Sabe, Sobrinho? Eu nunca me senti de Direita
e, menos ainda, de Esquerda. Sempre me vi de Centro - às vezes Centro-esquerda,
às vezes Centro-direita. Mas, jamais, a favor dos extremos. Obviamente, nunca fui a favor do que é conhecido como “Centrão”, pois sou a favor apenas da
moderação e do equilíbrio, jamais da corrupção e do fisiologismo. Por isso
mesmo, sempre votei no PSDB. E fiquei profundamente decepcionado com o Aécio.
Mas nunca reconheci a superioridade intelectual, moral ou ética com que a
Esquerda gosta de se auto-adesivar. O inverso disso também é verdade.
A Esquerda (ou Direita) não é superior à Direita
(ou Esquerda). Não existe essa bobagem! O que existe é exatamente isso: visões
de mundo, soluções diferentes. Por isso, quando vejo políticos como o Lindbergh ou Jean
Wyllys falar em “ignorância política”
dos que não comungam com sua visão de mundo eu até espumo de raiva.
Eu creio e sou a favor do capitalismo e da democracia, eles
creem no socialismo. Mas todas as pessoas decentes, de bom senso e minimamente
inteligentes desejam o progresso do país e a melhoria de vida dos mais
vulneráveis, independente dessa ou daquela ideologia. Eu trabalhei um tempo na
Urbel, responsável por obras em vilas e favelas. Tive a oportunidade de visitar
várias favelas onde as condições de vida e miserabilidade são inacreditáveis. E isso me tornou
melhor como pessoa. Mesmo assim, continuei a acreditar que não existem soluções
fáceis e rápidas para os problemas deste país idiota. Usando um clichê, “não existe almoço grátis”.
E por que estou dizendo isso? Eu li o texto
da Associação dos Docentes da Unesp –
Adunesp que você compartilhou e gostaria de comentar duas coisas
rapidamente, pois há dois temas que estão em desacordo com minha maneira de pensar.
“a bordo de um golpe
jurídico-parlamentar, seguiu-se uma escalada de severos ataques contra os
direitos sociais e trabalhistas da população, como pudemos ver com a aprovação
da PEC do teto de gastos, da reforma trabalhista, da terceirização irrestrita,
da reforma do ensino médio, da entrega das reservas do pré-sal, entre outros.” Eu sou a favor de tudo isso!
Lembrando, “não existe almoço grátis” em nenhuma
parte do mundo. Quando o líder chinês Mao Tse Tung morreu (depois de provocar a
morte por fome de milhões de pessoas por políticas equivocadas e desastradas),
seu sucessor Deng Hsiao Ping declarou que “enriquecer
é glorioso”. O que se viu depois disso foi a transformação progressiva da
China em potência mundial (claro, com muita corrupção também, o que é
lamentável).
A segunda parte que selecionei do texto vem com isso: “O que corremos o risco de presenciar, após
as eleições deste ano, é não só o aprofundamento destas medidas, como também a
banalização e a naturalização de graves ofensas aos direitos humanos, como a
tortura, o racismo, a misoginia, a homofobia e outros”.
Como se vê, trata do que eu chamo de “questões periféricas” (embora cruciais, importantíssimas),
pois não farão o Brasil andar economicamente, mesmo que sejam deploráveis e combustível certo da histeria atual de lado a lado.
E aí eu preciso esclarecer: sou radicalmente
contra o racismo, contra a homofobia, contra a misoginia, contra a ditadura,
contra a tortura e a favor da liberação do aborto. Mas, repito, embora
imprescindíveis para a melhoria do processo civilizatório do país, são questões
periféricas para o progresso econômico do Brasil.
Para finalizar, queria dizer de minha
impressão sobre as pessoas que aceitam ou desejam fazer parte do comando de
qualquer associação, sindicato ou categoria: todas (ou quase todas) aparentam
ter sempre uma visão mais “social”.
Talvez seja esse o motivo de tantas lideranças de esquerda ter vindo de
sindicatos, DAs, DCEs etc. E talvez seja essa a explicação para a linha de raciocínio exposta no texto que você compartilhou.
Sou contra o Bozó não só pelo apreço que tem pelas “questões periféricas” mais odiosas, mas, principalmente, por
parecer não ter rumo nenhum nem condições intelectuais de fazer o país andar. Por
outro lado, sou contra o Fantoche por
ele ser a favor da revogação da PEC do
teto de gastos e por ter por trás de si radicalíssimos como a Gleisi
Hoffmann, Franklin Martins “et caterva”.
Ser contra o teto de gastos me faz pensar em uma família que rola suas despesas
em milhares de cartões de crédito, afundando-se cada vez mais.
Por isso tudo que escrevi, permito-me a ironia de pensar que estou como que na arena do
Coliseu romano, esperando para ver se é um tigre ou um leão que me
estraçalhará. Ou ainda, como sendo obrigado a fazer uma "escolha de sofismas".
Talvez essas comparações sejam absurdamente
desiguais (e são mesmo!), mas as utilizei só para demonstrar minha perplexidade
e tristeza pela situação limite a que chegamos. Sei que você - que sempre odiou
o PT - votará no Haddad, mas quis compartilhar com você este comentário. Porque, pela primeira vez na vida votarei em branco. E isso é triste demais. Abração.
Cara, puta texto! Nem o seu sobrinho vai ter como discordar.
ResponderExcluirEle é docente universitário da Unesp, me parece, e o ambiente universitário público ainda é um forte reduto da esquerda brasileira. Como diz Rodrigo Constantino, em seu livro A Esquerda Caviar, é muito fácil ser de esquerda quando se tem estabilidade no emprego e um bom salário todo fim de mês (salário merecido, eu acrescento).
Repito : o texto está do caralho!
Obrigado! Este texto é a transcrição quase 100% literal do que escrevi para ele no Facebook. Sua família sempre foi antipetista (o que não é vantagem nenhuma). Nesta eleição, a maioria virou bolsonarista, dentro do raciocínio do anti-voto.Ele se desgarrou dessa tendência. E eu continuo sendo "essa metamorfose ambulante, por não ter certeza denada. Por isso optei pelo branco, na certeza de que nada será alterado com isso.
ExcluirE eu penso que nada será alterado com nada. Convivo diariamente com o povão, você sabe disso, e 90% dele (sem exagero) não quer mudar nem que nada mude.
ExcluirTemos, sim, e isso já foi feito em uma escala maior do que eu acreditava, que trocar os políticos, mas, fundamentalmente, teríamos que trocar o povo. A maioria, hoje, é uma escória sem nenhum tipo de valor moral, sem nenhum tipo de educação. E é a essa escória que nossa Constituição dá todo o suporte - não é à toa que tanto proliferam. Quando um diretor de escola, ou um policial, chegam ao ponto de terem medo de falar mais duro com o vagabundo, pois, fatalmente, levarão processos administrativos nas costas, é porque a escória venceu.
Minha situação é meio que oposta à sua, JB. Você, pela primeira vez, votará em branco. Eu, pela primeira vez em uma eleição presidencial, não anulei meu voto. E não tenho orgulho nenhum em dizer que foi em Bolsonaro, mas se ele representa uma mínima chance, uma mínima e desesperada chance, de, se não mudar, se não reverter, ao menos botar um freio nisso, ao menos deter essa progressão (regressão), eu resolvi arriscar.
Entendo plenamente sua visão e atitude. Não precisava se justificar. Às vezes fico tentado a fazer o mesmo que você, mas Mas há uma resistência interna à boçalidade explícita e escancarada. O dia 28 ainda está distante. Até lá, vamos ver. Quando eu era adolescente li o livro "O fio da navalha". Como preâmbulo, havia um provérbio hindu ou sei lá de onde, que dizia mais ou menos isso: "é mais fácil caminhar sobre o fio da navalha que trilhar o caminho da verdade". Talvez a frase correta seja diferente, mas esse é o sentido que guardei. E que hoje aplica-se à perfeição.
Excluir