sábado, 13 de outubro de 2018

SABE, SOBRINHO?

Sabe, Sobrinho? Eu nunca me senti de Direita e, menos ainda, de Esquerda. Sempre me vi de Centro - às vezes Centro-esquerda, às vezes Centro-direita. Mas, jamais, a favor dos extremos. Obviamente, nunca fui a favor do que é conhecido como “Centrão”, pois sou a favor apenas da moderação e do equilíbrio, jamais da corrupção e do fisiologismo. Por isso mesmo, sempre votei no PSDB. E fiquei profundamente decepcionado com o Aécio. Mas nunca reconheci a superioridade intelectual, moral ou ética com que a Esquerda gosta de se auto-adesivar. O inverso disso também é verdade.

A Esquerda (ou Direita) não é superior à Direita (ou Esquerda). Não existe essa bobagem! O que existe é exatamente isso: visões de mundo, soluções diferentes. Por isso, quando vejo políticos como o Lindbergh ou Jean Wyllys falar em “ignorância política” dos que não comungam com sua visão de mundo eu até espumo de raiva.

Eu creio e sou a favor do capitalismo e da democracia, eles creem no socialismo. Mas todas as pessoas decentes, de bom senso e minimamente inteligentes desejam o progresso do país e a melhoria de vida dos mais vulneráveis, independente dessa ou daquela ideologia. Eu trabalhei um tempo na Urbel, responsável por obras em vilas e favelas. Tive a oportunidade de visitar várias favelas onde as condições de vida e miserabilidade são inacreditáveis. E isso me tornou melhor como pessoa. Mesmo assim, continuei a acreditar que não existem soluções fáceis e rápidas para os problemas deste país idiota. Usando um clichê, “não existe almoço grátis”.

E por que estou dizendo isso? Eu li o texto da Associação dos Docentes da Unesp – Adunesp que você compartilhou e gostaria de comentar duas coisas rapidamente, pois há dois temas que estão em desacordo com minha maneira de pensar. “a bordo de um golpe jurídico-parlamentar, seguiu-se uma escalada de severos ataques contra os direitos sociais e trabalhistas da população, como pudemos ver com a aprovação da PEC do teto de gastos, da reforma trabalhista, da terceirização irrestrita, da reforma do ensino médio, da entrega das reservas do pré-sal, entre outros.” Eu sou a favor de tudo isso!

Lembrando, “não existe almoço grátis” em nenhuma parte do mundo. Quando o líder chinês Mao Tse Tung morreu (depois de provocar a morte por fome de milhões de pessoas por políticas equivocadas e desastradas), seu sucessor Deng Hsiao Ping declarou que “enriquecer é glorioso”. O que se viu depois disso foi a transformação progressiva da China em potência mundial (claro, com muita corrupção também, o que é lamentável).

A segunda parte que selecionei do texto vem com isso: “O que corremos o risco de presenciar, após as eleições deste ano, é não só o aprofundamento destas medidas, como também a banalização e a naturalização de graves ofensas aos direitos humanos, como a tortura, o racismo, a misoginia, a homofobia e outros”.

Como se vê, trata do que eu chamo de “questões periféricas” (embora cruciais, importantíssimas), pois não farão o Brasil andar economicamente, mesmo que sejam deploráveis e combustível certo da histeria atual de lado a lado.

E aí eu preciso esclarecer: sou radicalmente contra o racismo, contra a homofobia, contra a misoginia, contra a ditadura, contra a tortura e a favor da liberação do aborto. Mas, repito, embora imprescindíveis para a melhoria do processo civilizatório do país, são questões periféricas para o progresso econômico do Brasil.

Para finalizar, queria dizer de minha impressão sobre as pessoas que aceitam ou desejam fazer parte do comando de qualquer associação, sindicato ou categoria: todas (ou quase todas) aparentam ter sempre uma visão mais “social”. Talvez seja esse o motivo de tantas lideranças de esquerda ter vindo de sindicatos, DAs, DCEs etc. E talvez seja essa a explicação para a linha de raciocínio exposta no texto que você compartilhou.

Sou contra o Bozó não só pelo apreço que tem pelas “questões periféricas” mais odiosas, mas, principalmente, por parecer não ter rumo nenhum nem condições intelectuais de fazer o país andar. Por outro lado, sou contra o Fantoche por ele ser a favor da revogação da PEC do teto de gastos e por ter por trás de si radicalíssimos como a Gleisi Hoffmann, Franklin Martins “et caterva”. Ser contra o teto de gastos me faz pensar em uma família que rola suas despesas em milhares de cartões de crédito, afundando-se cada vez mais.

Por isso tudo que escrevi, permito-me a ironia de pensar que estou como que na arena do Coliseu romano, esperando para ver se é um tigre ou um leão que me estraçalhará. Ou ainda, como sendo obrigado a fazer uma "escolha de sofismas".

Talvez essas comparações sejam absurdamente desiguais (e são mesmo!), mas as utilizei só para demonstrar minha perplexidade e tristeza pela situação limite a que chegamos. Sei que você - que sempre odiou o PT - votará no Haddad, mas quis compartilhar com você este comentário. Porque, pela primeira vez na vida votarei em branco. E isso é triste demais. Abração.

  

4 comentários:

  1. Cara, puta texto! Nem o seu sobrinho vai ter como discordar.
    Ele é docente universitário da Unesp, me parece, e o ambiente universitário público ainda é um forte reduto da esquerda brasileira. Como diz Rodrigo Constantino, em seu livro A Esquerda Caviar, é muito fácil ser de esquerda quando se tem estabilidade no emprego e um bom salário todo fim de mês (salário merecido, eu acrescento).
    Repito : o texto está do caralho!

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    1. Obrigado! Este texto é a transcrição quase 100% literal do que escrevi para ele no Facebook. Sua família sempre foi antipetista (o que não é vantagem nenhuma). Nesta eleição, a maioria virou bolsonarista, dentro do raciocínio do anti-voto.Ele se desgarrou dessa tendência. E eu continuo sendo "essa metamorfose ambulante, por não ter certeza denada. Por isso optei pelo branco, na certeza de que nada será alterado com isso.

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    2. E eu penso que nada será alterado com nada. Convivo diariamente com o povão, você sabe disso, e 90% dele (sem exagero) não quer mudar nem que nada mude.
      Temos, sim, e isso já foi feito em uma escala maior do que eu acreditava, que trocar os políticos, mas, fundamentalmente, teríamos que trocar o povo. A maioria, hoje, é uma escória sem nenhum tipo de valor moral, sem nenhum tipo de educação. E é a essa escória que nossa Constituição dá todo o suporte - não é à toa que tanto proliferam. Quando um diretor de escola, ou um policial, chegam ao ponto de terem medo de falar mais duro com o vagabundo, pois, fatalmente, levarão processos administrativos nas costas, é porque a escória venceu.
      Minha situação é meio que oposta à sua, JB. Você, pela primeira vez, votará em branco. Eu, pela primeira vez em uma eleição presidencial, não anulei meu voto. E não tenho orgulho nenhum em dizer que foi em Bolsonaro, mas se ele representa uma mínima chance, uma mínima e desesperada chance, de, se não mudar, se não reverter, ao menos botar um freio nisso, ao menos deter essa progressão (regressão), eu resolvi arriscar.

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    3. Entendo plenamente sua visão e atitude. Não precisava se justificar. Às vezes fico tentado a fazer o mesmo que você, mas Mas há uma resistência interna à boçalidade explícita e escancarada. O dia 28 ainda está distante. Até lá, vamos ver. Quando eu era adolescente li o livro "O fio da navalha". Como preâmbulo, havia um provérbio hindu ou sei lá de onde, que dizia mais ou menos isso: "é mais fácil caminhar sobre o fio da navalha que trilhar o caminho da verdade". Talvez a frase correta seja diferente, mas esse é o sentido que guardei. E que hoje aplica-se à perfeição.

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