segunda-feira, 1 de outubro de 2018

HÁ... - CARLOS GROPEN


Carlos Gropen foi um jornalista em BH. Foi também comentarista econômico em uma TV local, radialista e dono de delikatessen, entre outras coisas. No jornal “O Estado de Minas” assinava a coluna "De bar em bar", onde falava sobre vinhos, etc. Em algum momento que não sei precisar, uma senhora da sociedade mineira cometeu suicídio. No dia seguinte ele publicou um belo texto sobre isso. Minha mulher ficou tão comovida que o recortou e guardou. Ontem ela o reencontrou entre seus guardados. São dela estas palavras: "Acho que é o texto mais que perfeito para quem tem ou está com depressão".

Aí resolvi publicá-lo no Blogson. O texto começa com a transcrição da letra da música "Essa Noite Não", composta pelo Lobão (aquela que diz que "a maior expressão da angústia pode ser a depressão, algo que você pressente. Indefinível. Mas não tente se matar, pelo menos essa noite não"). E continua assim:

"(...) o poeta Lobão devia ter seu recado mais lido pelas pessoas que se deixam levar pela angústia de um momento só, que passa, vai passar, uma "dorangústia” inexplicável que leva à boca o veneno e põe na mão o revólver.
Porque passa, porque vai passar, por mais intensa que seja a aflição, por maior que seja a solidão. Passa, vai passar. Procure sair, procure se desatar, procure se livrar de todo o amargor. Busque alguém para junto, de si, saia ao encontro de um amigo, telefone, fale ouça, respire fundo, mais fundo; feche os olhos e persiga os sonhos bons, não importa o jeito que tenham, trata-se de encontrar os seus sonhos bons.
Há quem ouça,
há quem entenda
há quem ame,
há quem acompanhe,
há quem fique,
há quem aconchegue,
há quem dê a mão.
Amanhã, depois de amanhã, logo, logo, vão sintetizar a serotonina, identificar a composição eletroquímica ideal, e tudo vai se resolver com alguns gramas de substâncias neuroquímicas, nada mais que isso.
Por enquanto, pessoa, não fuja para esconderijo nenhum que não permita a volta. Por enquanto, pessoa, pense na grande falta que você vai fazer se partir definitivamente.
É sempre muito cedo.
Há flores mais adiante. Há mistérios esperando quem os desvende.
Pense que você é parte do todo.
É o que, vale.
A vida é que vale
Nem que pequena a vontade,
Nem que parco o esforço,
Nem que ausente o amor maior.
Anoitece, sim
Mas sempre amanhece".

Carlos Gropen morreu de câncer em 2012.


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