sábado, 17 de junho de 2023

VIAJANDO NA MATÉRIA ESCURA

  

Preciso confessar que este texto teve três motivações principais. A primeira foi o desejo de espairecer um pouco, descontrair, desanuviar a mente (os tempos recentes têm sido barra!). As duas restantes, ambas condenáveis e sem nenhuma nobreza de espírito são minha para sempre eterna ojeriza a um palhaço que ocupou o cargo de presidente deste país e que insiste em permanecer ridiculamente desprezível e exibir todo tipo de atitude condenável. E a Inveja. Vejam vocês, o equilibrado, o moderado Jotabê sente inveja. Pior é perceber ter sido um invejoso desde que nasceu.
 
Pois é, percebi (tardiamente) que sempre, desde a infância, eu senti inveja de quem era mais rico (fácil!) e possuía mais bens materiais que eu. Eu invejava meus primos ricos pela casa imensa onde moravam, pelo bairro rico onde ficava a casa, pelos brinquedos fantásticos que ganhavam, pelo sorvete que tomavam, pelo carro onde andavam. E eu não sentia que isso era inveja. Esse insight, essa clareza de percepção surgiu quando um amigo de facebook postou fotos de sua recente viagem ao Japão. Para mim, que estou (usando uma expressão mineira) lambendo a maior embira, aquilo foi quase uma ofensa. E aí comecei a pensar idiotices, tentando relativizar sua situação próspera e tranquila. E saiu este texto, originalmente publicado no facebook e escrito para ser entendido por quem acessa o facebook. Isso significa que precisei abandonar o conceito de números expressos em potência de dez.
 
Querem saber quantas visualizações ele provocou? Duas, sinal de que a rede do Zuckerberg pode também ser “a rede da solidão ampliada” (acho que esta é minha sina). Então, bora lá.
 
VIAJANDO NA MAIONESE!
Hoje eu me lembrei de uma das frases mais perfeitas que já li, dita com a precisão de um tiro de sniper pelo falecido Juca Chaves. É assim: “Querer ser mais do que valem é dos imbecis a praxe”. E como eu tenho me sentido muito imbecil ultimamente, resolvi pesquisar qual é o meu real valor, a minha real importância. Para isso, resolvi utilizar a Matemática básica (o resultado não foi bom!). E achei bacana dividir com meus amigos de facebook o resultado a que cheguei, mesmo sabendo que nenhum dos meus amigos de facebook é imbecil. Para começar, precisamos de alguns dados obtidos da internet. Bora lá para o...
 
Primeiro passo:
Sabe quantas estrelas existem na Via Látea (a nossa galáxia)? Uns 200 bilhões de estrelas (muita coisa!). Sabe quantas galáxias existem no Universo? Estima-se que existam uns 200 bilhões de galáxias. Isso significa que o Universo deve ter um número de estrelas igual a 4 seguido de 22 zeros (começou a complicar!).
 
Segundo passo:
Sabe-se que a Terra tem uma massa em kg que pode ser escrita pelo número 5,97 seguido de 24 zeros. Além disso, sabe-se que o nosso Sol é 330 mil vezes maior que a Terra. Então, podemos imaginar que o peso do Sol em quilos deve ser equivalente ao número 1,97 seguido de 28 zeros.
 
Se imaginarmos que todas as estrelas do Universo são do mesmo tamanho do Sol (mesmo que não sejam), poderíamos dizer que a massa total do Universo seria igual à massa do Sol multiplicada pela quantidade de estrelas acima calculadas. Isso leva a um número igual a 7,88 seguido de 50 zeros.
 
Agora, vamos caminhar no sentido oposto.
 
Terceiro passo:
Sabe quantas células tem o corpo humano? 37 trilhões. Se imaginarmos que é igual a 70 kg o peso médio de uma pessoa (bom, isso vale para a média das pessoas normais, não para mim, que peso 102 kg), então poderemos chutar que o peso de uma única célula pode ser igual a 0,0000000000019 kg. Sabemos que as amebas são organismos unicelulares. Nesse caso, podemos dizer que o peso de uma ameba seria igual ao peso calculado para a célula.
 
E aí chegamos ao quarto e último passo da brincadeira:
Se dividirmos o peso de uma pessoa ou de uma ameba pelo peso de todas as estrelas do Universo, chegaremos nestes números bonitinhos, que expressam a relevância de um mano ou uma ameba no Universo.

Humano: 0,00000000000000000000000000000000000000000000000000098
Ameba: 0,000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000026
 
 E olha que não considerei o peso da misteriosa matéria escura, dos zilhões de planetas, asteroides e todo tipo de corpos celestes que existem!
 
Conclusão: diante da absurda e incompreensível magnitude do Universo uma ameba e um ser humano têm a mesma importância, ou melhor, NENHUMA. Com nossas crenças, crendices e orgulho somos, portanto, apenas amebas megalomaníacas. Ou, em um joguinho de palavras jotabélico, amebalomaníacas.
 
A Matemática pode ajudar a dimensionar nossa irrelevância diante do Universo. Complicado é entender a quantidade de zeros à esquerda! Espero que vocês tenham curtido esta brincadeira, este exercício de humildade.

2 comentários:

  1. Essa postagem me lembrou algumas aulas inaugurais, digamos assim, que eu dava há 10 12, 15 anos. Usava desse tipo de comparação para mostrar que a espécie humana é insignificante frente ao Universo, ou mesmo frente às outras milhões de espécies que habitam esse planeta. A ideia não era dizer que somos umas merdas (embora sejamos) e deixar o alunado deprimido. A ideia era que os alunos se desapegassem da ideia (muitas vezes de cunho religioso) de que somos a única espécie vivente que importa, que todas as outras foram feitas para o nosso uso e o próprio planeta para nosso parque de diversões. Em biologia, é importante que tenham uma visão mais ampla do que chamamos de vida.
    Mas hoje em dia.... nem me atrevo. Em tempos em que a grossa maioria não sabe voltar um troco sem usar a calculadora - e ainda erram -, imagina se vou me meter a falar de potências de 10. O que é uma pena também para mim, pois essas informações vão se perdendo em mim, deixo de buscar novidades.
    Uma pena.
    Fosse há 12 anos, essa sua postagem poderia muito bem ser usada por mim em uma aula. Com certeza, eu a usaria.

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    1. É engraçado (ou triste) perceber que conceitos simples e fáceis de aprender são desconhecidos pela imensa maioria. Para publicar no Facebook eu tive de sair contando zeros com a certeza de que ninguém entenderia porra nenhuma se eu escrevesse um 10 elevado a alguma potência. Não é para "me gambá", mas às vezes eu me sinto como a gaivota o livro Fernão Capelo (ô nome feio!), que quanto mais aprendia sobre as nuances e técnicas de vôo mais isolada ficava (uma boa metáfora, mas sempre existirão pessoas que interpretarão a mensagem do livro como apenas uma história idiota de gaivota). Realmente, você deve sofrer muito em sala de aula. Já pensou em trocar biologia por alfabetização para adultos? É provável que tenha mais sucesso (e ainda sugere o blog como material didático). Abraços.

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