Produção Terceirizada". Todo o resto é meu, mesmo que possa, se for o caso, fazer citações de outros autores (como fiz no início). Nesses casos, o texto é publicado entre aspas, geralmente em itálico.

Mostrei a dois filhos o "Perfil para o Facebook" e recebi duas sugestões: a primeira era para intercalar qualidades com defeitos; a outra era mais um puxão de orelha, pois um deles criticou a mania que eu tenho de me "menosprezar". Rejeitei os dois comentários, pois o propósito inicial era só listar defeitos. Além disso, quando faço isso, sinto-me melhor e superior à maioria das pessoas, aquelas que escondem o sujo debaixo do tapete, as mesmas que só contam vantagens - mesmo sabendo que ninguém acredita nelas. Resumindo, os "príncipes" (e princesas) da poesia do Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa). Só para lembrar alguns trechinhos (e para enriquecer este post), olha que beleza, que pontaria certeira:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
(...)
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Nem preciso dizer que a primeira coisa que pensei ao ler esse poema pela primeira vez foi "esse cara sou eu!"

Pois é, o "perfilado" no "post do perfil" sou eu. Eu mesmo, sem benevolência, sem esconder nada. Tive a ideia de fazer esse post depois de acordar após mais um pesadelo ligado à última empresa onde trabalhei (e que odiei). Fiquei pensando quantas vezes fui vil, desprezível e desprezado, caluniador (nunca fui) e caluniado, dedicado e incompetente, sarcástico e humilhado e a lista foi só aumentando. Aí resolvi tirar as qualidades para que os defeitos pudessem brilhar sem sombra. Aliás, faltaram vários, não lembrados quando estava fazendo a relação (que deu trabalho!).

Mas não são defeitos  permanentes nem cotidianos. Entrando pelo “túnel da memória”, a sensação que tenho é que em sessenta e seis anos de vida (que merda!), em algum momento eu pude ser identificado por cada um (e muitos mais) dos adjetivos relacionados, mesmo que apenas em pensamento, mesmo que só por um Segundo.

Por óbvio, está claro que alguns dos defeitos são minha marca registrada, fazem parte de mim, estão gravados em meu DNA, juntamente com as qualidades (não as que algumas pessoas de boa fé acreditam ser minhas, mas as que realmente tenho).

Resumindo, sou como todo mundo, uma suruba de defeitos e qualidades. Que mais? Ah, sim, infelizmente, a silhueta que cerca as palavras é realmente a minha (ou quase isso), o que significa que sou mesmo feio pra caralho. Mas, príncipe? Não mesmo. 

Um comentário:

  1. Por essa eu não esperava, valeu a honrosa lembrança, JB. E eu confesso a você que não vejo a menor graça na suspeita perfeição.
    "J"

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